31 maio 2022

Escrito nas Entrelinhas: Parte 3 ~ Capítulo 18

 

Capítulo 18


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Shade correu sem parar até ao local onde viviam os amigos que o tinham salvo. Estava confuso e assustado. Seria aquele homem, um dos caçadores de recompensas? Há quanto tempo é que ele teria a cabeça a prémio? As dores de cabeça aumentaram de intensidade, tornando-se uma valente enxaqueca. Jules acompanhava-o, tentando animá-lo.

- “Está tudo bem, os teus amigos surgiram mesmo a tempo!

- Como é que eles sabiam? Isto é obra tua, Jules?  

- “Os teus amigos viram-te a entrar na tua antiga casa…” 

Ofegante e cansado, Shade encostou-se a uma parede. Tinha chegado ao beco onde viviam os dois rapazes. Esperou ali por eles. Uma hora depois, os dois rapazes regressaram, devagar. Um deles estava ferido!

- Shade! Bro! Há quanto tempo! - exclamou um deles.

- Mesmo! Há quanto tempo, mano! - concordou o outro, com um gemido, uma vez que estava a sangrar do braço esquerdo.

Os dois rapazes eram primos. Altos e magros, um deles tinha cabelos castanhos-claros e olhos num tom castanho-avelã. Esse chama-se William. O outro rapaz tinha cabelos castanhos-escuros e olhos do mesmo tom. Esse chamava-se Adam. William e Adam eram bastante parecidos.



William e Adam


Além de serem primos, eles eram meios-irmãos, por parte do pai, que fugira da cidade depois de engravidar as mães de ambos. As duas irmãs, com vergonha do que pensariam as pessoas, desapareceram pouco depois de terem os bebés e deixaram-nos aos cuidados de uma instituição para rapazes. Essa instituição fechou 11 anos mais tarde, depois de inúmeras queixas de maus-tratos e abusos. William e Adam passaram a viver nas ruas e a cuidar um do outro. Alguns meses mais tarde, os dois primos conheceram Shade e Damian. 

- Ó meu Deus! O que foi que vos aconteceu? Vocês estão bem? - perguntou Shade, chocado!

William sacou de uma chave e abriu uma porta.

- Falamos dentro de casa, ok? Ajuda-me a amparar o Adam!

- Claro!

Devagar, os três rapazes entraram num apartamento muito semelhante ao apartamento de Damian. Aqueles eram apartamentos cedidos a sem-abrigo, graças aos inúmeros esforços da directora do Centro Comunitário de Fargo Hills. William e Shade acomodaram Adam num sofá.

- Tira a camisola, Adam! Preciso de ver o ferimento! - ordenou Shade, com ar sério.




Com alguma dificuldade, até porque Adam estava cheio de dores, William ajudou-o a retirar a camisola. Enquanto isso, Shade correu até à casa de banho para procurar um kit de primeiros socorros. Depois de reunir o que achava que precisaria, Shade correu para a sala e viu o ferimento. Adam tinha levado um tiro no braço. Felizmente, a bala só o atingira de raspão. 

- Como é que…? - perguntou.

- Aquele homem deu luta… - explicou William. - Depois de tu fugires a correr, ele empurrou-nos para o lado e correu atrás de ti. Avisamo-lo de que estávamos armados, mas ele não pareceu ficar assustado com isso… Pouco antes de chegarmos à ponte, ele disparou sobre nós e olha, quando eu vi o Adam a cair, eu pensei que ele o tinha matado e não hesitei: disparei várias vezes! O homem ainda cambaleou, mas acabou por cair da ponte abaixo…  

- Porra, meus! Não me acredito que vocês podiam ter morrido por minha causa! - gemeu Shade, enquanto limpava cuidadosamente o ferimento de bala. 

- Ora… O importante é que está tudo bem! Tu sabes como funciona a lei das ruas, mano… Somos uns para os outros! Aiiiiii! Isso dói! - guinchou Adam. 

Com ar terno, Shade procurava acalmar o amigo.

- Apesar de não teres ficado com a bala alojada, precisas de levar pontos! 

- Consegues fazer isso, Shade? Não queria nada meter a polícia ao barulho, nem ir ao hospital! - suspirou William, dando a mão a Adam e sorrindo para este.

- Na boa, não se preocupem! Arranja-me um trapo, fio, alfinetes e uma boa garrafa de álcool! - pediu Shade, com ar profissional.

- Vai doer, não vai? - gemeu Adam, triste.

- Prometo que vou fazer o que sei para que não seja tão doloroso assim, fofo… - respondeu Shade, com um sorriso carinhoso, dando um beijo ao amigo. 

William trouxe o que Shade pediu. Este colocou uma mordaça na boca de Adam e depois de fazer uma limpeza mais profunda com álcool, começou a coser o ferimento. Adam gemia e chorava. William chorava em silêncio. Shade tentava manter o sangue-frio, concentrando-se no que estava a fazer. Quando terminou, limpou a testa que estava alagada em suor. Foi buscar uma compressa, colocou pomada e depois envolveu o braço e ombro de Adam com uma ligadura.

- Tu és um verdadeiro pro, mano! - congratulou-se William.

- Agora tens de evitar fazer esforços com o braço durante dois ou três dias. Depois disso, voltamos a ver como é que isso está! Acho que estarás pronto para outra não tarda nada! - declarou Shade, arrumando as ligaduras e o restante material.

- Tu podias ser médico, Shade! Nunca pensaste nisso? - perguntou Adam, mexendo o braço devagar.

- Quando muito, seria enfermeiro, ah ah ah! - riu-se Shade, mais tranquilo. - O que sei, aprendi lá no Centro Comunitário ao cuidar das pessoas... Adam, toma este comprimido. Vai ajudar a aliviar as dores.

