Podem ler os capítulos anteriores e também outras histórias,
clicando aqui.
Capítulo 10
*Enquanto isso, no comboio…*
Shade conseguira arranjar um lugar numa carruagem com compartimento e porta de deslize. Ele ficou todo contente, embora soubesse que a qualquer momento podiam entrar novos passageiros, já que o comboio parava em todas as estações e apeadeiros.
O comboio não ia cheio, mas também não ia vazio. Muita gente entrava e saía poucas paragens depois. O revisor viera ter com Shade meia hora depois de terem iniciado viagem e explicou-lhe que havia uma carruagem-restaurante a meio do comboio, onde serviam snacks e bebidas a toda a hora, para além de servirem refeições às horas de pequeno-almoço, almoço, jantar e ceia. Ele apresentou a lista daquele dia, que tinha um prato de carne, outro de peixe e outro de dieta, para além de frutas e sobremesas. As refeições tinham de ser marcadas com antecedência e Shade pediu para marcar um jantar para dois, do prato de carne.
Intrigado, o revisor mirou-o de cima a baixo e até se voltou para ver se estava mais alguém na carruagem, mas Shade limitava-se a olhar para o banco à sua frente, com ar sonhador. O revisor alertou Shade para estar atento aos seus pertences e também para a possibilidade da viagem poder demorar algumas horas a mais do que estava previsto, devido à neve que estava acumulada nos sopés das montanhas que o comboio teria de atravessar durante o percurso até Fargo.
Shade abriu a sua sacola, apresentou o bilhete, o revisor confirmou os dados e com um aceno, desejou-lhe uma boa viagem e retirou-se do compartimento, fechando a porta atrás de si. Shade abriu novamente a sacola e ao colocar o bilhete lá, apercebeu-se que algo não estava certo. De imediato, retirou tudo da sacola. O envelope com o dinheiro que Barry e a esposa lhe tinham dado parecia menos volumoso! Ele contou o dinheiro e as suas suspeitas confirmavam-se! Alguém roubara-lhe mil dólares!
- Filhos da puta! Cabrões! Não se pode confiar em ninguém! - vociferou Shade, zangado.
Quem teria roubado o dinheiro? O primeiro pensamento foi para Noah. Noah tivera inúmeras oportunidades para mexer na sacola, até porque visitara Shade todos os dias. Ele rapidamente retirou Noah da lista de suspeitos.
Embora pensasse que ele o poderia ter roubado, Noah não sabia que Shade tinha recebido aquela quantia. Noah sempre mostrara um grande respeito por ele.
Shade pensou nas outras pessoas que visitaram o seu quarto, no hospital. Sabia que várias auxiliares faziam a ronda ao longo do dia. Ele costumava estar pelo quarto, salvo quando ia à casa de banho. Também podia ter sido um outro enfermeiro ou enfermeira. Até podia ter sido a médica que estava de olho no caso dele…
Shade lembrou-se da auxiliar que o acordara naquela manhã. Ela não tinha feito barulho nenhum, talvez para não o acordar, mas ao mesmo tempo, ela poderia ser a principal suspeita! Aquela lengalenga toda, conversa de beata de igreja…
- “Vá lá, ao menos não me fanou o guito todo!” - pensou Shade, aborrecido.
Ele ainda ficou a matutar no assunto durante algum tempo, à medida que a tarde avançava e o cenário se tornava cada vez mais campestre. Ele estava agora a atravessar uma zona de campos de milho a perder de vista. Longos corredores verdes que se estendiam por quilómetros. Mais sereno, lembrou-se do pacote que Noah lhe tinha entregado. Retirou-o do bolso e sorriu. Tinha ali três charros!
- Ah, grande Noah! Isto sim, vai mesmo dar jeito agora!
Shade pegou na sua sacola, não sem antes escrever num papel: “Reservado! Fui à casa de banho!”, fixando-o na porta do compartimento, para ninguém ter a ousadia de entrar e sentar-se no seu lugar.
Chegado à casa de banho, fechou a porta atrás de si e aproveitou o momento para aliviar a bexiga. Riu-se, divertido, enquanto observava o jacto a deslizar a grande velocidade por um cano e a desaparecer. Olhou-se ao espelho. Estava com um ar cansado. Retirou um isqueiro, que Noah tinha colocado junto dos charros e sorriu para o reflexo no espelho.
- Isto é mesmo aquilo de que precisamos, Jules! - comentou Shade, ao dar a primeira passa.
- “Sem dúvida!” - respondeu Jules, que estava ao lado de Shade, no reflexo do espelho.
Shade fumou o primeiro charro rapidamente. Ia a meio do segundo, quando um rapaz sensivelmente da mesma idade dele entrou pela casa de banho adentro.
- Hey! Então é daqui que vem este maravilhoso cheiro!
- Jules! - gemeu Shade, com ar sonhador, abraçando o rapaz.
