Vírgulas do Destino: Meandros da Vida - Capítulo 4
Acordei cedo.
Liguei a televisão porque me apetecia estar um pouco na cama sem fazer nada...era domingo e estava cansado da viagem do dia anterior. Hoje estava a pensar passear um pouco por Lisboa e no fim do dia logo veria se regressava a casa ou ficava cá mais um dia. Ao fazer zapping, dei com o meu canal favorito. Ia começar a dar uma música nova!
- “OMFG! Tão lindo!” - pensei eu, ao ver o vídeo.
De repente, fiquei cheio de saudades do Mikel. Liguei-lhe, mas ele tinha o telemóvel desligado. Ainda devia estar a dormir...
Fui tomar um banho, arranjei-me e depois de fazer o check-out no hotel, dirigi-me à estação de comboios. Chegado lá, perguntei a uma funcionária como se ia para Belém.
- O senhor vai no comboio até ao Rossio, desce até ao rio e depois vira à direita! - respondeu ela prontamente.
- Obrigado! - respondi.
A viagem de comboio foi agradável. Aproveitei para passear um pouco por ali perto, indo conhecer a zona do Chiado e arredores. Depois de muito andar, comecei a pensar que já me teria perdido.
- Muito bonito! Estou perdido e não há aqui ninguém por perto a quem eu possa pedir ajuda! - resmunguei.
Lá andei mais um bocado até chegar novamente a uma zona à beira rio. Olhei para uma parede e encontrei uma placa, que dizia 24 de Julho.
- Hum... Deixa-me consultar o mapa... Bolas, acho que ainda estou longe! - suspirei, um bocado desanimado.
Procurei por ajuda e acabei por encontrar! Um rapaz estava a olhar para o rio. Aproximei-me dele e disse:
- Peço desculpa por incomodar...
O rapaz virou-se para mim e perguntou:
- Que se passa? O que queres?
Sorri ligeiramente e respondi:
- Desculpa incomodar, mas acho que estou perdido. Eu queria ir para aqui. - respondi, apontando o local no mapa.
Ele pigarreou e disse:
- Ora bem, a pé ainda estás um pouco longe. O que te aconselho é a apanhares o comboio, ali na estação de Santos para Belém. A viagem dura cerca de 8 minutos. Se fores a pé, bem que levas mais de uma hora a chegar! - respondeu ele, a rir-se.
Assenti com a cabeça, sorri e agradeci.
- Obrigado!
- Sempre às ordens! - respondeu o rapaz, com um sorriso.
Eu virei costas rumo à tal estação, voltando a cabeça para trás. O rapaz olhava para mim. Talvez estivesse a pensar se eu teria percebido bem as indicações. Chegado à estação de comboios, tirei o bilhete e num instante um comboio rumo a Cascais apareceu.
Entrei e segui nele até Belém.
O rapaz tinha razão.
A viagem foi muito rápida! Mal tive tempo para descansar! Ao chegar a Belém, estava a decorrer uma manifestação num jardim em frente a um palácio que, entretanto, vim a saber que era o Palácio da Presidência.
As pessoas estavam a manifestar-se contra o aumento do IVA para os 30% em todos os produtos e bens, o fim dos subsídios de Férias e de Natal para todos funcionários, tanto públicos como privados e a criação do “Imposto de Sustentabilidade”, que visava manter os salários da classe política, que pelos vistos, estava a empobrecer!
O Presidente da República, um homem chamado Alberto Silva, apelava à calma, usando um megafone:
- Meus queridos concidadãos, deste nosso Portugal! Vamos lá a ter paciência, que este imposto não vos fará mal!
As pessoas começaram a berrar e a gritar palavras de ordem.
Indignado, eu virei-me para ele e gritei:
- ¿Por qué no te callas?
Ao escutarem aquilo, os seguranças do Presidente não perderam tempo! De imediato encetaram buscas para saber quem tinha dito aquilo! Eu tratei de me pôr a andar dali para fora o mais depressa que podia, enquanto as pessoas, animadas com o meu atrevimento, entoavam:
Ouves as pessoas a cantar?