Adam tomou o medicamento que Shade lhe deu, enquanto William foi buscar um copo com água para o primo beber. Shade virou-se para os dois rapazes e perguntou, com ar preocupado:

- Olhem lá uma coisa… O homem tinha uma encomenda com ele… O que é que é feito dela?

William sentou-se ao lado de Adam e convidou Shade a sentar-se.

- Olha… A encomenda foi-se com o homem… Ele colocou o pacote no bolso e…

Adam gemeu e comentou:

- E o homem falou-nos sobre o que tu escreveste na carta… Nós já sabemos o que aconteceu, Shade… Já sabemos o que tu fizeste no Verão passado2!

Shade ficou branco como cal. William deu-lhe as mãos, sendo seguido por Adam.

- Não precisas de ficar nervoso… Não te julgamos por nada, mano… Tu fizeste o que tinhas de fazer! Se fosse eu, teria feito o mesmo!

- E eu também, bro! - exclamou Adam, que aos poucos,  sentia os efeitos da medicação.

- É melhor tu ires descansar um pouco, Adam! Eu e o William ajudamos-te a ires para a cama! 

- Ok…

William e Shade ampararam Adam até ao quarto, despiram-no, deitaram-no na cama e fizeram-lhe alguns carinhos e carícias mais íntimas para que este adormecesse depressa. Depois de Adam atingir o orgasmo, Shade e William voltaram para a sala. Shade estava nervoso e pediu um charro.

- Mas tu agora também fumas?

William riu-se e rapidamente preparou um charro para cada um. Shade e ele foram para a janela da sala, onde se recostaram a fumar.  

- Estás bem, Shade?

Shade chorava, triste.

- Não era assim que eu queria que vocês soubessem… O que é que vocês vão ficar a pensar de mim?

- Ora… Estou a ver que os ares lá de Grace Falls te deram a volta ao miolo, meu! Achas mesmo que eu, o Adam ou o Damian te vamos julgar pelo que aconteceu? Tu fizeste o que tinha de ser feito… 

- E ainda não acabei… Mas tenho dúvidas de que consiga ir até ao fim… Da outra vez, eu estava mesmo enraivecido… E mesmo assim, não foi fácil!

- O importante é não descobrirem que foste tu… - suspirou William, com ar perdido no horizonte.

- Acho que não deixei vestígios... Enfim... Sabes? Senti tanto a falta destes momentos… Contigo, com o Adam, com o Damian… Quem me dera que o Jules pudesse estar aqui do nosso lado… Sinto muitas saudades dele…

De repente, Jules surgiu ao lado de Shade e com um sorriso, comentou:

- “Mas eu estou aqui… E sempre vou estar!”  

Shade sorriu e exclamou:

- Ó Jules! Como senti a tua falta! Já viste? Os meus amigos levaram um tiro por causa daquilo!

William questionou-se.

- Jules?

Enquanto isso, Shade abraçava-se a si mesmo, completamente convencido que estava a abraçar o irmão. Foi aí que William entendeu. Shade devia estar a delirar devido ao charro e sorriu. Abraçou Shade e depois de terminarem de fumar, os dois foram para a sala, onde se sentaram a conversar e a beber.

- Eu vou avisar o Damian de que estás aqui. Assim ele não fica preocupado! 

- Isso! Eu não tenho telemóvel… Ainda. Faz isso, por favor! Diz-lhe que o Jules manda beijinhos! - respondeu Shade, com ar sonhador.

Depois de mandar uma mensagem a Damian, William sentou-se ao lado de Shade, desafiando-o para um concurso de shots. Shade aceitou e os dois amigos beberam até adormecerem, com as cabeças recostadas um no outro.


*28 de Maio de 2018*


Nos dias que se seguiram, Shade ficou por casa dos amigos. Damian andava bastante ocupado a atender clientes e aquele mês estava a ser particularmente “produtivo”. Shade ficou a saber durante um jantar que Damian estava a preparar-se para viajar para Nova Iorque. Era por isso que andava tão ocupado. Pretendia ganhar o máximo de dinheiro que pudesse para se poder governar quando fosse viajar.

- Se ele não te contou, foi porque não calhou! Vocês mal tiveram tempo para estarem juntos! Não fiques assim! - comentou Adam pela enésima vez, ao ver a cara de caso de Shade. 

- Yah, deve ter sido isso… - suspirou Shade.

O ferimento de Adam estava a cicatrizar bem. Naquela manhã, Adam, Shade e William dirigiram-se para o Centro Comunitário de Fargo Hills, a fim de prestarem voluntariado. Damian cruzou-se com eles no caminho. William deu as mãos a Adam e com um sorriso, rematou:

- Nós vamos indo! Até já!




Damian parecia cansado. Ao ver a cara de Shade, percebeu logo que este estava chateado com alguma coisa.

- Queres tomar um café, Shade? Eu estou a precisar…

- Já tomei o pequeno-almoço, mas pode ser, nee

Os dois amigos dirigiram-se para um café próximo ao centro e sentaram-se numa mesa ao canto. Com ar sedutor, Damian questionou:

- Eu sei que se passa alguma coisa contigo, fofo! O que tens? Estás chateado comigo porque não te tenho dado atenção?

Shade explodiu:

- Caralho, Damian! Porque não me disseste que te vais, não tarda muito, para Nova Iorque? Quando esperavas dizer-me? No dia em que te fores embora?

As pessoas que estavam no café viraram-se para trás e olharam espantadas para Shade, que estava com o rosto vermelho de raiva e os olhos brilhantes. Não tardaria a chorar. Damian sorriu às pessoas. Estas encolheram os ombros e viraram costas, retornando os seus afazeres.

