12 fevereiro 2020

Sombras da Luz: Skyfall ~ Capítulo 4


Capítulo 4


Depois dos ânimos serenarem, o nosso jovem cavaleiro seguiu com a família, a Guarda Real e o Rei Gallanos para dentro do castelo. O castelo era imponente. Preservado desde há muitos séculos, era um verdadeiro labirinto para quem não conhecesse bem o lugar. Possuía inúmeras salas, de paredes nuas e frias, que eram embelezadas com tapeçarias vermelhas e douradas, enriquecidas com bordados dos diferentes povos que viviam em Spodeth-Alpha.

O chão do castelo estava pavimentado em tons escuros de mármore, mas que contrastavam suavemente com as paredes. Havia também armaduras douradas e outras relíquias um pouco por tudo o lado. Eram presentes que os líderes das outras tribos ofereciam em tributo e respeito ao maior líder de todos, o Rei Gallanos. As salas principais tinham ainda enormes passadeiras vermelhas, que se estendiam pelas diversas áreas do castelo. Quando Razor entrou no castelo, a primeira sensação que teve foi a de sentir-se muito pequenino! Tudo parecia-lhe gigante! Seguiu atrás da família, olhando embasbacado à sua volta. Era a primeira vez que percorria o castelo assim. Normalmente, ele dirigia-se às cavalariças, onde o seu Mestre de Armas o aguardava. Desta vez, porém, o próprio Rei Gallanos estava a fazer-lhe uma visita guiada pelo castelo.

Ao fim de alguns minutos - que aos olhos do nosso cavaleiro pareceram horas - chegaram a uma grande sala. Razor, que já havia ficado impressionado com tudo o que tinha visto, ficou boquiaberto. A sala continha vitrais enormes, de um lado e do outro, que retratavam episódios da história de Spodeth-Alpha, desde o primeiro governante. Nas paredes existiam quadros de todos os monarcas que precederam a Gallanos, todos eles pintados com ar majestoso e altivo.

Candelabros de diamante puro, oriundos das grutas mais a leste do reino, já nas imediações de Oceanum Phantanilum, ornamentavam a sala. Estes brilhavam em várias cores e davam à sala um aspecto de abóbada. As diferentes cores tinham a sua razão de existir - graças a isso, iluminavam inúmeros pontos numa espécie de mapa celeste, que era o fresco do tecto daquela sala. Razor não parava de se beliscar - era tudo tão bonito, que ele julgava ainda estar a sonhar! Não tardou a contar as estrelas, mas a dada altura perdeu-se. Seriam mil? Dez mil? Infinitas? Junto com as estrelas encontravam-se constelações, planetas e figuras que Razor não conhecia, nem compreendia.

A um canto da sala existia uma pequena exposição com as armas mais populares de cada tribo. Eram réplicas de armas que haviam passado de geração em geração e estavam agora na posse dos líderes das tribos actuais. Haviam armas de todos os géneros e feitios. Algumas, Razor reconhecia - espadas, bastões, arcos e flechas, martelos, punhais... Mas havia outras que ele não fazia ideia do que eram ou para que serviriam. Os habitantes de Spodeth-Alpha eram muito dotados e famosos pela sua capacidade de forjarem boas 

armas. Por vezes, os próprios deuses pediam ajuda aos ferreiros do reino para consertarem ou criarem alguma arma nova para eles. Aquela exposição fazia parte do Tesouro Real e só era aberta ao público em ocasiões especiais. A nomeação de novos cavaleiros era uma dessas ocasiões.

No centro da sala estava uma enorme mesa, trabalhada em madeira fina, oferenda do deus Marte, em agradecimento por terem criado uma nova arma para ele. Mais ao fundo da sala, existia uma pequena escadaria. Após subirem os degraus, entraram num novo patamar, mais pequeno e privado. Este tinha 3 cadeirões dourados, bastante trabalhados, forrados com almofadas vermelhas, que Razor supôs serem muito fofas. Do lado direito dos cadeirões existia uma nova sala e para lá se dirigiram todos, menos Razor, que se mantinha embasbacado a observar o local onde se encontrava. Pesados cortinados vermelhos davam um ar imponente e altivo ao lugar. Perdido em pensamentos, não deu pelo aproximar de um vulto.

