28 junho 2021

Let's Talk About Sex #2

Hoje comemoramos o 52º aniversário sobre a Rebelião de Stonewall. Este evento foi o ponto de partida para o nascimento dos Direitos das Pessoas LGBTIQ+.

O evento começou de forma espontânea. Os gays e dragqueens que frequentavam o espaço revoltaram-se contra as sucessivas investidas da polícia, uma vez que naquele tempo era crime ser-se homossexual. Esta rebelião trazia outros movimentos por detrás dela - a questão da Guerra no Vietname, os Direitos das Pessoas Negras, os Direitos das Mulheres e também um novo conceito de Liberdade e de Expressão que nasceu com a Cultura dos anos 60. 


A Rebelião de Stonewall ocorreu em 1969, em Greenwich Village.


É certo que muitos de nós já ouviram - certamente alguns até já estarão saturados de falar - da questão do Orgulho Gay. A mim, tal como a tantos de nós por esse Mundo fora, parece tão comum abordar temáticas gays, encontrar-nos com outros gays e por aí adiante, que achamos que tudo vai bem.

Mas a verdade é que as coisas não são bem assim.

Começando pela situação aqui em Portugal, as pessoas de facto estão mais "abertas" e receptivas aos direitos das pessoas gays. Embora continue a ser incomum, a verdade é que cada vez mais me cruzo com casais de namorados de mãos dadas nas ruas. E isso deixa-me feliz. Afinal, até há bem pouco tempo, isso era algo quase impossível. Portugal não tem um quadro de violência homofóbica, mas que ela existe, existe. Muitos casos são abafados. Outros são dados como "incidentes pontuais", muitas vezes associados ao excesso de álcool dos agressores.

Apesar dos avanços nos direitos, existem pessoas que estão contra os mesmos. Eu acho que, a partir do momento em que não se está a invadir a liberdade individual de cada ser, as pessoas têm o direito de serem e de se expressarem do jeito que querem/são. 

Eu tenho leitores, amigos e conhecidos um pouco por todo o Mundo, o que me ajuda a ver e compreender como é ser gay um pouco por esse Mundo fora. Afinal, que nem todos os países do Mundo aceitam, muitos de nós já sabemos. Falar com pessoas que vivem em países onde ser gay é crime, onde têm de ter todos os cuidados e mais alguns para que ninguém descubra... Isso é o tema que me levou a esta reflexão.

Há pouco tempo atrás, tive dois contactos que me escreviam da Rússia. 

Ao conversar com eles, não pude deixar de me entristecer com os testemunhos arrepiantes que me descreviam, bem como os vídeos que me apresentaram. Apesar dos problemas que achamos que temos aqui em Portugal e em outros países, a verdade é que pelo menos podemos falar sobre eles. Talvez com menos pessoas do que aquelas que gostaríamos, mas podemos. Do mesmo jeito, temos aplicativos que nos permitem conhecer outras pessoas e quando a "fome aperta", sempre encontramos uma solução para "matar a fome". Ainda podemos expressar, como eu faço com o meu blog, aquilo que eu sou, apesar de considerar que ser gay não me define, mas sim, é um aspecto de mim. 




Ainda assim, ser gay é algo importante para mim, pois tornou-me a pessoa que sou hoje. Todas as lutas, todas as dores, todos os amores em silêncio, todos os momentos em que tive de me esforçar para chegar até aqui, para me amar e ter orgulho no que sou. Tantas e tantas vezes que quis desistir porque era diferrente. Essa é que é a verdade. Infelizmente, nem todos têm a mesma sorte.

Das pessoas com quem converso, algumas vivem o pesadelo diário de serem descobertas e de poderem ir parar à cadeia ou até mesmo serem mortas. Outras, desejam receber um carinho de um homem, porque nunca o tiveram. Pode parecer quase inacreditável, mas é a Realidade de muito boa gente, como é o caso desses dois amigos russos. Muitos deles não tem amigos no local onde vivem, porque ser gay é errado, porque ser gay é um pecado aos olhos da cultura de muitos deles. No caso dos meus amigos russos, eles são monitorizados, pelo que a troca de mensagens tem de ocorrer de forma bem discreta. 

