
Capítulo 24
*NT, 21 de Janeiro de 2024*
O quarto estava mergulhado numa penumbra azulada, a luz do amanhecer filtrada pelas cortinas de linho. Leo abriu os olhos devagar, como se despertasse de um coma. A camisa estava encharcada em suor, colada ao peito, e os dedos tremiam ao tocar o lençol. A respiração ofegante ecoava no silêncio, enquanto fragmentos daquilo que acabara de sonhar aglutinavam-se na sua mente como cacos de vidro: Lauriel, Nicolás, Arcanus... O Universo da Narrativa... Um portal. Um aviso.
Engoliu em seco, sentindo o gosto metálico do medo na língua.
- Foi só um pesadelo... - sussurrou, esfregando os olhos até ver estrelas.
Mas algo doía nele.
Uma pontada no plexo solar insistia:
- “Isso não foi só um sonho!”
Uma voz familiar ecoou na mente de Leo:
- “Não importa o que aconteça, Leo. Eu estou aqui. E sempre estarei! Para Além Do… Para Sempre!”
No chão, próximo à cama, uma pena dourada brilhava sob a luz fraca. Leo esticou a mão, hesitante. A pena desfez-se em pó antes que ele lhe tocasse, deixando apenas um rasto de cinzas no ar.
- Alucinações… - murmurou, levantando-se com esforço.
No espelho acima da cómoda, o seu reflexo encarou-o: olhos injectados, cabelos despenteados, uma subtil cicatriz no queixo, mais visível do que nunca. Como se tivesse lutado contra algo... Ou fugido de alguém.
Ao abrir a porta, Leo quase colidiu com Rodrigo. Este estava parado no corredor, a mão suspensa no ar, prestes a bater na porta. Os seus olhos, normalmente tão controlados, estavam dilatados, e a pele pálida sob a barba por fazer.
Leo tentou quebrar o silêncio, mas a voz falhou.
- Tu também...?
Rodrigo apertou os lábios, os dedos fechando-se em punho, a tensão percorrendo-lhe os ombros.
- Também o quê, caralho? - respondeu, mais ríspido do que o habitual.
Leo hesitou, engolindo o receio.
- Sonhaste... Com... Aquilo?
Rodrigo desviou o olhar, um músculo pulsando na mandíbula. Em vez de responder, passou por Leo sem dizer nada, como se o peso da pergunta fosse demasiado para lidar naquela manhã.
Do andar de baixo, o aroma de café fresco subiu, envolvendo-os. Doña Bárbara chamou, docemente:
- ¡Muchachos! ¡El desayuno está listo!
Rodrigo murmurou algo ininteligível e desceu as escadas, enquanto Leo ficou parado por um momento, tentando processar a inquietação que pairava no ar.
A sala de jantar era um contraste grotesco com o turbilhão interno de Leo. Luz solar dourada inundava a mesa posta com loiças de porcelana, frutas tropicais dispostas como jóias e suco de maracujá em taças de cristal. Don Diego mastigava uma torrada com geleia, os olhos cravados em Leo como um falcão à espreita.
- ¿Durmió bien, señor Leo? - perguntou Doña Bárbara, servindo-lhe um pedaço de mamão.
- Oh, sim! Obrigado! - mentiu Leo, forçando um sorriso, embora o suor escorresse-lhe pela coluna.
- Hoje é um dia especial! - anunciou Don Diego, erguendo a xícara. - Vamos mostrar-lhes o coração de El Callao: nuestras minas!
A faca de Rodrigo tilintou contra o prato, e Leo notou o olhar que os anfitriões trocaram, como se soubessem mais do que deixavam transparecer.
- Finalmente vamos ver as vossas minas? - repetiu Rodrigo, a voz neutra, mas os olhos atentos.
- Sí. Diamantes raros, únicos... Alguns até brilham como o arco-íris! - disse Doña Bárbara, sorrindo de forma quase ensaiada, dentes perfeitos demais para serem reais.
Leo sentiu um arrepio na espinha e lançou um olhar discreto para Rodrigo, que retribuiu com um levantar de sobrancelha quase imperceptível: algo estava errado. A mesma suspeita pulsava entre eles: Era uma armadilha.
Leo sussurrou rapidamente:
- É melhor comeres algo… Afinal, não sabemos quando voltamos a meter algo pela goela abaixo! Ao descer as escadas, a Lúcia comentou que os homens do Don Diego não tardam a chegar para nos acompanharem à mina!
- Força, come por mim! Não me apetece comer nada! Vou tomar um banho, a ver se esta neura me passa! - rematou Rodrigo, virando costas.
Assim que este ficou sozinho, pensamentos ardentes invadiram-no. Uma mistura de desejos, sonhos, vontades loucas… Os pensamentos faziam-no percorrer o corpo daquela misteriosa mulher que ele observara na noite anterior. De repente, eis que alguém entra no quarto de Rodrigo.
Era Lúcia.