- Olha, Shade… Muita coisa aconteceu desde que te foste embora para Grace Falls, o ano passado… Antes de eu vir parar a Fargo, eu estudava Teatro numa Universidade em Massachusetts… Não consegui concluir o curso na altura, porque acabou-se-me o dinheiro… Mas, ao longo deste tempo todo, eu fui finalizando as cadeiras que me faltavam e finalmente, durante o Outono passado, eu terminei o curso!

- Wow! Parabéns! - congratulou Shade, impressionado. - Eu não sabia, nee… Quer dizer… Sabia que andavas ocupado, mas não sabia que estavas a investir nisso, disseste que era um segredo. E que só me revelarias… - Shade recordou-se. - Pois foi…! Tu disseste que só me revelarias o segredo, quando o terminasses! Ó meu Deus! Parabéns!!

Damian sorriu, orgulhoso. 

- Tive a ajuda da minha prima, a Daniela1! Ela emprestou-me o dinheiro necessário para concluir os estudos! É por isso que agora ando… Ocupado, entendes? Estou a juntar o dinheiro para a viagem e para lhe pagar o que ainda lhe devo! Graças a Deus, com o que já ganhei este mês, vou conseguir pagar-lhe o dinheiro que falta! A partir de agora, o que ganhar é para juntar para as despesas da viagem, alojamento e alimentação! Não sei se já sabes, mas eu vou para Nova Iorque para participar num musical da Broadway!

- Um musical da Broadway? Bem, não fazes por menos, nee! Estou a ver que muita coisa mudou desde que me fui embora… Pelos vistos o William e o Adam também andam nessa “ocupação”... E pelo que me contaram… Eles já conseguem facturar alguma coisa! Aliás, tenho a dizer-te que adorei aqueles casacos que eles têm…!

- Falou o niño que agora é rico! - gracejou Damian. - Fui eu que os “meti” nessa “ocupação”... Os clientes gostam de “carne fresca”... Vá, não seja por isso, eu compro-te um casaco igual ao deles!

- Acho bem! Acho mesmo muito bem! - riu-se Shade, mais bem-disposto. - Mas nee, como é que surgiu a oportunidade? Para tu participares num espectáculo da Broadway?

- Os produtores andaram a fazer um mega-casting pelo país… Eu não ia concorrer, mas a directora Alicia insistiu muito. Eu decidi tentar a minha sorte. Concorri. Fui chamado, participei em alguns testes e olha, fui seleccionado… 

- A sério? Que fixe! Então e como é que se chama essa peça?

- É uma versão actual da obra “Os Miseráveis”, de Victor Hugo! - declarou Damian, feliz. - Nem quis acreditar quando me ligaram a dizer que tinha sido seleccionado! Vamos começar a actuar em Outubro! Como eu tenho um papel secundário, só preciso de ir para Nova Iorque em Agosto. Mas tenho colegas meus que já estão a ensaiar desde Março!

Shade suspirou, aliviado.

- Em Agosto? Boa! Pensei que te ias embora para a semana…! Se é assim, ainda temos algum tempo para estarmos juntos…!

Damian abraçou-o.

- Claro que sim, puto! Achavas que te livravas de mim assim tão depressa? 

Shade abraçou-se ainda mais a Damian.

- Vou sentir falta destes abraços…

- Porquê que não vens comigo para Nova Iorque, Shade? Eu vou viver num quarto de um apartamento partilhado com outros colegas do espectáculo, mas decerto que arranjo um espaço para ti! 
Abanando a cabeça, Shade rematou, levantando-se:

- Nãããããã…! - Eu tenho de procurar pistas sobre o meu pai, lembras-te? Entretanto, é melhor irmos para o Centro, senão a directora vai dar-nos na cabeça!

E assim, depois de pagos os cafés, Damian e Shade seguiram para o Centro. Ao chegarem lá, Marcia informou-os de que deveriam ir os dois ao gabinete de Alicia, assim que chegassem. 

- Cheira-me que já vamos ouvir sermão… - suspirou Shade, enquanto subiam as escadas.

Quando chegaram à porta do gabinete, bateram. Passados alguns instantes, a directora Alicia abriu a porta, com ar sério. 

- Entrem meus filhos, entrem…

Ao entrarem, Shade e Damian não puderam evitar um “Oooohhh!” de espanto. O gabinete da directora encontrava-se cheio de gente! Estava lá a Presidente dos Estados Unidos da América, Zelda Washington, que sorriu para os dois rapazes. Junto dela, encontrava-se um homem que Shade reconheceu como sendo o pai de Matoskah e Takoda2! Ao lado dele, estava Noah, o enfermeiro que cuidara de Shade em White River! E junto à janela do gabinete da directora estava Bianca, a meia-irmã de Shade e de Jules!   


Notas do Autor:

 

1 - “Vírgulas do Destino: Prisioneiros do Amor”;

2 - “Escrito nas Entrelinhas: Parte 2”;


[Continua...]

30 maio 2022

Sucker Punch

 


Sucker Punch [Mundo Surreal] [2011] é um filme de fantasia, acção, drama e steampunk.


Sinopse

BabyDoll [Emily Browning] vivia com a mãe, a irmã e o padrasto. Um dia, a mãe aparece morta às mãos do padrasto. Este descobre que a mãe deixou a sua fortuna às filhas e, furioso, procura que estas cedam a sua parte. Como as raparigas resistem, ele acaba por matar a irmã de BabyDoll e esta acaba internada num asilo. Conseguirá ela escapar e provar a sua inocência?  