- Sim, chefe! Sou esse mesmo! Ah ah ah! Deixa-me fumar também, que pelo cheirinho, isso é material do bom! - gracejou o rapaz, fechando a porta e encostando Shade ao lavatório, enquanto fumavam e trocavam beijos.
- Ouve lá, tens mais? Esta merda é das boas, foda-se! - suspirou o rapaz, já com um ar totalmente apaziguador.
- Ó Jules, como sentia a falta disto! - exclamou Shade.
Os dois rapazes fumaram o último charro. Em seguida, o rapaz sacou o seu pénis para fora, aliviou a bexiga e começou a masturbar-se, enquanto Shade o observava, com ar deliciado. Provocante, o rapaz levantou um pouco da t-shirt que trazia, mostrando um ventre liso, que Shade tocou e beijou, começando a masturbar-se em seguida.
Uma voz feminina, impessoal, anunciou:
- “Atenção senhores passageiros! Chegaremos a Woodstock dentro de cinco minutos!”
- É a minha paragem, pá! Vou esporrar, aproveita! - sussurrou o rapaz, encostando a cabeça no peito de Shade.
- Eu vou gozar agora… Aaaaahhhh! Jules! - murmurou Shade, enquanto beijava e acariciava o rapaz.
Os dois atingiram o orgasmo quase ao mesmo tempo, gemendo e arfando deliciados. O rapaz ejaculou abundantemente para cima de Shade. Apressado, o rapaz limpou-se e empurrou Shade para o lado, que quase caiu com um solavanco.
O rapaz lavou as mãos e sorrindo, despediu-se. Abriu a porta e deixou Shade ali, totalmente embasbacado. Este suspirou, feliz e consolado. Limpou os vestígios que tinha nas mãos e na roupa. Lavou as mãos.
Depois disso, não tardou a regressar ao seu compartimento, que se mantinha vazio. Sorriu ao seu reflexo na janela. Jules sorriu-lhe de volta. Shade aconchegou-se e adormeceu.
Um solavanco mais forte, seguido da abertura da porta do compartimento, fizeram Shade abrir os olhos, estremunhado. As luzes do comboio já estavam acesas. Espreitou pela janela. Lá fora, estava escuro como breu. Não se conseguia distinguir nada, a não ser luzes, muitas luzes, em cidades e vilas lá ao longe, à medida que o comboio seguia viagem.
- Peço desculpa por acordá-lo, senhor… Os jantares já estão a ser servidos há mais de uma hora. Daqui a pouco eles deixam de servir! Seria uma pena não aproveitar a comida, a viagem ainda vai ser longa… Há registos de neve a bloquear os carris numas terras mais a norte! - declarou o revisor, apercebendo-se do intenso odor que vinha das roupas de Shade.
Shade acenou com a cabeça, bocejando e espreguiçando-se.
- Nós já vamos! Obrigado!
Torcendo o nariz, o revisor comentou, antes de voltar a fechar a porta:
- Sabe que é proibido fumar nestes compartimentos? Existe uma zona para fumadores na carruagem a seguir à carruagem-restaurante!
- Mas eu não fumei, senhor! - bocejou Shade, com voz estremunhada.
Passados alguns minutos, Shade dirigiu-se à carruagem onde ficava o restaurante do comboio. Ficou admirado por ver que muita gente estava a acabar de jantar. O estômago dele roncou. Foi nessa altura que Shade se apercebeu que estava cheio de fome. Dirigiu-se ao balcão onde serviam os pratos e uma rapariga de cabelos pretos recebeu-o com um sorriso.
- Olá boa noite! É para comer?
- Olá senhora! Boa noite! Sim, eu marquei uma reserva para mim e para o meu irmão! Ela ficou registada em nome de Shade e Jules!
A rapariga pegou na lista de encomendas daquele dia e após alguns segundos, encontrou o nome, passando um visto à frente. Virando-se para Shade, ela sorriu e encaminhou-o.
- Por favor, senhor! Pode escolher uma daquelas mesas ali! Já lhe vou levar o jantar!
- Não se esqueça do meu irmão! - resmungou Shade.
Atarantada, a mulher olhou à volta. Não estava mais ninguém nas redondezas a não ser os clientes que se encontravam a jantar. Ao aperceber-se do cheiro que vinha das roupas de Shade, ela sorriu e acenou com a cabeça.
- Peço desculpas! Podem sentar-se que eu já vos sirvo! Ah! Peço desculpas! Senhor Shade, terá de pagar as refeições antecipadamente!
Shade regressou ao balcão, com ar entediado.
- Muito bem, quanto é?
A mulher dirigiu-se à caixa e trouxe um talão.
- Mas…. Está aqui a registar apenas um prato, bebida e sobremesa para mim! E a refeição do meu irmão? - resmungou.
A mulher trocou olhares com o gerente do restaurante, que se aproximou para ver o que se passava. Perante uma rápida explicação sussurrada da empregada, o gerente virou-se para Shade e disse:
- O jantar do seu irmão é por conta da casa, senhor!
Animado, Shade pagou o que estava descriminado no recibo e deu uma generosa gorjeta à empregada.
