Voltamos hoje à novela "Escrito nas Entrelinhas: Parte 2", com um capítulo bem especial! Preparem as vossas pipocas, sentem-se e apreciem o episódio de hoje!
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Capítulo 7
Todas as pessoas ali presentes ficaram chocadas ao ver Takoda cair para o lado, inconsciente! Matoskah correu mais rápido do que um raio para amparar a queda do seu irmão. Ele ficara deveras impressionado com tudo o que acontecera. Os indígenas começaram a emitir urros entre si. Shappa e Chayton aproximaram-se dos filhos, em pânico! O que teria acontecido?
Eddie e a família correram para junto da criança. Takoda começava a ficar com a pele fria e meio azulada. Matoskah abraçava o irmão com todas as forças que tinha. Queria gritar, em desespero, mas não conseguia! Duas pessoas aproximaram-se de repente, uma de cada lado da igreja. Uma delas era o Doutor Michael. Estava impressionado com o que acabara de ver e de imediato propôs levar Takoda para o hospital.
A outra pessoa era a médium da cidade, Agatha. Ela era alta e elegante. Tinha cabelos compridos e tez clara. Os seus olhos eram em tons verde-água. Agatha envergava um quimono de cerimónia. Ela aproximou-se de Shappa e disse-lhe algo em voz baixa. Shappa virou-se para ela impressionada e agradeceu.
Agatha Salamando
- Vamos levar o nosso Takoda para a rua, ele precisa de apanhar ar! Vamos deitá-lo na relva, a ver como reage! - exclamou Chayton.
Matoskah e os amigos assentaram com a cabeça e foram para a rua, procurando um jardim bonito onde colocar Takoda. Naquele momento, todos queriam que o menino se restabelecesse.
Entretanto, na igreja, Father Simon, visivelmente emocionado, aguardou que Eddie, Laura e Bianca retornassem à igreja para prosseguir a cerimónia. O resto da cerimónia foi rápida. Afinal, os restos de Jules iriam ser cremados. O Senador Tieman manteve-se ao lado da família Sullivan o resto do tempo. Também ele ficara impressionado com o que acabara de acontecer. Ele podia jurar que tinha visto Tatanka, o rapaz indígena que o tinha salvo a ele e ao filho, anos antes, a dançar ali, no meio da igreja. Ninguém parecia entender o que acontecera ali. Uma visão colectiva, talvez?
Enquanto isso, Takoda não dava sinais de melhorar. O corpo apresentava um pouco de cor, mas ele não reagia a estímulos e a pulsação dele mantinha-se baixa. Após trocarem impressões com o Chefe da sua tribo, Shappa e Chayton aceitaram o conselho de Michael, que insistia em levar a criança para o hospital.
- Eu levo-o comigo, no meu carro! Assim, posso colocá-lo já num quarto, em observações! - exclamou Michael, com voz preocupada.
- Muito bem, nós vamos atrás de si! - exclamou Chayton.
- Meninos, vocês vão para casa, está bem? Cuidem do Matoskah! Assim que tivermos notícias, eu telefono! - rematou Shappa, entrando no carro do marido.
Matoskah começou a berrar, desesperado! No entanto, nenhum som saía da sua garganta! O Chefe Indígena aproximou-se dele e dos seus amigos e afirmou:
- Meus queridos filhos, vocês precisam de ter fé! O nosso amado Takoda vai ficar bom! Confiem nos nagi tanka! Eles estão a olhar por nós!
Um dos rapazes da tribo aproximou-se de Matoskah. Este virou-se para ele.
O
rapaz chamava-se Baya Ainila24. Ele era um pouco mais novo
que Matoskah. Alto, com cabelos castanhos avermelhados, abaixo dos ombros e
olhos cinzentos. Tinha um corpo delineado. Baya Ainila abraçou Matoskah e
através da língua gestual expressou o que lhe queria dizer. Este sorriu e respondeu,
também em língua gestual. Baya Ainila era um rapaz surdo. Foi só nesse instante
que Matoskah se apercebeu que só conseguia comunicar-se e expressar-se por
gestos, já que nenhum som saía da sua garganta! Emocionado, apressou-se a
contar isso ao amigo, enquanto lágrimas grossas rolavam pelo seu rosto. Baya
Ainila fez-lhe festinhas nos cabelos e deu-lhe um beijo, sendo seguido por
outros membros da tribo.
