Capítulo 5
Mikel cobriu-se o mais que pôde, assustado! Um casal de meia-idade sorria para ele. O homem e a mulher tinham um ar muito sereno. Eram da mesma altura, tinham cabelos da mesma cor e as feições eram muito parecidas. Vestiam roupas idênticas e Mikel, inicialmente, até pensou que eles fossem gémeos!
- O meu marido encontrou-te inconsciente há quase um mês atrás, à saída da nossa aldeia.
- É verdade! Estavas coberto de sangue e terias morrido, se eu não te tivesse encontrado e trazido para cá! Uma tempestade de neve estava prestes a começar quando te encontrei!
Mikel recostou-se na cama e mais tranquilo, sorriu.
- Desculpem-me pelo trabalho que vos dei. Antes de mais nada, muito obrigado por me ter salvo, senhor...?
- Eu chamo-me Kyros! - com um sorriso, Kyros apresentou a mulher. - Esta é a minha esposa, Taikas.
- Muito prazer! Eu chamo-me Mikel. Onde estamos?
Taikas sentou-se ao fundo da cama e com um leve sorriso, respondeu:
- Jovem Mikel, nós sabemos que tu não és de cá. Não és do nosso planeta. O nosso povo outrora viveu no Planeta Terra. Quando ocorreu a primeira evolução, nós fomos encaminhados para outro local. Viemos parar a este planeta. Tu encontras-te em Kosminos. Mais propriamente, na aldeia de Pothos.
- Kosminos? Pothos? Onde fica isso?
Kyros sentou-se junto da esposa e explicou:
- Kosminos fica muito longe de Spodeth-Alpha, a tua terra natal. Inicialmente, pensamos que fosses o monstro que anda a fazer-nos mal, mas depois de te termos trazido para casa, curamos as tuas feridas. Ao fazê-lo, lemos o teu coração e os teus pensamentos. Foi assim que ficamos a saber quem eras e o que te aconteceu.
Mikel arregalou os olhos, não conseguindo disfarçar a surpresa:
- Esperem lá... Vocês têm poderes telepáticos? E que história é essa de monstro?
Nesse momento, um rapazinho de cabelos avermelhados, que não teria mais do que 7 anos, entrou na Sala onde Mikel, Kyros e Taikas se encontravam, com alguns toros de lenha nos braços. Mikel virou a cabeça para o ver. Taikas levantou-se e foi ter com ele, abraçando-o, enquanto chorava em silêncio.
- Obrigado, meu filho... Coloca a lenha ali, se faz favor...
O rapazinho fez o que lhe disseram sem pestanejar, nem expressar qualquer emoção. Mikel pensou que o rapaz talvez fosse surdo, apesar de ele ter entendido o pedido que lhe tinham feito. Taikas chorava cada vez mais. Mikel observava a cena, intrigado. Kyros afagou os cabelos do filho e anunciou:
- Mikel, este é o nosso filho. Sylphos, diz olá ao nosso convidado, Mikel.
Sylphos aproximou-se de Mikel. Olhou-o nos olhos e, após alguns segundos, virou costas sem dizer nada, sentando-se em frente da lareira. Mikel ficou chocado por ver que os olhos de Sylphos estavam completamente baços, sem brilho nenhum.
- O que… Aconteceu? - perguntou.
Sylphos
- Oh não! Onde está o Orbe? Onde está o 5º Elemento?
- Lamento muito, meu jovem! Ao teu lado só estavam esses objectos! No entanto... Havia pegadas em direcção à Floresta de Crystalia...
- Floresta de Crystalia? O que é isso? Onde fica isso? - inquiriu Mikel.
- A Floresta de Crystalia é um lugar sagrado. Só lá entra quem for autorizado pelo espírito da floresta. Quem entrar sem autorização, perde-se no nevoeiro e na tempestade de neve que fustiga a floresta! - explicou Taikas, com solenidade.
- Eu preciso do 5º Elemento! Não posso concluir a minha demanda se não obtiver todos os Elementos!