Cantam a canção dos homens furiosos!
Esta é a música de um povo
Que não será escravo novamente!
Quando a batida do teu coração
Ecoar na batida dos tambores
Haverá uma vida prestes a começar
Quando o Amanhã chegar!
Vais unir-te à nossa cruzada?
Serás forte e ficarás comigo?
Para além da barricada
Não existirá um mundo que tu queiras conhecer?
Então junta-te à luta
E ganharás o direito de ser livre!
Ouves as pessoas a cantar?
Cantam a canção dos homens furiosos!
Esta é a música de um povo
Que não será escravo novamente!
Quando a batida do teu coração
Ecoar na batida dos tambores
Haverá uma vida prestes a começar
Quando o Amanhã chegar!
Darás tudo o que podes dar
Para que o nosso estandarte possa avançar?
Alguns vão morrer, alguns vão viver
Vais erguer-te e agarrar a oportunidade final?
O sangue dos mártires
Vai regar os prados de Portugal!
- “Wow! Será que vai começar uma revolução?” - pensei.
Depois de muito andar, finalmente cheguei ao meu objectivo: a Torre de Belém!
Um grupo enorme de japoneses estava à entrada, a tirar fotografias ao monumento. Como estava a decorrer a manifestação ali perto, a Torre de Belém tinha sido fechada por precaução, pelo que não haveria visitas!
Desconsolado, fui passear até aos Jardins de Belém, que ficavam ali perto. Estava cansado e frustrado. Andava eu a deambular por ali, quando encontrei o rapaz que me tinha orientado durante a manhã! Ele estava deitado na relva, em tronco nu! Sorri e aproximei-me dele.
- Por aqui? - perguntou-me ele, surpreendido.
- Sim, já fui até onde queria ir e estava a passear à beira rio, quando te vi... - respondi.
- Ah bom...! Então, como te chamas? Eu sou o Abel! - respondeu ele, levantando-se para me cumprimentar.
Abel
Eu retribui o cumprimento e apresentei-me:
- Eu sou o Caim! Muito prazer em conhecer-te! - exclamei, entre sorrisos.
Caim
Como estava cansado, perguntei:
- Posso sentar-me?
Abel riu-se.
- O jardim é público... - foi a resposta dele, voltando a deitar-se e encolhendo os ombros.
Sorri.
Abel era um rapaz muito atraente. Tinha cabelos pretos, um bocado despenteados. Os seus olhos eram castanhos e aveludados. Davam-lhe um ar oriental e misterioso. Ele estava cheio de olheiras.
- “Deve ter dormido mal de noite...” - pensei.
O seu sorriso era simpático, mas senti que era algo forçado. Talvez ele estivesse a sentir-se pouco à vontade e eu estivesse a incomodá-lo. O seu corpo era delineado. Tinha a pele branca, ligeiramente avermelhada de estar ali deitado ao sol. Junto ao ombro direito, ele tinha uma tatuagem! A tatuagem de uma raposa!
Estupefacto, sentei-me ao lado dele e pousei as coisas. Suspirei cansado e fechei os olhos. Eu tinha a testa alagada em suor. Um dos problemas de viajar com a mochila às costas é que vinha carregado com tudo o que trazia. E isso não era fácil. Como se não bastasse isso, aquele dia estava quente! Sentia tanto calor! Abri a mochila e retirei uma garrafa de água. Peguei nela, abri-a e despejei-a pela cabeça abaixo!
- Ahhhhh! Que bom! - exclamei eu, pleno de satisfação.
Sorri satisfeito e tirei a t-shirt que, entretanto, ficara molhada.
Virei-me para o rapaz, que parecia ausente.
- Está tudo bem, Abel? Estás muito calado! - perguntei, com ar divertido.
