31 março 2020

Sombras da Luz: Entardecer ~ Capítulo 5



Capítulo 5






Mikel cobriu-se o mais que pôde, assustado! Um casal de meia-idade sorria para ele. O homem e a mulher tinham um ar muito sereno. Eram da mesma altura, tinham cabelos da mesma cor e as feições eram muito parecidas. Vestiam roupas idênticas e Mikel, inicialmente, até pensou que eles fossem gémeos!

- O meu marido encontrou-te inconsciente há quase um mês atrás, à saída da nossa aldeia. 

- É verdade! Estavas coberto de sangue e terias morrido, se eu não te tivesse encontrado e trazido para cá! Uma tempestade de neve estava prestes a começar quando te encontrei!

Mikel recostou-se na cama e mais tranquilo, sorriu.

- Desculpem-me pelo trabalho que vos dei. Antes de mais nada, muito obrigado por me ter salvo, senhor...?

- Eu chamo-me Kyros! - com um sorriso, Kyros apresentou a mulher. - Esta é a minha esposa, Taikas.

- Muito prazer! Eu chamo-me Mikel. Onde estamos?

Taikas sentou-se ao fundo da cama e com um leve sorriso, respondeu:

- Jovem Mikel, nós sabemos que tu não és de cá. Não és do nosso planeta. O nosso povo outrora viveu no Planeta Terra. Quando ocorreu a primeira evolução, nós fomos encaminhados para outro local. Viemos parar a este planeta. Tu encontras-te em Kosminos. Mais propriamente, na aldeia de Pothos. 

- Kosminos? Pothos? Onde fica isso?

Kyros sentou-se junto da esposa e explicou:

- Kosminos fica muito longe de Spodeth-Alpha, a tua terra natal. Inicialmente, pensamos que fosses o monstro que anda a fazer-nos mal, mas depois de te termos trazido para casa, curamos as tuas feridas. Ao fazê-lo, lemos o teu coração e os teus pensamentos. Foi assim que ficamos a saber quem eras e o que te aconteceu.

Mikel arregalou os olhos, não conseguindo disfarçar a surpresa:

- Esperem lá... Vocês têm poderes telepáticos? E que história é essa de monstro?

Nesse momento, um rapazinho de cabelos avermelhados, que não teria mais do que 7 anos, entrou na Sala onde Mikel, Kyros e Taikas se encontravam, com alguns toros de lenha nos braços. Mikel virou a cabeça para o ver. Taikas levantou-se e foi ter com ele, abraçando-o, enquanto chorava em silêncio. 

- Obrigado, meu filho... Coloca a lenha ali, se faz favor...   

O rapazinho fez o que lhe disseram sem pestanejar, nem expressar qualquer emoção. Mikel pensou que o rapaz talvez fosse surdo, apesar de ele ter entendido o pedido que lhe tinham feito. Taikas chorava cada vez mais. Mikel observava a cena, intrigado. Kyros afagou os cabelos do filho e anunciou:

- Mikel, este é o nosso filho. Sylphos, diz olá ao nosso convidado, Mikel.

Sylphos aproximou-se de Mikel. Olhou-o nos olhos e, após alguns segundos, virou costas sem dizer nada, sentando-se em frente da lareira. Mikel ficou chocado por ver que os olhos de Sylphos estavam completamente baços, sem brilho nenhum.

- O que… Aconteceu? - perguntou.




- Mikel... Todas as crianças de Pothos encontram-se assim... Não sabemos como, mas de um momento para o outro, elas deixaram de ter alma. Continuam vivas, mas não falam, nem sentem nada. São como conchas vazias... - rematou Kyros, abraçando-se ao filho enquanto chorava, desconsolado.


Mikel ficou muito triste ao escutar aquilo! Suspirou e fechou os olhos, para controlar as lágrimas que invadiam-no. Parecia que não havia lugar algum, em todo o Universo, que não se estivesse a sofrer de algum tipo de problema. Estaria tudo aquilo relacionado com o Mal Desconhecido? Taikas aproximou-se de Mikel e lendo-lhe os pensamentos, explicou:


- Todas as crianças começaram a ficar estranhas algum tempo depois da tua chegada a Pothos. No entanto, nós sabemos que não és tu o causador deste mal. Como o Kyros te contou, nós outrora vivemos no Planeta Terra. Com a Evolução Consciencial do nosso povo, fomos encaminhados para um local que nos permitiu evoluirmos ainda mais. Não somos somente telepatas. Somos empáticos e temos poderes curativos. Usamos a energia universal através dos nossos corpos. Quando o Kyros te trouxe para casa e compreendemos que estavas muito fraco, colocamos-te num coma artificial, para que pudesses recuperar de todos os ferimentos e dores. Dois dias depois de teres chegado, este pesadelo teve início. Foi aí que nos apercebemos de que algo não estava bem com as crianças.


