31 março 2020

Sombras da Luz: Entardecer ~ Capítulo 5



Capítulo 5






Mikel cobriu-se o mais que pôde, assustado! Um casal de meia-idade sorria para ele. O homem e a mulher tinham um ar muito sereno. Eram da mesma altura, tinham cabelos da mesma cor e as feições eram muito parecidas. Vestiam roupas idênticas e Mikel, inicialmente, até pensou que eles fossem gémeos!

- O meu marido encontrou-te inconsciente há quase um mês atrás, à saída da nossa aldeia. 

- É verdade! Estavas coberto de sangue e terias morrido, se eu não te tivesse encontrado e trazido para cá! Uma tempestade de neve estava prestes a começar quando te encontrei!

Mikel recostou-se na cama e mais tranquilo, sorriu.

- Desculpem-me pelo trabalho que vos dei. Antes de mais nada, muito obrigado por me ter salvo, senhor...?

- Eu chamo-me Kyros! - com um sorriso, Kyros apresentou a mulher. - Esta é a minha esposa, Taikas.

- Muito prazer! Eu chamo-me Mikel. Onde estamos?

Taikas sentou-se ao fundo da cama e com um leve sorriso, respondeu:

- Jovem Mikel, nós sabemos que tu não és de cá. Não és do nosso planeta. O nosso povo outrora viveu no Planeta Terra. Quando ocorreu a primeira evolução, nós fomos encaminhados para outro local. Viemos parar a este planeta. Tu encontras-te em Kosminos. Mais propriamente, na aldeia de Pothos. 

- Kosminos? Pothos? Onde fica isso?

Kyros sentou-se junto da esposa e explicou:

- Kosminos fica muito longe de Spodeth-Alpha, a tua terra natal. Inicialmente, pensamos que fosses o monstro que anda a fazer-nos mal, mas depois de te termos trazido para casa, curamos as tuas feridas. Ao fazê-lo, lemos o teu coração e os teus pensamentos. Foi assim que ficamos a saber quem eras e o que te aconteceu.

Mikel arregalou os olhos, não conseguindo disfarçar a surpresa:

- Esperem lá... Vocês têm poderes telepáticos? E que história é essa de monstro?

Nesse momento, um rapazinho de cabelos avermelhados, que não teria mais do que 7 anos, entrou na Sala onde Mikel, Kyros e Taikas se encontravam, com alguns toros de lenha nos braços. Mikel virou a cabeça para o ver. Taikas levantou-se e foi ter com ele, abraçando-o, enquanto chorava em silêncio. 

- Obrigado, meu filho... Coloca a lenha ali, se faz favor...   

O rapazinho fez o que lhe disseram sem pestanejar, nem expressar qualquer emoção. Mikel pensou que o rapaz talvez fosse surdo, apesar de ele ter entendido o pedido que lhe tinham feito. Taikas chorava cada vez mais. Mikel observava a cena, intrigado. Kyros afagou os cabelos do filho e anunciou:

- Mikel, este é o nosso filho. Sylphos, diz olá ao nosso convidado, Mikel.

Sylphos aproximou-se de Mikel. Olhou-o nos olhos e, após alguns segundos, virou costas sem dizer nada, sentando-se em frente da lareira. Mikel ficou chocado por ver que os olhos de Sylphos estavam completamente baços, sem brilho nenhum.

- O que… Aconteceu? - perguntou.




- Mikel... Todas as crianças de Pothos encontram-se assim... Não sabemos como, mas de um momento para o outro, elas deixaram de ter alma. Continuam vivas, mas não falam, nem sentem nada. São como conchas vazias... - rematou Kyros, abraçando-se ao filho enquanto chorava, desconsolado.


Mikel ficou muito triste ao escutar aquilo! Suspirou e fechou os olhos, para controlar as lágrimas que invadiam-no. Parecia que não havia lugar algum, em todo o Universo, que não se estivesse a sofrer de algum tipo de problema. Estaria tudo aquilo relacionado com o Mal Desconhecido? Taikas aproximou-se de Mikel e lendo-lhe os pensamentos, explicou:


- Todas as crianças começaram a ficar estranhas algum tempo depois da tua chegada a Pothos. No entanto, nós sabemos que não és tu o causador deste mal. Como o Kyros te contou, nós outrora vivemos no Planeta Terra. Com a Evolução Consciencial do nosso povo, fomos encaminhados para um local que nos permitiu evoluirmos ainda mais. Não somos somente telepatas. Somos empáticos e temos poderes curativos. Usamos a energia universal através dos nossos corpos. Quando o Kyros te trouxe para casa e compreendemos que estavas muito fraco, colocamos-te num coma artificial, para que pudesses recuperar de todos os ferimentos e dores. Dois dias depois de teres chegado, este pesadelo teve início. Foi aí que nos apercebemos de que algo não estava bem com as crianças.


- É preciso fazer alguma coisa! - respondeu Mikel, preparando-se para se levantar.


Kyros aproximou-se dele e exclamou:


- Ó rapaz! Tu estás nu! Tem mais respeito! Ah ah ah ah! Muito bem, eu vou preparar umas roupas para ti e tu vais tomar um banho quente! Estiveste quase um mês aí deitado, estás a precisar de um bom banho! Ah ah ah ah!


Enroscando-se no lençol, Mikel agradeceu e sorriu, envergonhado. Dirigiu-se à casa de banho, a tiritar de frio! Taikas foi para a cozinha e o Sylphos continuou sentado em frente da lareira, a ver o fogo crepitar. Após tomar um banho muito relaxante, Mikel vestiu as grossas roupas que Kyros lhe deixara. Mais confortável, aproximou-se de Sylphos e sentou-se ao lado dele.


- Como estás, Sylphos? Vives numa terra mesmo fria!



