30 novembro 2019

Feliz Aniversário, J. F. Belfort!!


Vírgulas do Destino: Prisioneiros do Amor ~ Capítulo 15

Capítulo 15


Jéssica aproximou-se de Kojiru e dos seus conselheiros e, depois de mexer nos seus longos cabelos e expressar um sorriso altivo, declarou:

- Penso que não seja necessário fazermos apresentações, mas ainda assim... O meu nome é Jéssica e sou a filha da Governadora Milú, a governante das Terras do Sul. Os meus conselheiros são a Sophie, o Mark e o Caim.


Kojiru e os restantes cumprimentaram os conselheiros dela e em seguida cumprimentaram Jéssica. Kojiru apresentou-se e aos seus homens.



- Muito prazer! O meu nome é Kojiru e eu sou o filho do Governador George, o governante das Terras do Norte. Os meus conselheiros são o Lord Yusuke, o Howl e o Acácio.



Todos voltaram a cumprimentar-se. Howl e Mikel estavam em estado de choque! Quanto a isso, não eram os únicos! À excepção de Kojiru e Jéssica, mais ninguém estava à espera daquela surpresa!



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Sophie


Sophie era uma rapariga muito bonita, de cabelos castanhos encaracolados, abaixo dos ombros. Era mais baixa que todos os outros. Tinha 18 anos. Os seus olhos eram castanhos claros, grandes. Tinha um olhar sério e penetrante.

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Caim

Caim tinha os cabelos compridos, lisos, castanhos claros, abaixo dos ombros. Era alto e tinha pele clara. Os seus olhos eram aveludados, verdes, num tom verde seco. Desde a última vez que estivera com Mikel, deixara crescer uma barbicha, que lhe assentava muito bem, dando-lhe um ar mais velho.


Mark


Quanto a Mark, ele era um rapaz de 20 e poucos anos. Tinha cabelos pretos, grandes, lisos e brilhantes, quase pelos ombros. Era mais alto que os restantes. Tinha olhos escuros e um sorriso bonito. A sua pele era morena. Ao ver Mikel naquele estado, decidiu ajudá-lo a recuperar do choque. Ele aproximou-se do amigo, dando-lhe um grande abraço.



- Olá Mikel! Há quanto tempo!

Mikel retribuiu o sorriso e o abraço. Esfregou os olhos e suspirou, nervoso.

- Podes crer! Há quase um ano que não te via! Ainda nem estou em mim, acreditas?! O que fazes tu aqui? Nunca pensei que te fosses tornar um Conselheiro! 

Mark sorriu, afectadamente.


- Bem, eu tornei-me Historiador quando terminei o curso... Entretanto, a guerra explodiu e como a minha mãe tem negócios com a Governadora... Numa das vezes em que fomos jantar a casa dela, eu conheci a Jéssica e olha… Ela convidou-me para trabalhar com ela...



- Isso é excelente! Que maravilha! Ela não poderia ter escolhido melhor Historiador! - respondeu Mikel, com um enorme sorriso.

- Awwww... És um querido! Não digas isso, há tanta gente melhor do que eu!

- Digo, pois! E então? Estás a gostar? Quer dizer, estás a gostar do teu trabalho?

- Não desgosto. Muitas coisas têm acontecido ultimamente, mas falaremos melhor quando estivermos a sós, se não te importares... - rematou Mark, virando a cabeça para a janela e olhando para o jardim.

Mikel compreendeu que algo se passava ali. Caim não lhe falara. Até evitava o contacto visual. Não era assim que imaginara o reencontro deles. Mikel sentia-se triste e magoado. Ainda assim, aproximou-se, já que Caim mantinha-se quieto, como se estivesse congelado. Ganhando coragem, Mikel virou-se para ele e perguntou:

- Então e tu... Caim?

Quando Caim se preparava para responder, Howl aproximou-se de Sophie, enquanto chorava copiosamente. Não resistindo mais às saudades, ele abraçou-a com força e deu-lhe um beijo apaixonado! Sophie, incrédula, afastou-o de imediato e deu-lhe um estalo.

- Estás louco? Seu imbecil! Quem és tu?

- Mas...? O quê? - perguntou Howl, confuso.

- Porque me beijaste? Quem és tu? - repetiu Sophie, francamente zangada.

- Tu... Tu não te lembras de mim? - perguntou Howl, num murmúrio.

Mikel virou-se para Jéssica e sussurrou:

- Ela... Eu recordo-me de ouvir o Howl a falar nela, inúmeras vezes...!

Jéssica virou-se para Sophie e pediu:

- Querida, acho que é melhor ires dar um passeio pelo jardim, sim? Eu vou falar com eles, está bem? Caim, fazes o favor de acompanhar a Sophie?

- Está bem... - fungou ele, baixando a cabeça.

- Sim, acho que é melhor mesmo, estou a precisar de apanhar ar... - respondeu Sophie, virando costas e seguindo para o jardim na companhia de Caim, com ar bastante alterado.

- Mas...! - responderam Mikel e Howl ao mesmo tempo.

Jéssica deixou Caim e Sophie desaparecerem de vista. Ela virou-se para todos os que estavam no salão e ordenou:

- Sentem-se. Eu já vos explico tudo…

Ela pediu a uma empregada que trouxesse um café para todos. Não demorou muito para que a empregada pousasse os cafés numa mesa. Jéssica sentou-se, convidando cada um a tirar o seu. Em seguida, explicou o que acontecera.

- Não sei bem por onde começar... Por isso, mais vale ir directa ao assunto... Howl, a Sophie sofreu um trauma há alguns meses...

Howl levantou-se num ápice, assustado:

- O quê? O que aconteceu com a minha pequena estrela?!



Jéssica prosseguiu.

