Capítulo 39
Vemos primeiro o mundo - não como era, mas como ficou.
As minas silenciaram-se.
As runas adormeceram.
Mas, no lugar onde a fenda se abriu, cresceu uma flor de cristal com sete pétalas translúcidas, cada uma a vibrar com uma cor do arco-íris. O lugar tornou-se sagrado. Um dia, chamar-lhe-iam Templo.
Mas, para os que lá estiveram… Era só o lugar onde a Verdade brilhou.
*Nicolás*
Caminha por entre aldeias esquecidas.
As pessoas não sabem quem ele é.
Mas sentem algo ao vê-lo: vontade de viver.
De mudar.
De tocar.
De sentir o próprio corpo e a própria alma.
Escreve histórias no vento.
Mas nenhuma com tinta.
Escreve em olhares.
Em beijos.
Em gestos.
“O novo ciclo não precisa de um deus.
Precisa de quem acenda fogueiras.”
*Lauriel*
Sentada entre os diamantes vivos, no centro da Mina restaurada, olha o Tempo passar.
Ela não envelhece.
Mas também não está presa.
É a Guardiã da Narrativa Viva.
A que impede o retorno das Sombras da Escuridão.
E a que sorri… Quando lê os nomes daqueles que ousaram sentir tudo.
*Doña Bárbara & Sparky*
Vivem no limiar entre o Mundo Visível e o Oculto.
Guardam o Portão da Fronteira.
Às vezes, um viajante chega e pergunta:
- Aqui é o fim?
Ela responde:
- Não. Aqui começa o resto.
*Leo*
Voltou à terra.
Cultiva com as mãos nuas.
Curou as costas dos velhos.
Os olhos dos novos.
De noite, senta-se sob o céu.
E quando uma estrela brilha forte, murmura:
- Mikel, eu vejo-te!
Sorri.
E continua.
*Juca e Juán*
Trocam cartas.
Às vezes, risos.
Noutras, poemas.
E uma vez por ano, encontram-se.
Falam pouco. Sentem muito.
Já não precisam viver juntos.
Porque há coisas que o tempo já uniu para sempre.
*Lúcia*
Escolheu andar.
Sem rumo, mas com missão.
Conta histórias.
Sobre mães que erram.
Pais que caem.
E sobre uma rapariga que soube dizer “basta” com amor.
Às vezes, alguém chora.
Ela segura.
E segue.
*Aion*
Já não fala.
Agora, ouve.
E quando alguém, algures, escreve com Verdade...
…Um cristal arco-íris acende-se no Coração da Mina.
*Rodrigo*
Ninguém o viu partir.
Nem precisavam.
Rodrigo desapareceu na noite em que o mundo foi salvo - mas não porque fugiu.
Foi para os lugares onde a dor ainda não tinha nome.
Hoje, chamam-lhe de várias formas:
“O homem do manto cinzento.”
“O que cura sem cobrar.”
“O que pede desculpa antes de tocar.”
Mas nunca diz o nome.
Porque quem decide servir…
…Já não precisa ser lembrado.~
*Eyden Sandiego*
Por muito tempo acreditou que era o novo Narrador.
O novo Verbo.
A próxima Pena.
Mas, quando tentou escrever o Fim, a tinta recusou-se.
Ele percebeu:
- A liberdade não se escreve. Só se vive!
Eyden dissolveu-se no Vento de um Parágrafo Nunca Fechado.
Mas às vezes…
…Alguém ouve uma frase inesperada ao sonhar.
E quem sabe…?
Se não é ele, ainda a tentar entender o que é amar.
*Arcanus*
Nem morto.
Nem salvo.
Preso dentro de um diamante imperfeito, debaixo da mina.
Lá, repete eternamente um Ritual que nunca se completa.
- Lauriel... Lauriel... Lauriel…
Os diamantes arco-íris não se abrem com poder.
Apenas com Verdade.
E como Arcanus nunca teve coragem de se olhar por inteiro...
…Ele ficou preso na história que quis controlar.
Um eco sem corpo.
Um deus que se esqueceu de ser humano.
*A Mulher Misteriosa*
Ela nunca lutou.
Nunca salvou.
Nunca foi julgada.
Apenas observava.
Na sombra da mina.
Nos olhos de Eyden.
No silêncio entre os Capítulos.
Agora, ela caminha por Outros Mundos.
Semeando o Caos?
Talvez.
Quem sabe?
Talvez esteja a plantar novas histórias - mais perigosas, mais belas.
Mas antes de desaparecer, deixou gravada uma única frase no Véu da Realidade:
“A Ordem é uma Pausa. A Imprevisibilidade… É a Origem.”
E ninguém sabe o nome dela.
Mas todos sentem que…
…Ainda a vamos encontrar.
A câmara afasta-se.
Vemos a mina ao longe, selada por cristal vivo.
Lá dentro, pulsa uma cor que ainda não tem nome.
Um tom novo.
Um sentimento por nascer.
Para além da história.
Para além da forma.
Para Além do Arco-Íris...
Cai o pano.
Mas o coração…
…Esse…
…Continua a brilhar.
