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Capítulo 6
*21 de Maio*
O sol já estava bem presente no céu quando Shade acordou. Na verdade, ele acordara porque escutou alguém no quarto. Sonolento, pensou tratar-se de Noah e sorriu, ainda de olhos fechados.
- Noah? Vieste-me dar os bons dias?
Uma voz feminina respondeu:
- Olá menino, Deus lhe dê os bons dias! Eu vim limpar o quarto e trocar a roupinha da sua cama! Daqui a pouco este quarto terá novos pacientes! Entretanto, o menino Noah deixou este saquinho com roupinhas novas e sapatilhas para o menino! Ele é um verdadeiro anjo! Deus o guarde a ele e a si!
Estremunhado, Shade levantou a cabeça e viu uma senhora de cabelos pretos a cantarolar, enquanto preparava a cama ao lado da sua.
- Ahmmm... O enfermeiro Noah? Ele ficou de me dar alta…!
A mulher riu-se.
- Oh menino, quem dá alta no hospital são os médicos, não os enfermeiros! O menino vá tomar banho que a senhora doutora está a chegar para lhe dar alta, sim? Ela já anda a fazer a ronda neste piso!
Shade levantou-se e correu para a casa de banho sem pensar duas vezes. Tomou um duche rápido e quando regressou ao quarto, deparou-se com a sua cama feita, pronta para receber um novo paciente. A médica que acompanhava o seu caso olhava pela janela, enquanto tomava notas numa prancheta.
- Ah! O jovem misterioso! Shade, não é?
- Sim senhora!
A médica aproximou-se de Shade e colocou o estetoscópio.
- Vou só auscultar-te…
- Está bem! - respondeu Shade, nervoso.
Com ar satisfeito, a médica rematou:
- Estás como novo, por isso vou dar-te alta! Tens aqui uma receita de vitaminas que deves tomar, a partir de agora, durante os próximos dois meses. Aconselho-te a começares a tomar esta medicação hoje mesmo, ainda antes de partires para a tua terra natal! A viagem de comboio é longa e pode demorar mais tempo se apanhares alguma tempestade de neve pelo caminho!
Shade acenou com a cabeça, enquanto a médica rabiscava na sua prancheta.
- Pronto! Aqui tens! Se não te importares, vestes-te e diriges-te ao hall de entrada, está bem? O enfermeiro Noah está lá à tua espera. Só precisas de assinar um documento e depois podes ir embora! Adeus!
Suspirando impaciente, Shade vestiu-se à pressa. Nem se apercebeu que tinham mexido na sacola dele. Animado com a ideia de partir, deu um jeito ao cabelo, colocou a sacola a tiracolo e saiu do quarto, deitando-lhe uma última mirada. Aquele quarto agora já pertencia ao seu passado. Uma certa melancolia assomou-lhe o espírito. Virando costas, ele percorreu o piso até chegar ao elevador e daí foi para o hall de entrada, onde Noah o aguardava com um papel. Shade leu, assinou, o enfermeiro entregou o papel na secretaria e ambos saíram para fora do hospital.
- Então, está tudo em ordem? - perguntou o enfermeiro.
- Sim, a médica pediu para eu tomar umas vitaminas e tal… E já agora, obrigado pelas roupas e sapatilhas! Como sabias o meu tamanho?
De repente, a barriga de Shade roncou. Noah riu-se.
- Ora, tanto tempo que passaste cá no hospital, deu para verificar tudo, ah ah ah! Não tens de quê! Quanto à medicação…. Passamos na farmácia antes de eu te levar à estação! Mas, antes de tudo, tenho de te levar a comer alguma coisa, que pelos vistos tu não comeste nada! Alguma sugestão?
- Podemos comer um hambúrguer? - perguntou Shade com olhar sedutor. - Estou cá com umas saudades…!
Rindo-se com gosto, Noah acenou com a cabeça e conduziu Shade até ao seu carro, um jipe branco. Surpreso, Shade entrou no jipe e depois de fechar a porta e colocar o cinto, Noah arrancou.
- Se estás com vontade de comer um hambúrguer, vamos a um sítio onde fazem hambúrgueres em condições! Nada de junk food!
Shade sorriu, feliz. Noah ligou o rádio para ouvirem música.
[Laura]
Setembro desfolhou-se
Numa agonia lenta
Com o seu fato de troncos
Entre os dedos do vento
Tons vermelhos dispersos
Na calma dos poentes
Eram lábios perdidos
Que sugeriam beijos
Eu esperava Setembro
Para voltar a ver-te
Para voltar a dar-te
Os sonhos que eram nossos
Vestida de esperança
E de alma enamorada
Eu esperava Setembro
Para voltar a ver-te
Setembro chegou
Vestindo flores silvestres
Com as frutas maduras
Nos braços nus agrestes
Por todos os caminhos
Te procurei sem ver-te
Os meus passos errantes
Na terra perfumada
Eu esperava Setembro
Para voltar a ver-te
Mas tanto procurei
Que dei por mim sozinha
Setembro desfolhou-se
No silêncio das tardes
Entre os dedos do vento
O meu amor desfeito
Ao escutar aquela voz, Shade arrepiou-se! Emocionado, começou a chorar, enquanto uma voz masculina comentava no rádio:
- “E foi o magnífico tema “Setembro”, interpretado pela nossa querida conterrânea, a grande, a diva, Laura Sullivan!”
Outra voz acrescentou:
- “Laura Sullivan foi encontrada morta em Julho do ano passado no Pico do Diabo. A sua morte ocorreu pouco depois do terrível suicídio do seu filho mais novo, Jules Sullivan, cuja morte foi associada à organização criminosa “Mão Divina”. Esta organização criminosa provocou milhares de mortes um pouco por todo o país. Entretanto, em Nova Iorque…”
Noah desligou o rádio e encostou o carro, ao aperceber-se que Shade chorava sem parar.
- Então querido, o que se passa? Estás bem?
- Esta senhora… A Laura... Ela era a minha mãe… E o rapaz, era o meu irmão… - respondeu Shade, entre fungadelas.
[Continua...]
Gosto de te ler :)
ResponderEliminarAgora espero ser mais "habitual". :P
EliminarMais um capítulo da saga que também promete. Seguimos em frente. Vejamos o que ela nos reserva.
ResponderEliminarBeijão
Esta história ainda tem muito para contar. Espero que gostes do que vem por aí!
EliminarAbreijos :)