- É preciso fazer alguma coisa! - respondeu Mikel, preparando-se para se levantar.


Kyros aproximou-se dele e exclamou:


- Ó rapaz! Tu estás nu! Tem mais respeito! Ah ah ah ah! Muito bem, eu vou preparar umas roupas para ti e tu vais tomar um banho quente! Estiveste quase um mês aí deitado, estás a precisar de um bom banho! Ah ah ah ah!


Enroscando-se no lençol, Mikel agradeceu e sorriu, envergonhado. Dirigiu-se à casa de banho, a tiritar de frio! Taikas foi para a cozinha e o Sylphos continuou sentado em frente da lareira, a ver o fogo crepitar. Após tomar um banho muito relaxante, Mikel vestiu as grossas roupas que Kyros lhe deixara. Mais confortável, aproximou-se de Sylphos e sentou-se ao lado dele.


- Como estás, Sylphos? Vives numa terra mesmo fria!



Sylphos


Sylphos manteve-se em silêncio, sem tirar os olhos da lareira. Quando Mikel estava prestes a levantar-se, Sylphos tocou com uma das mãos nas pernas de Mikel. Em seguida, olhou-o nos olhos e acenou afirmativamente com a cabeça. Kyros, que observava a cena à soleira da porta, exclamou:


- Olha só! Taikas! O nosso filho reagiu às palavras de Mikel!
 
Taikas veio ter com o esposo e Mikel sentou-se novamente ao lado de Sylphos, não sem antes pegar numa folha e num lápis, que estavam em cima da mesa.


- Sabes? Às vezes, eu não tenho vontade de falar com ninguém. Principalmente quando estou muito triste. Nessas alturas, eu escrevo ou desenho. Tu sabes escrever? Sabes desenhar? Se sim... Escreves ou desenhas alguma coisa para mim?
 
Sylphos ficou a olhar para a lenha que ardia na lareira durante algum tempo. Como não reagisse, Mikel levantou-se e Taikas dirigiu-se novamente à cozinha, a chorar. Mikel sentiu-se muito culpado por tudo o que aquelas pessoas estavam a passar. Queria fazer algo, mas não sabia por onde começar. 


Levando as mãos à cabeça, Mikel lembrou-se de que não tinha a espada, nem as runas, nem o 5º Elemento consigo! Kyros leu-lhe os pensamentos e virou costas, trazendo consigo a espada e um saquinho.


- Quando te encontrei, isto estava ao teu lado.


Mikel pegou na espada, feliz! Imediatamente ele abriu o saquinho de veludo. Para grande espanto seu, só encontrou as runas lá dentro!

- Oh não! Onde está o Orbe? Onde está o 5º Elemento?

- Lamento muito, meu jovem! Ao teu lado só estavam esses objectos! No entanto... Havia pegadas em direcção à Floresta de Crystalia...

- Floresta de Crystalia? O que é isso? Onde fica isso? - inquiriu Mikel.

- A Floresta de Crystalia é um lugar sagrado. Só lá entra quem for autorizado pelo espírito da floresta. Quem entrar sem autorização, perde-se no nevoeiro e na tempestade de neve que fustiga a floresta! - explicou Taikas, com solenidade.

- Eu preciso do 5º Elemento! Não posso concluir a minha demanda se não obtiver todos os Elementos!

Sylphos levantou-se e entregou um desenho a Mikel. Ele tinha desenhado Mikel com uma espada brilhante e um castelo que parecia saído de um conto de fadas! Kyros exclamou:

- Olha só! Não pode ser! É o Palácio de Crystalia, que fica bem no centro da Floresta!





- O senhor já entrou na Floresta? - perguntou Mikel.