Sylphos levantou-se e entregou um desenho a Mikel. Ele tinha desenhado Mikel com uma espada brilhante e um castelo que parecia saído de um conto de fadas! Kyros exclamou:
- Olha só! Não pode ser! É o Palácio de Crystalia, que fica bem no centro da Floresta!
- Acalme-se! Por favor! Onde fica o Palácio? Eu tenho de ir lá!
Porém, o homem não disse mais nada a não ser o que já dissera antes. Mikel acabou de comer a sopa e depois de agradecer, saiu. Olhou para trás, enquanto se interrogava se aquele pobre coitado ficaria bem sozinho.
- “Pelo menos ele tem o que comer e muita lenha para se aquecer...” - pensou.
Não demorou muito - depois daquela curta estadia na cabana da floresta - para que Mikel sentisse o ar a ficar mais pesado e os ventos a fustigarem-no com mais violência! A névoa deu lugar ao nevoeiro cerrado! A queda de neve intensificou-se. Apesar disso, Mikel continuava a pensar na apatia das crianças da aldeia de Pothos. Essa visão ardia no fundo do seu espírito. Ele prosseguiu caminhada durante mais de uma hora.
- Volta para trás!
- Não! Eu vim procurar o que me roubaram! Sinto que está aqui! - respondeu Mikel, levantando a espada.
- Volta para trás! - repetiu a voz.
- Eu preciso do Orbe!
- Volta para trás!! - ordenou a voz, irada.
- NÃO VOLTO! - gritou Mikel, a plenos pulmões.
- Muito bem! Sendo assim... Vem ter comigo à Sala do trono! - rematou a misteriosa voz, mais calma.
Mikel atravessou vários corredores e Salas. Tudo era feito de cristal! Porém, o castelo encontrava-se vazio. Não havia nada, a não ser Salas e mais Salas e longos corredores! Admirado por ver um palácio tão bonito ao abandono, Mikel continuou à procura da Sala do trono, até que foi dar a uma biblioteca! Nas estantes de cristal, encontravam-se inúmeros livros! Indignado, Mikel retirou livros das estantes para ver o que eles continham! Como não percebia nada da língua que ali estava escrita, ele voltou a colocar os que tirara das estantes. Ao colocar o último livro, apercebeu-se de que este estava difícil de encaixar! Fez um pouco mais de força.
*Click!*
De repente, ouviu um clique! Uma parede à sua esquerda, deslizou! Era uma passagem secreta! Animado, ele entrou pela passagem secreta e subiu umas escadas de caracol, até tocar noutro dispositivo que fez outra parede deslizar! Para sua alegria, encontrou a Sala do Trono! A Sala encontrava-se vazia, com excepção de dois grandes cadeirões trabalhados, colocados no centro do local. Ele aproximou-se dos cadeirões, à medida que a parede voltava à sua posição original! Uma voz forte, como o trovão, desatou a rir:
- Ah ah ah ah ah! Com que então…! Tu conseguiste chegar até aqui! Prepara-te para lutar! Ah ah ah ah ah!
Com uma rajada de vento gélido, uma figura gigantesca surgiu na frente de Mikel!
- Oh não! Um monstro gigante! E agora? O que é que eu faço?!? - exclamou Mikel, assustado!
O monstro tinha um ar muito agressivo! Ele tinha mais de 4 metros de altura. Era uma criatura horrenda, com corpo disforme de um duende e enorme cabeça de leão! As suas vestes eram azuis-fantasmagóricas!
- Ousaste desafiar-me, pequenino! Prepara-te! Vais ser o meu jantar! Ah ah ah ah ah ah!
Ouvindo isto, Mikel fugiu a correr pela Sala, aos berros, enquanto o monstro lançou um poderoso ataque: um sopro de gelo que congelava instantaneamente tudo que atingisse!
- “E agora? O que faço?” - pensava Mikel.