Sylphos


Sylphos manteve-se em silêncio, sem tirar os olhos da lareira. Quando Mikel estava prestes a levantar-se, Sylphos tocou com uma das mãos nas pernas de Mikel. Em seguida, olhou-o nos olhos e acenou afirmativamente com a cabeça. Kyros, que observava a cena à soleira da porta, exclamou:


- Olha só! Taikas! O nosso filho reagiu às palavras de Mikel!
 
Taikas veio ter com o esposo e Mikel sentou-se novamente ao lado de Sylphos, não sem antes pegar numa folha e num lápis, que estavam em cima da mesa.


- Sabes? Às vezes, eu não tenho vontade de falar com ninguém. Principalmente quando estou muito triste. Nessas alturas, eu escrevo ou desenho. Tu sabes escrever? Sabes desenhar? Se sim... Escreves ou desenhas alguma coisa para mim?
 
Sylphos ficou a olhar para a lenha que ardia na lareira durante algum tempo. Como não reagisse, Mikel levantou-se e Taikas dirigiu-se novamente à cozinha, a chorar. Mikel sentiu-se muito culpado por tudo o que aquelas pessoas estavam a passar. Queria fazer algo, mas não sabia por onde começar. 


Levando as mãos à cabeça, Mikel lembrou-se de que não tinha a espada, nem as runas, nem o 5º Elemento consigo! Kyros leu-lhe os pensamentos e virou costas, trazendo consigo a espada e um saquinho.


- Quando te encontrei, isto estava ao teu lado.


Mikel pegou na espada, feliz! Imediatamente ele abriu o saquinho de veludo. Para grande espanto seu, só encontrou as runas lá dentro!

- Oh não! Onde está o Orbe? Onde está o 5º Elemento?

- Lamento muito, meu jovem! Ao teu lado só estavam esses objectos! No entanto... Havia pegadas em direcção à Floresta de Crystalia...

- Floresta de Crystalia? O que é isso? Onde fica isso? - inquiriu Mikel.

- A Floresta de Crystalia é um lugar sagrado. Só lá entra quem for autorizado pelo espírito da floresta. Quem entrar sem autorização, perde-se no nevoeiro e na tempestade de neve que fustiga a floresta! - explicou Taikas, com solenidade.

- Eu preciso do 5º Elemento! Não posso concluir a minha demanda se não obtiver todos os Elementos!

Sylphos levantou-se e entregou um desenho a Mikel. Ele tinha desenhado Mikel com uma espada brilhante e um castelo que parecia saído de um conto de fadas! Kyros exclamou:

- Olha só! Não pode ser! É o Palácio de Crystalia, que fica bem no centro da Floresta!





- O senhor já entrou na Floresta? - perguntou Mikel.


- Oh! Não! É apenas uma lenda conhecida de todos nós... Ninguém sabe ao certo que segredos estão guardados na floresta! Mas para o Sylphos ter desenhado isto... Talvez encontres alguma resposta na Floresta, meu jovem!


- O almoço está na mesa! - exclamou Taikas, com um sorriso, visivelmente mais animada.
 
Foi opinião unânime de que, se Sylphos estava a reagir, nem tudo estaria perdido! Todos  sentaram-se à mesa e começaram a comer! Mikel estava esfomeado! Saboreou cada prato que Taikas lhe servia com sofreguidão! Estava tudo tão bom! O almoço durou mais tempo do que Mikel estava à espera. 


Entre perguntas e respostas, tanto ele como Kyros e Taikas foram partilhando momentos e histórias das suas vidas. Kyros chamou os vizinhos e rapidamente o dia deu lugar à noite. Com a promessa de partir em direcção à floresta no dia seguinte, Mikel foi agraciado com a visita de todos os aldeões de Pothos.


No dia seguinte, ainda mal o sol tinha nascido, já Mikel colocava uma mochila com provisões às costas. Não sabia se seria bem-sucedido, mas o desenho de Sylphos não lhe saía do pensamento. Ele sentia que Sylphos estava certo. O 5º Elemento deveria estar no castelo que se encontrava bem no interior da Floresta de Crystalia! Todos os aldeões acompanharam-no até à saída da aldeia de Pothos. 


Emocionados, desejaram-lhe boa sorte. 


As crianças da aldeia juntaram-se todas num grupo e observavam Mikel com aqueles rostos inexpressivos e olhos vazios. Ao olhar para elas, Mikel sentiu no seu coração o desejo de trazer de volta a felicidade àquelas famílias.



Mikel começou a andar, admirado por estar a caminhar sobre neve. As roupas e o calçado que lhe tinham fornecido eram muito adequados para aquele relevo. O dia amanhecia bonito. O céu estava muito azul, sem nuvens. Quando Mikel se aproximou da Floresta de Crystalia, algum tempo depois, tudo mudou. O céu encheu-se de nuvens escuras e levantou-se um vento gélido. Não tardou para que Mikel tivesse de avançar muito mais lentamente, pois com a chegada do vento, uma tempestade de neve teve início e uma névoa rasteira envolveu todo o espaço ao redor.
Tiritando de frio, ele fazia os possíveis por ver o caminho à sua frente. 
Quando entrou na Floresta, o uivo do vento aumentou e a tempestade de neve agravou-se. Mikel mantinha bem presente na sua mente a imagem das crianças de Pothos. Aquilo deixara-o muito emocionado e parecia que conseguia repelir todo o frio que a tempestade trouxera consigo. 
Continuava a avançar, com muita dificuldade. A dada altura, decidiu parar e fazer uma fogueira, para se aquecer e comer algo quentinho. Tratou de procurar um abrigo, mas, para onde quer que olhasse, só via árvores cristalinas, cobertas de neve. 
Tudo parecia-lhe igual!
O seu espírito foi invadido por dúvidas. Estaria tudo perdido? 