- Oh! Não! É apenas uma lenda conhecida de todos nós... Ninguém sabe ao certo que segredos estão guardados na floresta! Mas para o Sylphos ter desenhado isto... Talvez encontres alguma resposta na Floresta, meu jovem!


- O almoço está na mesa! - exclamou Taikas, com um sorriso, visivelmente mais animada.
 
Foi opinião unânime de que, se Sylphos estava a reagir, nem tudo estaria perdido! Todos  sentaram-se à mesa e começaram a comer! Mikel estava esfomeado! Saboreou cada prato que Taikas lhe servia com sofreguidão! Estava tudo tão bom! O almoço durou mais tempo do que Mikel estava à espera. 


Entre perguntas e respostas, tanto ele como Kyros e Taikas foram partilhando momentos e histórias das suas vidas. Kyros chamou os vizinhos e rapidamente o dia deu lugar à noite. Com a promessa de partir em direcção à floresta no dia seguinte, Mikel foi agraciado com a visita de todos os aldeões de Pothos.


No dia seguinte, ainda mal o sol tinha nascido, já Mikel colocava uma mochila com provisões às costas. Não sabia se seria bem-sucedido, mas o desenho de Sylphos não lhe saía do pensamento. Ele sentia que Sylphos estava certo. O 5º Elemento deveria estar no castelo que se encontrava bem no interior da Floresta de Crystalia! Todos os aldeões acompanharam-no até à saída da aldeia de Pothos. 


Emocionados, desejaram-lhe boa sorte. 


As crianças da aldeia juntaram-se todas num grupo e observavam Mikel com aqueles rostos inexpressivos e olhos vazios. Ao olhar para elas, Mikel sentiu no seu coração o desejo de trazer de volta a felicidade àquelas famílias.



Mikel começou a andar, admirado por estar a caminhar sobre neve. As roupas e o calçado que lhe tinham fornecido eram muito adequados para aquele relevo. O dia amanhecia bonito. O céu estava muito azul, sem nuvens. Quando Mikel se aproximou da Floresta de Crystalia, algum tempo depois, tudo mudou. O céu encheu-se de nuvens escuras e levantou-se um vento gélido. Não tardou para que Mikel tivesse de avançar muito mais lentamente, pois com a chegada do vento, uma tempestade de neve teve início e uma névoa rasteira envolveu todo o espaço ao redor.
Tiritando de frio, ele fazia os possíveis por ver o caminho à sua frente. 
Quando entrou na Floresta, o uivo do vento aumentou e a tempestade de neve agravou-se. Mikel mantinha bem presente na sua mente a imagem das crianças de Pothos. Aquilo deixara-o muito emocionado e parecia que conseguia repelir todo o frio que a tempestade trouxera consigo. 
Continuava a avançar, com muita dificuldade. A dada altura, decidiu parar e fazer uma fogueira, para se aquecer e comer algo quentinho. Tratou de procurar um abrigo, mas, para onde quer que olhasse, só via árvores cristalinas, cobertas de neve. 
Tudo parecia-lhe igual!
O seu espírito foi invadido por dúvidas. Estaria tudo perdido? 






Mikel fechou os olhos e concentrou-se. Ele escutava o uivo do vento, agora já tão frequente que se tinha habituado a ele. Porém, o seu olfacto detectou um cheiro inconfundível de comida a ser confeccionada! Decidiu focar-se no seu olfacto e assim, seguiu um rasto que o conduziu até uma cabana! Dentro dela encontrava-se um homem de uma certa idade, que preparava uma sopa e que se lamuriava:
- Ai! O que vai ser de mim! Ai! O que vai ser de mim?
Mal acreditando no que estava a ver, o rapaz bateu à janela e o homem deu um salto, admirado!
- Quem és tu? Entra, entra! - respondeu, abrindo a porta para Mikel entrar.
- Eu chamo-me Mikel. E o senhor? Está bem? - perguntou, tiritando de frio.
- Não sei quem és forasteiro, mas se os espíritos da floresta te deixaram vir até aqui, então não és má pessoa! Toma, só tenho sopa para te dar! Bom apetite!
O homem caminhou rapidamente para mesa, onde colocou um panelão de sopa fumegante, enchendo o prato de Mikel e sentando-se a comer o seu também.
- Ainda não me disse o seu nome, senhor... O que se passa consigo?
- Ai! O que vai ser de mim? O que vai ser de mim? - respondeu o homem, entre colheradas.
- O que se passa consigo? - perguntou Mikel.
- O monstro raptou o meu mestre! O monstro que vive agora no Palácio de Crystalia raptou o meu mestre! Ai! O que vai ser de mim? - murmurejou o homem.

