Vírgulas do Destino: Meandros da Vida - Capítulo 3
Mikel levou-me até à praia no carro dele. Lá, rapidamente corremos e brincamos um com o outro. A dada altura, fizemos uma fogueira. Eu fui buscar o meu baixo ao carro e, ao tocar uma melodia, não tardamos a cantar, enquanto trocávamos carícias, beijos... E fazíamos amor...
Porque eu nasci, para dizer que te amo
E eu estou dividido entre fazer o que devo fazer
Fica comigo esta noite...
Sinto-me novo, sinto-me fresco
De cada vez que tu respirares
Enquanto estiveres ao meu lado
Trarás vida às minhas esperanças mais profundas!
Qual é? Qual é? Qual é? Qual é.…?
[Eu sei, tudo o que tu querias, não é tudo o que tu tens...]
*Lisboa, 25 de Maio de 2013*
- “Boa tarde senhores passageiros. É com enorme prazer que vos informo de que estamos a chegar a Lisboa. Por favor certifiquem-se que não deixam nenhum dos vossos bens no autocarro. Obrigado!”
Acordei atarantado!
- “Hã?? Já estamos a chegar a Lisboa? Foi só um sonho?” - pensei.
- Desculpe, mas como podemos estar a chegar a Lisboa, se ainda agora saímos de Vila do Conde? - perguntei surpreso, aos passageiros que seguiam no banco da frente.
As pessoas ao meu redor começaram a rir-se. Eu olhava para elas, confuso! Quanto mais me interrogava, mais elas se riam!
Olhei pela janela.
Era verdade!
Estava a chegar à Gare do Oriente, a paragem final do autocarro!
A viagem, a meu ver, foi bastante rápida. Parecia ter sido ainda agora que eu e o Mikel nos tínhamos despedido...
Suspirei.
Já sentia saudades dele.
Fiquei triste por ele não ter conseguido vir comigo a Lisboa, ao jantar de blogues. A nossa noite fora muito agradável. Depois de cantarmos uma melodia à memória do Santiago e do Ángel, eu e o Mikel fomos passear pela cidade, de mãos dadas.
Primeiramente, pousamos as coisas no carro dele. Depois disso, ele fez-me uma “night tour”, enquanto trocávamos miminhos, beijinhos e carícias. Pelo meio, falávamos de tudo e mais alguma coisa. A dada altura, e porque já a noite ia longa, o Mikel levou-me para casa dele.
- Caim, sê bem-vindo ao meu humilde lar! Põe-te à vontade! Queres tomar algo, comer alguma coisa? - perguntou ele, com voz doce.
- Obrigado, fofo! Por mim, o que tu preparares… Por mim está muito bom! Não quero dar trabalho! - respondi.
Mikel acenou com a cabeça e riu-se. Eu pousei as coisas no chão e sentei-me num dos sofás. Ele virou costas, indo para a cozinha a cantarolar. Passado um bocadinho já estava de volta. Trazia uma bandeja com dois copos de cacau quente e bolachas!
Ri-me, ternurento. O Mikel era mesmo um fofo!
- Awwww! Não era preciso!
- A esta hora, nada melhor do que um chocolate quente e bolachas! - respondeu-me ele a rir, sentando-se ao meu lado e pousando a bandeja à nossa frente.
- Eu adoro chocolate quente e bolachas antes de ir numir! Como sabias? - questionei, enternecido.
- Ora! Eu também gosto muito! - gracejou ele, entre beijos.
Recostei-me no seu ombro direito e demos as mãos. Mikel deu-me um beijinho na cabeça e acariciou os meus cabelos. Ele adorava fazer-me isso e eu também!
Peguei nos copos de leite e entreguei um ao Mikel. Com um sorriso, fizemos um brinde:
- “À nossa!” - exclamamos os dois, antes de entrelaçarmos os braços e o Mikel beber do meu copo e eu do dele.
- Sempre vais ao jantar dos blogues? - perguntou ele, ao fim de alguns goles.
- Sim... Já tenho o jantar pago e o alojamento também... É uma pena que não possas vir...! - respondi, um bocadinho triste.
- Eu também queria ir, fofo… Acredita que sim! Mas… Surgiu este convite para dar uma entrevista para o Porto Canal e isso é muito importante para mim... Para o meu trabalho. - rematou ele, com um meio sorriso.
Apesar de ficar feliz por ele - porque efectivamente, eu estava feliz - a verdade é que me sentia triste também.
Suspirei.
Ao ver-me assim tristonho, Mikel deu-me beijinhos no pescoço e nas bochechas. Enquanto me abraçava mais intimamente, sussurrou:
- Não fiques assim, fofinho! Eu vou estar sempre contigo. Estarei sempre à distância de uma chamada, de uma sms, de um monitor, de uma visita! Não vamos pensar nisso agora, tim?