Mikel fechou os olhos e concentrou-se. Ele escutava o uivo do vento, agora já tão frequente que se tinha habituado a ele. Porém, o seu olfacto detectou um cheiro inconfundível de comida a ser confeccionada! Decidiu focar-se no seu olfacto e assim, seguiu um rasto que o conduziu até uma cabana! Dentro dela encontrava-se um homem de uma certa idade, que preparava uma sopa e que se lamuriava:
- Ai! O que vai ser de mim! Ai! O que vai ser de mim?
Mal acreditando no que estava a ver, o rapaz bateu à janela e o homem deu um salto, admirado!
- Quem és tu? Entra, entra! - respondeu, abrindo a porta para Mikel entrar.
- Eu chamo-me Mikel. E o senhor? Está bem? - perguntou, tiritando de frio.
- Não sei quem és forasteiro, mas se os espíritos da floresta te deixaram vir até aqui, então não és má pessoa! Toma, só tenho sopa para te dar! Bom apetite!
O homem caminhou rapidamente para mesa, onde colocou um panelão de sopa fumegante, enchendo o prato de Mikel e sentando-se a comer o seu também.
- Ainda não me disse o seu nome, senhor... O que se passa consigo?
- Ai! O que vai ser de mim? O que vai ser de mim? - respondeu o homem, entre colheradas.
- O que se passa consigo? - perguntou Mikel.
- O monstro raptou o meu mestre! O monstro que vive agora no Palácio de Crystalia raptou o meu mestre! Ai! O que vai ser de mim? - murmurejou o homem.

- Acalme-se! Por favor! Onde fica o Palácio? Eu tenho de ir lá!

Porém, o homem não disse mais nada a não ser o que já dissera antes. Mikel acabou de comer a sopa e depois de agradecer, saiu. Olhou para trás, enquanto se interrogava se aquele pobre coitado ficaria bem sozinho.

- “Pelo menos ele tem o que comer e muita lenha para se aquecer...” - pensou. 

Não demorou muito - depois daquela curta estadia na cabana da floresta - para que Mikel sentisse o ar a ficar mais pesado e os ventos a fustigarem-no com mais violência! A névoa deu lugar ao nevoeiro cerrado! A queda de neve intensificou-se. Apesar disso, Mikel continuava a pensar na apatia das crianças da aldeia de Pothos. Essa visão ardia no fundo do seu espírito. Ele prosseguiu caminhada durante mais de uma hora. 



De repente, bateu contra uma barreira invisível! Empunhando a espada, gritou:
- Deixa-me passar! Preciso de encontrar o 5º Elemento e trazer de volta as almas das crianças de Pothos!
Ao deixar cair a espada, ele ouviu um barulho semelhante a um trovão. Momentos depois, o nevoeiro dissipou-se. O vento acalmou. A neve deixou de cair. Um caminho surgiu à sua frente e Mikel prosseguiu. Não tardou a chegar ao Palácio de Crystalia. Mikel ficou deslumbrado com a beleza do local. O castelo era grande e feito de cristal! Uma voz sinistra ecoou, quando ele entrou no castelo:


- Volta para trás! 

- Não! Eu vim procurar o que me roubaram! Sinto que está aqui! - respondeu Mikel, levantando a espada.

- Volta para trás! - repetiu a voz.

- Eu preciso do Orbe!

- Volta para trás!! - ordenou a voz, irada.

- NÃO VOLTO! - gritou Mikel, a plenos pulmões.

- Muito bem! Sendo assim... Vem ter comigo à Sala do trono! - rematou a misteriosa voz, mais calma.

Mikel atravessou vários corredores e Salas. Tudo era feito de cristal! Porém, o castelo encontrava-se vazio. Não havia nada, a não ser Salas e mais Salas e longos corredores! Admirado por ver um palácio tão bonito ao abandono, Mikel continuou à procura da Sala do trono, até que foi dar a uma biblioteca! Nas estantes de cristal, encontravam-se inúmeros livros! Indignado, Mikel retirou livros das estantes para ver o que eles continham! Como não percebia nada da língua que ali estava escrita, ele voltou a colocar os que tirara das estantes. Ao colocar o último livro, apercebeu-se de que este estava difícil de encaixar! Fez um pouco mais de força.


*Click!*


De repente, ouviu um clique! Uma parede à sua esquerda, deslizou! Era uma passagem secreta! Animado, ele entrou pela passagem secreta e subiu umas escadas de caracol, até tocar noutro dispositivo que fez outra parede deslizar! Para sua alegria, encontrou a Sala do Trono! A Sala encontrava-se vazia, com excepção de dois grandes cadeirões trabalhados, colocados no centro do local. Ele aproximou-se dos cadeirões, à medida que a parede voltava à sua posição original! Uma voz forte, como o trovão, desatou a rir:

- Ah ah ah ah ah! Com que então…! Tu conseguiste chegar até aqui! Prepara-te para lutar! Ah ah ah ah ah!

Com uma rajada de vento gélido, uma figura gigantesca surgiu na frente de Mikel!

- Oh não! Um monstro gigante! E agora? O que é que eu faço?!? - exclamou Mikel, assustado!

O monstro tinha um ar muito agressivo! Ele tinha mais de 4 metros de altura. Era uma criatura horrenda, com corpo disforme de um duende e enorme cabeça de leão! As suas vestes eram azuis-fantasmagóricas!

- Ousaste desafiar-me, pequenino! Prepara-te! Vais ser o meu jantar! Ah ah ah ah ah ah!

Ouvindo isto, Mikel fugiu a correr pela Sala, aos berros, enquanto o monstro lançou um poderoso ataque: um sopro de gelo que congelava instantaneamente tudo que atingisse!

- “E agora? O que faço?” - pensava Mikel.