Eis um trailer:





A minha opinião:


Estamos perante um filme que é um misto de vários filmes famosos. A história é engraçada, mas podia ter sido muito mais desenvolvida. Quase parece que o filme se torna uma aventura erótica de um bando de raparigas bonitas. 


A nível da acção e da imagem, o filme tem cenas espectaculares, muito semelhantes a vídeojogos do estilo. A nível da música, o filme também é bom, as músicas são coincidentes com os momentos em que decorrem.

Infelizmente, o enredo acaba por ser um pouco estranho e confuso. Não vou entrar em pormenores para não dar spoiler, mas de uma forma geral, apesar disso, gostei do filme. Deu para entreter.


Nota Final João: 7,4/10

27 maio 2022

Escrito nas Entrelinhas: Parte 3 ~ Capítulo 17

 

Capítulo 17


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Eddie ficou branco como cal! Jules e Shade tinham mantido um relacionamento amoroso! Aquela devia ser a derradeira razão para Jules ter cometido suicídio! 

Triste com a descoberta, Eddie mandou a secretária fazer várias chamadas: telefonou à Presidente Zelda, ao advogado da empresa GraceTech, Chayton, e à esposa deste, Shappa. Precisava de respostas a várias perguntas.

Como estivessem todos ocupados, Maria, a secretária de Eddie, pediu para que lhe ligassem assim que pudessem. Eddie fechou-se no escritório e exigiu não ser incomodado, a não ser pelas pessoas com quem ele queria falar naquele momento.

Sozinho, ele chorou e sofreu em silêncio, tentando imaginar o que teria passado pela cabeça dos dois irmãos ao descobrirem a terrível verdade. Alguns minutos mais tarde, Chayton ligou-lhe. Ele era um homem ameríndio de longos cabelos pretos e olhos esverdeados. Alto, esbelto e musculado, com a pele muito dourada pelo sol. 

- “Olá Edward, tudo bem consigo?

Eddie respondeu com voz trémula.

- Olá Chayton! Preciso de falar consigo e com a Shappa! Ela está por aí?

Shappa era a esposa de Chayton e a mãe do Chefe Matoskah e do irmão deste, Takoda. Ela tinha os cabelos bastante compridos, em tons férreos. Ela era quase tão alta como o marido e tinha olhos acinzentados. 

- “Estamos no carro, a caminho da Reserva! Eu vou pôr a chamada em altifalante!” 

- Obrigado...

- “Senhor Eddie? Olá boa tarde! Passa-se alguma coisa?” - questionou Shappa, preocupada.

- Antes de mais... James... É melhor estacionarem o carro. Os miúdos estão com vocês? - perguntou Eddie.

Shappa olhou para o marido com ar surpreendido e acenou com a cabeça. Este abrandou a velocidade e estacionou o jipe onde seguiam na berma da estrada. Chayton respondeu, intrigado.

- “Só estamos nós os dois, Eddie! O Matoskah e o Takoda já estão na Reserva Indígena! Nós vamos agora a caminho de lá. O que se passa? Precisa de alguma coisa? Eu peço desculpas, mas agora só poderei passar na empresa na próxima semana… Haverá um encontro de tribos neste fim-de-semana, o primeiro encontro do Matoskah como líder!” 

Eddie decidiu lançar o isco:

- Eu só preciso de confirmar uma coisa... A Bianca... Ela contou-me que o Jules e o Shade envolveram-se amorosamente... Pelos vistos o Jules falava disso lá no diário dele...

Shappa mostrou-se admirada.

- “A Bianca contou-lhe? Não estava à espera de que ela fosse partilhar esse episódio da vida do irmão... Daquilo que conseguimos ler, o Jules escreveu no diário que ele e o irmão envolveram-se, mesmo depois de saberem que eram irmãos...” 

Como Eddie não afirmasse nada, Chayton tentou pôr água na fervura.

- “Eddie… Eu não sei como é que você está… Acredito piamente que esta não seja uma notícia fácil de digerir... Mas… Posso garantir-lhe que os rapazes não fizeram nada de errado. Não foi por isso que o Jules se suicidou... E você sabe disso.

- É fácil para vocês! A forma como a vossa cultura funciona… É diferente da minha… - declarou Eddie, um pouco amargurado. - Eu sei que vocês não me entendem, afinal na vossa tribo… É tudo uma rambóia! A minha falecida esposa devia ter pertencido à vossa tribo!

Seguiu-se um silêncio desagradável. Shappa expôs o seu ponto de vista.

- “Não confunda as coisas, senhor Eddie. Por favor. Os nossos costumes e crenças em nada afectaram o que veio a acontecer. Os miúdos não têm culpa do sucedido. Eu acho que o Jules se sentia muito sozinho… A forma como ele se afeiçoou aos nossos filhos… Eu acredito que quando encontrou alguém como ele, quando ele conheceu o Shade… Isto é, um rapaz que sentia e pensava de forma muito semelhante à dele, depois das perdas que sofreu… Ele deve ter sentido que finalmente não estava tão sozinho! Porque sim, ele sentia-se muito só!”  

Eddie chorava copiosamente.

- Desculpem-me pelo que vos disse. Fui um idiota! Shappa, você tem toda a razão… Se eu tivesse estado mais próximo do Jules… Da Laura… Se eu não tivesse colocado a empresa à frente da família…

Chayton murmurou.

- “Nós amávamos o Jules como se ele fosse nosso filho. Os nossos filhos e amigos também o amavam e continuam a falar dele com respeito e saudade. Ele tornou-se um dos nossos…”    

- Mas o mundo vai muito além da vossa tribo, não é? - Eddie insistia no ponto que lhe parecia fulcral. - Olhe Chayton, eu vou mandar a minha secretária oficializar uns documentos imediatamente! A Maria mandará um estafeta entregar essa documentação na Reserva Ameríndia ainda hoje! Desculpem-me… Eu ainda estou em choque... Com licença... Desculpem-me… Beijinhos ao Takoda e ao Matoskah... E… Muito obrigado! Vocês são pessoas maravilhosas! Quem me dera ter-vos conhecido mais cedo!