Antes de sermos gays, somos seres humanos. Com mais ou menos defeitos, melhores ou menos bons. Ninguém é perfeito. ninguém devia ter o poder de controlar a vida dos outros. No entanto, vivemos ainda num Mundo cheio de injustiças.

E quanto a nós, que pertencemos ao universo gay, a nossa caminhada é constante. Ainda temos um gigantesco caminho a percorrer. Passaram 52 anos. Muita coisa mudou, principalmente nos últimos 20 anos. Infelizmente, ainda vivemos num Mundo onde sermos quem somos de verdade ainda é muito difícil para muitos de nós. Todos os dias morrem pessoas pelos motivos mais esdrúxulos: pela cor da pele, pela etnia, pela religião, pela sua sexualidade…

Ser quem somos de verdade não devia ser motivo de vergonha, mas sim, motivo de Orgulho!

Amor e Amar não são pecados; são actos de Coragem e de Resistência!

Saibamos valorizar o que já conquistamos, mas que nunca nos esqueçamos das pessoas que, por esse Mundo fora, ainda não podem celebrar este dia. 

Por um Mundo mais colorido, mais empático, mais feliz!


27 junho 2021

The Witch



The Witch [A Bruxa] [2015] é a minha proposta para hoje.


Sinopse:


O filme conta-nos a história de uma família que é excomungada por heresia da cidade onde viviam. Eles partem para uma quinta na Nova Inglaterra, onde apesar das dificuldades, eram felizes. Porém, assim que cai sobre eles uma tragédia, o ciclo de males parece ser interminável.


Eis um trailer:




A minha Opinião:


Vi este filme por sugestão de um leitor do blog [assim como os próximos dois filmes que abordarei por aqui]. Este é uma verdadeiro filme de terror e horror moderno. É uma boa lufada de ar fresco perante o marasmo em que cairam os filmes destas categorias. 

Aqui, o horror é vivido de forma bem intensa, apesar da trama do filme se desenrolar pacificamente - querem mesmo deixar-nos relaxados, enquanto vamos conhecendo a miséria daquela família devota a Deus, para nos irem supreendendo aqui e ali, com verdadeiros momentos de choque, terror e mistério!  

O filme é perturbador, no bom sentido. É o que se pretende de um filme que foge daquele clássico de horror e terror de Hollywood. Temos de ter bem presente a época em que decorre a acção do filme para percebermos a beleza do enredo. Os cultos pagãos, o satanismo, os olhos do bode, a bruxa que vive na floresta... Tudo detalhes que embelezam a narrativa que decorre em meados de 1600.

Eu achei que o filme está muito bem feito. Os ângulos de câmara, a música, os actores, os jogos de luz, a cenografia... Tudo ingredientes para um grande filme de horror psicológico. Muito interessante do ponto de vista histórico e religioso.


Nota Final João: 8,9/10

26 junho 2021

Spiral: From the Book of Saw

Depois de uma fase sem abordar filmes aqui no blog, neste regresso começarei com uma série de filmes de terror moderno que assisti ao longo da semana. O primeiro deles foi este:


 

Spiral: From the book of Saw [Espiral: O Legado de Jogos Mortais] [Spiral - o Novo Capítulo de Saw] [2021] é o 9º filme da saga "Jogos Mortais".


Sinopse:

Neste filme, conhecemos Ezekiel [Chris Rock], um polícia com quem ninguém gosta de trabalhar. Cedo ele vê-se envolvido numa teia de crimes sádicos e violentos, onde um vilão - a Mão Divina - pretende limpar a cidade dos pecados dos crimes cometidos por polícias corruptos. Quem será o Mastermind por detrás desta operação?


Eis um trailer: [Decidi voltar com os trailers!]





A minha opinião:


A promessa de que este filme traria uma nova roupagem a uma saga já bastante explorada fez com que muita gente tivesse algumas expectativas quanto a ele. O filme, no entanto, acaba por ser um spin-off da saga.