- Acalme-se! Por favor! Onde fica o Palácio? Eu tenho de ir lá!

Porém, o homem não disse mais nada a não ser o que já dissera antes. Mikel acabou de comer a sopa e depois de agradecer, saiu. Olhou para trás, enquanto se interrogava se aquele pobre coitado ficaria bem sozinho.

- “Pelo menos ele tem o que comer e muita lenha para se aquecer...” - pensou. 

Não demorou muito - depois daquela curta estadia na cabana da floresta - para que Mikel sentisse o ar a ficar mais pesado e os ventos a fustigarem-no com mais violência! A névoa deu lugar ao nevoeiro cerrado! A queda de neve intensificou-se. Apesar disso, Mikel continuava a pensar na apatia das crianças da aldeia de Pothos. Essa visão ardia no fundo do seu espírito. Ele prosseguiu caminhada durante mais de uma hora. 



De repente, bateu contra uma barreira invisível! Empunhando a espada, gritou:
- Deixa-me passar! Preciso de encontrar o 5º Elemento e trazer de volta as almas das crianças de Pothos!
Ao deixar cair a espada, ele ouviu um barulho semelhante a um trovão. Momentos depois, o nevoeiro dissipou-se. O vento acalmou. A neve deixou de cair. Um caminho surgiu à sua frente e Mikel prosseguiu. Não tardou a chegar ao Palácio de Crystalia. Mikel ficou deslumbrado com a beleza do local. O castelo era grande e feito de cristal! Uma voz sinistra ecoou, quando ele entrou no castelo:


- Volta para trás! 

- Não! Eu vim procurar o que me roubaram! Sinto que está aqui! - respondeu Mikel, levantando a espada.

- Volta para trás! - repetiu a voz.

- Eu preciso do Orbe!

- Volta para trás!! - ordenou a voz, irada.

- NÃO VOLTO! - gritou Mikel, a plenos pulmões.

- Muito bem! Sendo assim... Vem ter comigo à Sala do trono! - rematou a misteriosa voz, mais calma.

Mikel atravessou vários corredores e Salas. Tudo era feito de cristal! Porém, o castelo encontrava-se vazio. Não havia nada, a não ser Salas e mais Salas e longos corredores! Admirado por ver um palácio tão bonito ao abandono, Mikel continuou à procura da Sala do trono, até que foi dar a uma biblioteca! Nas estantes de cristal, encontravam-se inúmeros livros! Indignado, Mikel retirou livros das estantes para ver o que eles continham! Como não percebia nada da língua que ali estava escrita, ele voltou a colocar os que tirara das estantes. Ao colocar o último livro, apercebeu-se de que este estava difícil de encaixar! Fez um pouco mais de força.


*Click!*


De repente, ouviu um clique! Uma parede à sua esquerda, deslizou! Era uma passagem secreta! Animado, ele entrou pela passagem secreta e subiu umas escadas de caracol, até tocar noutro dispositivo que fez outra parede deslizar! Para sua alegria, encontrou a Sala do Trono! A Sala encontrava-se vazia, com excepção de dois grandes cadeirões trabalhados, colocados no centro do local. Ele aproximou-se dos cadeirões, à medida que a parede voltava à sua posição original! Uma voz forte, como o trovão, desatou a rir:

- Ah ah ah ah ah! Com que então…! Tu conseguiste chegar até aqui! Prepara-te para lutar! Ah ah ah ah ah!

Com uma rajada de vento gélido, uma figura gigantesca surgiu na frente de Mikel!

- Oh não! Um monstro gigante! E agora? O que é que eu faço?!? - exclamou Mikel, assustado!

O monstro tinha um ar muito agressivo! Ele tinha mais de 4 metros de altura. Era uma criatura horrenda, com corpo disforme de um duende e enorme cabeça de leão! As suas vestes eram azuis-fantasmagóricas!

- Ousaste desafiar-me, pequenino! Prepara-te! Vais ser o meu jantar! Ah ah ah ah ah ah!