- “Eddie...” - gemeram Chayton e Shappa.

Por fim, a terrível verdade! Eddie queria gritar, mas controlou-se. Desligou a chamada sem dizer mais nada. No fundo, ele sabia que os amigos tinham toda a razão. Quando se acalmou, ele tirou uns documentos que tinha numa pasta apelidada de Confidencial. Depois de ler várias vezes e de certificar-se que tudo estava em ordem, ele assinou todos os papéis, com um pequeno sorriso. Estava feliz. Ele chamou Maria, a sua secretária, e mandou-a autenticar todos os documentos imediatamente, num cartório a poucos quarteirões dali. Quando ela saiu, Eddie levantou-se e foi até à janela do seu escritório apanhar um pouco de ar. 

- Como gostava que o tempo pudesse voltar atrás, Laura… Jules… - sussurrou Eddie.


*Naquele momento, em Fargo…* 




Shade percorria a cidade com algum desagrado. O dia estava quente e com aquelas roupas, às quais Shade tinha adicionado o gorro, o cachecol e os óculos escuros, Shade estava a ficar cheio de calor. Jules acompanhava-o. 

- “Estás a ser seguido, Shade…“ - comentou Jules, com voz etérea.

- Sim, já percebi isso… Aquele fulano é o mesmo que foi contra mim na estação, quando cheguei… Porque será que me está a seguir?

- “Tens que o distrair…” - sussurrou Jules, desvanecendo-se. 

Shade fez um desvio. Entrou por uma ruela estreita e aí correu em ziguezague por entre várias ruelas. Passado algum tempo, acabou por tirar o gorro e o cachecol, já que não suportava o calor. Guardou-os na sua sacola. Depois de confirmar que tinha despistado o homem, ele entrou num eléctrico que passava numa avenida antiga. O homem ficara para trás.    

Alguns minutos mais tarde, Shade saltou do eléctrico. Estava à porta de uma casa bastante antiga e em mau estado. Emocionado, olhou para ambos os lados e retirou uma chave do bolso. A fechadura estava perra. Precisou de dar a volta com a chave várias vezes até conseguir ouvir o “click!” que lhe permitiu abrir a porta.

Entrou.

Aquele era o local que ele chamara de lar, até fugir de casa, 9 anos antes. Depois da mãe adoptiva morrer, Shade ficara ao cuidado de dois tios. Na verdade, aquelas pessoas não eram tios, nem eram nada a Shade, nem à mãe dele. Era um casal de traficantes que alimentavam o vício da mãe e que usaram e abusaram de Shade. Física, emocional e sexualmente. Ele percorreu a casa com cuidado, pois todo o edifício estava em mau estado. Pelos vistos, desde que o casal tinha sido preso, nunca mais ninguém ali estivera. Ainda existiam algumas fitas da polícia rasgadas e tudo tinha sido remexido, mas não havia vestígios de actividade humana recente.

Shade entrou naquele que fora o seu quarto, quando era pequeno. Todo o quarto estava revirado do avesso e cheio de pó. As paredes estavam enegrecidas pela humidade, mas ainda se percebiam alguns desenhos infantis que enfeitavam as paredes. Shade desenhara paisagens e desenhara-se a si mesmo de mãos dadas com outros meninos, sempre com um sorriso e ar feliz. 

- Estás a ver, Jules? Ainda não sabia de ti e já sonhava contigo! - comentou Shade, comovido.

- “Desenhavas muito bem!” - sussurrou Jules, com meiguice.

Emocionado, Shade percorreu as paredes com a ponta dos dedos. Em alguns dos desenhos, Shade estava a cantar. Noutros, ele estava de mãos dadas com a mãe. Havia um desenho que Shade pensou ser do pai, mas não se lembrava. Havia um desenho dele, com ar triste, onde estava um rapaz mais alto do que ele e este dava-lhe um beijo na cara para o animar.

Shade riu-se. Ao sair do quarto, tropeçou num boneco velho. Era o seu ursinho de pelúcia! Comovido, Shade pegou nele e embora o peluche estivesse todo sujo, abraçou-se a ele e guardou-o na sua sacola.

- Jurei que nunca mais cá punha os pés… Mas ainda bem que vim… Foi bom… - rematou, limpando as lágrimas que deslizavam pelo seu rosto.

Jules acenou com a cabeça e desapareceu. Shade ficou com fortes dores de cabeça, mas sentia o coração bem mais leve. Ele partiu em direcção à periferia da cidade. Dois rapazes seguiam-no, discretamente. Shade atravessou uma ponte de madeira e entrou num bosque. Caminhou durante vinte minutos, até encontrar uma gruta. 

Entrou na gruta. 

A encomenda estaria escondida entre os rochedos. Shade vasculhou a gruta toda, mas a encomenda desaparecera! Em choque, ele inspeccionou várias vezes, mas nada! A encomenda levara sumiço! 

Sem saber o que pensar, Shade saiu da gruta. Gritou de fúria e frustração.

- Foda-se! Porquê?! Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!! Que raiva!!! Foda-se!!!




Um vulto saiu de uns arbustos. Era o homem que o seguira anteriormente! O homem sacou de uma arma.

- Até que enfim! Estava a ver que te tinha perdido de novo! - respondeu o homem, aproximando-se de Shade.
 
- Quem é você? 

