19 setembro 2019

Luna

"The beginning and the end are one and the same. All is right with the world.

A frase com que inicio este post é de um filme, a parte final de uma anime que passou na televisão portuguesa nos maravilhosos anos 90. Já vi e revi esta série mais de 30 vezes e continuo a apreciar, a ficar mind-fucked e a gostar de debater sobre ela, com um amigo de longa data.

A frase é dita por Keel Lorenz, o Chefe de uma espécie de "Illuminati", momentos antes dele morrer. Podia divagar sobre o tema, mas não é esse o objectivo deste post. Apenas transcrevi a frase porque ela faz todo o sentido para mim e mais ainda para o tema que vou abordar neste post. 

Eu sou melancólico por natureza. Entro em quadros depressivos grandes e profundos com alguma frequência, por muitas razões. Tempos houve em que coloquei a minha vida em risco e tentei o suicídio. Já passei momentos francamente maus e difíceis e tive de os enfrentar sozinho. E não foi fácil. Nunca é fácil. Aprendemos a viver um dia de cada vez. Aprendemos a colocar objectivos mais fáceis de concretizar e pelo menos eu faço por me estimular, para me animar, procurando encontrar algo de bom naquilo que me rodeia.

Nem sempre é fácil.

Este Verão foi um verdadeiro tormento.

A minha cadela ficou doente em Julho e apesar de todos os esforços, idas ao veterinário, cuidados, no dia em que ia começar a escrever este blog, perdi essa grande companheira. Ela morreu nos meus braços, cá em casa. Sofreu um enfarte cardíaco fulminante.

Sempre tive cães. Sou um "ser canino" por natureza. "Ladro" muito, mas não mordo!

[Que fique registado que eu não me importo de morder... =P]

Já tive de dizer adeus à Lassie [uma pastora-alemã que já existia ainda antes de eu nascer), ao Pirata [um podengo português pequeno que morreu de velhinho], ao Pluto [um arraçado de pastor-alemão que ganhou um tumor e não tive outro remédio a não ser levá-lo a uma veterinária para que esta pusesse um fim ao sofrimento dele], a Patinhas [uma adorável cadelinha fox-terrier que nos ofereceram assim que nasceu, mas que fugiu da última vez que eu passei uns dias fora e a deixei em casa de amigos de família].

Levei anos a ultrapassar esse desgosto.

Na verdade, nem queria ter mais cães.

No entanto, é verdade que um animal traz alegria, cor, vida a uma casa. Depois de alguma insistência por parte da minha família, lá acabei por lhes fazer a vontade e fui procurar um animal para adoptar. Por brincadeira, fui procurar num site de anúncios e não demorou muito a encontrar uma cadela adorável. Tinha ar de brincalhona e parecia ser ainda muito pequenina.

Era adorável.

Fomos buscá-la depois de tudo combinado com os antigos donos. Não tenho como negar que encontrar a cadela, que era ttoalmente diferente das fotografias que tinham exposto no site, foi uma desilusão. Os meus primeiros pensamentos foram para dizer que me sentia traído e enganado. à minha frente não estava aquela cadelinha de com 3 meses, mas sim uma cadela já com um ano, de seu nome "Bolacha".

OMFG! Quem é que chama Bolacha a um cão? -_-# 

Bom, durante estas idas ao veterinário, comentei sobre isso com o médico e ele explicou que não, que a Luna já era bem mais velha. Pelos vistos, quando a fomos buscar ela já teria uns 3-4 anos.

O que é certo é que com a Luna eu tinha uma relação especial. Ela entendia o que eu lhe dizia, tal como os outros cães que tive antes, mas nós os dois partilhávamos uma cumplicidade que não tive com os outros. Já tive ganas de ir ao local onde ela está e desenterrá-la, só para a poder ver de novo.

Depois desses devaneios passarem, a verdade é que ainda nem regressei à floresta onde a enterrei, porque tenho receio de descobrir que algum animal selvagem a desenterrou e levou-a consigo.

Tenho de contentar-me com as fotografias que todos os dias me aparecem aqui no computador, talvez porque ainda preciso de a ver, saudável e feliz.

Foi muito doloroso dizer-lhe adeus. Já ouvi dizer que existem pessoas que quando morrem, ficam bonitas, outras não. No caso da Luna, depois de quase 2 meses de sofrimento, ela ficou bonita.

Não sei explicar... Mas fiquei com a ideia de que ela recebeu um "sopro de vida" aquando da morte... 
Ter que levá-la e enterrá-la numa das florestas que percorríamos juntos foi a minha derradeira homenagem a esta companhia e companheira de uma década. Ela morreu a poucos dias de celebrar mais um aniversário. Custa-me a crer que em Maio passado, quando lhe tirei as últimas fotografias, ela estava cheia de vida e forte.

Quando partiu, ela estava praticamente pele e osso, porque recusava-se a comer. O pouco que comia, acabava por vomitar horas mais tarde, pois estava constantemente enjoada devido às medicações. Foi muito difícil acompanhar este percurso. Foram inúmeras as vezes em que, entre lágrimas, nas semanas que precederam a sua partida, eu roguei a Anúbis que a levasse para junto dele. Gosto de acreditar que cada ser tem o seu próprio Paraíso. Afinal, ela estava a sofrer e não merecia aquilo. Apesar de ladrar imenso e ser muito desconfiada, quem a conhecia dizia que ela era muito meiga e gentil.

Saía aos donos...

Ainda me faz alguma confusão chegar a casa e não a ver. É tudo muito recente ainda. Decidi que não vou apressar o luto. Dou por mim a abrir a porta da rua, para ela entrar e sair, dou por mim a chamar por ela, dou por mim a falar para ela, mesmo me apercebendo que ela não está mais entre nós.

As pessoas dizem-me: "Tens que ser forte..." ou "É mesmo assim, a vida continua..."

Sim, eu sei disso. Já perdi seres incríveis, cuja marca ficará gravada para sempre no meu coração. Mas isso não atenua a dor e a saudade, não é? Na escola devíamos aprender como lidar com a dor, com a perda, como cuidarmos mais e melhores daqueles que amamos, para que quando chegue a hora derradeira, todos possamos partir em paz.

Como que a adivinhar esse desfecho, nos minutos antecedentes à sua partida, eu virei-me para a Luna, entreguei-lhe algumas lágrimas que escorriam pelo meu rosto e disse-lhe:

Guarda estas lágrimas contigo. Assim, para onde quer que vás a partir de agora, levarás um pouco da minha alma contigo. Não ficarás sozinha... Obrigado pelos bons momentos e por todas as memórias bonitas que criamos juntos. Amo-te muito. Obrigado!

 
Luna
25/09/20?? ~ 08/09/2019

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