Ele sabia que tinha de reagir, senão morreria! Quanto ao monstro, este ria-se, divertido! Ele levantou uma das pernas e bateu com ela no chão, provocando um pequeno tremor de terra, o que fez Mikel tropeçar e cair! A espada dele tombou no chão e ao fazê-lo, derreteu o gelo nos locais por onde tinha deslizado! Mikel olhou para aquilo, enquanto o monstro lançava um novo sopro de gelo! Desta vez, o rapaz não teve tanta sorte! O sopro de gelo atingiu-o no ombro direito! Para grande choque dele, o braço direito não tardou a congelar!

- Não vais poder usar esse braço agora, seu insecto! Desiste! Se não o fizeres, matar-te-ei com os meus ataques de gelo! - berrou o monstro, fechando os punhos e batendo com eles nas paredes, congelando as paredes!

Com dificuldades, Mikel pegou na espada e sentiu-a muito quente! Tocou com ela no seu braço direito e para seu espanto, o gelo começou a derreter! Instintivamente, ele virou-se para o monstro e gritou:

- Toma lá esta, seu gigante maldito!! Arrrrgggghhhh!!

Mikel depositou todas as suas esperanças naquele ataque. Pensou em tudo o que o levara até ali e quando o monstro abriu a enorme bocarra para lançar mais um ataque, ele gritou o mais forte que conseguiu e lançou a espada contra o peito da criatura, atingindo-a em cheio! O monstro esbracejou e gritou! A espada brilhou intensamente, encrustrada no peito da criatura, à medida que esta derretia, causando uma enorme cortina de vapor à sua volta! Quando o monstro deu o seu urro final, a cabeça dele caiu ao chão, com estrondo, desfazendo-se em água!





A névoa dissipou-se aos poucos e Mikel apercebeu-se de que alguém se encontrava tombado no chão, perto dos cadeirões do trono! Mikel aproximou-se, a medo! Teria o monstro sido mesmo derrotado? Estava ele a ponderar o que fazer, quando as portas da Sala do Trono, por detrás dele, abriram-se de par em par! O homem da cabana na Floresta de Crystalia entrou e desatou aos guinchos, felicíssimo!

- Mestre! Mestre!! O senhor está bem?!?

Um senhor de idade provecta e longas barbas brancas levantou-se. Mikel aproximou-se dele.
  
- Ó mestre! Eu estava morto de preocupação! - exclamou o homem da cabana, abraçando-se ao homem das barbas, que retribuiu o abraço, feliz. 

- Oh Rudolpho! Lamento imenso por ter-te causado tanta preocupação... 

Depois de se soltarem, Rudolpho declarou, orgulhoso:

- Mestre, este rapaz é o Mikel! Ele veio à sua procura e salvou-o daquele monstro horrível!





O homem das barbas sorriu, bonacheirão! Como Mikel olhasse para ele e para Rudolpho com ar inquisidor, este apresentou-se:
- Meu caro... Eu sou o Pai Natal! Oh oh oh! 
- O quê?!? O senhor é o Pai Natal?!? - perguntou Mikel, completamente abismado!
O terrível Gigante é na verdade o Pai Natal! 
O que terá acontecido para ele se tornar no Gigante de Gelo? 
Vamos descobrir não tarda nada!


Mikel abanava a cabeça, incrédulo! O Pai Natal sorriu, animado e prosseguiu:

- Meu caro amigo! Neste momento, nós encontramo-nos num local insólito! Este palácio é vedado a quase toda a gente, porque a energia deste local é extraordinária! Aqui, reside o poder de concretizar os sonhos de quem aqui entrar!

- Mas...! O que tem isso a ver com o senhor ser o Pai Natal? Já agora...! O senhor sabe onde se encontra o 5º Elemento? Eu ando à procura dele! E.…! O senhor sabe o que aconteceu para que as crianças de Pothos ficassem sem alma?

O Pai Natal suspirou, cansado. Mikel fizera várias questões pertinentes! Ele sentou-se num dos cadeirões, convidando Mikel a sentar-se no outro. Com ar triste, mas determinado, o Pai Natal desabafou:

- Muito bem, meu rapaz... Tu mereces saber o que aconteceu! As crianças do Universo inteiro deixaram de acreditar em mim! Eu fui criado para trazer Alegria, Alento e Esperança a todas as crianças, sejam elas de que raças forem! As crianças perdem a vontade de viver e fecham os seus corações, quando a Escuridão Primordial está iminente! Quando te vi, caído e a esvaíres-te em sangue, gritei por ajuda. Foi aí que me apercebi de quem tu eras. Trazias contigo o 5º Elemento! Eu reconheci-o logo! Não sei se sabes, mas os 7 Elementos têm poderes muito especiais! Eu tinha a esperança de que, ao usar o 5º Elemento aqui, no Palácio de Crystalia, o meu sonho se tornasse realidade! Tenho consciência de que agi mal, ao roubar-te o 5º Elemento. Vim para aqui... Tinha esperanças de que, ao usar o Orbe nesta Sala, as crianças voltassem a acreditar em mim! Eu afastaria a Escuridão Primordial dos seus corações! Mas...! Eu falhei... 

- Escuridão Primordial? O que é isso? - perguntou Mikel.

- Esse é o verdadeiro nome do Mal que denominas por Mal Desconhecido. Estás a lutar contra a mais terrível forma da Escuridão. Uma Escuridão que foi gerada no Início dos Tempos e que tem estado a consumir as vidas e as almas de todos os que são capturados por ela...

- Então e o 5º Elemento?

- Aqui o tens, meu amigo! - anunciou o Pai Natal, retirando o Orbe do bolso e entregando-o a Mikel. - Foi por culpa dele que eu me tornei naquele Gigante de Gelo! Descobri, à minha própria custa, que o poder dos Orbes Lendários tem de ser muito bem doseado! O meu desejo era bom... E olha só o que causei...! No que me tornei...! Aquele monstro roubou as almas das crianças, porque precisava de Energia Pura!

Mikel pegou no Orbe e pensou no que queria, no fundo do seu coração.

- “Por favor, devolve as almas às crianças de Pothos!
  