Ele sabia que tinha de reagir, senão morreria! Quanto ao monstro, este ria-se, divertido! Ele levantou uma das pernas e bateu com ela no chão, provocando um pequeno tremor de terra, o que fez Mikel tropeçar e cair! A espada dele tombou no chão e ao fazê-lo, derreteu o gelo nos locais por onde tinha deslizado! Mikel olhou para aquilo, enquanto o monstro lançava um novo sopro de gelo! Desta vez, o rapaz não teve tanta sorte! O sopro de gelo atingiu-o no ombro direito! Para grande choque dele, o braço direito não tardou a congelar!
- Não vais poder usar esse braço agora, seu insecto! Desiste! Se não o fizeres, matar-te-ei com os meus ataques de gelo! - berrou o monstro, fechando os punhos e batendo com eles nas paredes, congelando as paredes!
Com dificuldades, Mikel pegou na espada e sentiu-a muito quente! Tocou com ela no seu braço direito e para seu espanto, o gelo começou a derreter! Instintivamente, ele virou-se para o monstro e gritou:
- Toma lá esta, seu gigante maldito!! Arrrrgggghhhh!!
Mikel depositou todas as suas esperanças naquele ataque. Pensou em tudo o que o levara até ali e quando o monstro abriu a enorme bocarra para lançar mais um ataque, ele gritou o mais forte que conseguiu e lançou a espada contra o peito da criatura, atingindo-a em cheio! O monstro esbracejou e gritou! A espada brilhou intensamente, encrustrada no peito da criatura, à medida que esta derretia, causando uma enorme cortina de vapor à sua volta! Quando o monstro deu o seu urro final, a cabeça dele caiu ao chão, com estrondo, desfazendo-se em água!
A névoa dissipou-se aos poucos e Mikel apercebeu-se de que alguém se encontrava tombado no chão, perto dos cadeirões do trono! Mikel aproximou-se, a medo! Teria o monstro sido mesmo derrotado? Estava ele a ponderar o que fazer, quando as portas da Sala do Trono, por detrás dele, abriram-se de par em par! O homem da cabana na Floresta de Crystalia entrou e desatou aos guinchos, felicíssimo!
Um senhor de idade provecta e longas barbas brancas levantou-se. Mikel aproximou-se dele.
- Ó mestre! Eu estava morto de preocupação! - exclamou o homem da cabana, abraçando-se ao homem das barbas, que retribuiu o abraço, feliz.
- Oh Rudolpho! Lamento imenso por ter-te causado tanta preocupação...
Depois de se soltarem, Rudolpho declarou, orgulhoso:
- Mestre, este rapaz é o Mikel! Ele veio à sua procura e salvou-o daquele monstro horrível!
O terrível Gigante é na verdade o Pai Natal!
O que terá acontecido para ele se tornar no Gigante de Gelo?
Vamos descobrir não tarda nada!
Mikel abanava a cabeça, incrédulo! O Pai Natal sorriu, animado e prosseguiu:
- Meu caro amigo! Neste momento, nós encontramo-nos num local insólito! Este palácio é vedado a quase toda a gente, porque a energia deste local é extraordinária! Aqui, reside o poder de concretizar os sonhos de quem aqui entrar!
- Mas...! O que tem isso a ver com o senhor ser o Pai Natal? Já agora...! O senhor sabe onde se encontra o 5º Elemento? Eu ando à procura dele! E.…! O senhor sabe o que aconteceu para que as crianças de Pothos ficassem sem alma?