Não que o filme não nos entretenha, nem nos divirta minimamente. mas, para os verdadeiros fãs da saga Saw, este filme será um completo tiro no pé. O filme em tudo é mediano. Gostei da tentativa de trazer uma mudança à saga, mas com este protagonista, tão conhecido pelos filmes de comédia, é dificil conseguirmos imaginá-lo como o protagonista de um filme que se espera ser de terror, mas que acaba por ser um thriller muito pouco misterioso, visto que rapidamente vocês descobrem quem está por detrás da máscara.

O filme tem muita acção, desenvolve-se muito rápido, talvez como a espiral [🌀] de um tornado ou de um furacão. E assim como esses fenómenos da natureza, tem tanto de destrutivo, quanto de rápido, na maioria das vezes.


Como eu vi o filme sem grandes expectativas, mesmo na base do entretenimento, fiquei satisfeito. Gostei dos plot twists da história e fiquei curioso para saber se ele terá - ou não - continuação.


Nota Final João: 7,5/10

24 junho 2021

24 de Junho

Faz hoje 7 anos que me ligaram às 3 e meia da madrugada a dizer que o meu irmão tinha falecido, vítima de morte súbita. Se fosse vivo, ele estaria hoje com 30 anos. 

Com o passar dos anos a tristeza foi dando lugar a um misto de sentimentos: desespero, desânimo, agonia, melancolia… Mais tarde, esses sentimentos deram lugar à gratidão e aos poucos, ao esquecimento. 

Hoje decidi pela primeira vez nestes 7 anos, visitá-lo como sempre faço, mas também divertir-me. Sei que o meu irmão gostaria que assim o fizesse. Afinal, uma das maiores lições que ele me deixou é o facto de que não sabemos quanto tempo ainda nos resta por aqui, pelo que temos mais é que aproveitar, enquanto cá andamos.



Levei um ramo de girassóis, uma das flores preferidas dele [...e de mim e do Ángel...]
Enquanto eles eram vivos, ainda plantei alguns girassóis no quintal cá de casa.


Hoje decidi pela primeira vez nestes 7 anos, visitá-lo como sempre faço, mas também divertir-me. 

Sei que o meu irmão gostaria que assim o fizesse. Afinal, uma das maiores lições que ele me deixou é o facto de que não sabemos quanto tempo ainda nos resta por aqui, pelo que temos mais é que aproveitar, enquanto cá andamos.

E assim, fui ao S. João na Boavista. Nada de especial, só ver um pouco de animação na feira que está na rotunda da Boavista, os carrocéis, as cores, as músicas... Tudo o que me permitiu esquecer que estamos numa pandemia por alguns momentos.



Das quase inexistentes poucas animações que havia para adultos - a que está na foto leva-nos bem alto e até chegamos a ficar de cabeça para baixo durante alguns segundos [que da primeira vez,  parecem uma eternidade!] - mas é uma excelente forma de libertar adrenalina! 




Outra das atracções onde andei foi a Roda Gigante. Ela sobe até 30 metros de altura e ficamos com uma vista agradável sobre os arredores da Boavista, incluíndo a Casa da Música e o Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular. A Guerra Peninsular foi aquela que uniu os portugueses e os ingleses contra os exércitos de França, de Napoleão Bonaparte, na Península Ibérica, no período de 1808 a 1814.

20 junho 2021

Let's Talk About Sex #1

Na estreia desta nova temática do blogue, trago até vocês um artigo muito completo da National Geographic e partilhado pelo site Agência Aids, a propósito dos 40 anos da descoberta do vírus do HIV.

"O trânsito na volta para casa piorava, mas Anthony Fauci, no curto trajeto entre os Institutos Nacionais de Saúde (“NIH”, na sigla em inglês) e sua casa no noroeste de Washington, D.C., não pensava nas luzes de freio piscando à sua frente. Em vez do trânsito, sua mente estava fixada em relatos incomuns de uma doença inexplicável acometendo homens gays do outro lado do país.


Naquele momento, há 40 anos, ninguém poderia imaginar estar testemunhando o início de um surto mundial que infectaria mais de 75 milhões de pessoas e mataria cerca de 35 milhões.