O Orbe brilhou intensamente. Mikel abraçou o Pai Natal e sorrindo para ele, comentou:

- O senhor não teve culpa. O importante é que tudo fique bem! Vamos regressar a Pothos?

- De acordo, meu amigo! Paremos em minha casa pelo caminho! - respondeu o Pai Natal, com um sorriso.

E assim, Mikel, Rudolpho e o Pai Natal abandonaram o Palácio de Crystalia. O dia dera lugar à noite. O céu estava limpo e estrelado! A viagem de regresso a Pothos não foi tão longa como a que conduzira Mikel ao Palácio de Crystalia. Com grande visibilidade e o céu limpo, rapidamente chegaram à aldeia. 

Quando entraram a Pothos, as crianças correram para eles! O Pai Natal levava consigo um grande saco cheio de presentes para eles! Todos os aldeões correram para junto deles, a chorar e a rir ao mesmo tempo! Kyros, Taikas e Sylphos abraçaram Mikel e Sylphos exclamou:

- Muito obrigado! És o meu herói! Quando for grande, quero ser como tu!

Mikel sorriu e abraçou Sylphos, colocando-o às suas cavalitas, tal como fizera com Baya Ainila3, o seu filho adoptivo, quando celebraram o Natal! Enquanto isso, Rudolpho ajudava o Pai Natal a distribuir as prendas! Feliz, Mikel deu o Orbe a Sylphos, e este colocou-o em cima de um pinheiro que se encontrava no centro da aldeia.

Assim que Sylphos colocou-o no topo do pinheiro, o Orbe brilhou intensamente nas 7 cores do Arco-Íris! Todos os aldeões, as crianças, o Pai Natal, o Rudolpho e o Mikel deram as mãos e cantaram felizes, enquanto dançavam à volta do pinheiro.


Mikel conseguiu salvar o povo de Kosminos!
Conseguirá ele resgatar os restantes orbes? 
A aventura do nosso herói está quase a chegar ao fim!


*Muito longe dali...*

- Esta energia! É o 5º Elemento! Aguenta-te, Mikel! Eu vou a caminho!!! - trovejou Hórus, sorrindo feliz e partindo a toda velocidade para junto do filho.



Nota do Autor:

3 - “Escrito nas Entrelinhas: Parte 3”;


[Continua...]

O Príncipe da Lua

30 março 2020

Sombras da Luz: Entardecer ~ Capítulo 4


Capítulo 4



*Enquanto isso, na nave Akithran...*

A bordo da nave Akithran viviam-se momentos paradoxais. Quando Mikel chegara ao Jardim dos Deuses, os deuses e outros seres mitológicos que se encontravam lá prisioneiros tiveram a oportunidade de finalmente escapar do pesadelo que aquele local se tornara2. Porém, enquanto eles se divertiam e celebravam o acontecimento numa gigantesca Sala criada para os acolher, numa outra zona da nave, os Sombras da Luz estavam em pânico! Sem saberem como, Renge ficara muito pálido e desfalecera nos braços do Príncipe Titus.





- Renge! Renge! Que se passa? - perguntaram Titus, Razor e Caleb, ao mesmo tempo.

- Não sei... Sinto-me muito fraco... Tenho frio... - gemeu o rapaz.

- Razor, depressa! Vai chamar o Mestre Hilarion! Rápido! - gritou Titus, enquanto abraçava Renge contra o seu peito.

O Príncipe Titus ficou chocado ao sentir todo o corpo do rapaz completamente gelado. Razor partiu imediatamente, sendo seguido por Caleb. Titus embalava Renge, enquanto murmurava, em voz doce: 

- Aguenta-te! O Razor e o Caleb foram pedir ajuda! O Mikel não tardará a regressar! Coragem!  

Ao escutar aquilo, Renge emocionou-se. Lágrimas rolavam pelo seu rosto. Com uma voz muito débil, sussurrou:

- Titus... Entrega isto ao Mikel... Por favor...

Uma das lágrimas de Renge cristalizou-se, caindo nas mãos de Titus. Este sentiu a lágrima a ficar quente e a brilhar muito. Olhou para ela, espantado. Renge sorriu.

- Diz ao Mikel que eu... Eu gostei muito, mesmo muito de o conhecer! Ele é mais carinhoso e gentil que o papá Yusuke! Pssssttt! Não digas ao papá Yusuke que eu disse isto! Ele é um bocadinho ciumento... Ahhh... Quem me dera ver os meus papás e o Mikel mais uma vez... Gostava de ficar com ele para sempre...

- Renge! Renge! - exclamou Titus. - Renge!!

Os olhos de Renge perderam o brilho e a sua cabeça tombou para o lado. Razor, Caleb e o Mestre Hilarion entraram na enfermaria nesse preciso instante. Chocados, aproximaram-se de Renge, mas quando o Mestre Hilarion tocou no rapaz, o corpo deste começou a desvanecer-se e a converter-se em pó de estrela.





- Oh não! Renge!!! - exclamaram os Sombras da Luz, chocados!

O Mestre Hilarion sentou-se no chão, visivelmente abatido. Ele sabia que, para estar a acontecer aquilo, Mikel passara a duríssima prova que o aguardava no Jardim dos Deuses. Mal refeitos do choque, Razor desmaiou, para espanto de todos!

- Razor!! Razor!! O que se passa aqui? Primeiro o Renge, agora o Razor! - gritou Caleb, olhando para Hilarion, assustado com a situação.

Caleb sentia medo, pela primeira vez em muito tempo! Ele perdera quase todo o seu jovem grupo na terrível batalha que decorrera no Planeta Terra1. Já só restavam ele e Razor.

O Mestre Hilarion parecia assustado! Sem saber o que pensar, negou com a cabeça e respondeu:

- Não sei! Eu não sei! Não estava previsto acontecer nada ao Razor!

