Na semana passada, uma pessoa fez-me uma revelação que me deixou, no mínimo, surpreendido. Eu estava num dia menos bom e receber aquela novidade assim, de supetão, deixou-me sem reacção. O meu silêncio perante a revelação não foi bem visto pela outra parte, que partiu logo do princípio de que o meu silêncio subentendia um qualquer tipo de negatividade perante a informação que me tinha sido partilhada... Seguiu-se um comentário infeliz e acabou-se a amizade.
Fiquei a pensar se o problema era de facto meu. Fiquei a pensar se tinha sido algum tipo de demonstração, através do meu silêncio - que na verdade era um choque, perante a revelação que me foi feita, ainda por cima num dia que já estava a correr bastante mal - o grande culpado daquela situação.
Na verdade, aquela revelação pouco ou nada mudaria a minha visão sobre a outra pessoa. Eu só precisava de um tempo para absorver a informação que me tinha sido partilhada. Mas não me foi dada sequer essa oportunidade. A outra pessoa simplesmente achou que, por eu não lhe demonstrar uma atitude “receptiva” e “positiva” perante a revelação, que eu já não era “digno” de ser seu amigo.
Ninguém consegue gostar de ninguém por inteiro. Por mais que o neguemos, a verdade é que sempre existe alguma coisa que não gostamos nos outros. Em boa verdade, nem sequer conseguimos gostar de nós mesmos a 100%. Todos temos as nossas particularidades e sempre existe algum aspecto que uma “voz” na nossa cabeça vai apontar. E se tem dias em que simplesmente não ligamos para essa “voz”, tem outros dias em que sim, ela vai afectar-nos.
Gostar de alguém, começa por gostarmos de nós mesmos. Nós começamos a gostar de nós mesmos quando nos aceitamos. Quando reconhecemos os nossos defeitos e fragilidades, bem como as nossas qualidades e os nossos pontos fortes. Só conseguimos gostar e acreditar nos outros, se gostarmos de nós mesmos. E, ainda assim, nunca gostaremos de ninguém, nem mesmo de nós próprios, por inteiro!
É preciso muita coragem para gostarmos de nós. Somos seres tão únicos, complexos e profundos… Por vezes, até temos medo de nós mesmos. Das nossas reacções, dos nossos pensamentos mais nefastos e sombrios, das nossas atitudes e comportamentos.
Muitos de nós nunca se olharam verdadeiramente ao espelho, porque têm medo do que o reflexo lhes vai mostrar. Mas é precisamente nesse gesto tão banal que começa essa jornada rumo ao maior e mais importante de todos os compromissos - aquele com nós mesmos, à medida que geramos, criamos e desenvolvemos o nosso amor-próprio. Quanto mais nos conhecermos a nós mesmos, melhores pessoas nos poderemos tornar. E, por consequência, mais gostaremos das pessoas ao nosso redor.