Baya Ainila
Mais calmo, Matoskah, por fim, aceitou voltar para casa e descansar um pouco. Os amigos acompanharam-no. Quanto aos membros da tribo, depois de uma reunião com o Chefe da aldeia, decidiram acampar na floresta. Todos estavam preocupados com o que teria acontecido a Takoda.
Enquanto isso, no hospital, Michael tinha conseguido reservar um quarto especial para Takoda. Ele iria para o mesmo quarto onde Matoskah estivera sob observação. Enquanto enfermeiros colocavam o pequeno ligado a aparelhos, Michael foi ter com Shappa e Chayton. Estes estavam na sala de espera, de mãos dadas, a chorarem em silêncio.
- Então doutor, já sabe de alguma coisa? - perguntou Chayton, ao ver o médico a aproximar-se.
- Podemos vê-lo? - inquiriu Shappa, com voz agastada.
Michael fungou e suspirou. Com voz afectada, rematou:
- Ainda não sabemos o que se passou com o Takoda. Ele está a ser ligado a máquinas que vão fazer os registos de tudo o que é possível sabermos, neste momento. Ele ficará em observação pelos próximos dois dias. Nós vamos fazer exames e raio-x. Doutora Shappa, eu vou dando notícias.
- Podemos vê-lo? - insistiu Shappa.
Michael encolheu os ombros.
- Uma vista rápida, cinco minutos no máximo. Espero que compreendam.
Chayton e Shappa abraçaram o médico. Ao entrarem no quarto onde Takoda estava internado, ficaram estarrecidos. O pequeno jazia deitado na cama, com vários aparelhos e fios ligados ao corpo dele.
- Meu filho!! - exclamou Chayton, sem se conseguir controlar.
*19 de Junho de 2017*
Takoda regressou a casa, após vários dias internado no hospital. Os médicos não sabiam explicar o que tinha acontecido ao rapaz. Felizmente, ele parecia estar pronto para outra, já que recuperara toda a sua vivacidade.
Quanto
a Matoskah, este piorou. Ele não voltou a falar desde o incidente com o irmão
no funeral de Jules. Os médicos que o examinaram disseram que o rapaz estava
num estado catatónico. Ele expressava-se por gestos e grunhidos, embora na
maior parte do tempo Matoskah ficasse quieto, sentado na sua cama, a contemplar
o vazio.
Shappa
acabou por entrar em depressão, completamente angustiada com tudo o que se
andava a passar com a sua família. O marido dela, Chayton, saía cedo e voltava
bastante tarde, muitas vezes a cheirar a álcool. Apesar disso, a família
Chayton pôde contar com a ajuda de Laura e Bianca Sullivan, bem como de toda a
tribo indígena. Estes ofereceram-se para cuidar de Matoskah e levá-lo para um
local muito especial, onde poderia ser visto pelos melhores wicasa wakan.
Shappa aceitou a proposta, mas pediu para se aguardar que Takoda regressasse a
casa, a ver se, com o regresso dele, Matoskah reagiria.
Matoskah
reagiu.
Ele
chorou, sorriu, emitiu uivos. Notava-se claramente que estava feliz e ele bem
se esforçava para falar, mas algo o impedia. Takoda, que tinha sido informado
ainda antes de sair do hospital do estado do irmão, aguentou firme, dando as
mãos a Matoskah, sorrindo para ele e abraçando-o com muito carinho.
*23
de Junho de 2017, 23:57*
Era
já bastante tarde quando muitas pessoas em Grace Falls sintonizaram o mesmo
programa de televisão. Durante a programação ao longo do dia, a GFNews anunciou
que iria “lançar uma bomba” na Edição da Meia-Noite!
*24
de Junho de 2017, 00:00*
- Olhem, vai começar! - comentou Bianca, sentando-se numa poltrona, junto dos pais.
Uma voz-off na televisão, anunciou:
- “Em directo dos estúdios da GFNews, esta é a Edição da Meia-Noite!”
Dois jornalistas apareceram no ecrã.
Os repórteres Benjamin Meyers e John Walls. A notícia que eles estão prestes a anunciar aos habitantes de Grace Falls vão cair que nem uma bomba!
- “Olá senhores telespectadores, muito boa noite! Eu sou o Benjamin Meyers…”
- “… E eu sou o John Walls…”
- “…. E esta é a Edição da Meia-Noite da GFNews!” - responderam os dois jornalistas, com um meio sorriso.