O Pai Natal suspirou, cansado. Mikel fizera várias questões pertinentes! Ele sentou-se num dos cadeirões, convidando Mikel a sentar-se no outro. Com ar triste, mas determinado, o Pai Natal desabafou:
- Muito bem, meu rapaz... Tu mereces saber o que aconteceu! As crianças do Universo inteiro deixaram de acreditar em mim! Eu fui criado para trazer Alegria, Alento e Esperança a todas as crianças, sejam elas de que raças forem! As crianças perdem a vontade de viver e fecham os seus corações, quando a Escuridão Primordial está iminente! Quando te vi, caído e a esvaíres-te em sangue, gritei por ajuda. Foi aí que me apercebi de quem tu eras. Trazias contigo o 5º Elemento! Eu reconheci-o logo! Não sei se sabes, mas os 7 Elementos têm poderes muito especiais! Eu tinha a esperança de que, ao usar o 5º Elemento aqui, no Palácio de Crystalia, o meu sonho se tornasse realidade! Tenho consciência de que agi mal, ao roubar-te o 5º Elemento. Vim para aqui... Tinha esperanças de que, ao usar o Orbe nesta Sala, as crianças voltassem a acreditar em mim! Eu afastaria a Escuridão Primordial dos seus corações! Mas...! Eu falhei...
- Escuridão Primordial? O que é isso? - perguntou Mikel.
- Esse é o verdadeiro nome do Mal que denominas por Mal Desconhecido. Estás a lutar contra a mais terrível forma da Escuridão. Uma Escuridão que foi gerada no Início dos Tempos e que tem estado a consumir as vidas e as almas de todos os que são capturados por ela...
- Então e o 5º Elemento?
- Aqui o tens, meu amigo! - anunciou o Pai Natal, retirando o Orbe do bolso e entregando-o a Mikel. - Foi por culpa dele que eu me tornei naquele Gigante de Gelo! Descobri, à minha própria custa, que o poder dos Orbes Lendários tem de ser muito bem doseado! O meu desejo era bom... E olha só o que causei...! No que me tornei...! Aquele monstro roubou as almas das crianças, porque precisava de Energia Pura!
Mikel pegou no Orbe e pensou no que queria, no fundo do seu coração.
- “Por favor, devolve as almas às crianças de Pothos!”
O Orbe brilhou intensamente. Mikel abraçou o Pai Natal e sorrindo para ele, comentou:
- O senhor não teve culpa. O importante é que tudo fique bem! Vamos regressar a Pothos?
- De acordo, meu amigo! Paremos em minha casa pelo caminho! - respondeu o Pai Natal, com um sorriso.
E assim, Mikel, Rudolpho e o Pai Natal abandonaram o Palácio de Crystalia. O dia dera lugar à noite. O céu estava limpo e estrelado! A viagem de regresso a Pothos não foi tão longa como a que conduzira Mikel ao Palácio de Crystalia. Com grande visibilidade e o céu limpo, rapidamente chegaram à aldeia.
Quando entraram a Pothos, as crianças correram para eles! O Pai Natal levava consigo um grande saco cheio de presentes para eles! Todos os aldeões correram para junto deles, a chorar e a rir ao mesmo tempo! Kyros, Taikas e Sylphos abraçaram Mikel e Sylphos exclamou:
- Muito obrigado! És o meu herói! Quando for grande, quero ser como tu!
Mikel sorriu e abraçou Sylphos, colocando-o às suas cavalitas, tal como fizera com Baya Ainila3, o seu filho adoptivo, quando celebraram o Natal! Enquanto isso, Rudolpho ajudava o Pai Natal a distribuir as prendas! Feliz, Mikel deu o Orbe a Sylphos, e este colocou-o em cima de um pinheiro que se encontrava no centro da aldeia.
Assim que Sylphos colocou-o no topo do pinheiro, o Orbe brilhou intensamente nas 7 cores do Arco-Íris! Todos os aldeões, as crianças, o Pai Natal, o Rudolpho e o Mikel deram as mãos e cantaram felizes, enquanto dançavam à volta do pinheiro.
Mikel conseguiu salvar o povo de Kosminos!
Conseguirá ele resgatar os restantes orbes?
A aventura do nosso herói está quase a chegar ao fim!
*Muito longe dali...*
- Esta energia! É o 5º Elemento! Aguenta-te, Mikel! Eu vou a caminho!!! - trovejou Hórus, sorrindo feliz e partindo a toda velocidade para junto do filho.
Nota do Autor:
3 - “Escrito nas Entrelinhas: Parte 3”;
[Continua...]