18 setembro 2020

6 Meses

Este post é uma espécie de continuação do que escrevi aqui


Se tem estado a acompanhar o blogue, já devem ter reparado que mudei um pouco. Regressei às origens, abrindo o meu coração e falando de forma mais aberta da minha vida. 


Então o post de hoje começa com o final do meu casamento. Eu senti aquela vontade e, de certo modo, aquela alegria de me sentir livre novamente. Apesar de, ao longo do casamento, eu ter pulado a cerca, a verdade é que o fazia sentindo-me mal comigo mesmo. Fazia-o para descarregar frustrações, tristezas, mágoas que se foram acumulando ao longo dos anos... As razões foram muitas. Se me arrependi? Nem por isso. Não me considero pior pessoa por causa disso.


Então, quando tudo chegou ao fim, senti-me "renascer". Voltei às aplicações e aplicativos de encontros gays, agora sem ter de entrar em grandes explicações. Podia conhecer pessoas, podia envolver-me em casos de uma só manhã/tarde/noite, tendo a perfeita consciência de que estava a fazer o que sentia ser o correcto.


Tive alguns encontros insatisfatórios, mas na sua maioria, foram bons. Houve um que me tocou particularmente, porque era com um rapaz que também vivia numa condição parecida com a minha. Ele também se estava a divorciar do marido dele, então as nossas conversas iam muito ao encontro um do outro. A química que se instalou foi grande e muito boa. O problema é que a falta de tempo [Onde será que já ouvimos esta conversa?] fez com que nos fóssemos afastando, com alguma pena minha.


Um dos problemas dos aplicativos gays é o facto de realmente as pessoas só andarem por ali em busca de "caça". Tudo bem, eu também queria foder, mas queria também fazer novas amizades, quem sabe algo mais. O renascimento que se sucedeu ao final do casamento cedo deu lugar à insatisfação. É verdade que me sentia livre novamente, mas seguia a vida infeliz. 


Faltava-me algo.


Foi assim que decidi explorar outros aplicativos. Onde pudesse conhecer homens, mas o objectivo não fosse apenas aquele. Pelo menos não de forma tão crua e fria. Um local onde pudesse fazer amizades e quem sabe, algo mais pudesse acontecer.


E foi assim que fui parar ao Tinder.


No Tinder conheci vários homens interessantíssimos. As pessoas procuravam, efectivamente, algo mais para além do sexo. Queria conversar, a questão da troca de fotos/nudes vinha muito mais tarde. Não era a prioridade. 


Um dia, fiz "Match" com um rapaz que surgiu nas minhas sugestões. Fiquei admirado por um rapaz que eu achei tão bonito, estar a mostrar-se interessado em mim. A fotografia dele era só de rosto, mas eu de imediato gostei daquele sorriso, daqueles lábios, daqueles olhos, daquele olhar...


Poucos minutos depois, ele começou a enviar-me mensagens. Trocamos algumas palavras. Ele mostrou-se extremamente interessado e interessante. Culto, bem-humorado, gentil, educado. Quanto mais eu falava com ele, mais eu pensava em como seria uma pena se ele só estivesse a "dar-me corda" para eu aceitar conhecê-lo pessoalmente e ir para a cama com ele.


Rapidamente ele mostrou-me e abriu-me as portas para o Mundo dele.


Eu fiquei muito feliz por tamanha abertura. Ainda caminhava a medo. Tinha medo do que pudesse acontecer. Saíra de uma relação fracassada e da qual tinha dado tanto de mim. Estar a ouvir alguém a dizer: "amo-te", "quero-te"... 


Parecia bom de mais para ser verdade.      


Depois de vários "encontros" virtuais, por fim marcamos um encontro pessoal. Tudo correu às mil maravilhas. Falei de tudo o que temia, falei de como estava a atravessar uma fase particularmente difícil da minha vida, falei de como tudo parecia ainda surreal. Não me sentia merecdor de um homem assim. Bonito, inteligente, sensível, com um coração tão grande quanto ele. [Ele deve ter quase 1,90m!] [risos]


Parecia-me impossível que ele me quisesse. Que ele já me fizesse juras de amor. Ele pensava já numa futura vida a dois, apesar de ainda estarmos a conhecer-nos pessoalmente naquele dia. No entanto, e como ele disse - e muito bem - existem pessoas que quando a gente conhece, parece que nos conhecemos a vida toda. Eu senti isso. Senti que realmente já o conhecia da vida toda, apesar de nos conhecermos à tão pouco tempo.


E então, durante essa tarde, que se tornou chuvosa, ele pediu-me em namoro. Vi nos seus olhos um interesse genuíno. O alto nas suas calças [e que alto, meu Deus!] [risos] também mostrava o seu interesse e tesão.


Hesitante, a medo, recusei. 