Beijamo-nos.
Eu e ele entrelaçamos os dedos e ele conduziu-me ao andar de cima.
- Podes escolher onde queres ficar a numir, fofinho! A minha casa tem 4 quartos!
- Posso… Posso dormir contigo? - perguntei, a medo.
Ia ser a primeira vez que ia dormir com alguém depois da morte do Santiago.
Mikel olhou para mim, levemente corado e respondeu:
- Hãããã… Sim… Claro que sim! No fundo… É o que eu queria também, mas... - Mikel baixou a cabeça, corando ainda mais.
- Eu sei! Eu sei, fofo! Eu entendo! - respondi, beijando-o.
Rimo-nos felizes e entramos no quarto dele. Entre beijos e carícias cada vez mais ousadas, despimo-nos e deitamo-nos na cama. Abraçamo-nos, bem enroscadinhos um no outro, enquanto trocávamos mimos, carícias e confidências. Assim adormecemos, bem agarradinhos, a minha cabeça sob o seu peito, ao nascer do sol.
Perto do meio-dia, o alarme tocou. Faltavam 15 minutos para o autocarro partir!
- Mikel! Mikel! Acorda, fofo! Estou super atrasado!
- Hummm? Já? - resmungou ele, sonolento.
- Tim, fofinho! Daqui a pouco o autocarro parte sem mim!
Ao olhar para as horas, Mikel levantou-se num ápice. Arranjou-se num instante e levou-me à paragem onde eu iria apanhar o autocarro. Enquanto esperávamos, ele tirou o pendente que trazia ao pescoço, ergueu-o para o céu e anunciou:
- Hórus Rá Harakhty, meu Guardião e meu Protector, abençoa com a tua luz este objecto! Que ele ilumine o caminho do Caim, a partir deste momento!
Em seguida, ele colocou o pendente no meu pescoço e sussurrou, pegando nas minhas mãos:
- Uma pequena lembrança minha, para que nunca te esqueças de mim!
- Awwww! Muito obrigado, fofo! - sorri, emocionado, com uma lágrima ao canto do olho.
Procurei na mochila. Ao encontrar o que queria, entreguei ao Mikel e disse-lhe:
- Espero que gostes! Tenho esta caixinha desde pequenino! Ela acompanha-me sempre!
Mikel deu à manivela e a caixinha de música não tardou a tocar uma melodia.
- Eu estou... Eu estou sem palavras! - exclamou ele, com um sorriso que nunca mais acabava! - Muito, muito, muito obrigado, fofinho!
Mikel e eu abraçámo-nos e beijamo-nos com paixão. O autocarro que, entretanto, chegara, estava prestes a partir.
- Boa viagem, Caim! Foi um prazer conhecer-te!
- Obrigado, Mikel...! Muito obrigado por tudo!
Já era quase noite.
Como vim no autocarro do meio-dia, acabei por não poder aproveitar este dia para visitar Lisboa, mas não fazia mal. Apanhei o comboio rumo à Amadora. Seria num restaurante perto do local onde iria ficar hospedado por esta noite que decorreria o jantar e o encontro de blogues. Num instante cheguei ao hotel, fiz o check-in e dirigi-me ao quarto.
Estava cansado.
Deitei-me na cama e agarrei-me à almofada, imaginando que o Mikel estava ali, deitado ao meu lado, a mexer nos meus cabelos e a sussurrar-me palavras doces no ouvido....
Acordei com um telefone a tocar.
- “Boa noite! Peço desculpa Sr. Caim, mas está aqui um senhor a perguntar se vai a um jantar de blogues?” - inquiriu o recepcionista, com voz amável.
Olhei para o telemóvel.
Já passava quase 1 hora da hora marcada para o início do jantar!
- Vou sim! Diga que só vou tomar um duche rápido e já desço!
- “Certamente! Com licença!”
Abri a mochila, escolhi umas roupas e fui tomar um duche rápido. Vesti-me, sequei o cabelo, peguei no estojo com o baixo e lá fui eu! Era a minha primeira vez a participar num encontro destes! O restaurante ficava na rua por detrás do hotel.
Ao chegar lá...
Um homem idoso e uma mulher de meia-idade aproximaram-se de mim, perguntando:
- Olá boa noite! És tu o Thor, o deus nórdico?
- Olá boa noite! Sou sim! E vocês são? - inquiri.
- João Roque e Margarida, os organizadores do evento! Muito prazer! - responderam os dois, cumprimentando-me.
- Estás um pouco perdido, não é mesmo? Não te preocupes! Muitos de nós estão aqui pela primeira vez! - afirmou a Margarida, com um sorriso. Como te chamas?
