30 junho 2020

Stranger Than Fiction

Começo o post por dizer que finalmente fiz um update em todas as páginas aqui do blog. Assim, podem ler, reler, ver e rever posts nas principais temáticas do blog, nomeadamente Músicas, Filmes, Séries e também as Net-Novelas que vou escrevendo por aqui.

Cada temática tem os links para os posts, basta clicarem neles para serem redireccionados para os mesmos. Espero no futuro abordar mais temas, mas isso dependerá da minha disponibilidade/motivação.

Para o último post deste mês de Junho, deixo-vos com um filme que assisti a semana passada.

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Stranger Than Fiction [Contado, Ninguém Acredita!] [2006] é um filme muito curioso e divertido.


Sinopse:


Harold Crick [Will Ferrell] levava uma vida normal, até ao dia em que se apercebe de uma misteriosa voz feminina [Emma Thompson] que narra tudo o que Harold faz. Quem será esta misteriosa voz? Quais serão as suas pretensões? 


Eis um trailer:




A minha opinião:


Ora aqui está um filme com o qual me identifquei completamente. Ri-me muito com a trama, com a interacção entre as personagens. A história está bastante boa e convincente! Excelente desempenho dos actores, bons planos de câmara, música nos momentos certos e claro... A narração... Isso faz toda a diferença e provocar-vos-á algumas gargalhadas. 


A única coisa que não gostei muito foi o final, mas consigo entender perfeitamente as decisões da "escritora". Afinal, quando criamos personagens, ganhamos afecto e carinho por elas... Custa sempre muito - pelo menos a mim! - dizer adeus [que é como quem diz, "matar"] às minhas personagens favoritas. No entanto, às vezes é um mal que vem por bem. É um tema que gosto muito de debater mas não o farei agora.


Este é um filme divertido, com algumas reflexões pelo meio. Vale a pena verem, se ainda não assistiram. Eu certamente voltarei a ver este filme!


Nota Final João: 10/10


[Nota do Autor]: Este foi o último post relativo aos filmes onde coloco um trailer. Isto porque acredito que seja chato para muitos leitores "verem o filme" quase todo só no trailer. Eu próprio não vejo os trailers antes de ver os filmes, pelo mesmo motivo. 

29 junho 2020

Ni no Kuni

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Ni no Kuni [Nino Kuni] [à falta de melhor tradução, "O Outro Mundo"] [2019] é um filme Netflix.


Sinopse:


Yuu, Haru e Kotona são três amigos inseparáveis. Yuu gosta de Kotona, mas esta é namorada de Haru. Um dia, Kotona é atacada mortalmente e Haru, desesperado, leva-a para o hospital. Yuu segue-os na sua cadeira de rodas, mas os três são atropelados... Quando recuperam a consciência, Yuu e Haru estão em Nino Kuni, mas Kotona não está com eles. Onde estará Kotona? Conseguirão Yuu e Haru regressar ao Mundo deles?



Eis um trailer:





A minha opinião:


O filme Ni no Kuni é baseado numa série de vídeojogos com o mesmo nome. É daqueles filmes de animação com temas padrão, como magia, mistério, princesas, espadas mágicas, reinos encantados... Tudo temas dos quais eu gosto muito. 

Ao ver o filme, não pude deixar de sorrir e de me encantar ao imaginar como Spodeth-Alpha se poderia encaixar neste filme, sendo esse o local onde se passa uma parte da trilogia "Sombras da Luz", escrita por mim e já publicada aqui no blog.

O filme tem levado muitas críticas negativas, mas eu gostei bastante dele. Achei a intriga muito interessante, as músicas, a cor, a imagem, tudo cativou-me até ao fim. Não pude deixar de me surpreender pelo final da história, algo comum à maioria das críticas negativas. 
Penso que se for a analisar mais a fundo o filme, aquela explicação final é a "teoria do Haru", sendo que o verdadeiro sentido para o final do filme é deixado à imaginação de cada um de nós. Se eu pensar assim, o final passa a ter mais sentido... ou talvez não. :P


É um filme giro, excelente para ver com crianças e também excelente para graúdos  que forem fãs de vídeojogos de aventuras, tipo Zelda, Mana, Final Fantasy e claro, do jogo que deu origem ao filme, Ni no Kuni


Nota Final João: 8/10

28 junho 2020

Minha Mãe É Uma Peça [Filmes 1~3]

Minha Mãe É Uma Peça é a minha sugestão para celebrarmos este Dia de Orgulho Gay.




Sinopse:

Dona Hermínia [Paulo Gustavo] é uma mulher mãe de dois filhos e sem papas na língua. Ao longo dos 3 filmes, vamos acompanhando as aventuras e desventuras dela e da família dela, à medida que os filhos crescem.


Eis um trailer:





A minha opinião [Com Spoilers]:


O filme é claramente voltado para o público que já conhece a "peça" de teatro - os brasileiros. A história está repleta de nuances e piadas brasileiras, mas é uma trilogia divertida e especial, até pelo facto de ter sido dos únicos filmes que foi um sucesso de bilheteira, apesar de ter alusões gays - o filho da Dona Hermínia é gay e ao longo dos 3 filmes ele vai tendo namorados, até que no último filme ele é levado ao altar - e essas cenas do casamento são bem bonitas e emocionantes.

O próprio actor que dá vida a Dona Hermínia é gay e o marido dele e os dois filhos que eles adoptaram fazem uma curta aparição no 3º filme. O discurso de Dona Hermínia no casamento do filho é bastante emotivo.

Se quiserem dar umas gargalhadas nestes tempos complicados, esta é uma boa trilogia para assistirem!