Virando a cara para o outro lado, ele respondeu:
- Sim, está tudo bem. Apenas estava perdido em pensamentos quando aqui chegaste!
Bebi um pouco de água. Que maravilha! Estava mesmo a saber-me bem aquela pausa!
Virei-me para Abel e perguntei:
- Gostas de música?
Ele limitou-se a acenar com a cabeça. Ri-me divertido. Saquei o baixo do estojo e comecei a tocar e cantar uma melodia:
[Caim]
No quiero estar sin ti
Si tu no estas aquí me sobra el aire
No quiero estar así
Si tu no estas la gente se hace nadie
Si tu no estas aquí no se
Que diablos hago amándote!
Si tu no estas aquí sabrás
Que dios no va a entender por que te vas
No quiero estar sin ti
Si tu no estas aquí me falta el sueño
No quiero andar así
Latiendo un corazón de amor sin dueño
Si tu no estas aquí no se
Que diablos hago amándote!
Si tu no estas aquí sabrás
Que dios no va a entender por que te vas
Derramare mis sueños si algún día no te tengo
Lo más grande se hará lo más pequeño
Pasare un cielo sin estrellas esta vez
Tratando de entender quien hizo un infierno el paraíso
No te vayas nunca porque
No puedo estar sin ti
Si tu no estas aquí me quema el aire
Si tu no estas aquí sabrás
Que dios no va a entender por que te vas
Si tu no estas aquí
Quando acabei, olhei para o Abel. Tinha adormecido. Ri-me baixinho. Uma expressão de contentamento e um grande sorriso fizeram-me compreender que ele estava a ter bons sonhos.
Deixei-me ficar ali mais um bocado, a desfrutar do merecido descanso e aproveitei para secar a minha t-shirt, que tinha ficado molhada...
Quando a roupa secou, vesti-me. Uma leve brisa agitou os meus cabelos. Estava na hora de me ir embora. Abel continuava a dormir. Tirei a pulseira que levava no meu braço direito. Pousei-a na relva ao lado dele.
- Obrigado por me teres guiado, raposa! - sussurrei.
Levantei-me e fui embora, rumo à Gare do Oriente. Peguei no telemóvel e voltei a ligar ao Mikel.
Tocou várias vezes, até que...
- Olá Mikel! Daqui é o Caim! Tudo bem? - perguntei, a medo.
- "Caim! Mas que agradável surpresa! Está tudo bem, obrigado por perguntares! Então, como está a decorrer o passeio por Lisboa?" - respondeu ele, com voz alegre.
Sorri feliz.
- Está a correr tudo bem, obrigado! Olha... - retorqui, levemente corado.
- "Que se passa?" - perguntou ele, preocupado.
- Quando eu estava no bar, na Noite Mística, ouvi dizer que tinha direito a três perguntas! Pois bem, eu só fiz duas! Isso quer dizer que tenho direito a mais uma, certo? - questionei, de imediato.
Mikel deu uma gargalhada ao telemóvel.
- "Sim! Tens toda a razão!"
- Podes vir buscar-me à paragem logo à noite? Chego aí às 22:30! Quero fazer uma última pergunta às tuas cartas!
- "Está bem, fofinho! Mas é algo grave? Se quiseres, eu vejo já..." - respondeu ele prontamente.
- Não te preocupes. Pode ser? Vais buscar-me? - inquiri.
- "Vou buscar-te, sim senhor! É curioso… Mas já estou cheio de saudades tuas..." - suspirou ele.
- Awwww...! Eu também fofo, eu também! Então, até já! - rematei.
- "Até já! Boa viagem! Beijinhos!"
Desligamos a chamada. Sorri para o telemóvel.
Mal podia esperar para ver a cara dele quando ouvisse a pergunta que eu queria fazer às cartas:
- Mikel, aceitas namorar comigo?
[Continua...]
E aceita?! Uhmmmmmmmmmmmmmmmmm
ResponderEliminarNo último episódio da história, tens a resposta a essa pergunta! ;)
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