- A família da Sophie foi vítima de um atentado quando vinham a caminho de Lisboa. O irmão mais velho dela morreu nesse atentado. A Sophie sobreviveu... Só que sofreu um traumatismo, que a fez perder as memórias...

- Que horror! - exclamaram os restantes.

- Os médicos acham que um dia ela será capaz de recuperar as memórias todas. Neste momento, os avanços são muito poucos. Ela lembra-se da família, de alguns amigos e pouco mais... Honestamente, eu tinha esperanças de que ela se recordasse de ti, quando te visse... - suspirou Jéssica, um pouco triste.

Howl desatou a chorar e abraçou-se a Mikel.

- Que decepção tão grande! Como é que isto é possível? Estive tanto tempo sem ver a minha pequena estrela e esta, pura e simplesmente, não se recorda de mim...

Mikel olhou para Howl, olhos nos olhos. Com um sorriso meigo, limpou-lhe as lágrimas, deu-lhe um beijinho na testa e afirmou:

- Tenho a certeza que vamos conseguir ajudá-la! Não desanimes! Acredita no teu coração! A resposta que procuras está aí!

Howl olhou para Mikel durante alguns instantes, enquanto ponderava no que este dissera. De repente, fez um grande sorriso e gritou:

- A promessa! É isso! A promessa!!

Todos olharam para ele, admirados! Howl virou-se para Kojiru e Jéssica. Esfregou os olhos, ajeitou os cabelos e com uma voz séria, inquiriu:

- Vocês têm algum piano neste palácio?

- Sim, porquê? - responderam os dois ao mesmo tempo, curiosos.

Howl sorriu, mais aliviado. Voltando-se para Mikel, pediu:

- Preciso que me faças um favor... Consegues tocar esta letra?

Mikel pegou na partitura que Howl lhe entregou e começou a ler.

- Oh meu Deus! Que linda...! Faz-me lembrar... O Ángel... - disse num sussurro, baixando a cabeça e virando o rosto, fazendo os possíveis para não desatar a chorar.




Curiosos, os amigos aproximaram-se de Mikel para verem a partitura. Este rematou, dizendo que o melhor seria chamarem Caim e Sophie. Depois de estarem todos novamente reunidos, seguiram para um salão de bailes, onde se encontrava um piano. Howl virou-se para Sophie e explicou:

- Sophie… Eu peço desculpa por te ter assustado. Eu sei que pensas que não me conheces, mas a verdade é que nós... Nós os dois conhecemo-nos muito bem... Sophie... Esta é a nossa canção! Espero que te consigas lembrar de mim outra vez...


[Howl]

Lágrimas de Saudade
Caem sobre o meu sorriso vacilante
Desde o início dos tempos
Eu mantenho a nossa promessa...

Apesar de eu agora estar só,
Amanhã, existe alguém por quem vale a pena esperar
O Hoje chegou, nascendo um dia harmonioso:
Brilha como no dia,
Em que tu e eu nos encontramos pela primeira vez...



De repente, Sophie levou as mãos à cabeça, atordoada. Finalmente, ela lembrava-se! Ela recordava-se de Howl! Sentando-se, desatou num pranto emocionado, enquanto Howl prosseguia:



[Howl]

Em todas as minhas recordações...
Tu estás sempre ausente...
És como o vento...
Que toca na minha pele macia...

Na luz do entardecer,
Com o teu sorriso genuíno,
Despertaste o meu amor
E eu reconheci-te...

A promessa que fizemos, não pode,
Nem nunca se vai quebrar!

Apesar de agora estares sozinha,
O Amanhã é Ilimitado e ainda não está escrito...
O Amanhã é Infinito, sem dúvida...
Mostra-me o teu coração, no fim da noite...

Em todas as minhas recordações
Tu estás sempre ausente
Eu já não procuro por ti
Dentro das minhas memórias
Em vez disso, tu vives agora
Como a melodia do riacho...
Nesta canção sussurrante,
Na cor deste céu,
No aroma das flores...
Tu, meu amor, viverás assim, eternamente!


No fim da canção, todos choravam, emocionados! Howl abraçou-se a Sophie, em êxtase:


- Minha pequena estrela! Finalmente! Estamos juntos!



Sophie tocou no rosto de Howl e sorriu:



- Sim! O meu pequeno príncipe!


Os dois amantes beijaram-se apaixonadamente, deixando todos os presentes muito emocionados!

- Hum, hum... Acho que é melhor vocês os dois darem uma volta pelos jardins! Devem ter muita coisa para pôr em dia... - retorquiu Jéssica, com um sorriso muito feliz.


Sophie e Howl sorriram, cúmplices.



- Sim! Eu concordo! Vamos, minha estrelinha?



- Vamos lá, meu principezinho!



E assim, os dois pombinhos seguiram rumo aos jardins, com um ar de felicidade inegável estampado no rosto. Mikel, por sua vez, chegara ao limite das suas forças. Estava feliz pela vitória do amor de Sophie e Howl, por quem nutria um grande carinho. Afinal, eles agora eram a família um do outro.



No entanto, aquele dia estava a ser cheio de emoções fortes. A canção de Howl e Sophie fizera-lhe despertar fortemente sentimentos que julgara enterrados há muito tempo. Além disso, não esperava reencontrar Caim ali. Muito menos contara com uma recepção tão fria. Estava apenas a um passo de perder o controlo das suas emoções. Olhando para Caim, sorriu-lhe. Era a sua última tentativa. Caim, ao vê-lo sorrir, baixou os olhos e a cabeça. Levou as mãos ao rosto e virou-se para uma janela oposta aos jardins.





Mikel não aguentou mais!