Ela era uma mulher de espírito indomável, uma verdadeira guerreira na forma como enfrentava a vida. Nada nela era morno ou previsível. Tinha fogo no olhar, uma determinação inquebrantável e um jeito de falar que desarmava qualquer um. Quando queria algo, ia até ao fim, e agora os seus olhos estavam postos em Rodrigo.
Os seus longos cabelos castanhos desciam em ondas suaves pelas costas, como uma promessa de caos e desejo. A pele dourada pelo sol carregava um brilho natural, realçado pelo toque de perfumes discretos, mas marcantes. O sorriso dela era uma armadilha - ora doce, ora malicioso, um sorriso capaz de fazer Rodrigo perder o fôlego sem que ela precisasse de tocar nele.
Havia uma tensão inevitável entre os dois, um jogo perigoso que se intensificava a cada troca de olhares, a cada palavra dita com segundas intenções. Lúcia não era mulher de esperar que as coisas acontecessem; ela fazia as coisas acontecerem. E quando finalmente cruzou a linha entre a provocação e a acção, o mundo pareceu parar.
Os dedos dela traçaram o contorno do rosto de Rodrigo antes que ele pudesse sequer reagir. O calor da sua pele encontrou a dele, e a proximidade tornou o ar rarefeito. Era inevitável. Quando os lábios de ambos se encontraram, não houve hesitação, apenas o choque eléctrico de duas forças que se reconheciam e se consumiam. Lúcia queria sentir tudo - o desejo, o perigo, a promessa silenciosa de que nada seria igual depois daquele encontro. E Rodrigo, mesmo sabendo que poderia perder-se nela, não queria parar. Rapidamente ele percebeu que a mulher que tinha visto na noite anterior era Lúcia. Esta colocou um dedo nos lábios dele e encaminhou-o para debaixo do chuveiro, à medida que o despia.
Rodrigo sentia-se mero espectadora daquela cena, em êxtase! Definitivamente, aquilo melhoraria o seu humor!
A água quente escorria pelo corpo de Rodrigo, mas o calor que o consumia não vinha apenas do vapor que embaçava o espelho. Lúcia estava ali, diante dele, com aquele olhar de predadora que lhe roubava o fôlego. Sem dizer uma única palavra, ela deslizava os dedos molhados sobre o peito dele, desenhando caminhos invisíveis na pele arrepiada. Rodrigo sentiu cada toque como um incêndio a alastrar-se pelo seu corpo.
Os lábios de Lúcia encontraram a curva do pescoço dele, depositando beijos húmidos e quentes que o fizeram prender a respiração. O perfume dela, misturado com o vapor do chuveiro, invadia os sentidos de Rodrigo, deixando-o tonto, completamente entregue ao momento. As mãos dela percorriam os ombros dele, descendo pelas costas, explorando cada músculo tenso, cada detalhe da sua pele quente.
Rodrigo deslizou as mãos até à cintura de Lúcia, puxando-a para mais perto, sentindo o calor dos seus corpos colidirem! A água caía sobre eles como uma tempestade abençoando aquele encontro proibido. Lúcia arqueou o corpo contra o dele, pressionando-se sem medo, sem hesitação. Ele sentiu a suavidade e a firmeza dela, um contraste viciante que lhe despertava os instintos mais primitivos.
Os lábios dela encontraram os dele com urgência, e o beijo foi avassalador. Línguas que se procuravam, dentes que mordiscavam com desejo e provocações silenciosas. As mãos de Rodrigo apertavam a cintura de Lúcia, explorando, memorizando cada curva. Os gemidos abafados misturavam-se ao som da água caindo, tornando o ambiente ainda mais intoxicante.
Lúcia pressionou Rodrigo contra a parede fria do chuveiro, deslizando as unhas pelo abdómen dele, arrancando-lhe um suspiro rouco. Os olhos dela brilhavam de prazer e desafio, um convite para que ele tomasse o controle do jogo. E Rodrigo não precisava de mais nada. Ele girou o corpo, prendendo-a contra os azulejos, os olhos cravados nos dela, intensos, famintos.
- Quero sentir tudo em ti... - murmurou ele, a voz rouca de desejo.
Lúcia sorriu, aquele sorriso malicioso que lhe prometia mundos e pecados. Ela enlaçou as pernas ao redor da cintura dele, os corpos encaixando-se como se sempre pertencessem um ao outro. As mãos dele deslizaram pelas coxas dela, subindo, apertando, arrancando-lhe suspiros e arrepios.
O mundo desapareceu. Não havia mais nada além do calor sufocante entre eles, da pele contra pele, dos beijos molhados e das mãos que exploravam cada centímetro um do outro. Rodrigo e Lúcia entregaram-se sem reservas, sem medo, como se aquele momento fosse a última chance de existirem juntos.
A cada movimento, a cada gemido abafado, o desejo entre eles atingia novos picos, elevando-se até um clímax inevitável. E quando finalmente se perderam um no outro, quando o prazer os tomou por completo, Rodrigo soube que Lúcia não seria apenas mais um nome na sua vida.
Ela era uma tempestade. E ele não queria escapar.
[Continua...]