- Nunca vi estes sujeitos… - exclamou Shappa, que assistia sentada na sala da sua casa, na companhia do marido.
Chayton acenou com a cabeça. Também ele não se recordava de ter visto aqueles jornalistas. Após o regresso de Takoda, ele acalmara e deixara de chegar tão tarde a casa e de beber. Os filhos deles e os amigos estavam sentados ao redor, movidos pela curiosidade. O que iriam anunciar nas notícias?
Após apresentarem as notícias do dia e sempre com um texto no rodapé da televisão a comunicar um escândalo mais para o fim daquele bloco informativo, eis que John Walls bebe um copo de água e a câmara se centra no rosto dele.
- “Conforme anunciado ao longo do dia, a GFNews tem uma bomba para apresentar nesta edição. As imagens que vamos ver já a seguir são de um bar na cidade de San Lynch. Um bar gay chamado Born2B!”
Após alguns segundos de expectativa, o rosto do jornalista deu lugar a imagens do bar Born2B, enquanto uma voz-off explicava:
- “Aberto há pouco mais de um ano e meio, o bar Born2B é um espaço alternativo, vocacionado para o público gay, na cidade de San Lynch. Neste bar realizam-se festas e convívios todas as semanas. A GFNews teve acesso a imagens exclusivas, a respeito de uma festa que ocorreu no passado dia 11 de Maio! Essa festa foi a Born2BHot! Entre as pessoas que estiveram presentes nesta festa estava Jules Sullivan, filho do empresário Edward Sullivan. Como se sabe, Jules Sullivan suicidou-se alguns dias depois de ter estado presente neste evento.”
Jules, na noite em que foi à festa do Born2B, a tirar uma selfie para os leitores!
- O quê? - exclamaram Eddie, Laura, Bianca, Shappa, Takoda, Chayton, Cetan Nagin, Maȟpiya Lúta, Siha Sápa e Wakinyan. Matoskah emitiu um uivo gutural.
Jules apareceu, a dançar, em tronco nu, com ar bastante feliz e divertido! Ele dançava de forma provocadora para uma figura conhecida - o doutor Michael! A dada altura, Michael e Jules abraçaram-se de forma sedutora e beijaram-se com volúpia.
As mãos de ambos percorriam todo o corpo do outro, deixando as pessoas que estavam à volta deles com ar extasiado e cheias de desejo! Não tardou muito para que começasse a tocar uma música popular. Jules virou-se para o DJ da festa e pediu:
- “Hey! Gatinho! Quero cantar esta música! Emprestas-me o teu microfone?”
O
público começou a assobiar e a rir-se, perante aquela provocatória! O DJ riu-se
e entrando no jogo, apontou para um alto nas suas calças. Jules aproximou-se do
DJ e agarrou-lhe aquele alto, enquanto se ria, divertido! Em seguida, deu um
beijo ao DJ e pegando num microfone, voltou para o palco e começou a cantar!
[Jules]
O meu amor era muito atrevido!
Tinha fama de grande saltitão!
Mas eu disse-lhe que estava perdido,
No dia em que me fisgou o coração!
Pedi-o logo em casamento!
Na sua cabeça, queria juizinho!
De cada vez que armava um pé-de-vento,
Tinha logo de dar-lhe um avisinho:
Se te portas mal, vai haver terror!
Se te portas mal, tu vais sentir dor!
Se te portas mal, ai por favor!
Vou ter de te dar, tu vais levar…
Pancadinhas de amor!
O
público exultava! Jules e Michael beijavam-se de forma provocante e iam dando
palmadas no rabo um do outro, deliciados!
Eddie
Sullivan e a família observavam a cena, completamente embasbacados! Quase toda
a população da cidade estava colada ao ecrã da televisão naquele momento! Muito
longe dali, o Senador Tieman acompanhava a reportagem, batendo os pés ao som da
música. Aquilo era uma surpresa que ele não estava à espera!
[Jules]
Todos os dias era uma aventura
O que ele queria era andar na festa
Mas eu não sou "mana" de amarguras
E muito menos de coisas na testa!
Um puxão de orelhas com jeitinho
Na altura certa é sempre bem dado!
Traz de volta todo o juizinho…
À cabeça perdida do teu amado!
