08 março 2024

RIP Akira Toriyama

Bom, confesso que quando soube desta partida, hoje de tarde, me emocionei bastante. Afinal, esta é uma das pessoas cujos trabalhos serviram de inspiração para as minhas novelas até hoje. Este grande senhor, cuja morte foi anunciada hoje, morreu no passado dia 1 de Março, vítima de um AVC. 
  
Akira Toriyama foi um Mangaka [desenhador de mangá e animé japonês], e com o qual a minha geração vibrou, pois foi o autor da saga Dragon Ball, nos anos 80 e 90. Para além de Dragon Ball, ele teve muito sucesso com uma mangá nos anos 70, chamada Dr. Slump. Depois disso, seguiu-se então Dragon Ball [1986-1989], Dragon Ball Z [1989-1996], supervisão de Dragon Ball GT [1996-1997], supervisão de Dragon Ball Super [2015- 2018] e mais recentemente, estava a trabalhar numa nova história do universo Dragon Ball, chamada Dragon Ball Daima [2024]. Akira Toriyama também foi criador de personagens nos jogos Dragon Quest, Chrono Trigger, Blue Dragon

As aventuras de Songoku em Dragon Ball tiveram um início simples, com uma mistura de misticismo e diversão. A série foi criada por Akira Toriyama e lançada em 1984 na Weekly Shonen Jump

Dragon Ball foi fortemente baseado no clássico chinês “Jornada ao Oeste” (também conhecido como “Viagem ao Oeste”). Publicado pela primeira vez em 1592, “Jornada ao Oeste” foi escrito por Wu Cheng’en e é uma obra influente que se baseia na peregrinação do monge Xuanzang em busca de escrituras sagradas do budismo. A história é repleta de figuras peculiares, e uma delas é o Rei Macaco, Sun Wukong.

Aqui estão algumas semelhanças entre Dragon Ball e Jornada ao Oeste:

* Songoku é a versão japonesa do nome Sun Wukong. Ambos são lutadores corajosos com habilidades superpoderosas.

* Sun Wukong é abençoado com inúmeras habilidades fantásticas, como feitiços mágicos, transformações em diferentes criaturas e a manipulação do clima. Ele também possui um bastão mágico e uma nuvem voadora. Songoku também obtém um bastão mágico e uma nuvem mágica, a Kinto'un.

* A busca pelas Esferas do Dragão em Dragon Ball é uma adaptação da busca por escrituras sagradas em Jornada ao Oeste.


Recordo, com carinho, que nos tempos do meu 1º blog, cheguei a entrevistar e a estar com o Henrique Feist [que dava voz a Songoku, Songohan, Songoten, entre outros personagens, bem como o marido dele, Ricardo Spínola, que deu voz ao Dragão Shenlong, Tartaruga Genial, entre outros personagens, na dobragem portuguesa]. Voltei a entrevistá-los mais tarde, noutra ocaisão, junto com o elenco de "Rapazes Nus A Cantar". Bons tempos! ^^




R.I.P. Akira Toriyama 
[05/04/1955 ~ 01/03/2024] 

[Morte anunciada apenas hoje, 08/03/2024, pelo Bird Studio]

05 março 2024

RIP António-Pedro Vasconcelos

Hoje, o céu ganhou mais uma estrela. E aqui fica uma pequena homenagem.


António Pedro Saraiva de Barros e Vasconcelos, conhecido realizador e escritor português, deixou-nos hoje, aos 84 anos, vítima de pneumonia. Entre muitos trabalhos, gostaria de vos deixar com um trailer de um dos meus filmes preferidos do cineasta:
  






R.I.P. António Pedro Saraiva de Barros e Vasconcelos
10/03/1939 ~ 05/03/2024

01 março 2024

Março



Caem chuvas de março sobre a cidade, 
E digo este poema meio que sem vontade, 
Porque me treme a voz em pensar em Liberdade. 

Da janela, vejo os pássaros a arranhar os céus, 
A cair em voos picados, 
E percebo que mais vale falar do que silêncios entornados
Porque o silêncio, é como este entardecer
É como o início da dor, quando começa a doer
É uma liberdade tísica a querer gritar
E tudo quanto se ouve é oco
De tanto que nos ensinaram a calar
Quem é que ainda sabe falar?
Quem ressuscita um pássaro morto?

Sou livre, digo a rodopiar por baixo da chuva
A acender um maço, 
A grafitar liberdade, 
A tatuar um pássaro no meio do braço, 

Porque as chuvas que me caem ainda são de março, 
e algo me chove a mais dentro do peito, 
como se os cravos se fossem murchar, 
como se a liberdade fosse este vento, 
como se nos quisessem calar, 
como se nos faltasse sangue no peito. 

Caem chuvas de março, sobre os meus pés descalços, 
As pétalas que me mancham são de abril
Eu disse, as pedras que me mancham são de mil

Que a liberdade, que vejo da janela 
É um estado líquido aquoso,
É mais um desempregado, 
É mais um vento, ventoso, 
São os sem abrigo parados no Chiado, 
É pintar os lábios a vermelho
É vestir uma farda, mascarar um país inteiro, 
É o som da colher a aquecer na esquina, 
É mais o tacho a raspar de uma família,
A liberdade, é uma utopia
E, eu sei, sou poeta e tenho miopia, 
Mas de onde vejo não somos todos iguais, 
Que as chuvas que molham uns, 
Silenciam todos os demais.

A Liberdade, 
É a trincheira dos meus dias, 
É dispersar as multidões em continência,
É um chorar sinuoso como a calçada, 
É abraçar as mães, os pais, os filhos, as filhas, a madrugada. 
É um vai ficar tudo bem, 
Com certeza de quase nada. 
E não só de pão e água e se faz um continente, 
É preciso terra, é preciso dar uma alma a toda a gente,
Que a liberdade é muito mais do que uma mensagem secreta,
Uma indireta, escondida no meio do poema, 
E não é sobre política, 
É sobre ser poeta, é sobre ser poeticamente correta. 
Porque caem chuva de março sobre a cidade,
E algo me chove a mais dentro do peito, 
O tempo é de cortar a respiração,
A apneia que sinto é a de pensar
As pétalas que me murcham são de abril
Eu disse, as pedras que me murcham são de mil
Caem chuvas de março sobre abril. 

Com o tejo preso nos olhos, 
Continuo a tentar entender, 
Como o medo zigzagueia o passo, 
Como se envelhecem as peles no cansaço, 
É esta a mesma luta que começamos há anos atrás?
Ia jurar que estes marços me sabem a todos iguais. 

Cai o maço, raso na janela, 
Já se ouvem as canções, 
Os pássaros da primavera, 
Dá-me um cravo na boca para recomeçar, 
Que mesmo com os corações desafinados, 
Vamos marchar, marchar, marchar. 


Poema "Março", da autoria de Alice Neto de Souza [??/??/1993]