A angústia que o consumira desde o primeiro momento que entrara naquele palácio, rebentara finalmente! Com um uivo, ele saiu dali, a correr e a chorar. Queria desaparecer... Correu o mais que pôde, rumo aos jardins... Procurava encontrar um sítio escuro onde pudesse esconder-se e chorar à sua vontade, sem que ninguém o ouvisse.

Passados alguns minutos, Mark apareceu. Tinha-o encontrado. Ao vê-lo, aproximou-se dele. Mikel abraçou-se a ele a chorar e chorou como nunca havia chorado. Finalmente, encontrara um ombro amigo onde podia libertar a sua dor.

- Oh Mark! Tantos dias, tantas semanas... Inúmeras emoções contidas... Enfim! Já passei por tanta coisa, desde aquela fatídica noite em que o Governador George apareceu na nossa casa e me separou do Caim...!

- Mikel... Tem calma... Estás muito nervoso... Nenhum de nós estava à espera desta surpresa! O Caim não sabia de nada...

- Eu também não, acredita... Nunca imaginei encontrá-lo aqui, numa reunião! Caramba...! Ainda por cima, nem foi capaz de me dirigir a palavra!! Porquê?!

Mark sorriu ternurento. Ele conhecia bem Mikel, sabia o quão puro era o seu coração e como estaria a ser difícil para ele viver aquele momento tão controverso. Por outro lado, ele compreendia o receio de Caim também, pois já tinha conversado com ele várias vezes sobre isso. Respirando fundo, prosseguiu:

- O Caim gosta muito de ti... Desde que ele veio trabalhar para a Jéssica, temos falado muitas vezes... Ele sente a tua falta. Mas tem estado cheio de medo da tua reacção. Vocês estiveram imenso tempo sem se falarem... Depois daquela despedida tão abrupta... Aconteceram tantas coisas...

Mikel suspirou.

- Ele por acaso pensa que eu queria separar-me dele? Eu aceitei este trabalho porque senão o George podia vir a fazer-lhe mal! Ainda hoje tenho dúvidas sobre o que de facto aconteceu com a minha família! E sabes que mais? Já me chegou ter perdido o Ángel! Fartei-me de telefonar, de lhe mandar mensagens, nunca me respondeu! E agora tratou-me assim! Não é justo!

- Eu sei! Ele já me explicou tudo...!

- E então?

- Creio que é melhor serem vocês os dois a ter essa conversa... - rematou Mark, com um sorriso tímido.

Mikel fungou, assoou-se e respirou fundo. Fechou os olhos. Passados alguns segundos, coçou a cabeça e suspirou:

- Bom... És capaz de ter razão... Acho mesmo que estás muito certo... Espero que ele aceite conversar comigo, temos muito que explicar um ao outro. Obrigado por me acalmares. Estava mesmo muito nervoso. Tens tido notícias dos restantes? Há meses que não consigo saber de nada...

- Quando a guerra começou, a maior parte desapareceu ou deixou de escrever... A Teresa pegou nos gatos, na tartaruga e olha, emigrou para o Brasil! O André foi ter com o Tobias. Quanto ao Francisco... Ele foi preso...

Mikel arregalou os olhos, surpreso.

- O quê?!? O Francisco foi preso?!?


Francisco


- As coisas no Sul estão muito delicadas... A Governadora Milú e a Artemisa são homofóbicas, sabes? Criaram decretos para punir severamente “este tipo de actos, contra-natura” - palavras da própria Governadora. Têm sido executadas verdadeiras “caças às bruxas” e muitas pessoas têm sido presas por causa disso... Outros têm fugido para as terras neutras, para o Norte e mesmo para o estrangeiro. Como sabes, no Sul, mantemos contacto com o estrangeiro...

- Sim, eu sei disso. E garanto-te que isso é outra coisa que não entendo! Lá no Norte estamos bastante limitados! Quanto ao resto, caramba, estou sem palavras! Vivemos em pleno século XXI! Além disso, como é que o Francisco foi apanhado?

- Pelo que vim a saber mais tarde, o Francisco fez orelhas moucas aos avisos que a Governadora lançou. Foi apanhado em flagrante, quando tentava organizar uma manifestação contra a governação de Milú, sendo preso de imediato. Já o tentei visitar, mas não permitem visitas... Talvez tu pudesses fazer alguma coisa por ele, Mikel...

- Achas? Achas mesmo que consigo? Hum... Eu vou falar com o Governador George... Talvez consiga um perdão especial para o Francisco e tirá-lo da prisão! Se o fizer, o melhor será encaminhá-lo para as Terras do Norte! Hei-de falar com 
os meus Dragões e ver o que se pode arranjar!

Mark virou-se, surpreso.

- Dragões?

- Sim... É o nome que dei ao meu grupinho... A Irmandade dos Dragões. É constituída pelos meus pupilos... São das poucas pessoas em quem confio verdadeiramente. Como deves imaginar, nos tempos actuais, tornou-se muito difícil saber em quem confiar... - suspirou Mikel, um bocado triste.

- Lá isso é verdade... - assentiu Mark.

- Olha lá... Então e tu? Disseste que depois haveríamos de falar só os dois. O que se passa? - perguntou Mikel.

Mark suspirou fundo e encostou a sua cabeça no ombro do amigo.

- Tu conheces-me bem, Mikel... Sabes que eu não me apaixono facilmente. Aliás, sempre disse que iria tornar-me um eremita...

Mikel riu-se, divertido.

- Foste atingido pelas flechas do Cupido?

- Sim...! Quer dizer, não sei bem...! O que sei é que eu passo os dias a suspirar! A pensar nele o tempo todo! Dou por mim a olhar para o relógio, a contar os minutos até ao próximo reencontro...

- Ah ah ah ah! Awwww, isso é tão fofo! Estás mesmo apaixonado! Como é que se chama o sortudo que conquistou o teu coração?