Não me sentia preparado para dar esse passo. Por mais que eu quisesse, a verdade é que ainda estava com medo. Parecia-me tudo precipitado. Ainda tivemos um momento "caliente" debaixo da chuva, o que foi uma experiência linda, romântica e nos deixou com vontade de mais....


Ele voltou a pedir-me namoro durante as horas, dias e semanas que se seguiram. Recusei mais 4 vezes. Precisava de ter a certeza de que estava pronto para aceitar. Não queria aceitar só porque estava frágil, só porque estava triste e destroçado. Queria dar-lhe o que ele merecia, porque ele também já tivera a sua quota parte de sofrimento na vida. Não queria magoá-lo, nem enganá-lo, porque ele não merecia isso.


A cada dia que passava, ele fazia-me sentir especial. Amado e desejado como já não me recordava de sentir. Assim, ainda que com algumas dúvidas, até por culpa de toda a incerteza que se vivia devido ao COVID-19, eu acabei por dizer sim. 


Ironicamente, começamos a namorar no dia em que o governo, horas mais tarde, oficializou o confinamento. Teria sido um sinal? Uma coincidência? 


Já se sabe que não existem coincidências...    


O tempo que passamos confinados foi um martírio. 


As saudades, a tristeza de não podermos estar juntos, mal-entendidos, medos, dúvidas, etc... Por diversas vezes, a frustração de viver novamente um relacionamento à distância, sem certezas de quando seria possível vermo-nos pessoalmente, gerou várias crises e discussões que ameaçaram o nosso  relacionamento. Pelo meio, ele perdeu a mãe dele e foi horrível. A senhora morreu de cancro lá no Brasil e ele estava cá em Portugal. Ele não teve oportunidade de se despedir convenientemente dela. Foi uma fase particularmente triste e difícil de superar.


Eu sentia-me triste e frustrado. Queria fazer mais e melhor por ele. Mas eu estava limitado. De todas as vezes que discutimos, fui sempre eu quem colocou a hipótese de acabarmos. Ele merecia mais e melhor do que eu. Apesar disso, ele continuou a insistir em que tudo haveria de melhorar, que eu merecia ser feliz, que ele me daria o Mundo se pudesse... Essas coisas. 


Depois de acabado o confinamento, finalmente pudemos estar juntos. Finalmente pudemos ter uma noite de amor em pleno. Tudo foi muito bom e maravilhoso. Senti que tinha valido a pena todo o esforço, toda a espera, toda a angústia por que passamos.


Desde então, a nossa relação vai vivendo com altos e baixos, como qualquer relacionamento. Somos de Culturas diferentes, temos idades diferentes [ele tem 33 e eu 39], ele tem formas muito mais abertas de expressar os seus sentimentos e carinho do que eu. 


Ainda assim, aos poucos, temos "afinado os nossos ponteiros" e vamos estando juntos quando podemos, pois vivemos em distritos diferentes - demoramos cerca de 3 horas em viagens de comboio e metro para estarmos juntos. Como ele trabalha com folgas rotativas e ainda faz outros trabalhos - hoje em dia, Portugal tornou-se um país que faz das pessoas escravas do trabalho, se querem ganhar o mínimo para se sustentarem, pagando a renda, comida e pouco mais - pelo que nem sempre conseguimos estar juntos.


Assim, vamos falando todos os dias para colmatar a saudade. Apreciamos os momentos que podemos passar juntos. Uma simples ida ao supermercado para fazer as compras do mês, lavar a loiça, arrumar a roupa, passearmos juntos pela cidade, vermos a telenovela recostados no peito um do outro... Coisas que parecem tão óbvias e básicas, para nós têm um sabor especial. São vivências maravilhosas. 


Para comemorar os nossos 6 meses, fomos comer algo que ele ainda não tinha comido, desde que chegou a Portugal: uma francesinha. Ele adorou. Eu adorei que ele tenha adorado, até porque partilhamos momentos de muita cumplicidade numa das avenidas mais famosas e movimentadas da cidade.   


Não é a nossa melhor foto, mas que importa isso? 
O que realmente importa está gravado nas memórias dos nossos corações.
 

Só posso estar grato a ele por não ter desistido de mim. Ele é um homem com H grande. Eu sei o quanto ele me ama, o quanto ele me quer, o quanto ele me deseja, o quanto eu o deixo excitado. Ele sabe o quanto me preocupo com ele, o quanto gosto dele, o quanto o quero, o quanto fico feliz de estar recostado no peito dele, o quanto eu adoro satisfazer o seu apetite insaciável! [risos]


Obrigado por tudo! <3

4 comentários:

  1. Muitos Parabéns, fazem um casal muito giro :)

    Abreijos

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    Respostas
    1. Obrigado Francisco, de coração!
      Quando formos a Lisboa, teria muito gosto em reencontrar-te e apresentar-to! :)
      Abreijos :3

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  2. Claro que sim, basta ligares e logo combinaremos :)

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