O
senador Tieman pegou no seu telemóvel e ordenou, com voz ríspida:
-
Estou? Liga-me ao director da televisão GFNews! Quero saber onde conseguiram o
vídeo que estão a passar agora no canal! E já agora, liga-me ao Hudges, do FBI.
Parece-me que temos um sério problema entre mãos...
-
“É para já, Senador!”- respondeu uma segunda voz.
[Jules]
Aos homens custa ter poiso certo,
A não ser que ponhas rédea curta!
Nem sempre fazemos o correcto,
Mas o que importa é ganhar a luta!
Faço o caminho da felicidade
Aquele que toda a gente quer!
Escuta bem este conselho de verdade:
Que te dou de “mana” para “mana”!
O
público ficou em êxtase! Jules colocou-se de quatro, enquanto Michael simulava
uma cópula e ambos se beijavam com paixão! O vídeo terminava ali. A emissão
voltou ao estúdio. Benjamin Meyers estava com um ar bastante sério.
- “Senhores telespectadores, antes de prosseguirmos, nós queremos deixar bem clara uma coisa. Não é nosso objectivo, aqui na GFNews, fazer juízos de valor. Cada pessoa deve ser livre para ser do jeito que é. Ponto. Não transmitimos este vídeo com o intuito de atiçar ou faltar ao respeito à memória de Jules Sullivan e/ou da sua família.”
John Walls meteu a sua colherada:
- “No entanto, não é menos verdade de que estamos perante um problema delicado. Jules Sullivan era menor de idade. Segundo o que pudemos apurar, muitos jovens menores de idade costumam participar nestas festas e eventos no bar Born2B, estando por isso sujeitos a serem vítimas de algum predador sexual. O Jules esteve presente nesta festa, onde acabou por se envolver com o doutor Michael, um dos médicos mais populares da nossa cidade... Segundo imagens das câmaras de videovigilância e testemunhas que estiveram presentes nesta festa, o doutor Michael e o Jules foram vistos a abandonar juntos o local. Mas há mais: esta já não terá sido a primeira vez que o doutor Michael se envolveu com jovens menores de idade naquele bar…”
Eddie Sullivan desligou a televisão, furioso!
- Aquele bandalho! Eu vou já dizer-lhe como é! - gritou.
- Pai, vê lá no que te vais meter! - guinchou Bianca, tentando acalmar Eddie.
- Eu só vou dar uma palavrinha com este médico de meia-tigela! - rematou Eddie, batendo a porta com estrondo.
Em casa dos Chayton, o clima era exactamente o mesmo. Shappa recebeu uma chamada do seu chefe, o Director Hudges, a pedir que fosse ter com ele, para resolverem uma urgência. Ela entendeu o que o director queria dizer. O doutor Michael podia ter dado cabo de toda uma gigantesca operação, por culpa daquele “deslize”.
Chayton saiu logo a seguir, dizendo que iria colocar tudo em pratos limpos com o médico. Takoda e os restantes estavam muito nervosos, em especial Matoskah, que tinha ficado muito perturbado. A raiva no rapaz era tanta que o seu rosto estava vermelho e ele uivava:
- Mi…Cha…El…
Wakinyan bufou. O seu olhar estava irado! Os amigos levantaram-se de imediato! Ele suspirou.
- Meus amados irmãos! Este wasichu denegriu a imagem do nosso Sunka Jules! Não podemos permitir isso! Proponho que procuremos este wasichu e lhe mostremos o erro que é aproveitar-se de um dos nossos!
Takoda, Cetan Nagin, Maȟpiya Lúta e Siha Sápa concordaram de imediato. Matoskah uivou, agitado! Wakinyan prosseguiu:
- Muito bem! Vamos fazer assim: Takoda, o nosso Matoskah não está em condições de sair, ainda por cima, à noite! Peço-te que fiques cá, tomes conta dele e cuides dele com a tua própria vida! Pode ser, amado misún?
Com um aceno de cabeça, Takoda abraçou-se ao irmão, que por momentos serenou um pouco, retribuindo o abraço.
- Excelente! Muito obrigado! - rematou Wakinyan, dando um beijo e um abraço a Takoda e a Matoskah.
Cetan Nagin, Maȟpiya Lúta, Siha Sápa fizeram o mesmo e instantes depois, os quatro jovens abandonaram a casa.