O primeiro indício de que havia uma doença ameaçadora em curso surgiu em um artigo de pouca visibilidade na edição de 5 de junho de 1981 do Relatório Semanal de Morbidez e Mortalidade (“MMWR”, na sigla em inglês) dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (“CDC”, na sigla em inglês): cinco homens em Los Angeles haviam recebido atendimento médico devido a uma pneumonia causada por Pneumocystis, uma rara infecção fúngica dos pulmões causada em sistemas imunes gravemente debilitados. Não fora mencionado no relatório que dois dos homens já haviam morrido e outro sucumbiu à infecção logo em seguida.


Posteriormente, foi emitido um segundo relatório MMWR no início de julho. Dessa vez, um total de 26 homens —não apenas em Los Angeles, mas também em Nova York e São Francisco — padeceram com pneumocistose e sarcoma de Kaposi, um câncer causador de lesões nos vasos sanguíneos e outras infecções oportunistas.


“Senti arrepios na espinha”, recorda Fauci. “Pensei comigo: ‘meu Deus, só pode ser uma doença nova.’”


Fauci havia sido recentemente nomeado chefe do Laboratório de Imunorregulação do NIH nos Institutos Nacionais de Alergias e Doenças Infecciosas (“NIAID”, na sigla em inglês). Ainda assim, estava entre os especialistas em doenças infecciosas mais experientes do país, tendo ingressado no NIH em 1968, logo após sua residência médica. Mas seu vasto conhecimento e experiência apenas tornavam o caso ainda mais complexo.


“Continuei refletindo”, conta ele, “e a única conclusão a que pude chegar foi que estávamos diante de uma infecção totalmente inédita. Provavelmente era um vírus, pois, se fosse uma bactéria, provavelmente seria possível observá-la. Os vírus geralmente se esquivam mais”.


Fauci e seus colegas provisoriamente partiram da premissa de que esse novo vírus era zoonótico — originalmente transmitido por animais — porque cerca de 75% de todas as infecções em humanos começam dessa forma (sua premissa se revelaria correta). O primeiro passo era buscar pacientes que manifestassem os sintomas informados e levá-los ao hospital para observação.


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Em um mundo onde o vírus da covid-19 foi identificado semanas após sua descoberta e vacinas eficazes foram desenvolvidas em meses, é fácil esquecer os anos agonizantes entre o surgimento do HIV e um tratamento eficaz. Em julho de 1982, mais de um ano após o surto de HIV na comunidade gay, o CDC relatou casos entre hemofílicos, um indicativo de que a doença era transmitida pelo sangue.


Um mês depois, em 24 de setembro de 1982, o CDC denominou a nova doença como síndrome da imunodeficiência adquirida (“aids”, na sigla em inglês). Em meados de dezembro, o CDC informou que bebês em Nova York, Nova Jersey e Califórnia apresentavam sintomas de aids. O número crescente de casos na comunidade gay foi bastante devastador.


“Em meados de 1981, já era possível observar as repercussões àqueles ao nosso redor”, lamenta Gregory Ford, ator e ativista da aids em Washington, D.C. “Algumas pessoas subitamente adoeciam e morriam de pneumonia. Outras simplesmente desapareceriam da comunidade.”


No início de 1982, “o terror começou”, conta Ford. “Sabíamos que algo estava em curso, mas não fazíamos ideia da magnitude em que havia se alastrado… e como se tornaria devastador.”


Ficou evidente que os sintomas da aids se manifestavam por toda parte, porém, até que o vírus causador pudesse ser isolado e um método de identificação fosse desenvolvido, os médicos só podiam presumir quantos indivíduos na população em geral circulavam com a doença.


A boa notícia foi que, em 1983, o vírus HIV foi identificado e um exame de identificação logo foi desenvolvido. A má notícia foi que os exames de identificação revelaram que a aids havia se disseminado amplamente.


“Estávamos perplexos”, disse Fauci. “E era apenas a ponta do iceberg. Havia inúmeros infectados que não apresentavam sintomas clínicos.”