- “É aqui que o Rei concede as audiências às pessoas, sabias?” - perguntou o vulto, com um sorriso.

Razor deu um pulo, surpreso e assustado, dando de caras com um rapaz, um pouco mais velho do que ele. O rapaz era alto e esbelto, com porte atlético e que deveria pertencer a uma grande família de nobres, pois as suas vestes eram feitas de tecidos caros e assentavam-lhe muito bem. Tinha um cabelo espesso, cor de palha e um olhar profundo. Os seus olhos eram claros. Os traços do seu rosto eram suaves e ligeiramente femininos. A pele estava bastante bronzeada e os músculos dos braços já começavam a ficar bem definidos e salientes por debaixo das suas vestes. Corado, Razor perguntou:

- “Olha lá, como é que tu sabes disso? És filho de algum nobre?”

O rapaz riu-se e respondeu:

- “Pois bem meu jovem amigo, eu sei disso porque... Eu vivo aqui no castelo! Ah! Que indelicadeza da minha parte! Ainda não me apresentei! Eu sou o Príncipe Josuke! Príncipe Josuke Mikel Gallanos, ao teu dispôr!” - exclamou o rapaz, fazendo uma vénia ao pequeno cavaleiro e estendendo a mão em seguida para o cumprimentar.


Príncipe Josuke Mikel Gallanos


Ao ouvir isto, Razor ficou corado que nem um tomate, fez uma grande vénia e sorriu, apresentando-se e cumprimentando o Príncipe. Momentos depois, o Rei Gallanos e a família de Razor apareceram à ombreira da porta por onde tinham seguido, intrigados por Razor não os ter seguido.

- “Oh! Vejo que já conheces o meu filho, o Príncipe Mikel!” - exclamou o Rei Gallanos, com um sorriso, enquanto que os familiares de Razor faziam uma vénia ao jovem Príncipe. - “O meu filho é um dos Cavaleiros Júniores do reino! Ele tem mostrado um grande talento, não é mesmo, Seth?”

- “Sim alteza, de facto assim é! Espero que o meu filho seja tão dotado quanto o vosso... Afinal, um dia, eles travarão grandes batalhas, dignas de entrar nos livros de História de Spodeth-Alpha!”

- “Não tenho a menor dúvida quanto a isso, meu caro General Seth! Mas antes, tanto o meu filho como o seu, terão de, junto com os restantes Cavaleiros, realizar missões, prestar auxílio aos mais necessitados, servir o Rei e conduzir Spodeth-Alpha a uma era de Paz e Harmonia. Pelo menos, que se mantenha como agora, ah ah ah!”

Olhando para o rosto de ambos os jovens, o Rei Gallanos sorriu e prosseguiu:

- “Chegou a hora da tua coroação! Vamos! Sigam-me!”

E assim, todos seguiram o Rei Gallanos até à Sala de Armas, onde encontraram um homem a observá-los de soslaio. O homem, de meia-idade, tinha um ar austero. Era moreno, cabelos e olhos pretos como o carvão. Vestia uma armadura em todos de bronze, com o símbolo real cravado no peito. Quando o Rei Gallanos se aproximou dele, o homem fez uma vénia. O Príncipe Mikel seguiu-se-lhe. Tanto o rei, como o seu filho, colocaram-se um de cada lado do homem e respirando fundo, deram início à coroação de Razor.

A família de Razor deu um passo atrás e Razor ficou frente-a-frente com o homem. Olhou assustado para o Príncipe, mas este mantinha o olhar fixo no horizonte, imperturbável. Razor ficou ainda com mais medo e pensou:

- “Fogo, quem me dera que ele olhasse para mim! Assim, fico mais nervoso!”

O homem deu um passo em frente, enquanto Gallanos e Mikel desembainhavam as suas espadas e as erguiam até ao peito.

- “Então és tu o filho do General Seth? O teu pai e os teus irmãos tem bastante talento para manejar armas e lutam com todas as suas forças não só para defender este belo reino, mas também as causas em que acreditam! Espero que tu, meu jovem cavaleiro, estejas à altura do desafio!” - trovejou o homem, enquanto que o Rei Gallanos e o Príncipe Mikel baixavam as suas espadas, colocando-as sob os ombros de Razor. Este estremeceu assustado, antes de dizer um tímido “Sim”.


[Continua...]

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