Caleb pegou em Razor e levou-o para uma das camas da enfermaria. Para alívio geral, constatou-se que ele estava a respirar. Após alguns minutos de incerteza, Razor recuperou a consciência. Sentia-se fraco e vazio. Quando mencionou esse facto, ele apercebeu-se de algo.

- Mestre Hilarion! A Kitsune... A raposa que o Príncipe Mikel deixou aos meus cuidados... Desapareceu! Eu não sinto mais a sua presença dentro de mim!

- Ahhhh! Agora entendi! Já sei o que se passou! - exclamou Hilarion.

- Então?! O que espera para nos contar? O que aconteceu com o pequeno Renge? - inquiriu Caleb, visivelmente tranquilo por ver que Razor recuperava totalmente.

O Mestre Hilarion aproximou-se dos rapazes, com ar abatido.

- Bom... Meus amados... Sentem-se, que eu vou contar-vos tudo...

Caleb e Titus sentaram-se um de cada lado de Razor. 






Hilarion deu um longo suspiro, agastado. Ele sentou-se ao fundo da cama e começou a explicar: 

- Vocês já sabem que o Mikel e o Renge andavam à procura dos 7 Elementos. Até agora, eles tinham encontrado 4 dos 7 Elementos. O 5º Elemento encontrava-se no Jardim dos Deuses. Foi para lá que o Mikel se dirigiu. 

- O senhor não deixou o Renge partir com o Príncipe Mikel desta vez... Porquê? - perguntou o Príncipe Titus.

- A grande verdade é que... Toda esta demanda dos 7 Elementos é um teste para que vocês, amados Sombras da Luz, atinjam o vosso pleno potencial! O Mikel foi o escolhido entre todos vocês para reuni-los. Nós sabíamos que esta seria uma das mais terríveis provas que ele teria pela frente. O 5º Elemento estava dentro do coração daquele que foi o grande amor da vida do Mikel! Nada mais, nada menos, do que a sua Chama Gémea, o Ángel. 

- O quê?! O Ángel continha o 5º Elemento?! Como?!? - perguntou Razor, surpreendido.

- O Ángel e o Mikel são personificações da Consciência Divina. São dois seres que se complementam. Para recuperar o 5º Elemento, o Mikel tinha de... Bom... Ele tinha que destruir o Ángel. Completamente. Essa era a única maneira de recuperar o 5ª Elemento. Se o Renge, que é filho de Mikel e de Ángel, desvaneceu-se em pó de estrela... Então... O Mikel conseguiu. Ele recuperou o 5º Elemento. 

Os Sombras da Luz levaram as mãos à boca, chocados com a revelação. 

- Vocês são loucos! Como podem exigir algo assim?! - criticou o Príncipe Titus, completamente indignado! - Isso vai dar cabo do Príncipe Mikel! Nenhum de nós suportaria tamanho sacrifício!

- Não penses que eu não tenho consciência disso, amado Titus! Acredita que não foi fácil para nós, os Mestres Ascensos, aceitarmos tudo isto! Tínhamos perfeita consciência do que iria acontecer! Quanto à raposa... Como sabem, o Mikel tinha várias criaturas espirituais: Light, um dragão, que ele confiou ao Príncipe Kyle, o filho de Neptuno; Ōkami, um lobo, a criatura que se uniu a ele; Kitsune, uma raposa, que era uma reflexão de Ángel e do laço que os unia e que ele confiou a ti, Razor. Só que...

De repente, uma sirene começou a soar e uma voz impessoal ecoou pela nave:

- “Atenção a todos os passageiros a bordo das naves Akithran, Luzithanea e Esmeralda! Solicita-se a vossa presença, imediatamente, na Sala de Reuniões Alpha Centauris!
  
-  O que é isto? - inquiriram os Sombras da Luz, assustados!

- Algo muito grave está a acontecer, agarrem-se a mim! - ordenou o Mestre Hilarion.

Quando os Sombras da Luz deram as mãos e tocaram nas vestes de Hilarion, teletransportaram-se de imediato. Aquele alarme sonoro apanhou todos os passageiros da nave de surpresa! O deus Hórus andava à procura de Mikel, dentro das Salas onde sabia que estavam reunidos grupos de divindades que tinham retornado do Jardim dos Deuses. Ele já tinha revisto uma data de amigos, mas nenhum deles sabia onde estava o seu filho. Ele estava a caminho da Sala do Mestre Hilarion quando, ao entrar numa Sala, encontrou Dioniso, um deus do Olimpo. 



O deus Hórus, pai de Mikel; Dioniso, um dos deuses do Olimpo;


- Oh! Por aqui, estimado Hórus? Bons olhos te vejam! - comentou Dioniso, com um grande sorriso. 

- Então Dioniso, tudo bem? - perguntou Hórus, com um sorriso. - Vejo que a estadia no Jardim dos Deuses não te mudou nadinha!

Dioniso era um deus alto e bem constituído. Na cabeça, tinha uma coroa de feita de videira, a sua planta favorita. Ele tinha cabelos castanhos-escuros, que lhe caiam em cachos, abaixo dos ombros. Os seus olhos eram castanhos e tinha um sorriso cativante. Geralmente, ele andava com uma veste que pouco cobria o seu corpo bonito. Era muito apreciado por divindades e até os comuns mortais deliravam com ele.

- Sabes, Hórus? No Jardim dos Deuses eu tive muito por onde escolher! Diverti-me bastante! No entanto, confesso que já me estava a sentir aborrecido! Afinal, o ataque deixou-nos a todos num estado lastimável! Agora, é hora de tirar a barriga de misérias!

- Acredito! Olha, sabes alguma coisa do Mikel?

- Quando eu entrei no portal, ele e o teu avô estavam a conversar. Pareciam estar a falar algo muito sério. Depois disso, não soube de mais nada, a não ser que ele saiu vitorioso da batalha que foi travar lá, no Jardim dos Deuses. Ouvi os Anciões dos Dias a comentar algo sobre isso. O teu avô talvez possa ajudar-te...