*24 de Junho de 2017, 02:45*
O doutor Michael tinha ficado a trabalhar dois turnos seguidos. Naquelas últimas semanas, um surto de rinite alérgica tinha levado muitas pessoas ao hospital, com complicações respiratórias. Quando finalmente ele pôde sair, o que mais desejava era tomar um banho e deitar-se na sua cama para descansar.
Dr. Michael
Ao chegar a casa, sorriu, feliz. Ele vivia numa bonita casa senhorial, casa essa que tinha as paredes isoladas acusticamente e vidros espelhados duplos. Ele adorava a casa e o silêncio da zona envolvente. Retirou as chaves do bolso, olhou para o jardim de tulipas que ele tinha mandado fazer à frente da sua casa e suspirou:
- Possa, estava a ver que este dia nunca mais chegava ao fim…!
De repente, um vulto mascarado surgiu por detrás dele e injectou-lhe uma seringa no pescoço. O doutor Michael ficou com a visão turva e começou a cambalear, aterrorizado, caindo instantes depois.
*24 de Junho de 2017, 04:18*
O doutor Michael acordou ao som de uma música estranha que estava a tocar. Teria tido um pesadelo? Uma forte dor no pescoço rapidamente o fez querer tocar no local. Para seu espanto, ele descobriu que estava amarrado! Um par de algemas prendia os seus braços à cabeceira da cama! Duas correntes enferrujadas estavam apertadas nos seus pés! Assustado, olhou à sua volta. Um vulto, que envergava um fato de protecção completo, cantava em voz de falsete:
[???]
Pé ante pé, através da janela,
Pela janela, que é onde eu estou...!
Ó querido, vem!
Pé ante pé, através das tulipas, ter comigo!
Ó querido, vem ter comigo!
Pé ante pé,
Através do jardim dos salgueiros!
Vem ter comigo, pé ante pé, por entre as tulipas!
- Quem é você? O que significa isto?! - gritou Michael, em pânico. - Socorro!! Alguém me ajude!
- Ai, ai, ai…! Doutor Michael…! Você faz muitas perguntas! Se quer viver mais um bocadinho, deixe-me cantar até ao fim! - respondeu o vulto, prosseguindo com a sua canção!
[???]
As Sombras da Noite rastejam,
Os salgueiros choram, sozinhos!
Os velhinhos e os bebés estão a dormir…
As estrelas de prata,
Brilham no céu!
E eu aqui estou, a planear, a planear,
Como te vou matar!
Se eu te beijar no jardim, sob o luar,
Tu vais-me perdoar?
Afinal, já sabes que no final,
Eu vou-te matar!
Por isso vem, pé ante pé, por entre as tulipas, ter comigo!
As estrelas de prata,
Brilham no céu!
E eu aqui estou, a planear, a planear,
Como te vou matar!
Se eu te beijar no jardim, sob o luar,
Tu vais-me perdoar?
Afinal, já sabes que no final,
Eu vou-te matar!
Por isso vem, pé ante pé, por entre as tulipas, ter comigo!
- Quem é você? - perguntou Michael, à medida que o seu falo crescia incomensuravelmente!
Uma voz impessoal falou através do fato.
- Quem eu sou não importa…! Afinal, quem está a ser julgado aqui é o senhor! Mas, se o doutor se portar bem, eu mostrarei o meu rosto antes de o matar! Prometo!
- Isto não pode estar a acontecer! Isto só pode ser um pesadelo, uma alucinação! - gemeu Michael, assustadíssimo!
- De facto, quem sabe? Até poderá ser…! Ou não! Doutor Michael, está na hora de o fazer pagar pelos seus delitos! - respondeu o vulto, aproximando-se de Michael com uma seringa.
- Socorro!! O que pensa que está a fazer?
- Vou aplicar-lhe uma anestesia local, não se preocupe. Mas se começar a fazer muitas perguntas, eu vou ter de me chatear consigo… E sejamos sinceros: ainda espero obter algumas respostas…. Embora eu não esteja com muitas esperanças!
O vulto aproximou-se de Michael e injectou-lhe uma seringa na barriga da perna. Michael gritou, gemeu, esperneou. Mas de nada lhe adiantou. Ele estava muito bem amarrado à cama.
Instantes depois, a perna direita de Michael estava hirta e rígida. O vulto aproximou-se e pegou numa faca de cozinha que estava em cima de uma cómoda ao fundo da cama.