Apresentei-me.
- Eu sou o Caim! Venho de Espanha!
- Bem me parecia que falavas com um sotaque carregado! - respondeu ela.
Sorri timidamente.
Os anfitriões sorriram.
- Põe-te à vontade, eu e o João Roque estamos só a confirmar as presenças e daqui a cinco minutos os jantares vão ser servidos! Espero que te divirtas! - rematou Margarida, partindo que nem uma flecha para o meio de uma data de pessoas.
Eu ia olhando à minha volta e sorria a uns e a outros, timidamente. Fiquei espantado com a quantidade de pessoas que ali estavam! Deviam ser umas 50 ou 60 pessoas!
Quase todas eram de Portugal, mas havia algumas que como eu, vinham do estrangeiro! Itália, Espanha, Brasil e até da ilha de Malta! Eu estava estupefacto! Rapidamente me apercebi que a minha atitude era comum - muitas pessoas também circulavam por ali, timidamente, sorrindo e fazendo um pouco de conversa. Devia ser a primeira vez delas num jantar de blogues também.
João Roque regressou e comentou:
- Então, estás a gostar? Já ouvi dizer que vens de Espanha!
Assenti com a cabeça e respondi:
- Sim, é verdade! Estive uns dias no norte do país, onde cheguei a conhecer o Hórus Kuma Gwanni, mas ele não pôde vir hoje... Tinha uns compromissos aos quais não podia faltar. Mas ele pediu para dizer que adorava estar presente e que manda cumprimentos para todos!
- Pois, eu entendo - respondeu João Roque, com um ar prazenteiro. - Se ele viesse, tínhamos o nosso panteão de deuses da blogosfera completo! - respondeu ele, começando-se a rir. - Bem, espero que estejas a gostar. As senhoras do restaurante vão começar a servir o jantar agora!
- Estou a gostar sim, muito obrigado!
João Roque foi anunciar às pessoas que estavam lá fora que o jantar ia ser servido. Eu peguei num prato e ao pegar nos talheres, outro rapaz pegou nos mesmos que eu.
- Peço desculpas! Força! - respondeu um rapaz que, pelo sotaque, percebi que não era português.
- Obrigado! Eu sou o Caim e tu?
- Eu sou o Guze'. Muito prazer! - respondeu o rapaz, cumprimentando-me.
Guze' era alto, magro, de cabelo castanho-escuro, muito escuro mesmo, levemente encaracolado. Tinha olhos castanhos. O seu olhar era generoso e brilhante, como aqueles olhares inocentes que as crianças possuem. Curiosamente, deixara crescer a barba. A ele, a barba não o tornava mais velho. Na verdade, dava-lhe um ar mais adulto, já que tudo nele parecia aparentá-lo mais jovem do que era, na verdade. Tinha um sorriso bonito e umas mãos compridas, típicas de artista.
- De onde vens? - inquiri.
- Eu venho da ilha de Malta! Já quis participar no jantar do ano passado, mas como na altura não pude... Pelo menos consegui vir a este! É uma excelente forma de conhecermos os rostos por detrás dos blogs! Só tenho pena que o Gwanni não tenha vindo, mas eu vou ter com ele depois de amanhã… - respondeu ele, com um grande sorriso.
- Tens toda a razão! Eu vim ao jantar para conhecer algumas pessoas sobre as quais acompanho os blogues há bastante tempo! - afirmei eu.
Palavra puxa palavra, o ambiente tornou-se muito caloroso. Entre garfadas, todas as pessoas falavam, riam, partilhavam momentos divertidos ou simplesmente dois dedos de conversa.
Depois de toda a gente ter comido e bebido muito bem, os anfitriões foram até ao centro da sala. Pedindo a atenção de todos os presentes, disseram:
- E agora, vamos passar ao primeiro de dois momentos muito especiais deste nosso encontro!
João Roque tomou a palavra e declarou:
- Queridos amigos e amigas, como sabem, desde há muitos anos que organizo estes eventos. Eles permitem dar-nos a conhecer uns aos outros, além do salutar convívio e das amizades que se criam e fortalecem. Nesta edição, eu e a Margarida organizamos as coisas por forma a tornar a noite de hoje ainda mais memorável! É com imenso prazer que chamo aqui ao “palco” … Pedro Xavier!
Toda a gente bateu palmas e um rapaz subiu ao “palco improvisado”. Sorrindo timidamente, ele olhou para todos e respirou fundo.
Pedro Xavier
- Olá, boa noite a todos! É um prazer estar aqui entre vocês! O meu nome é Pedro Xavier e a noite de hoje é muito especial para mim, como escritor, blogger e pessoa! Hoje, graças à minha editora, vou lançar o segundo volume de uma saga de livros que eu ando a escrever! - afirmou, corando até à raiz dos cabelos.