A sirene voltou a soar e a voz impessoal repetiu as palavras que anunciara antes:

- “Atenção a todos os passageiros a bordo das naves Akithran, Luzithanea e Esmeralda! Atenção a todos os passageiros a bordo das naves Akithran, Luzithanea e Esmeralda! Solicita-se a vossa presença, imediatamente, na Sala de Reuniões Alpha Centauris! Repito! Atenção a todos os passageiros a bordo das naves Akithran, Luzithanea e Esmeralda! Solicita-se a vossa presença, imediatamente, na Sala de Reuniões Alpha Centauris!

Os dois deuses escutaram o aviso com atenção. Em silêncio, olharam um para o outro. Dioniso exclamou:

- Ohhh! Não é o máximo?! Ainda agora chegamos e já querem-nos impingir alguma coisa? Pois temos pena! Eu vou mas é à nave Luzithanea! O Apolo e o Jacinto disseram que lá encontram-se seres bastante atraentes, com uma beleza capaz de rivalizar com a beleza dos deuses!

Hórus desatou a rir!

- Ah ah ah! Por acaso, é verdade! É nessa nave que estão os humanos! Escolheram-nos a dedo!

- Sendo assim... Meu amigo! Vemo-nos mais tarde! Boa sorte!

Com um sorriso maroto, Dioniso estalou os dedos e desapareceu. Hórus saiu da Sala e quando se preparava para entrar na Sala seguinte... Anúbis, que vinha a correr desvairado, chocou contra ele.

- Vê por onde andas! - resmungou Anúbis. 
  
- Avô? És tu? - perguntou Hórus, emocionado.

- Ohhh! És tu! Hórus! - exclamou Anúbis, abraçando o neto. - Entra aí, já!

Anúbis e Hórus entraram na Sala onde Dioniso estivera a descansar. Anúbis dirigiu-se à mesa e pegando em dois cálices, encheu-os de ambrósia e entregou um dos cálices ao neto.

- Um brinde! Celebremos o fim do exílio!

Depois de saborearem o doce néctar, Hórus e Anúbis deram um longo abraço. 

- Anúbis... O Dioniso disse-me que tu foste o último a ver o Mikel. Ele ainda não regressou? Não era suposto já ter regressado? Não o encontro em lado nenhum! Já vasculhei quase toda a nave e nada!

- Existe a possibilidade do encontro que marcaram estar relacionado com isso! Vamos até lá! - sugeriu Anúbis.

- Tem lógica, de facto. Está bem! - assentiu Hórus.

A Sala de Reuniões Alpha Centauris era um espaço amplamente tecnológico. Era uma Sala enorme, capaz de albergar centenas de milhares de seres ao mesmo tempo. Ao centro existia um pilar que fornecia energia a toda a nave. A toda a volta, uma gigantesca cúpula deixava entrar luz estelar e mostrava a quem ali estivesse o espaço sideral. Várias naves mais pequenas aterravam num espaço designado para tal. Os humanos que tinham sobrevivido, bem como outros seres, chegavam a todo o instante. Um ser encapuzado, com vestes imaculadamente brancas, falou numa voz etérea:

- Senhores, permitam-me que vos guie até ao local onde devereis permanecer. Não tenham medo. 

- O que se passa, afinal? - questionou um ser humano.

- Um pouco mais de paciência, meu caro senhor! Dentro de momentos já ficarão a saber! Humanos! Por favor! Sigam-nos! - gritou o ser encapuzado.

Os humanos observavam tudo, muito surpreendidos! À medida que iam-se afastando da nave, aperceberam-se de que outras naves, cheias de seres que eles jamais imaginariam que existissem, pousavam perto da nave onde eles tinham vindo.

Entre eles, havia criaturas com um só olho. Outras com duas órbitas vazias. Seres muito parecidos com o que os humanos pensavam ser extraterrestres. Existiam seres semelhantes a mulheres lindíssimas, que não vinham acompanhadas de nenhum homem. Existiam seres idênticos a homens lindíssimos, que não vinham acompanhados por nenhuma mulher. Muitos eram criaturas que pareciam o cruzamento de humanos com animais, dragões, répteis. Havia ainda seres que muitos humanos reconheciam dos livros - deuses, divindades, seres mitológicos e seres alados.

A Sala foi-se enchendo gradualmente. A dado momento, um grupo de 21 seres encapuçados saíram do centro do pilar que se encontrava no meio da Sala. Foram recebidos com uma vénia, seguida de um forte aplauso. Estes levantaram as mãos e os aplausos cessaram imediatamente. Um deles deu um passo em frente.





- Que alegria para nós, Anciões dos Dias, por ver esta Sala tão cheia! Não podemos deixar de agradecer-vos a todos, pela vossa prestável resposta ao nosso pedido! Declaro aberta esta reunião!

A estas palavras seguiu-se um novo aplauso. O pilar central voltou a abrir-se. Uma cortina de névoa envolveu a figura que saía do pilar. O Chefe dos Anciões dos Dias exclamou:

- Ohhh! Vejam só quem acabou de chegar! Que momento tão oportuno! O Tempo Perfeito! Eu passo a palavra a ele... O nosso bem amado e estimado... Comandante Ashtar!





Comandante Ashtar


Todos os seres presentes na Sala levantaram-se, gerando uma grande ovação. O Comandante Ashtar sorriu e levantou um dos braços, de forma regal. Ele era muito alto! Tinha mais de dois metros e meio! Asthar tinha cabelos castanhos-claros, quase loiros, compridos, pelo meio das costas. O seu rosto era másculo! Os seus olhos, eram uma brutal mistura de azul com cinza-claro. Aquela combinação invulgar fazia-o ter um olhar profundo, mas sereno. Ele vestia uma armadura de ouro e sob os ombros trajava uma túnica azul, que lhe caía sobre as costas.