- A senhora é muito gentil! Fique com o troco!
- Ó meu Deus! Muito obrigada, senhor! Eu vou já levar as comidas! É só um minuto!
O gerente seguia Shade pelo canto do olho. Aquele rosto era-lhe familiar… Mas de onde o conhecia, se nunca o tinha visto? A mesma questão era colocada por vários passageiros que estavam a jantar. Não tardou para que todas as pessoas da carruagem se voltassem pelo menos uma vez e começassem a falar daquele rapaz que parecia a todos, de alguma forma que não sabiam explicar, familiar.
Shade, por sua vez, fez um brinde com o irmão, assim que a funcionária levou a comida e a bebida. Estava cheio de fome. O frango assado estava muito bom, acompanhado com uma generosa colher de arroz e batatas assadas. A sobremesa era uma mousse de chocolate, acompanhada de um crepe com gelado de morango e chantilly. Shade estava cheio de fome, pelo que comeu tudo. Parecia que estava esfomeado! Quando terminou, pediu um café e comentou:
- Sabes Jules? Estou mesmo feliz! E se cantássemos uma canção para animar esta noite?
Jules, que estava sentado à sua frente, sorriu para ele e acenou com a cabeça.
[Shade]
Confessar…
Sem medo de mentir!
Que em ti,
Encontrei inspiração
Para escrever...!
Tu és uma pessoa que nem eu!
Tu sentes amor,
Mas não sabes muito bem
Como o vais dizer...
Dou-te o meu coração!
Queria dar-te o Mundo!
És o Luar do meu Sertão!
Neste comboio azul...
Todas as vezes, que o comboio assobiar,
A cor dele,
Será a cor que alguém pintar
E tu, sonhares...
Não faz mal!
Não sermos compositores!
Se o amor está a valer,
Eu empresto-te um verso meu
Para te dizer...
Só me dará prazer,
Se viajar, contigo!
Até ao nascer do Sol,
Neste comboio azul...
Dou-te o meu coração!
Queria dar-te o Mundo!
És o Luar do meu Sertão!
Neste comboio azul...
Rapidamente, as pessoas que seguiam naquela carruagem pegaram nos telemóveis e tablets, para tirarem fotografias e filmarem aquele momento! Shade parecia plenamente convicto de que estava a cantar com e para alguém, à sua frente!
[Shade]
Vais recordar-te
De um rapaz como eu?
Que sente amor,
Mas… Não sabe muito bem
Como o expressar...?
Só me dará prazer,
Se viajar, contigo!
Até ao nascer do Sol,
Neste comboio azul...
Uh! Uh! Uh...!
Dou-te o meu coração!
Queria dar-te o Mundo!
És o Luar do meu Sertão!
Neste comboio azul...
Quando terminou de cantar, muitas pessoas bateram palmas, para grande espanto de Shade.
- Mas...! O que se está a passar aqui? - perguntou o revisor, alertado pela algazarra naquela carruagem.
O revisor apercebeu-se de que era Shade o causador dos distúrbios. Preparava-se para o recriminar, quando a empregada saiu em sua defesa.
- Espere, senhor! Aquele rapaz não estava a incomodar ninguém! Ele só começou a cantar uma música muito bonita e as pessoas estavam a aplaudir! Ele canta muito bem!
- É verdade o que ela está a dizer? - perguntou o revisor, olhando em volta.
Os clientes acenaram todos que sim e alguns até entoaram: “Bis! Bis!”. A carruagem-restaurante ficou bastante animada, com muitos outros passageiros a dirigirem-se para lá, admirados e curiosos.
De repente, Shade sentiu-se muito cansado. Levantou-se a cambalear e pediu ao revisor para o levar de volta para a sua carruagem, pois não se sentia com muitas forças para ir sozinho. Preocupado, o revisor amparou-o, enquanto murmurava baixinho sobre a juventude estar perdida.
Ao aperceber-se que Shade estava a tremer com frio, o revisor passou-lhe a mão pela testa. Estava bastante quente. Ele deixou Shade sentado no seu compartimento, enquanto foi buscar uma manta e cobriu-o.
- Obrigado… Jules! - murmurou Shade de olhos fechados, dando um abraço ao revisor, que ficou atrapalhado e corado que nem um tomate!
- Ahmmm… De nada, acho eu? - comentou o revisor, ajeitando-lhe a manta.
Ao sentir-se aconchegado e mais quentinho, Shade adormeceu, pouco depois.
[Continua...]
***************************************************************
É já amanhã à noite [30 de Novembro, 23:59] que termina a votação que decidirá o final da novela "Escrito nas Entrelinhas: Parte 3"!
Esta será a primeira vez que eu faço uma votação do género, sendo que nem eu sei qual o resultado entre os 4 finais possíveis - [Perfeito/Regular/Mau/Terrível] - será o derradeiro vencedor!
Até ao derradeiro segundo, vocês podem continuar a votar! Boa Sorte!