Passados meses, a escala global do surto ficou nítida. “Percebemos que não era algo restrito aos Estados Unidos”, lembra Fauci. “Estava presente na Europa e, na realidade, tudo apontava para a África como local de origem.”


É possível assistir a um discurso de Fauci, feito por volta de 1984, no YouTube em uma conferência sobre a aids no NIH, onde havia sido recentemente nomeado diretor do NIAID. Seu cabelo ainda preto surpreende um pouco e seu sotaque do Brooklyn ainda não havia assumido a voz rouca charmosa e calorosa dos últimos anos. Mas a abordagem direta de Fauci — e seu entusiasmo por vezes desconcertante para descrever a natureza de doenças terríveis — já estavam bem definidos.


“Fico muito animado e empolgado em falar sobre a aids”, afirmou ele do palco, “porque é um dos poucos assuntos abordados por nós em que é preciso mudar o discurso mensalmente devido aos avanços extraordinários na evolução dessa síndrome.”


Após 50 minutos de informações clínicas, Fauci volta-se ao problema da prevenção — o elemento mais polêmico da era da aids, durante a qual um grande percentual de norte-americanos, incluindo profissionais médicos, insistia em encarar a aids como “uma doença gay”.


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Fauci explica o desenvolvimento de curas para o HIV em 1984.  

Ironicamente, foi esse rótulo incorreto e prejudicial que impediu muitos membros da comunidade gay de recorrer à medicina convencional durante a expansão da crise, segundo Ford.


“O fato de se referirem a uma ‘doença gay’ não fazia sentido para mim”, prossegue ele. “Não é possível confiar em medidas baseadas na premissa de que uma doença ficará restrita a um determinado grupo de pessoas.”


Como resultado, afirma Ford, uma rede abrangente de autoajuda surgiu dentro da comunidade gay. Por meio de organizações como a Act Up em Nova York e a Us Helping Us em Washington, D.C., as pessoas compartilharam diversos tratamentos não convencionais contra a aids, incluindo dietas e remédios naturais.


“As pessoas mantinham arquivos enormes repletos de informações sobre os tratamentos”, recorda Ford. “Sugestões como ‘o que é preciso fazer para neutralizar os efeitos negativos de um determinado tratamento’. Basicamente, aqueles acometidos com a doença eram seus próprios experimentos científicos.”


Em seu discurso no NIH em 1984, Fauci já havia notado a abordagem proativa da comunidade gay em relação ao HIV.


“A reação dos gays foi extraordinária e encorajadora ao promover a conscientização entre seus membros e irmãos sobre os riscos de certos tipos de contato”, conta ele.


É possível alegar que Fauci também deveria ter alertado sobre a necessidade de realização de exames antes das doações de sangue e de rastreamento de contatos. Em 1984, Marty Keale, pai de um filho hemofílico chamado Stephen, foi convidado a uma reunião em Los Angeles entre representantes da comunidade de hemofílicos e ativistas gays. Mas essa não foi uma conversa fácil entre aliados. Como os hemofílicos na época utilizavam concentrados de fatores de coagulação derivados de sangue humano e milhares deles estavam se infectando com a aids devido a doações de sangue contaminado, as relações entre os dois grupos estavam tensas.


“Alguns membros da assistência de saúde de hemofilia fizeram algumas afirmações — provavelmente de modo não intencional — que implicavam culpa por parte da comunidade gay”, lembra Keale. “E a comunidade gay não concordou. Aliás, ficou bastante indignada. Estávamos sentados em uma grande mesa redonda com pessoas furiosas conosco.”


Com a ajuda de Edward Gomperts, hematologista da Universidade do Sul da Califórnia, um dos principais especialistas no campo da hemofilia, Keale acalmou os ânimos que estavam à flor da pele naquele dia. Mas até mesmo depois de se mudar para Sacramento e se tornar diretor executivo de um centro regional de saúde de HIV/aids, Keale continuou a testemunhar esses confrontos.