Ouvindo isto, Mikel fugiu a correr pela Sala, aos berros, enquanto o monstro lançou um poderoso ataque: um sopro de gelo que congelava instantaneamente tudo que atingisse!

- “E agora? O que faço?” - pensava Mikel.

Ele sabia que tinha de reagir, senão morreria! Quanto ao monstro, este ria-se, divertido! Ele levantou uma das pernas e bateu com ela no chão, provocando um pequeno tremor de terra, o que fez Mikel tropeçar e cair! A espada dele tombou no chão e ao fazê-lo, derreteu o gelo nos locais por onde tinha deslizado! Mikel olhou para aquilo, enquanto o monstro lançava um novo sopro de gelo! Desta vez, o rapaz não teve tanta sorte! O sopro de gelo atingiu-o no ombro direito! Para grande choque dele, o braço direito não tardou a congelar!

- Não vais poder usar esse braço agora, seu insecto! Desiste! Se não o fizeres, matar-te-ei com os meus ataques de gelo! - berrou o monstro, fechando os punhos e batendo com eles nas paredes, congelando as paredes!

Com dificuldades, Mikel pegou na espada e sentiu-a muito quente! Tocou com ela no seu braço direito e para seu espanto, o gelo começou a derreter! Instintivamente, ele virou-se para o monstro e gritou:

- Toma lá esta, seu gigante maldito!! Arrrrgggghhhh!!

Mikel depositou todas as suas esperanças naquele ataque. Pensou em tudo o que o levara até ali e quando o monstro abriu a enorme bocarra para lançar mais um ataque, ele gritou o mais forte que conseguiu e lançou a espada contra o peito da criatura, atingindo-a em cheio! O monstro esbracejou e gritou! A espada brilhou intensamente, encrustrada no peito da criatura, à medida que esta derretia, causando uma enorme cortina de vapor à sua volta! Quando o monstro deu o seu urro final, a cabeça dele caiu ao chão, com estrondo, desfazendo-se em água!





A névoa dissipou-se aos poucos e Mikel apercebeu-se de que alguém se encontrava tombado no chão, perto dos cadeirões do trono! Mikel aproximou-se, a medo! Teria o monstro sido mesmo derrotado? Estava ele a ponderar o que fazer, quando as portas da Sala do Trono, por detrás dele, abriram-se de par em par! O homem da cabana na Floresta de Crystalia entrou e desatou aos guinchos, felicíssimo!

- Mestre! Mestre!! O senhor está bem?!?

Um senhor de idade provecta e longas barbas brancas levantou-se. Mikel aproximou-se dele.
  
- Ó mestre! Eu estava morto de preocupação! - exclamou o homem da cabana, abraçando-se ao homem das barbas, que retribuiu o abraço, feliz. 

- Oh Rudolpho! Lamento imenso por ter-te causado tanta preocupação... 

Depois de se soltarem, Rudolpho declarou, orgulhoso:

- Mestre, este rapaz é o Mikel! Ele veio à sua procura e salvou-o daquele monstro horrível!





O homem das barbas sorriu, bonacheirão! Como Mikel olhasse para ele e para Rudolpho com ar inquisidor, este apresentou-se:
- Meu caro... Eu sou o Pai Natal! Oh oh oh! 
- O quê?!? O senhor é o Pai Natal?!? - perguntou Mikel, completamente abismado!
O terrível Gigante é na verdade o Pai Natal! 
O que terá acontecido para ele se tornar no Gigante de Gelo? 
Vamos descobrir não tarda nada!


Mikel abanava a cabeça, incrédulo! O Pai Natal sorriu, animado e prosseguiu:

- Meu caro amigo! Neste momento, nós encontramo-nos num local insólito! Este palácio é vedado a quase toda a gente, porque a energia deste local é extraordinária! Aqui, reside o poder de concretizar os sonhos de quem aqui entrar!

- Mas...! O que tem isso a ver com o senhor ser o Pai Natal? Já agora...! O senhor sabe onde se encontra o 5º Elemento? Eu ando à procura dele! E.…! O senhor sabe o que aconteceu para que as crianças de Pothos ficassem sem alma?