Mark fechou os olhos. Baixou a cabeça. Após alguns segundos em silêncio, uma torrente de lágrimas escorreu pelo seu rosto.

- Infelizmente, perdemos o contacto há algumas semanas. O Thiago desapareceu e nunca mais tive notícias dele... Estou farto de o procurar, tenho usado todos os meios possíveis nas Terras do Sul, mas sem sucesso...

- Oh meu Deus...! Lamento imenso...! - Mikel abraçou-se a Mark com muito carinho, afagando os seus longos cabelos escuros e dando-lhe beijinhos na cabeça.

Com ar perdido no horizonte, Mikel deixou o amigo chorar à sua vontade, murmurando-lhe palavras doces ao ouvido. Quando Mark se acalmou, olhou-o nos olhos e perguntou:

- Queres que eu faça uma busca nas Terras do Norte? É isso que me querias pedir? Tens alguma fotografia dele?

Mark acenou com a cabeça. Pegou na carteira e retirou a única fotografia que tinha de Thiago, o rapaz por quem se tinha apaixonado.


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Thiago

- Wooow! Muito bem, menino Mark! Arranjaste um cavalheiro à tua altura! Parabéns! É um rapaz mesmo bonito! - elogiou Mikel, piscando-lhe o olho.

- Ohhhhhhhhh...! - respondeu Mark, corando até à raiz dos cabelos.

Mikel afagou os cabelos de Mark e sorrindo, fez-lhe várias perguntas sobre o amigo. Mark respondeu a tudo, pois quanto mais informações Mikel tivesse sobre Thiago, melhor.

Esperançoso, Mark questionou:

- Achas que o vais conseguir encontrar?

- Se ele estiver no Norte, podes ter a certeza que sim! Eu vou dar com ele, não te preocupes! - respondeu Mikel, com um grande sorriso, cheio de confiança.

Mark abraçou-se a Mikel, bastante feliz!

- Awwww... Mikel! És um querido! Muito querido, mesmo! Haverá alguma coisa que eu possa fazer por ti?

Este pensou durante algum tempo. Com um sorriso misterioso, afirmou:

- Na verdade... Até há, sim! Consegues arranjar-me uma cópia destes documentos?

Mikel pegou num papel e tirando uma caneta do casaco, começou a escrever. No final, entregou o papel a Mark. Este leu o papel e espantado, virou-se para Mikel:

- Mas...! Mikel! Estes documentos são oficiais! Não vai ser fácil obtê-los!

- Relaxa...! Eu só preciso de uma cópia! Preciso de analisá-los...! Tenho a certeza de que tu consegues arranjar-me isso! 

- Conseguir consigo! Eu tenho acesso a toda a documentação oficial! Mas… Para que precisas tu disto?

- Eu respondo-te a isso quando me conseguires as cópias! Por falar nisso, vamos trocar contactos?

- Boa ideia!

E assim, os dois amigos trocaram números de telemóvel [ambos tinham números especiais, já que trabalhavam para os Governadores] e não tardaram a debater uma forma de colocar um ponto final à guerra, quando Acácio apareceu.

- Lord Mikel! Estás melhor?

- Estou sim, Acácio. Obrigado... Aqui o Mark ajudou-me a recuperar... Somos amigos de longa data!

- Ainda bem, ainda bem...! Podes voltar ao Palácio? Pediram-me para te chamar...


[Continua...]

29 novembro 2019

Vírgulas do Destino: Prisioneiros do Amor ~ Capítulo 14

Capítulo 14


O tempo voara. Quando deram por isso, algumas pessoas já andavam à procura deles. Kojiru e Jéssica, ao aperceberem-se disso, correram de imediato para os jardins, onde se sentaram, fingindo discutir algo. George e Milú vieram ter com eles.

- Então? Onde andavam vocês? Os guardas não vos encontravam! - resmungou George.

- Devemos ter-nos desencontrado pai, nós fomos discutir à vontade para o bosque, eles não precisam de saber o que andamos a discutir. Afinal, são assuntos secretos, certo?

- George, querido, o seu filho tem alguma razão... Eles são jovens... A minha Jéssica então, quando se exalta, valha-me Santo Equinócio, que quase me deita a casa abaixo, ih ih ih!

O Governador George fungou e passando a mão pelos cabelos grisalhos, comentou:

- Visto por esse prisma, creio que realmente tenha sido o melhor. Chegaram a alguma conclusão?

Kojiru e Jéssica entreolharam-se. Ela afastou-se dele, dirigindo-se para junto da mãe e afirmou, num tom frio e decidido:

- Não adiantou nada. O seu filho é muito teimoso... Enfim. Em breve faremos uma nova reunião, desta vez com os nossos conselheiros particulares... A ver se avançamos...

A Governadora Milú sorriu, toda contente! Finalmente, a sua filha estava a mostrar do que era feita! Orgulhosa, ela virou-se para George e declarou:

- Bem, agrada-me ver que eles estão a levar isto a sério! Jéssica, concordo com a sua decisão! A próxima reunião será da vossa responsabilidade!

George acenou com a cabeça e colocando o seu chapéu de côco, rematou:

- Se assim é, então creio que não temos mais nada a fazer aqui. Milú, Jéssica, até uma próxima. Kojiru, vamos embora!

Kojiru ficou surpreendido pela aspereza do pai. Vendo que este se encontrava furioso, despediu-se rapidamente das duas e seguiu atrás dele, em direcção ao carro, onde Acácio os aguardava. Chegados lá, entraram e partiram rumo aos Açores.

- Queres fazer o favor de me explicar o que aconteceu na vossa reunião? - perguntou George, com um ar sério e zangado.

- Pai, como disseste e muito bem, a Jéssica é um osso duro de roer! Ela não se deixa levar por cantigas, nem por palavras bonitas... É uma mulher muito fria, tão fútil quanto a mãe! - respondeu Kojiru, olhando para a paisagem.

