Chegamos àquele dia do ano em que me sento em frente do computador para escrever umas linhas e fazer uma retrospectiva sobre o meu ano pessoal. Estamos a algumas horas da minha entrada num novo ano de vida, então, é a altura certa para o fazer.
Este ano que passou, honestamente, terá sido o ano mais rápido e o mais vívido que tive até hoje. foi um ano bastante intenso, que começou comigo a ir embora para o Brasil, com o homem que eu amo. E, se a primeira semana foi para esquecer - seja porque eu estava doente ainda quando saí daqui, seja porque a primeira impressão foi difícil - a verdade é que em pouco tempo já estava a sentir-me em casa. Onde estava, com praia a 20 minutos de casa, passei o Natal dentro de água, com um solzinho gostoso. E foi uma experiência maravilhosa. mas, como tudo o que é bom acaba depressa, cedo tive de voltar.
A minha pseudo-família... eu já nem consigo designá-los de família, sinceramente... Estava a maltratar a minha avó. Deixei-a aos cuidados do meu "progenitor", com ela a andar, para ter de regressar porque ele estava a maltratá-la, recusando-se a cuidar dela e ela já estando a ficar acamada.
Eu cuidei dela por mais de 20 anos e achava que estava na altura de passar o testemunho a outra pessoa, porque também mereço cuidar da minha vida. Mas outras pessoas acharam que não. E assim, muito revoltado, tive de regressar, deixando tudo em suspenso.
Os primeiros tempos cá foram horríveis. Nem a minha casa, onde sempre vivi, já sentia como minha. Achei incrível como em tão pouco tempo, a minha identidade, a minha presença, a minha energia, simplesmente desapareceu. Afinal, eu tinha ido embora, então acho que isso é natural que tenha acontecido. Ainda hoje por vezes sinto dificuldade em me sentir em "casa", mas a verdade é que neste momento não tenho lugar a que chamar "casa", por assim dizer.
Bom, os primeiros tempos foram muito complicados. Além da ruptura total com progenitores e restante família que se recusou a ajudar de todas as formas e feitios - eu quase tive um burnout com tudo o que tive de lidar naqueles tempos - lidar com uma pessoa idosa, frágil, completamente carente e num processo como o dela, foi o mais desafiante. tive de encontrar forças sabe Deus onde. Acho que um dos segredos foi mesmo esse. Não ceder ao vitimismo. Não permiti que a minha avó fosse uma coitadinha.
Fiz de tudo para que ela recuperasse, mesmo que houvesse dias em que só a presença dela me colocasse doido... Foram dias e semanas mesmo muito difíceis e só quem passou por isto me poderá entender e não me julgar.
Com a depressão e sem saídas em que me encontrava, triste e desanimado por estar longe de quem eu queria estar, acabei por sucumbir ao desânimo. Havia dias que ficava sem forças para mais nada para além de ser um piloto automático. Fazia as coisas que era preciso fazer. E pronto.
Do Brasil, ia recebendo força, apoio, coragem, ânimo. Nem sempre resultava, mas era alguma coisa. Não esqueço de nenhum desses momentos. Sempre presente para me encher de fé e luz quando eu estava mais enfraquecido e na escuridão.
E foi assim que retomei a escrita do blogue, em particular da novela que tinha começado a escrever em 2018 e tinha ficado com um bloqueio criativo no Capítulo 36, "Escrito nas Entrelinhas: Parte 3".
A trilogia Escrito nas Entrelinhas é, até agora, a minha obra-prima. Nunca escrevi uma obra que me desse tanto prazer a escrever como esta novela. Criar todo um universo que inicialmente se desenrolaria e terminaria subitamente ao fim da primeira história, com a morte do Jules, o protagonista, deixando os leitores com dúvidas e curiosos sobre o que teria de facto acontecido ao Jules para aquilo ter acontecido. Mas, as narrativas ganham vida e foi uma benção ver até onde a história chegou. Nem eu poderia imaginar ao princípio - só concebi a ideia dos irmãos no final da primeira história - e mesmo assim, quase até ao fim da novela, estive dividido entre o terceiro irmão estar vivo ou ter sido morto no final da primeira novela e quem ser o verdadeiro vilão ser de facto Jules - mas isso seria um plot twist demasiado macabro e talvez pouco convincente [ou não]!
O que é certo é que escrever o que faltava da 3ª Parte da novela foi crucial para eu me curar da minha depressão. Aos anos que Matoskah, Takoda, Baya Ainila, Mikel, Shade, Jules, Lothus e tantos outros povoavam a minha imaginação e os meus sonhos. Conversava muito com eles, deambulava e tinha devaneios a imaginar momentos das histórias. Foi bom, apesar de ter custado dizer-lhes adeus, mas foi bom, pois ficou a sensação de dever cumprido. E, a bem dizer, um dia destes sairá a sequela...
Orgulha-me de ter terminado a novela este ano, ano em que completo 10 anos de escritos de histórias. E, por falar nisso, esqueci-me de dizer-vos que fui entrevistado para outra revista norte-americana, umas semanas atrás. Fica aqui o link:
O ano foi avançando, uma vez que o tempo não pára. É implacável. A minha avó recuperou, anda quase sem ajudas, voltou a ter problemas mais duas vezes mas pronto, com fé, lá superou.
Eu voltei a estudar na área de Saúde, depois fui fazer uma Especialização, mas entretanto arranjei trabalho numa Casa Abrigo para vítimas de Violência Doméstica e tem sido um trabalho muito gratificante. Desafiador, mas gratificante.
Só posso estar grato. Aprendi a gostar de estar sozinho, aprendi a reconhecer pessoas tóxicas à distância, hoje em dia prefiro a solidão a estar com as outras pessoas. Ainda assim, existem sempre pessoas que gosto de estar e com quem quero estar.
Acima de tudo, procuro começar os meus dias por agradecer e terminar os meus dias a agradecer. E hoje, véspera do meu aniversário, só posso estar imensamente grato.
Que o Novo Ano que está a chegar seja um Ano Novo cheio de Sonhos Bons, Bençãos, Saúde, Prosperidade, Amor, Alegria, Reunião, Reencontro, Sucesso e claro, Gratidão!
Gratidão, Sempre!