- Ora bem, ora bem… Por onde começo? - perguntava-se o vulto, na sua voz impessoal. Por aqui? Por ali? Ai, ai! Tenho tanto por onde escolher…! Acho melhor tirar à sorte para ver!
E assim, o vulto lançou a faca pelo ar, que caiu entre as pernas de Michael. Este, literalmente, borrou-se de medo.
- Oh! Mas já?! Ainda é cedo! Esse será o prato principal, ah ah ah ah!
Pegando na faca, o vulto passou-a ao de leve sobre o falo de Michael. Este assistia a tudo, horrorizado! Por mais que não quisesse, o seu pénis estava bastante erecto! Estava tão hirto que até lhe causava dores! O vulto riu-se, divertido. Virou costas e saiu do quarto. Michael começou a gritar com quantas forças tinha. Instantes depois, o vulto regressou e deu-lhe com um taco de basebol na cara, partindo-lhe alguns dentes com o impacto.
- Ó doutor Michael…. Pensei que já tinha percebido… Não é para causarmos alarido, está bem? Vá, porte-se bem, que eu já lhe coloco gelo na cara!
- “Maldito sejas!” - pensou Michael, sem saber o que fazer para se libertar.
As dores cresceram exponencialmente. A sangrar do nariz e da boca, com os lábios rebentados, Michael começou a rezar.
- Ai, meu Deus…! Ajuda-me!
O vulto apareceu na soleira da porta, trazendo consigo o portátil de Michael e disse:
- Chamou por mim, Michael?
- O quê? - perguntou este, confuso.
O vulto sentou-se junto de Michael e passando as mãos pelo rosto deste, sussurrou:
- Você chamou por Deus… Você pediu ajuda… Michael, eu sou Deus. Eu vim ajudá-lo… A Mão Divina vai libertá-lo de toda a sua dor e sofrimento… Mas para isso, é preciso que pague pelos seus pecados, primeiro…
- O que quer de mim? É dinheiro? Eu tenho muito! Eu posso dar-lhe todo o dinheiro que tenho guardado! Eu sou de uma família muito rica! Eu posso dar-lhe tudo o que você quiser!
- Eu não preciso de dinheiro algum! Sou feliz do jeito que eu sou! E deixe-me corrigi-lo: existe uma coisa, pelo menos, que você não me pode dar: devolver a inocência aos rapazes de quem abusou…! Ó Michael… Porquê?
Michael abanou a cabeça, surpreso!
- O quê? Mas eu nunca fiz nada disso! Do que está a falar?
- Vamos continuar com as mentiras?
O vulto pegou na faca e espetou-a com força na perna direita de Michael. Deixou a lâmina penetrar bem fundo! A dor era insuportável, apesar de Michael não sentir nada porque se encontrava anestesiado. No entanto, o horror e choque de ver a sua perna assim, a ser cortada uma e outra vez, com o sangue a jorrar em várias direcções, fê-lo gritar desesperado!
- Está bem, está bem! Você tem razão!
- Eu sei disso! Eu sei que tenho! Eu sei tudo, Michael! Eu sou Deus! Olhe só o que eu encontrei no seu computador!
O vulto abriu uma pasta que estava cheia de fotos de rapazes nus, menores de idade. Muitos deles pareciam estar a posar para a câmara, em poses sensuais. No entanto, percebia-se que pelas expressões faciais eles estavam sob efeito de alguma droga ou psicotrópico. Entre as inúmeras fotografias, havia um conjunto de fotografias onde o protagonista era Jules.
- Como é possível, doutor Michael? Você prestou um juramento quando se tornou médico! Não deveria honrar o seu juramento? Não tem um pingo de vergonha? Como consegue dormir à noite? E como se isto não bastasse…
Michael chorava e soluçava. O vulto misterioso levantou-se e foi buscar algo. Quando regressou, deu uma injecção no rosto de Michael e sentou-se ao lado dele.
- Ora bem, ora bem! Sabe o que me irritou mais em si? Foi o facto de você se aproveitar destes miúdos, miúdos esses que o procuravam, confusos e carentes, para lhe pedir ajuda e orientação! Como é possível, Michael? Como é possível que você invoque o meu sagrado nome em vão, quando faz coisas como estas?
O vulto misterioso puxou o computador para si e introduziu uma pen drive. Passados alguns segundos, dois vídeos surgiram no ecrã.