- Eu sou um detective particular contratado para te encontrar! Eu trabalhava para o senhor Eddie, até ele me ter despedido! Pelos vistos, ele não quer mais os meus serviços! Veremos se manterá essa opinião… - gracejou o homem, com um sorriso mau. 

Shade tentou ganhar tempo. O homem avançava em direcção a ele com a pistola em punho. Se fizesse algum movimento brusco, arriscava-se a levar um tiro.

- O que me quer? Eu não tenho nada…!

O homem riu-se.

- Sim, eu sei que não tens nada… Já eu… Eu tenho aqui a encomenda que vieste buscar, Shade!

O homem retirou um pacote do bolso, enquanto se ria, com a arma apontada a Shade.

- Sim senhor! O que dirá o senhor Eddie quando eu lhe revelar o que tens aqui? Quando ele souber…! Ele vai pagar por ter-me despedido! Ele vai pagar-me a peso de ouro por ti, seu maldito! Tu agora vens comigo para o México! Já! Um passo em falso e morres! - ameaçou.

Dois rapazes da mesma idade de Shade apareceram de repente, por detrás do homem, com armas em punho e ar feroz.

- Presumo que esse tipo não é teu amigo, Shade! - comentou um deles.

- Foge! Vai prá nossa casa! Já vamos ter contigo! - gritou o outro.    
 
Shade sorriu para eles e obedeceu. Correu com quantas forças tinha em direcção à casa dos amigos que o tinham ido salvar.   


*Uma hora depois, em Washington, na sede da GraceTech…*
 

Maria, a secretária de Edward Sullivan, estava de regresso à empresa. Tinha cumprido tudo o que o patrão lhe ordenara. Ao entrar no escritório, o telefone tocava. Ela correu para atender. Instantes depois, pousou o telefone e foi bater à porta do escritório do seu chefe. 

- Senhor? Estou de volta! A Presidente Zelda está ao telefone, na linha 1!




Como não obtivesse resposta, a secretária entrou. Eddie estava caído no chão, junto da janela.

- Ó meu Deus! Senhor Eddie! Senhor Eddie!

A secretária ainda fez manobras de reanimação, mas já não adiantou de nada. Ela telefonou a pedir ajuda. Uma equipa de paramédicos com suporte de vida dirigiu-se imediatamente para lá. Edward Sullivan sofrera um ataque cardíaco fulminante e não resistira, sendo declarado o seu óbito, pouco tempo depois.


[Continua....]

26 maio 2022

Escrito nas Entrelinhas: Parte 3 ~ Capítulo 16

Capítulo 16


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*23 de Maio de 2018, Clínica Foster, Nova Iorque*


Um homem de cabelos arruivados e com ar cansado aguardava sentado que chamassem por si, na sala de espera de uma clínica. Era o único paciente ali presente. Um pouco ensonado e aborrecido, o homem olhava para a televisão que estava afixada numa parede cinzenta e onde uma jornalista apresentava as notícias do dia.  




- “ (…) Na Dakota do Norte, uma forte tempestade causou alguns danos consideráveis na cidade de Prairie Rose, a cerca de 10 quilómetros a sul da capital do estado, a cidade de Fargo. Segundo os meteorologistas, um tornado de categoria F-3 invadiu a cidade, embora tenha demorado poucos minutos. Durante o tempo em que o fenómeno ocorreu, o tornado arrancou telhados, provocou a queda de árvores e trouxe consigo queda de granizo, do tamanho de bolas de pingue-pongue! Os danos ainda não foram contabilizados, mas acredita-se que sejam na ordem das dezenas de milhares de dólares. Quanto à cidade de Fargo, o mau tempo causou algumas inundações e quedas de árvores, mas felizmente não houve perda de vidas humanas em nenhum dos locais.

A repórter bebeu um gole de água e prosseguiu:

- “O mesmo já não se pode dizer sobre a cidade de Nova Iorque. Esta noite, “O Desmembrador” fez mais uma vítima.

A imagem da jornalista deu lugar a uma fotografia.





Ursula Bristen

- “A rapariga que os telespectadores estão a ver na fotografia chamava-se Ursula Bristen. Era uma jovem de 31 anos, Gemologista de profissão. A polícia desconhece, até ao momento, quais os motivos que terão levado o serial-killer conhecido como “O Desmembrador” a atacar a pobre rapariga, já que ele não roubou nada do apartamento desta… Para além de uma parte do corpo de Ursula, melhor dizendo… Entretanto, as autoridades…

- Senhor Douglas Rimbaud! Senhor Douglas Rimbaud! - chamou uma enfermeira, por detrás de um guichet, com um sorriso. 

- Sou eu, menina! Sou eu! - exclamou o homem, que se levantou com alguma dificuldade.

- Precisa de ajuda, senhor? - perguntou a enfermeira, aproximando-se de Douglas.

- Não é preciso! Obrigado!

- O doutor já vai atendê-lo, pode entrar!

Douglas avançou, com alguma dificuldade, até ao consultório que a enfermeira lhe indicou. Bateu à porta e entrou. Um médico baixinho, de cabelos grisalhos e óculos garrafais chamado Hubbert, cumprimentou-o e convidou-o a sentar-se.

- Então Douglas, como tem passado?

- Ó doutor, não tem sido fácil… Apesar do que o senhor disse… Não tem sido fácil…

- Tem tido muitas dores?

- Hoje está demais… - queixou-se Douglas.

- Trouxe as análises que lhe pedi?