- Estou a ver... Nesse caso, será mesmo boa ideia trazeres a tua comitiva na próxima vez. Pode ser que, com a ajuda deles, seja mais fácil manipulares a situação...

- Tenho a certeza que sim, pai! - retorquiu Kojiru. - Vais ver que sim!

- Muito bem... Vamos a ver... - respondeu o pai de forma seca, quando o seu telemóvel tocou.

O resto da viagem foi passado em silêncio. Kojiru ia-se recordando de todos os momentos agradáveis na companhia de Jéssica. O Governador George mantinha-se ocupado em video-conferências, a discutir os resultados da reunião que tivera com a Governadora Milú. Algumas horas depois, os dois encontravam-se novamente nos Açores. Assim que chegaram, Kojiru e Acácio foram procurar Mikel.

- Olá Sheila, boa noite! Onde está Lord Yusuke?

- Olá boa noite, senhores! Ele encontra-se na sala de música, com o menino Howl. Estão a tocar instrumentos! Eu avisei Lord Mikel que o senhor não iria gostar... Mas ele disse que não havia problema, que se estragassem algo, ele pagaria o conserto! - respondeu Sheila.

- Esteja descansada. Eles podem ir para aquela sala sempre que desejarem. Afinal, eles são membros da família! - declarou Kojiru com um sorriso, trocando um olhar divertido com Acácio. - Obrigado pela informação. Pode ir.

- Com a sua licença, senhores... - A governanta fez uma pequena vénia a Kojiru e virou costas.

Ele e Acácio dirigiram-se à sala onde estavam os instrumentos musicais. Aproximaram-se pé ante pé, para fazerem uma surpresa aos seus amigos. Quando estavam no corredor que dava acesso ao local, começaram a ouvir algo! Espreitaram para dentro da sala e qual não foi o espanto deles quando viram Mikel, todo feliz da vida, sentado a tocar bateria e Howl a tocar baixo, enquanto cantavam uma canção!





[Howl]

Se parares para pensar, vais desistir!
Vai em frente, enfrenta tudo o que vier
E luta como puderes!

[Mikel]

Pois só tu possuís
O poder para mudar o teu Destino!
Só assim farás
Com que a luz volte a brilhar!

[Howl]

Abraça os sonhos perdidos!
Protege os teus novos amigos!
Se acreditares em ti, 
Tu conseguirás!

[Mikel]

Mostra a força que existe dentro de ti!
Só assim, tudo o que desejares, ser-te-á concedido!
Nunca te esqueças: a coragem está...
Dentro do teu coração!

- Uau! Vocês são extraordinários! Que bela canção! - exclamaram Kojiru e Acácio, ao entrarem na sala.

Mikel e Howl olharam um para o outro e coraram até à raiz dos cabelos. Tinham sido apanhados! Atrapalhado, Mikel pousou os phones que tinha nos ouvidos e perguntou:

- Como correu a reunião? Não vos esperávamos hoje! 

Kojiru sentou-se ao lado deles e com um sorriso, respondeu:

- Já lá vamos, já lá vamos! Com que então, vocês gostam de tocar música, hã?

Howl aproximou-se de Mikel e colocou o seu braço direito por cima dos ombros dele. 

- Sim, gostamos! Eu e o Mikel gostamos imenso!

Acácio sorriu, satisfeito. Com um olhar brilhante, ele virou-se para os restantes e questionou:

- Olhem lá! E se nós formássemos uma banda? Não vos parece uma boa ideia? Eu sei tocar alguns instrumentos e o Kojiru sabe cantar!

Os 4 amigos olharam uns para os outros com ar extasiado! 

Era uma excelente ideia! Não tardaram a trocar impressões sobre o tipo de músicas que haveriam de criar e as mensagens que queriam fazer chegar às pessoas. Kojiru, depois de se ter certificado que ninguém os escutava, partilhou parte do que se passara na reunião com Jéssica. Animados com as novidades, os quatro rapazes encetaram um plano para pôr fim à guerra.

Enquanto isso, em Lisboa, Jéssica partilhava as mesmas notícias com os seus conselheiros. Estes, porém, mostravam-se mais relutantes perante as novidades do que ela esperava. Tal como Kojiru, Jéssica também não revelara tudo o que acontecera na reunião. Apenas o que considerava essencial.


*10 de Março de 2014*


Kojiru, Howl, Acácio e Mikel partiram para Sintra, rumo ao local onde se iriam encontrar com Jéssica e os seus conselheiros. O local de encontro era um palácio nos arredores da cidade. Chegados lá, Kojiru e os seus amigos dirigiram-se para um grande salão, onde aguardavam, impacientes e nervosos a chegada dos restantes.

Após alguns minutos de expectativa, a porta abriu-se. Jéssica entrou, na companhia de Sophie, Mark e Caim! Quando eles entraram, Kojiru, Acácio, Mikel e Howl levantaram-se, estes últimos com uma enorme expressão de surpresa nos rostos!

- Mark?

- Mikel?

- Caim?

- Sophie?

Kojiru e Jéssica olharam um para o outro com um enorme sorriso. Nem mesmo eles poderiam adivinhar o que estaria prestes a acontecer...


[Continua...]

Pensamento do Dia


28 novembro 2019

Vírgulas do Destino: Prisioneiros do Amor ~ Capítulo 13

Capítulo 13


*Quinta das Lágrimas, 26 de Fevereiro de 2014*


- Chegamos! - afirmou George, com um sorriso.

- Uau! Que sítio tão bonito, pai! - respondeu Kojiru, animado.

