O livro que irei abordar hoje é um livro que tive de ler em contexto de aula - estou a fazer um curso de Apoio Psicossocial. Esse é um dos motivos para andar mais ausente do blog. Noutra disciplina estou a começar um projecto para jovens LGBT, mas isso será tema para outro dia. :)
Da autoria de Bruno Bimbi, um jornalista argentino, o livro chama-se "O Fim do Armário".
Como podem ver pela fotografia acima, foram muitos os episódios que quis abordar na apresentação que tive de fazer do livro!
O livro “O Fim do Armário” retrata, de uma forma natural - embora por vezes exponha uma realidade bastante nua e crua - e diga-se de passagem, com muito sarcasmo e bom humor à mistura, um retrato muito fiel da Comunidade LGBT ao longo da História, com especial enfoque nas mudanças que estão a ocorrer ao longo do século XXI.
Embora apresente, por vezes até a título pessoal, vivências, partilhas, experiências e relatos na primeira pessoa, sobre o que é ser gay na actualidade, o livro destina-se a pessoas de todos os géneros e orientações.
Algumas histórias e relatos são profundamente impactantes. De entre os muitos relatos, experiências e partilhas - achei o livro todo muito rico em informação, um verdadeiro colosso para desbravar pré-conceitos - houve três histórias que me tocaram profundamente.
A primeira delas é sobre um homem norte-coreano, chamado Jang Yeong-jin, que, em pleno Inverno, “atravessou a nado um rio gelado até à China, onde passou mais de um ano a tentar obter uma forma de chegar legalmente à Coreia do Sul.”
E isto porque Jang Yeong-jin não sabia o que era ser gay. Ele mais tarde contou a sua história, narrada no livro “A Mark of Red Honor” [ainda não publicada em português]. A descrição narrada por Jang e por Bruno, nas páginas seguintes, é de deixar qualquer ocidental de queixo caído.
A segunda história ocorre no Brasil e lembro-me de ter lido e escutado sobre ela.
José Leandro e José Leonardo regressavam de uma festa junina. Vinham abraçados e felizes. Um grupo de 8 homens viu-os e atacou-os com uma violência sem precedentes, acabando por ceifar a vida de José Leonardo.
Estes dois rapazes não eram um casal, nem eram gays. Eram irmãos gémeos. José Leonardo deixou a sua namorada grávida de 3 meses.
A última história é um verdadeiro relato de terror, não aconselhável aos mais sensíveis.
Gabriel, um rapazinho de 8 anos, gostava de brincar com bonecas. A mãe, Perla Fernández e o padrasto, Isauro Aguirre, estranharam o comportamento do menino e partiram do princípio de que ele era gay. Tudo porque ele gostava de brincar com bonecas.
Nem consigo transcrever o que fizeram com a pobre criança. É horrível demais.
A dada altura, Gabriel queria suicidar-se. Já não aguentava as inúmeras torturas físicas, psicológicas, emocionais. Chegou mesmo a escrever uma carta de suicídio. O padrasto, ao descobrir a carta, acabou por matá-lo. E isto com o conluio da mulher e pasme-se, de 4 Assistentes Sociais, que sabiam de tudo e não fizeram nada. Toda a vizinhança já tinha denunciado o caso, mas ninguém fez efectivamente nada, para salvar aquele menino.
É muito triste que um rapazinho tenha sido torturado e posteriormente morto [embora depois de tanta tortura, acredito que foi o melhor que lhe podia ter acontecido, acabar com o sofrimento dele], porque achavam que ele era gay.
Estes 3 exemplos do livro deram-me ainda mais certeza de como a nossa sociedade é triste, é má, é intolerante e, agora digo-o sem receio, doente. As pessoas não conseguem suportar, nem respeitar os direitos individuais.
Apesar das inúmeras conquistas, desde os tempos da Rebelião de Stonewall [1969] a cada dia que passa eu assisto a avanços e recuos. Enquanto gay, é muito preocupante analisar a situação a nível mundial e sociológico.
Mais do que avanços - que também os há - eu acredito que na realidade, estamos a retroceder na luta pelos Direitos Humanos, muito por conta de uma visão extremista, distorcida e fundamentalista, criada por fenómenos da extrema-direita [e não só!] na Europa e em outros continentes, aos quais se somam as crises sociais, económicas, de valores, o crescimento da migração - que traz consigo um “abanão” sóciocultural - e acarreta uma preocupação religiosa, sociológica, geográfica e demográfica muito importante e que certamente causará impacto nas próximas 2 décadas.
Este é um bom livro. A edição mais recente - a portuguesa, publicada em Agosto de 2020 - traz novos capítulos ao livro original - publicado na Argentina em 2017. O "Fim do Armário" é um livro que deveria ser lido por todos.
Recomendado!
Nota Final João: 10/10
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