Hubbert tomava apontamentos em frente do seu computador. Douglas entregou um envelope selado, que o médico prontamente abriu e leu os resultados. Em seguida, ele passou os novos dados para o historial clínico do paciente e disse:

- Boas notícias, Douglas! O tratamento está a fazer efeito! O seu organismo está a reagir bem e já temos aqui algumas melhorias! E tudo isto sem termos de recorrer a medidas mais extremas! - congratulou-se o médico, com um sorriso.

Douglas sorriu.

- Parece que tinha razão, como sempre, doutor Hubbert! Então, eu estou a melhorar?

- Sim, de acordo com as análises e comparando com as últimas que lhe mandei fazer, o seu organismo finalmente mostra estar mais receptivo ao tratamento! Como está o seu filho? Há muito tempo que ele não vem às consultas consigo! Já estive para lhe perguntar por ele…

O sorriso no rosto de Douglas desapareceu.




- Olhe doutor, a verdade é que eu não sei dele. Nós tivemos uma séria discussão, há alguns meses… Ele pegou na mochila dele e saiu de casa. Desde então que tenho procurado por ele, mas sem sucesso…

- Ohhhmmm… Lamento imenso… A juventude agora… Pensam que é tudo fácil….

Douglas suspirou.

- A polícia suspendeu as buscas ao fim de algum tempo. Disseram que ele é maior de idade e que por isso, está no direito dele de sair de casa e seguir com a vida dele…

- No meu tempo, não havia essas facilidades… Havia mais respeito! E a polícia era mais eficaz! Hoje em dia, qualquer badameco torna-se polícia! - resmungou Hubbert. 

- Concordo consigo! - acenou Douglas, com o rosto a contorcer-se de fúria. 

Ele não tinha boas memórias com polícias. Mais sereno, o médico perguntou:

- Então e o seu trabalho no teatro? 

O rosto de Douglas iluminou-se. Douglas trabalhava como contra-regra num teatro da Broadway.

- Awwwwww! O doutor vai gostar! O próximo espectáculo estreia em Outubro e vai ser uma nova versão de “Os Miseráveis”! 

- Os Miseráveis, de Victor Hugo? Adoro! Depois tem de arranjar-me bilhetes para o espectáculo! - comentou Hubbert, esfregando as mãos de contentamento.

A consulta terminou quando a enfermeira avisou o médico que tinha novos pacientes a aguardar na sala de espera. Douglas levantou-se. Hubbert entregou-lhe os exames e vários papéis, com a marcação de novos exames e da próxima consulta. Ao olhar para as datas, Douglas sorriu e comentou:

- Quando eu regressar em Agosto, já lhe trago os bilhetes, para si e para a Babs, a sua esposa. Como está ela, já agora?

- Está bem, obrigado por perguntar! Daqui a umas três semanas vamos de férias para as Bahamas, temos lá uma casa. Com o tempo que tem feito, esperemos ter mais sorte! Um pouco de sol e calor vinham mesmo a calhar!

- Realmente, o tempo não tem estado famoso! Ouvi dizer que se vai manter incerto, embora prevejam um aumento de temperatura... 

- Bom, Douglas, desejo-lhe as melhoras… E… Tenha fé…! A sua doença não tem cura, mas como vê, estamos a fazer progressos! Tenha fé!

- Obrigado, doutor! Um bom resto de bom dia para si! Mande cumprimentos à sua esposa!

- Muito obrigado! Serão entregues!   


*Entretanto, na cidade de Fargo…*   


Shade não sabia que horas eram quando acordou. Tacteou, ainda de olhos fechados, esperando sentir o corpo quente de Damian deitado a seu lado. Para seu espanto, o que sentiu foi frio! Abriu os olhos e viu que Damian já não estava ali. 

- Damian?

Ninguém lhe respondeu.

- Hey, Damian? Estás aí? - perguntou novamente.
     
Como não obtivesse resposta, Shade esfregou os olhos, espreguiçou-se e levantou-se. Ensonado, foi à casa de banho. Pouco depois, regressou ao quarto e olhou para o relógio. Este marcava 13:10. Shade sentou-se na borda da cama. Espreguiçou-se, coçou a barba e os pêlos do peito. 

Agora que tinha deixado crescer os pêlos, espalhados por todo o corpo, ele sentia um grande prazer em coçá-los. Sentia-se mais relaxado quando o fazia. Não tardou a enfiar-se novamente na cama e a masturbar-se, enquanto procurava sentir o cheiro de Damian na roupa da cama. Já passava das três da tarde quando Shade levantou-se. Vestiu umas boxers e uma t-shirt. Ao chegar à sala, encontrou um bilhete de Damian.


“Bom dia!
Tive de sair para atender vários clientes!
Ainda não sei a que horas é que regresso a casa.
Tens comida no frigorífico. 
Cuida-te!
Beijos,
Damian”


Shade dirigiu-se ao frigorífico e colocou leite a aquecer. Antes de sair, Damian deixara pão fresco em cima da mesa, junto com alguma fruta. Shade comeu tudo, com olhar absorto, enquanto pensava no que iria fazer durante o resto do dia.




Pouco depois, ele decidiu tomar um banho e vestiu-se com algumas roupas de Damian. Ao olhar-se ao espelho, riu-se da figura que estava a fazer, uma vez que as roupas eram perfeitamente adequadas ao corpo musculado de Damian e não ao corpo magro dele. Ainda assim, lá se arranjou e saiu, em direcção ao esconderijo secreto onde Damian guardara a encomenda que Shade lhe enviara. Um homem seguia-o, discretamente.


*Enquanto isso, em Washington, na sede da GraceTech…*   


- Senhor Eddie? A sua filha está ao telefone, na linha 3!      

- Ah! Óptimo, obrigado! - agradeceu Eddie, pegando no auscultador e carregando num botão.  - Estou, filha?