Havia semanas que Kojiru não saía dos Açores. Desta vez, ele tinha vindo com o pai até Portugal Continental, para que as duas famílias que estavam no poder se reunissem, com o objectivo de se chegar a um acordo. As reuniões nunca ocorriam no mesmo local, a fim de evitarem-se atentados. O número de pessoas que sabia da localização das mesmas era extremamente reduzido. Só mesmo em cima da hora é que os diversos locais onde poderia ocorrer a reunião eram informados.

Kojiru, Acácio e George abandonaram o carro onde vinham e apressaram-se a ir para a Quinta. Dentro do local aguardava-os uma escolta, que se certificou de que realmente eram eles e os deixou entrar. Acácio regressou ao carro, depois de confirmar que tudo estava em perfeitas condições.

- Espero que te portes bem, Kojiru! Sê um cavalheiro, mas não te deixes iludir pela conversa da Governadora Milú e da filha dela! Bem pelo contrário, prepara-te para o contra-ataque! Quanto mais depressa conseguirmos a vitória, mais depressa voltas para o Japão! - murmurou George, com ar sério.

- Sim pai, eu sei disso... Já mo disseste pelo menos umas… Vinte vezes... - respondeu Kojiru, secamente.

- Nunca é demais relembrar... - respondeu o pai, virando costas e pegando no seu chapéu de coco.

Passados uns minutos, as portas do salão onde ambos se encontravam abriu-se de par em par. A Governadora Milú e Jéssica entraram, com um ar altivo.

- Olá bom dia! Peço desculpas pelo atraso, mas o trânsito está infernal! Ohhhhh! George! Que prazer em revê-lo! - declarou Milú estendendo a mão, para que George a cumprimentasse.

- Olá, muito bom dia, minha cara Milú! Encantado! - George pegou na mão de Milú e beijou-a, enquanto fazia uma vénia. - Este é o meu filho, Kojiru.

- Muito prazer, minha senhora! - respondeu este, fazendo uma vénia e estendendo a mão para a cumprimentar.

- Igualmente, meu jovem! Esta é a minha filha, Jéssica! - respondeu Milú, cumprimentando rapidamente Kojiru e pegando na mão da filha para a aproximar de George e do filho.

- Olá, bom dia! Eu sou o Kojiru! Prazer em conhecer-te! - respondeu este, atrapalhado e corado até à raiz dos cabelos, aproximando-se de Jéssica e trocando dois beijinhos com ela.

- Olá! Bom dia! Muito gosto! Eu sou a Jéssica! - respondeu esta, cumprimentando Kojiru, igualmente atrapalhada.

Em seguida, Jéssica cumprimentou George e voltou para junto da mãe. George e Milú começaram a conversar ali mesmo. Os dois falavam de coisas banais, como se fossem velhos amigos e não rivais! Tratava-se de puro cinismo, já que ambos sabiam bem o que os levara ali e qual o verdadeiro objectivo daquele encontro. Enquanto isso, Kojiru trocava olhares com Jéssica, disfarçadamente. Esta observava-o pelo canto do olho, levemente divertida.

- Bem, creio que está na hora de passarmos a assuntos sérios... - declarou George, colocando o chapéu de novo na cabeça.

- Sem dúvida! Jéssica, a menina e o Kojiru vão ter hoje a vossa primeira reunião! Desta forma, um dia, estarão prontos a liderar as nossas famílias. Creio que ambos sabem porque estão aqui. Estou certa de que vocês compreendem a importância deste vosso primeiro encontro. - respondeu Milú, com frieza.

- Sim mãe...

- Sim, minha senhora!

- Muito bem, sendo assim, eu e o George vamos reunir-nos noutra sala. Aguardamos os vossos relatórios no fim da reunião. Vamos? - perguntou Milú, virando a cabeça e seguindo em frente, rumo a um corredor.

- Sim! - respondeu George, seguindo atrás desta e fechando as portas.

- Phewww...! Até que enfim... - suspirou Jéssica, aproximando-se da janela e abrindo-a.

Uma aragem quente e primaveril invadiu o espaço. Kojiru, que não estava nada à espera daquela reacção, sentou-se, enquanto sorria nervosamente. Jéssica olhou para ele. Analisou-o de cima a baixo. Determinada, ela aproximou-se de Kojiru e suspirou, impaciente. 

- Vamos lá a saber... Kojiru...

- Sim?

- Qual ou quais as tuas motivações para estares aqui? Tu acreditas em quê?

Kojiru levantou-se e com um ar sério, aproximou-se da janela e respondeu:

- Eu vivia no Japão, desde a morte da minha mãe, até há bem pouco tempo. Voltei quando esta guerra começou e o meu pai assumiu o cargo de Governador. Acima de tudo, eu quero o bem das pessoas inocentes. Acho que podemos fazer algo para melhorar a vida de todos, se realmente trabalharmos pelo bem comum, em vez de debatermos as nossas diferenças...

Jéssica ficou surpreendida. Sempre imaginara que a resposta de Kojiru fosse politicamente correcta, mas evasiva. No entanto, este respondera de uma forma totalmente honesta. Ela ficou bastante satisfeita.

- Interessante, muito interessante... - respondeu ela, sorrindo pela primeira vez.

- “Que lindo sorriso!” - pensou Kojiru, sorrindo também.

- Creio que queres saber os meus motivos também, não é?

- Sim, claro!

Jéssica suspirou e fechou os olhos.

- Eu estava em Espanha, quando tudo isto começou. O meu pai morreu há alguns anos e só deixei de estar ao lado da minha mãe quando ela arranjou uma dama de companhia, a Artemisa. Eu nunca tive uma relação muito próxima com a minha mãe. Nós sempre fomos muito diferentes. Sou bem mais parecida com o meu pai do que com ela. Quanto às minhas motivações, honestamente, acho esta guerra uma estupidez! E já que estou a ser sincera, digo-te: nem a minha mãe, nem o teu pai, merecem ficar a governar, já que ambos cometem erros atrás de erros e não sabem valorizar o que realmente importa... É tempo de acabarmos com esta guerra!