- Se tudo o que já vimos dificilmente merece perdão, estes dois vídeos são a cereja no topo do bolo! - declarou o vulto, abrindo o primeiro vídeo.
No vídeo, aparecia um jovem que estava deitado numa cama do hospital. Era Matoskah. Michael aparecia no vídeo a fechar a porta do quarto à chave e a colocar uma cadeira por detrás. Aproximou-se de uma mesinha e pegou num telefone.
- “Olá boa tarde! Fala doutor Michael! Olhe, eu vou estar a fazer exames médicos agora, não passe nenhuma chamada para mim na próxima hora!”
- “Muito bem, doutor! Até já!” - respondeu uma voz feminina, desligando em seguida.
- “Vamos lá a ver do que são feitos os rapazes ameríndios…” - comentou Michael, com voz excitada.
Matoskah estava profundamente sedado. O médico levantou o lençol que lhe cobria o corpo e ficou encantado com o que viu! Em menos de nada, colocou o seu pénis para fora e começou a esfregá-lo no corpo do rapaz, enquanto gemia e estimulava o falo de Matoskah.
- Creio que não é preciso continuarmos a ver isto… - resmungou o vulto, interrompendo o vídeo. - Você é uma criatura doente, Michael.
- Eu… Eu… Como...? - gemeu o médico, à medida que os efeitos da anestesia na perna começavam a passar.
- Vejamos o segundo vídeo, antes que a diversão acabe! - respondeu o vulto, com voz irritada.
A
cena passava-se no mesmo quarto de hospital. Quem estava deitado na cama agora
era Takoda. Michael cumpriu rigorosamente o mesmo padrão que havia feito no
vídeo anterior, até à parte em que retirou o lençol que cobria Takoda, deixando
o rapaz todo nu.
-
“Meu Deus! Que menino tão lindo e
abonado!” - declarou Michael, não conseguindo esconder um sorriso de enorme
satisfação.
De
imediato o médico aproximou-se do rapaz e começou a beijar todo o seu corpo com
um ar extasiado. Encantado, cheirou os cabelos de Takoda, enquanto trauteava
uma canção!
[Michael]
“As Sombras da Noite rastejam,
Os salgueiros choram, sozinhos!
Os velhinhos e os bebés estão a dormir…
As estrelas de prata,
Brilham no céu!
E eu aqui estou,
A planear, a planear,
Como de ti vou cuidar, como de ti vou cuidar!
Por isso vem, pé ante pé, por entre as tulipas, ter
comigo!
Pé ante pé, através da janela,
Pela janela, que é onde eu estou...!
Ó querido, vem!
Pé ante pé, através das tulipas, ter comigo!
Ó querido, vem ter comigo!
Pé ante pé,
Através do jardim dos salgueiros!
Vem ter comigo, pé ante pé, por entre as tulipas!
Se eu te beijar no jardim, sob o luar,
Tu vais-me perdoar?
Eu vou, com as pontas dos dedos,
No teu corpo delicioso, penetrar!”
O
médico tinha um ar totalmente alucinado! Quando terminou de cantar,
aproximou-se do corpo de Takoda e começou a beijar a sua barriga, descendo aos
poucos, até chegar aonde pretendia. Aí, abocanhou a sua vítima e masturbou-se,
enquanto saciava o seu desejo.
-
Ficamos por aqui… Já não aguento mais, doutor Michael! Você vai receber a Mão
Divina agora mesmo!
O
vulto retirou a máscara de protecção. Michael, ao ver quem estava por detrás da
máscara, gritou, completamente surpreso!
-
Não é possível!!!
O
vulto riu-se. Colocou novamente a máscara e rematou:
-
Acabou o seu reinado de terror, doutor Michael! Adeus!
Tudo
aconteceu muito rápido. A faca surgiu do nada e foi espetada suavemente sobre o
olho esquerdo do médico. Este gritou, agonizado! Como estava anestesiado, só
sentiu uma pequena dor! No entanto, a visão do que lhe acontecera era
indescritível! Não demorou muito para que o misterioso vulto pegasse na faca e
por fim, cumprisse o que prometera. Com um gesto firme e implacável, decepou o
pénis de Michael, que ainda se mantinha bastante erecto.
Nota
do Autor:
24 - Coiote
Silencioso;
[Continua...]