- “Olá pai! Desculpa não ter-te atendido ontem, mas aqui em San Diego esteve um temporal desgraçado! Choveu a cântaros o dia todo! Até tivemos de mandar os miúdos mais cedo para casa, não fossem as estradas ficarem cortadas devido à chuva intensa que estava a cair!

- Pelo que ouvi nas notícias, houve mau tempo um pouco por todo o lado… Mas tu estás bem?

- “Sim, pai! Hoje não trabalho, vou aproveitar o dia para corrigir testes e provas, a ver se no fim-de-semana consigo ter uma oportunidade para sair e espairecer um pouco… Este final de ano lectivo está a ser desgastante!

- Sempre ocupada, a minha menina! - resmungou Eddie.

- “E tu como estás, pai? Como vão as coisas com a Presidente Zelda?

- Eu estou óptimo, filha! Já demos início aos preparativos! Sabes com quem falei ontem? 

Bianca suspirou. Ela tinha um pressentimento de que sabia sobre o que é que o pai iria falar.

- “Não…

- O Shade chegou ontem de manhã a Fargo! Estive a falar com o detective que contratei e, entretanto, fiquei a saber que o Shade é mesmo um sem-abrigo…

Dito isto, Eddie emocionou-se ao telefone. Bianca, embora tivesse ficado triste, manteve-se em silêncio.

- O miúdo faz voluntariado num Centro Comunitário, lá na cidade… Em troca, a directora do espaço dá-lhe de comer e arranjou-lhe um abrigo. Ele vive na casa de um amigo dele, outro sem-abrigo…

- “Então, se o rapaz tem uma casa, já não é sem-abrigo, pai!” - comentou Bianca, com voz agastada. 

- Ora, filha…! Parece que foi a tal instituição quem arranjou a casa para eles viverem. O Shade e o tal rapaz viviam nas ruas e quando a directora do centro soube… Ela pareceu-me uma senhora bastante sensata.

- “E o tal rapaz, contou alguma coisa de interessante sobre o Shade?

- Não falou muito, não… Mas falou no Jules! Pelos vistos, o Jules chegou a ir à cidade de Fargo, visitar o irmão… De acordo com o Damian, o amigo do Shade, o Jules e o Shade tinham uma relação muito próxima…

- “Talvez demasiado próxima…”  - resmungou Bianca, entredentes.

- O que é que disseste, Bianca? - inquiriu o pai, intrigado.

- “Nada pai, nada… Estava só a pensar alto…” 

Eddie ficou desconfiado.

- Mau, mau, mau! O Damian comentou qualquer coisa sobre o Jules e o Shade terem uma relação muito intensa e tu agora também estás a falar nisso! Eu não nasci ontem, Bianca! Não escondas o sol com uma peneira! O que é que se passa? O que é que tu sabes que eu não sei?

- “Ó pai, daquilo que eu li no diário do Jules, a relação dos dois era muito próxima… Eles queriam estar juntos, só isso…” - comentou Bianca, rezando a todos os santos para que o pai não alongasse a conversa.

- Acho que não conseguimos imaginar a dor que eles sentiram, não é? Descobrirem por acaso que eram irmãos… Hummm… Agora que penso nisso, como é que eles terão descoberto?

Bianca pigarreou. Tinha os olhos marejados de lágrimas.

- “Pai… Podemos falar de outra coisa qualquer?

Apercebendo-se da voz trémula da filha, Eddie pediu desculpas e mudou rapidamente de assunto. Os dois falaram sobre a viagem de finalistas de uma das turmas de Bianca e sobre os preparativos para a recepção na Casa Branca a Lord Mikel. 

Mais animada, Bianca pousou o telemóvel, pouco depois. Ela deparou-se com uma fotografia que tinha tirado com Jules. A última que os dois tinham tirado juntos, quase dois anos antes. Não resistiu e começou a chorar. 

- Porquê que tinhas que ser assim, Jules? Porquê que não confiaste em mim? Porquê que decidiste aguentar o fardo todo sozinho? Eu teria aceitado! Custa-me, mas eu ter-te-ia ajudado a suportares o fardo de seres gay… 

Pensando na relação que Jules mantivera com o Shade, Bianca levou a fotografia ao peito e comentou:

- Com tantos rapazes no Mundo, tinhas logo de apaixonar-te pelo rapaz mais improvável de todos: o teu próprio irmão…! 

Eddie, com espanto e choque, escutara tudo. Bianca pousara o telemóvel, mas não tinha desligado a chamada.


[Continua...]

25 maio 2022

Dia Mundial do Tarot

 
Imagem ilustrativa de uma tiragem no modo "Cruz Celta"


Hoje comemora-se o Dia Mundial do Tarot.

O Tarot, popularmente conhecido como "Jogar as Cartas" ou "Cartomancia", teve origens nas zonas que hoje conhecemos como Paquistão, Afeganistão e também norte da Índia. Elas chegaram às cortes dos reis de França e Itália no século XIV e acabaram por reflectir o estilo de vida cortês e também o Renascimento.

Naquele tempo, estas cartas eram usadas por Videntes, mas também outras pessoas. Nos dias de hoje, países como Espanha, França e Itália, usam um tipo de baralho de Tarot para jogarem jogos de azar. 

As cartas dos baralhos que usamos para jogar cartas, nada mais são que as cartas dos Arcanos Menores [as cartas Numerais + as Figuras Reais].

Eu sou Tarólogo há quase 20 anos. Uso vários baralhos e oráculos, incluíndo um Tarot Gay. Além de Tarólogo tenho conhecimentos em outras áreas holísticas e terapêuticas. :)

Para consultas, mandem-me email ou contactem-me através da página do Instagram @iluminasecret.