- “Caramba, que mulher!” - pensou Kojiru, suspirando e fechando os olhos.

- És sempre assim tão calado, Kojiru?

- Hum... Eu… Eu não costumo falar muito... Mas concordo com tudo o que disseste...

- Presumo, então, que pretendes o fim desta guerra estúpida e inútil, certo?

- Sim, sem dúvida... Existe tanta gente que está a sofrer perante a inércia deles...  Às vezes sinto-me envergonhado com as atitudes do meu pai... - lamentou-se Kojiru, mirando o jardim da Quinta das Lágrimas.

- Eu também, sabes? Olha, e se fôssemos dar uma volta pelo jardim? Está um dia tão bonito! - perguntou Jéssica, levantando-se.

- Vamos lá!

E assim Kojiru e Jéssica dirigiram-se para o jardim, enquanto conversavam um pouco sobre si mesmos. À medida que iam conversando, o gelo quebrou-se. Kojiru não tardou a deixar cair a máscara, mostrando-se bastante gentil e bem-humorado. Jéssica estava fascinada. Kojiru era um rapaz bastante culto e inteligente. No entanto, foram os seus olhos rasgados que a cativavam. E o que dizer do sorriso? Kojiru era um dos homens mais atraentes que ela jamais conhecera. Isto era um pensamento perigoso, atendendo à situação em que eles se encontravam.

O jardim era bastante grande. Tinha muitas roseiras, em arco, além de muitas sebes, criando uma espécie de labirinto, para quem quisesse entrar. Havia também um lago junto de um pequeno bosque. Para lá se dirigiram os dois, perdidos de riso, devido a algumas peripécias que iam partilhando um com o outro.

- Ah ah ah! E depois a minha mãe disse: “Aiii korrore!” - respondeu Jéssica, rindo às gargalhadas.

- Oh oh oh oh!

Kojiru e Jéssica sentaram-se em frente do lago. Estava a ficar calor e com o passeio ambos sentiam-se cansados. Sorriram felizes um para o outro.

- Temos de pôr um fim a esta guerra... - afirmaram os dois ao mesmo tempo,

rindo em seguida.

- Da minha parte, sei que tenho alguns aliados que pensam como eu...

- Vocês têm o Lord Mikel, não é? Já ouvi falar muito nele!

Kojiru franziu o sobrolho.

- A sério? Como é que sabes?

Jéssica riu-se.

- Nós temos boas bases de informação, tal como vocês terão, presumo. Além disso, o Caim trabalha para nós...

Desta vez Kojiru levantou-se, completamente surpreso.

- O quê?!? Como?!?

- Eu e o Caim estudamos no mesmo Instituto, lá em Vigo. É um excelente rapaz. Eu conheço-o muito bem. Fui procurá-lo a semana passada e ele aceitou de imediato vir trabalhar comigo, quando lhe disse o que pretendia... Tornou-se um dos meus Conselheiros, a par com uma rapariga chamada Sophie e um historiador chamado Mark...

- Estou a ver... Sendo assim, creio que temos possibilidades de vencer os nossos pais... Eu conto com o apoio de Lord Yusuke e dos seus pupilos... E do Acácio, o meu grande amigo...

- A sério? Hum... Sabes Kojiru? Creio que é agora que as coisas vão começar a ficar interessantes! - suspirou Jéssica, agitando a sua cabeleira loira.

- Concordo... - acenou Kojiru, olhado para o lago, com olhar sonhador.


[Continua...]

Boys will be Boys #1.5


27 novembro 2019

Vírgulas do Destino: Prisioneiros do Amor ~ Capítulo 12

Capítulo 12


*17 de Janeiro de 2014*



O Governador George regressou aos Açores e não tardou a dar início ao processo para restituir a Mikel o seu título de Lord, bem como a sua legítima herança. Não tardou muito para que surgissem pessoas interessadas em ser amigas dele. Como este sabia quais eram as intenções dessas pessoas, ele desabafava muitas vezes com Howl, à noite, quando estavam os dois sozinhos no quarto.


Ficara decidido que Howl iria retomar os estudos. Apesar de ele não gostar muito da escola, Mikel propôs-lhe uma troca: Howl retomava os estudos e Mikel colocava-o numa Academia de Futebol para ele poder jogar e quem sabe, realizar o seu sonho de se tornar jogador de futebol profissional. Assim, não tardou muito para que Howl entrasse para o São Miguel Futebol Clube, a equipa principal da ilha. Embora ele fosse um jogador talentoso, a recepção não foi das melhores. Os restantes colegas cochichavam entre si que o Howl só tinha entrado para a equipa porque tinha um bom “padrinho”. Eles não tardaram a mandar-lhe bocas, a gozar com a maneira de falar, uma vez que ele era do Continente e não tinha sotaque dos Açores. Quando Howl começou a jogar, acusaram-no de ser um jogador individualista. Rapidamente ele foi posto de parte e “convidado” a ficar no banco.



*4 de Fevereiro de 2014*



Mikel não tardou a sentir o peso da responsabilidade de ser um “Lord”. Além de ter reuniões com várias pessoas todos os dias, tinha o trabalho enquanto Chefe dos Conselheiros. Naquele dia, ele apercebeu-se que a guerra não iria terminar tão cedo quanto desejaria. Todos os dias enviava mensagens a Caim e tentava ligar-lhe, mas este nunca atendia, nem lhe respondia de volta. Mikel estava muito preocupado. Não tardou muito que a sua preocupação desse lugar ao desânimo. Era possível que Caim tivesse ficado zangado com ele... Na pior das hipóteses, Caim tinha seguido em frente…



*25 de Fevereiro de 2014*



O Governador George e o seu filho Kojiru partiram para Portugal, na companhia de Acácio. Iam para uma reunião com a Governadora Milú e a filha desta, Jéssica. Era a primeira reunião onde Kojiru e Jéssica iriam participar. Mikel ficara nos Açores a tratar de alguns assuntos importantes. Depois de almoço, ele deu ordens para que todos os empregados tirassem o resto do dia de folga.