O Comandante Ashtar deixou a plateia bater palmas durante algum tempo. Ele acabara de chegar de uma missão e estava fatigado. Ainda assim, ele mostrou um sorriso genuíno. Naquele momento, face aos recentes acontecimentos, ele não podia fraquejar.

- Saudações, amados amigos! Que bonita recepção! Obrigado! Vejo por aqui muitas caras novas! Aos que não me conhecem, eu vou apresentar-me! O meu nome é Ashtar Sheran e eu sou o Dono e Comandante da nave Akithran. Ela foi-me confiada há muitos milénios por Chibi-Sama. Faço parte da Ordem dos Mikahels. Sou o líder da Confederação Interdimensional dos Mundos Livres, composta por inúmeros povos oriundos de todo o Universo, entre eles: os Draconianos, os Lemurianos, os Nebadonianos, os Unversianos, os Uranianos, os Felinos, os Niburianos, os Reptilianos, os Anthianos e claro, os Humanos. A todos vocês, eu saúdo com uma vénia e mais uma vez, agradeço a vossa rápida resposta. Presumo que saibam o motivo pelo qual a Confederação Interdimensional foi convocada. Para aqueles que ainda não sabem, eu explico: uma onda de Destruição está a varrer todo o Universo. O Planeta Terra, o planeta da Aprendizagem, foi destruído em todas as dimensões e realidades. Foi uma grande perda para todos nós. Infelizmente, não foi o único local. Antes de entrar aqui, na Sala Alpha Centauris, fui informado de que Spodeth-Ómega, o lugar onde ficava o Jardim dos Deuses, desapareceu. 

- O quê?! Foi destruído? - exclamaram Titus, Caleb e Razor a uma só voz, seguidos por tantas outras vozes.

O Comandante Ashtar virou-se para os jovens. Fez-lhes uma vénia e esticou o braço direito.
- Amados amigos! Saudemos os Sombras da Luz!

- Os Sombras da Luz? A sério?

Por toda a Sala inúmeros burburinhos rebentaram, semelhantes a enxames de abelhas.

Razor levantou-se. Pigarreou e falou o mais alto que podia. Todos os presentes calaram-se.

- Senhor, nós soubemos que o Príncipe Mikel se encontrava no Jardim dos Deuses, pois era lá que estava o 5º Elemento! O que lhe aconteceu? 

A esta pergunta seguiu-se-lhe um silêncio tenebroso. O Comandante Ashtar não estava à espera de ser confrontado com aquela questão tão rapidamente! 




- Amado Razor, para te ser sincero... Eu julgava que, na verdade, o nosso amado Mikel tivesse recuperado o 5º Elemento e regressado à nave, através do portal. Eu sabia que não iria ser fácil para ele, tendo em conta o que teve de enfrentar, mas...

- Ashtar! Isso quer dizer que nem tu sabes onde está o meu filho?!? - perguntou Hórus, levantando-se furioso. - Eu não acredito nisto! Não é possível!

Todos os presentes murmuravam entre si. O chefe dos Anciões dos Dias aproximou-se do Comandante Ashtar, mas este abanou negativamente com a cabeça. Virou-se para Hórus e disse:

- Amado Hórus, filho de Osíris! Que espírito tão fugante! Eu acabei de chegar! Estive à procura de Chibi-Sama na 13ª Dimensão, mas não o encontrei! Presumo que saibas que ele é a peça fundamental para resolver esta crise? Chocou-me saber que Spodeth-Ómega foi destruída! Mais grave do que isso, é o facto da energia do 5º Elemento ter desaparecido!  Como se tudo isso não bastasse... O teu filho, o único ser que pode reunir todos os Elementos, também desapareceu!

- Eu vou vasculhar em todos os cantos do Universo! O Mikel tem de estar em algum lugar! - rematou Hórus, assumindo a forma de uma gigantesca fénix de fogo e partindo a toda a velocidade.

O Comandante Ashtar ignorou o gesto intempestivo de Hórus e prosseguiu:

- Eu convoquei-vos a todos para saber se algum de vocês tem informações sobre o paradeiro de Chibi-Sama. Este Mal Desconhecido ameaça destruir todo o Universo! As linhas espácio-temporais encontram-se já bastante frágeis. Não faltará muito para que se partam e aí... O Passado, o Presente e o Futuro vão fundir-se, originando uma explosão em tudo semelhante ao Big Bang, provocando o Cataclismo Final, que provocará a extinção de todos os seres! Em nome de todos os povos do Universo... Em nome da liberdade para todos... Nós temos de unir esforços e ajudar os Sombras da Luz a combater este temível Mal Desconhecido!

Todos os presentes desataram a falar ao mesmo tempo! Alguns povos, que já tinham sido atacados e, entretanto, refeitos do Mal Desconhecido, afirmaram que este se encontrava ligado à Escuridão Primordial.

Tinha sido aí que nascera o ectoplasma que Mikel e os seus amigos haviam derrotado. Depois de várias horas a debaterem e elaborarem um plano, elegeu-se um grupo, composto por membros de todos os povos. Este dirigir-se-ia a Sirion, no centro do Universo, local onde o Comandante Ashtar suponha que se desse a implosão que provocaria o fim de tudo o que existia, no caso de tudo correr pelo pior.



* Muito longe dali...*


Mikel abriu os olhos lentamente. Estava deitado numa cama, bem quentinha e confortável. Levantou os lençóis e viu que estava nu! Ali perto, uma fogueira ardia. Estremunhado, esfregou os olhos!

- Hummm... Onde é que eu estou? - perguntou, confuso.

Uma voz feminina exclamou: 

- Olha! Ele acordou!


Notas do Autor:

1 - “Sombras da Luz: Skyfall”;
2 - “Sombras da Luz: Amanhecer”;


[Continua...]