O Pai Natal suspirou, cansado. Mikel fizera várias questões pertinentes! Ele sentou-se num dos cadeirões, convidando Mikel a sentar-se no outro. Com ar triste, mas determinado, o Pai Natal desabafou:

- Muito bem, meu rapaz... Tu mereces saber o que aconteceu! As crianças do Universo inteiro deixaram de acreditar em mim! Eu fui criado para trazer Alegria, Alento e Esperança a todas as crianças, sejam elas de que raças forem! As crianças perdem a vontade de viver e fecham os seus corações, quando a Escuridão Primordial está iminente! Quando te vi, caído e a esvaíres-te em sangue, gritei por ajuda. Foi aí que me apercebi de quem tu eras. Trazias contigo o 5º Elemento! Eu reconheci-o logo! Não sei se sabes, mas os 7 Elementos têm poderes muito especiais! Eu tinha a esperança de que, ao usar o 5º Elemento aqui, no Palácio de Crystalia, o meu sonho se tornasse realidade! Tenho consciência de que agi mal, ao roubar-te o 5º Elemento. Vim para aqui... Tinha esperanças de que, ao usar o Orbe nesta Sala, as crianças voltassem a acreditar em mim! Eu afastaria a Escuridão Primordial dos seus corações! Mas...! Eu falhei... 

- Escuridão Primordial? O que é isso? - perguntou Mikel.

- Esse é o verdadeiro nome do Mal que denominas por Mal Desconhecido. Estás a lutar contra a mais terrível forma da Escuridão. Uma Escuridão que foi gerada no Início dos Tempos e que tem estado a consumir as vidas e as almas de todos os que são capturados por ela...

- Então e o 5º Elemento?

- Aqui o tens, meu amigo! - anunciou o Pai Natal, retirando o Orbe do bolso e entregando-o a Mikel. - Foi por culpa dele que eu me tornei naquele Gigante de Gelo! Descobri, à minha própria custa, que o poder dos Orbes Lendários tem de ser muito bem doseado! O meu desejo era bom... E olha só o que causei...! No que me tornei...! Aquele monstro roubou as almas das crianças, porque precisava de Energia Pura!

Mikel pegou no Orbe e pensou no que queria, no fundo do seu coração.

- “Por favor, devolve as almas às crianças de Pothos!
  
O Orbe brilhou intensamente. Mikel abraçou o Pai Natal e sorrindo para ele, comentou:

- O senhor não teve culpa. O importante é que tudo fique bem! Vamos regressar a Pothos?

- De acordo, meu amigo! Paremos em minha casa pelo caminho! - respondeu o Pai Natal, com um sorriso.

E assim, Mikel, Rudolpho e o Pai Natal abandonaram o Palácio de Crystalia. O dia dera lugar à noite. O céu estava limpo e estrelado! A viagem de regresso a Pothos não foi tão longa como a que conduzira Mikel ao Palácio de Crystalia. Com grande visibilidade e o céu limpo, rapidamente chegaram à aldeia. 

Quando entraram a Pothos, as crianças correram para eles! O Pai Natal levava consigo um grande saco cheio de presentes para eles! Todos os aldeões correram para junto deles, a chorar e a rir ao mesmo tempo! Kyros, Taikas e Sylphos abraçaram Mikel e Sylphos exclamou:

- Muito obrigado! És o meu herói! Quando for grande, quero ser como tu!

Mikel sorriu e abraçou Sylphos, colocando-o às suas cavalitas, tal como fizera com Baya Ainila3, o seu filho adoptivo, quando celebraram o Natal! Enquanto isso, Rudolpho ajudava o Pai Natal a distribuir as prendas! Feliz, Mikel deu o Orbe a Sylphos, e este colocou-o em cima de um pinheiro que se encontrava no centro da aldeia.

Assim que Sylphos colocou-o no topo do pinheiro, o Orbe brilhou intensamente nas 7 cores do Arco-Íris! Todos os aldeões, as crianças, o Pai Natal, o Rudolpho e o Mikel deram as mãos e cantaram felizes, enquanto dançavam à volta do pinheiro.


Mikel conseguiu salvar o povo de Kosminos!
Conseguirá ele resgatar os restantes orbes? 
A aventura do nosso herói está quase a chegar ao fim!


*Muito longe dali...*

- Esta energia! É o 5º Elemento! Aguenta-te, Mikel! Eu vou a caminho!!! - trovejou Hórus, sorrindo feliz e partindo a toda velocidade para junto do filho.



Nota do Autor:

3 - “Escrito nas Entrelinhas: Parte 3”;


[Continua...]

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