- Mas tem a certeza disso, Lord Mikel? - perguntou Sheila, a governanta da mansão.



- Sim, só cá estou eu e o Howl. Eu preparo algo para o nosso jantar quando ele vier! Não se preocupe!



- Muito bem! Então… Com a sua licença... - Sheila fez uma vénia a Mikel e virou costas.



Este foi para o quarto. Algum tempo depois, dirigiu-se à varanda e verificou que todos os empregados estavam a sair da mansão, com ar feliz. Sorrindo satisfeito, Mikel colocou uma música a tocar bem alto. Divertido, ele pôs-se a cantar e a tocar instrumentos imaginários. Sentia muitas saudades de tocar música.



*Algumas horas mais tarde…* 



Howl abriu a porta. Estava ferido no sobrolho e sangrava do nariz. Ao vê-lo assim, Mikel desligou a música e foi ter com ele, entregando-lhe um lenço para estancar o sangue.


- Que te aconteceu?



- Andei à porrada na escola...



- Porquê?



- Eh pá... Eles embirraram comigo porque eu sou diferente deles... Não gostam de mim e eu também não gosto deles! Passam a vida a provocar-me... Eu ripostei! Eles começaram a bater-me e eu parti-lhes a cara...!



Mikel riu-se. Foi à casa de banho buscar algodão, álcool e pensos. Sentou-se à beira de Howl e limpando-lhe as feridas, explicou:



- Olha Howl… Eu sei que não é fácil... Eu e tu estamos a atravessar uma fase muito complicada! Eu perdi a família e estou afastado do meu amor! Tu perdeste a tua família e agora estás à minha guarda, numa terra que ambos desconhecemos! De facto, nós aqui é que somos os estranhos! Para eles, somos os estrangeiros! Tens razões para estares frustrado, mas não podes ceder às provocações deles! Ao fazeres isso, só estás a dar-lhes mais razões para embirrarem contigo!



- Então o que faço? Eles tratam-me mal!



- Prova-lhes que tu és bom e que mereces estar entre eles! Não és tu quem está errado, mas sim eles, ao tratarem-te mal! O mesmo acontece para a equipa de futebol! Se queres realmente conquistar o sonho de te tornares um jogador, tens de lutar por ele!



- Hummmm... És capaz de ter razão...



- Claro que sim! Olha, vamos jantar algo? - perguntou Mikel com um sorriso meigo.

  
- Shimmm! Tou cheio de fome, pá!


Animados, os dois amigos seguiram para a cozinha. Num instante, prepararam algo delicioso para comer: bifes com molho de natas e cogumelos, ovos estrelados e batatas frias - um dos pratos favoritos de ambos.



- Olha Howl… Eu já ando há algum tempo para te perguntar uma coisa...



- O quê?



- Tu nunca mais falaste na Sophie... O que é feito dela?



Howl pousou os talheres e baixou a cabeça. Os seus olhos castanhos ficaram brilhantes, cheios de lágrimas. Suspirando, respondeu:



- Desde que começou a guerra que nunca mais a vi. Os pais dela fugiram com ela e com os irmãos. Eu tenho tentado comunicar com ela, mas nunca obtenho resposta...



Mikel suspirou, triste. Como o compreendia.



- Gostas mesmo dela, não é?



- Ela é a minha pequena estrela... Sem ela, eu não sou ninguém...



Mikel pegou num lenço para limpar as lágrimas teimosas que rolavam pelo seu rosto. Howl virou-se para ele e abraçando-o, perguntou:



- Olha, vamos tocar uma música? Já faz muito tempo que não tocamos!



- Hum, boa ideia! Vamos para aquela sala de instrumentos que o Kojiru tem cá!


E assim, lá foram eles para a tal sala. Chegados lá, ficaram estupefactos! A sala era maior do que ambos imaginavam e tinha bastantes instrumentos! Ao canto, um piano de cauda. Tinha acesso ao jardim, através de uma enorme janela. Felizes, os dois rapazes pegaram em diversos instrumentos e começaram a praticar. A dada altura, Howl pediu:

- Mikel, vamos tocar uma música em memória das nossas famílias e da Sophie? Tenho muitas saudades do meu pai... E tu?

- Tim, é uma boa ideia... Eu tenho muitas saudades de algumas pessoas também... - respondeu Mikel, pensando em Caim e em Ángel
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Daria tudo para os ter ali do seu lado, agora. Sentou-se ao piano, esticou as mãos e inspirou, acompanhado por Howl.




[Howl]

Eu ouço o tique-taque do relógio
Enquanto estou deitado no escuro do quarto
Pergunto-me: Onde estás hoje à noite?
Não recebo nenhuma resposta
E a noite passa tão lentamente
Ohhhh, tenho saudades tuas...

[Mikel]

Até agora, sempre contei só comigo mesmo
Nunca me importei até te conhecer
E agora, isso arrepia-me até aos ossos
Como faço para estar sozinho contigo?
Como faço para estar sozinho contigo?


Notas do Autor:

1 - Vírgulas do Destino: Meandros da Vida;

[Continua...]

RIP Akira Toriyama

Bom, confesso que quando soube desta partida, hoje de tarde, me emocionei bastante. Afinal, esta é uma das pessoas cujos trabalhos serviram ...