“Acredito que a culpa tenha sido um dos fatores”, afirma ele. “Eu fazia parte de um conselho consultivo comunitário que ajudava a decidir como os recursos federais destinados à aids seriam gastos. Ficou evidente que, homossexuais ou não, naquela época, as pessoas geralmente se sentiam culpadas por terem contraído a aids. E, em vez de assumirem essa culpa, precisavam transferi-la aos outros. Os ânimos podiam ficar muito acalorados entre essas pessoas.”


Apesar da espera agonizante por um tratamento enquanto milhares de pessoas morriam, hoje Keale ainda acredita que o NIH fez tudo que estava razoavelmente ao seu alcance naqueles primeiros anos. Fauci foi um dos poucos funcionários de saúde do governo dispostos a falar sobre a aids — e especialmente sobre o fato de que a aids era muito mais do que uma ameaça isolada.


“Foi um surto amplo”, afirma Fauci. “Contudo, naqueles primeiros anos, os funcionários do governo Reagan não estavam muito abertos a falar sobre o assunto. Não aproveitaram a grande visibilidade da presidência.”


Fauci não representava a presidência, mas dispunha de autoridade e ficava cada vez mais à vontade diante das câmeras da imprensa. Enquanto o governo Reagan não se pronunciava, ele concedia sucessivas entrevistas pressionando por mais financiamento para pesquisas e tentando explicar a natureza da aids à população. Após Reagan deixar o cargo, ele conta: “desenvolvi relacionamentos muito fortes com os presidentes que sucederam”.


A batalha contra a aids durou muito mais do que Fauci poderia ter imaginado. Em 1987, a FDA aprovou o AZT para tratar os sintomas da aids, apesar dos efeitos colaterais graves comuns da medicação. No início da década de 1990, foram desenvolvidos tratamentos com medicamentos antirretrovirais — seguidos por terapias multimedicamentosas, cujas sucessoras atualmente oferecem tratamentos contra o HIV com eficácia notável.


“A jornada nesses últimos 40 anos foi extraordinária”, observa Fauci. “Um dos grandes sucessos da pesquisa biomédica é o tratamento de pessoas com HIV — e a prevenção na forma de fármacos profiláticos.”


Apesar das reivindicações de “curas” isoladas para o HIV por meio de algumas medicações recentes, Fauci permanece cético.


“É um feito difícil de realizar”, comenta ele. “A capacidade desse vírus de se integrar às células do genoma dificulta muito sua erradicação no organismo humano. Mas a boa notícia é que há uma pílula única que contém três agentes antirretrovirais que atuam diretamente em três diferentes pontos de vulnerabilidade do ciclo de replicação do vírus, a qual tem apresentado um sucesso espetacular.”


Para os primeiros pacientes com HIV/aids, um armário abastecido de remédios era algo inimaginável.


Ford e seu parceiro foram diagnosticados com HIV em 1987. “As pessoas nos perguntavam: ‘para que fazer o teste?’”, lembra ele. “Afinal, não havia tratamento. Além disso, os infectados não podiam contar para os outros, exceto talvez aos amigos mais próximos. Ninguém podia contar no trabalho. E certamente ninguém poderia contar à seguradora. De que adiantaria? O infectado estava sozinho, não podia contar com ninguém. Essa era a parte mais difícil.”


O parceiro de Ford faleceu em 1989. E por uma década inteira após seu diagnóstico, Ford recusou o tratamento médico convencional, até que, por fim, desenvolveu uma infecção oportunista. “Ainda assim, meu médico e eu tivemos longas conversas a respeito”, afirma ele. “Porque eu simplesmente não aceitava o tratamento!”


Quarenta anos depois que o HIV se tornou conhecido, Ford ainda é uma força no cenário artístico de Washington D.C., onde dirige uma companhia de teatro que oferece uma plataforma para pessoas afetadas pelo HIV.


É tentador contrapor a recente mobilização acelerada contra a covid-19 nos Estados Unidos com o progresso relativamente lento feito contra a aids, mas Fauci acredita que há pouco espaço para comparação.


“A covid-19 é um surto respiratório explosivo que colocou todos em risco apenas por respirar perto de alguém”, explica ele. “Foi uma explosão mundial. O HIV foi incubado sem que se percebesse.”