Toda a gente bateu palmas e algumas pessoas mostravam-se bastante impressionadas!
Pedro Xavier pigarreou e prosseguiu:
- Este livro chama-se “Dois Mundos, Um Destino” e eu gostaria de partilhar com vocês um trecho deste conto. Querem ouvir? - perguntou ele, sorrindo divertido para todos os presentes.
- Sim!!! - gritaram todas as pessoas, fazendo um barulho ensurdecedor!
- Muito bem, então...espero que gostem! - rematou.
Pigarreando uma vez mais, Pedro Xavier pegou no livro e começou a ler:
- “Se quiseres podes dormir um pouco. Eu tomo conta de ti. - disse-me Davis, reparando que o calor e a humidade da sala se tinham juntado ao cansaço das batalhas travadas nesse dia para me deixarem sonolento.
- Vou só descansar um bocadinho. - respondi-lhe.
Davis sentou-se e eu virei-me, deitando a minha cabeça sobre o seu colo, enquanto ele me afagava o cabelo. Estava quase a adormecer quando senti que algo estranho se passava com o meu corpo, o que me despertou imediatamente. Olhei para a minha mão esquerda e assustei-me, levantando-me num salto. Uma mão de energia tinha acabado de se separar da minha mão de carne e osso.
- Não, mas eu agora não estou a sonhar como antes..." - pensei, percebendo que aquilo tinha sido real, demasiado real.”
Toda a gente voltou a bater palmas. Muita gente colocou-se de pé para o felicitar. Muito feliz, Pedro Xavier agradeceu, fazendo uma vénia a todos os presentes. Um senhor alto levantou-se e depois de cumprimentá-lo, dirigiu-se ao palco, dizendo:
- Gostaram? Podem saber toda a história obtendo o livro do Pedro nas versões e-book ou print-on-demand! Mais informações no site da nossa editora! - respondeu o homem, com um grande sorriso.
Novamente toda a gente bateu palmas. A Margarida subiu ao palco e com um grande sorriso, declarou:
- O João Roque disse que nós tínhamos duas surpresas preparadas para vocês! Quem gosta de cantar?
Várias vozes clamaram ao mesmo tempo.
- Eu! Eu! Eu!
- Muito bem, muito bem! Temos cantores! Alguém trouxe instrumentos? É que cantar sem música não tem lá muita piada... - retorquiu a Margarida.
Ela sabia que eu trazia um baixo. Estava a dizer aquilo de propósito para se meter comigo.
A rir-me, levantei-me e anunciei:
- Eu trago um baixo comigo! Posso dar uns acordes ou tocar umas músicas!
- Muito bem, já temos baixista! Quem se oferece? - perguntou ela.
- Eu teria muito gosto! - respondeu uma rapariga brasileira. Quero aproveitar esta oportunidade para dizer umas verdades ao “babaca” do meu namorado! Depois de hoje, ele vai passar a “ex”!
Margarida ficou um pouco atrapalhada, mas sem se dar por vencida, respondeu:
- Muito bem! Caim! Aceitas o desafio?
Assenti com a cabeça e disse:
- Claro que sim! Só preciso de saber qual é a canção que vamos tocar!
A rapariga, que se chamava Madalena, estava ali no jantar da companhia de um amigo chamado Rui. Pelos vistos, ela ia deixar o namorado, para ficar com o “miguxo”, como ela lhe chamava.
- “Não queria nada estar na pele do namorado dela...” - pensei eu, entre sorrisos.
Madalena e eu subimos ao palco e ela mostrou-me a letra da canção que eu ia tocar.
- Pode ser esta, Caim?
- Sim, claro!
E assim, para delírio do público presente, começamos a tocar e a cantar:
[Madalena]
Meu amor era verdadeiro,
O teu era pirata!
O meu amor era ouro
E o teu não passava...de um pedaço de lata!
Meu amor era rio
E o teu não formava uma fina cascata!
O meu amor era de raça!
E o teu simplesmente um vira-lata!
Ex my love,
Ex my love,
Se botar teu amor na vitrine,
Ele nem vai valer 1,99!
Quando a Madalena acabou de cantar, toda a gente a aplaudiu de pé e um homem chamado Francisco virou-se para ela e disse:
Francisco
- Querida, os homens voltam sempre!
Foi a gargalhada geral.
Depois deste evento, as pessoas começaram a dispersar. Como já estava a ficar tarde, despedi-me das pessoas, trocando contactos e regressei ao hotel. A noite tinha sido bastante divertida!
[Continua...]