As diferenças nas abordagens científicas entre o HIV e a covid-19 destacam, em última análise, a natureza imprevisível da virologia.


“Contra o HIV, existem terapias espetacularmente eficazes, mas nenhuma vacina”, observa Fauci. “E contra a covid-19, há vacinas espetaculares, mas nenhuma terapia de fato eficaz.”


Fauci, diretor do NIAID há quase quatro décadas, atua na supervisão de respostas a enfermidades como a aids, a covid-19, o ebola, a gripe suína, a SRAG e no ressurgimento do sarampo e da coqueluche. Epidemias não esperam pacientemente, podem surgir a qualquer momento, em qualquer lugar.


“É por isso que há bons sistemas de monitoramento”, explica Fauci, “para que nada no radar passe despercebido”."

19 junho 2021

Vacina

 

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Esta semana anunciaram que as pessoas com mais de 40 anos já poderiam fazer o auto-agendamento para a vacina. Eu tentei, mas não havia datas disponíveis no ponto mais próximo de casa (Campo de Ténis de Vila do Conde).

Na passada 4ª feira, ligaram-me a meio da tarde, a anunciar que deveria comparecer na 5ª feira, às 11:27 [acho graça aos detalhes das horas, tão minuciosas] a fim de tomar a vacina.

Eu não tenho andado bem de saúde, estou com um problema no rim direito, mas o que fazer? Aceitei.

Cheguei lá na 5ª feira, tinha 5 pessoas à minha frente na fila. Não vi, nem tenho visto das outras vezes que passo naquele local, aquelas filas de pessoas que aparecem na televisão, que ficam horas à espera. Queria tomar a vacina da Jansen, porque é de toma única. E foi essa que me deram. 

[Todos os homens estavam a tomar a Jansen. As mulheres, todas estavam a tomar a da Pfizer].

Tive um pouco de febre na noite de 5ª para 6ª. De resto, nada mais.

16 junho 2021

Escrito nas Entrelinhas: Parte 3 - Escolhe tu o final!

 




A trilogia "Escrito nas Eentrelinhas" está quase a terminar. Começarei a publicação da 3ª e última parte a partir de 4 de Julho. Decidi dar-vos a oportunidade de escolherem o final da novela. Existem 4 finais (Muito Bom/Bom/Mau/Terrível). A vossa decisão influenciará a trama a partir de um certo ponto. Podem votar quantas vezes quiserem e nas diversas opções que encontrarão no topo das postagens do blog! Caso haja um empate, o final será decidido por sorteio! Vocês não saberão qual o final que estão a escolher, até o descobrirem! :D

Acho importante dizer que a maior parte das cenas ocorre nos 4 Finais. No entanto, alguns acontecimentos variam conforme cada final, levando a história a inesperadas conclusões! 

Esta é uma primeira experiência que queria introduzir nas minhas novelas e espero que vocês gostem!


 

01 junho 2021

Junho



When June comes dancing o'er the death of May,
With scarlet roses tinting her green breast,
And mating thrushes ushering in her day,
And Earth on tiptoe for her golden guest,

I always see the evening when we met--
The first of June baptized in tender rain--
And walked home through the wide streets, gleaming wet,
Arms locked, our warm flesh pulsing with love's pain.

I always see the cheerful little room,
And in the corner, fresh and white, the bed,
Sweet scented with a delicate perfume,
Wherein for one night only we were wed;

Where in the starlit stillness we lay mute,
And heard the whispering showers all night long,
And your brown burning body was a lute
Whereon my passion played his fevered song.

When June comes dancing o'er the death of May,
With scarlet roses staining her fair feet,
My soul takes leave of me to sing all day
A love so fugitive and so complete.


Poema "A Memory of June", da autoria de Claude McKay
[15/09/1889 ~ 22/05/1948]

RIP Akira Toriyama

Bom, confesso que quando soube desta partida, hoje de tarde, me emocionei bastante. Afinal, esta é uma das pessoas cujos trabalhos serviram ...