Nota Final João Trilogia: 7,5/10  


P.S. - Podem assistir aos três filmes, completos, no Youtube

27 junho 2020

O Cadáver de Anna Fritz




El Cadáver de Anna Fritz [O Cadáver de Anna Fritz] [2015] é um drama com algum terror psicológico espanhol.


Sinopse:


Anna Fritz [Alba Ribas] é uma actriz muito famosa que morre de repente, durante uma festa. Pau [Albert Carbó] é trabalhador numa morgue de hospital e não resiste a fotografar a actriz, mostrando-a a dois amigos. quando os amigos o procuram para ver a actriz, os três homens entram numa espiral de destruição sem fim.


Eis um trailer:







A minha opinião:


Este é um daqueles filmes complicados de se ver. Aborda o tema da necrofilia, como deu para ver pelo trailer. É assustador pensar que na vida real situações como a que acontece com a cadáver possam acontecer...

O filme depois disso anda em círculos. Os personagens são bem complicados, lidam com as coisas da pior forma possível e o thriller mantém-se tenso até ao final. O final, aliás, foi um pouco surpreendente para mim.

Devido aos temas abordados no filme, não é filme um filme agradável de se ver. Ainda assim, já vi piores...


Nota Final João: 7/10   

26 junho 2020

Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 3


Capítulo 3


*14 de Outubro de 2016*


Nos dias que se seguiram, Jules lá arranjou coragem e acabou tudo com Michelle. Não lhe fora fácil terminar, porque uma parte dele até gostava da rapariga. Mas no fundo, bem lá no fundo, Jules sabia que só se estava a enganar a ele próprio e à ex-namorada.


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Michelle Palmer 


Inicialmente, Michelle ficou muito chocada com a atitude dele e armou um escândalo em frente de toda a escola. Jules manteve a sua serenidade e boa disposição, já que estava preparado para essa eventualidade. Mais importante do que tudo isso, fora a sensação de alívio que sentiu no seu peito. Sabia que estava a agir de forma correcta ao terminar a relação. Seguindo o conselho do pai, ele deslocou-se à florista local, onde comprou um bonito ramo de antúrios brancos. Em seguida, mandou entregar o ramo na loja de ferragens da mãe de Michelle, Laura Palmer.

Esse gesto nobre e delicado caiu bem na família de Michelle, que considerou o rapaz ajuizado e maduro. Ele não chegou a explicar ao certo qual o motivo pelo qual queria terminar o namoro, mas Laura começou a espalhar o boato de que Jules tinha terminado o mesmo devido à pressão dos pais em relação aos estudos. 

Depois de acabar o namoro com Michelle, Jules passou a andar descalço. Esta atitude causou muita estranheza entre os colegas do liceu e os habitantes de Grace Falls, que encararam aquilo como uma atitude de aproximação à família de Matoskah. Alguns começaram a levar aquilo para a brincadeira, outros achavam que Jules estava a insultar a cultura indígena. As opiniões e críticas não tardaram a multiplicar-se! Uns eram a favor, outros eram contra! Não tardou muito para que toda a cidade soubesse que Jules andava descalço, embora não percebessem qual a sua intenção! Quando questionado, Jules argumentava que andar descalço fazia bem à saúde, com um sorriso no rosto! Inicialmente Jules praguejou para consigo mesmo! Andar descalço não era nada fácil!


*17 de Outubro de 2016*


O fim-de-semana chegou e Jules foi assistir à cerimónia que o Mayor Charles preparou, com toda a pompa e circunstância, no Hall da Câmara de Grace Falls. O Mayor Charles era uma velha raposa no campo da política. Ele governava a cidade há mais de 30 anos. Charles era um homem careca. Para disfarçar, usava um capachinho, numa tentativa desesperada de parecer mais jovem. Só que o resultado era precisamente o oposto! 

Baixo e com uma barriga proeminente, ele andava sempre com uma camisa aos quadrados e calças de fazenda, seguradas por suspensórios vermelhos. Quando o relógio deu as doze badaladas na igreja, uma carrinha pick-up estacionou em frente do edifício da Câmara. De lá saíram 4 pessoas: Matoskah, Takoda e os pais de ambos.

Uma data de jornalistas aguardava pela chegada deles. Flashes, várias pessoas a falarem ao mesmo tempo…. Estava montado um circo mediático, com muitos habitantes da cidade a tentarem aproximar-se. Queriam cumprimentar Matoskah e o irmão, numa tentativa de ficarem numa fotografia que sairia no jornal do dia seguinte ou de aparecerem na reportagem da televisão sobre o acontecimento.   

Jules estava a observá-los por detrás de uma moita. Conhecendo Matoskah, era muito pouco provável que este aceitasse ir à cerimónia. Assim, qual foi o espanto do rapaz quando viu Matoskah e o resto da família vestidos com roupas de cerimónia, embora estivessem descalços! Uma voz zangada interpelou-o:

- Que estás tu a fazer aí escondido, Jules?

Dando um pinote e virando-se surpreendido, Jules deu de caras com o pai. Eddie olhava para o filho com ar pouco simpático.

- Não foram estas as maneiras que eu e a tua mãe te ensinamos, Jules! O que vem a ser isto?

- Bom… Eu não sabia se o Matoskah e a família dele vinham à cerimónia, sabes? Foi por isso que…

- Ficaste escondido só por causa disso? Acho que andar descalço não te anda a fazer mal aos pés, mas sim à cabeça! Vá, à minha frente! Quero conhecer estes fulanos! Hoje é o dia perfeito para conseguir publicidade gratuita para a minha empresa! Vamos!

Eddie agarrou o filho pela mão e aproximou-se dos jornalistas e da restante população. Quando os jornalistas viram de quem se tratava, logo correram para entrevistar Eddie, que se mostrou muito solícito e bem-disposto.

- Eu ainda não tive a honra de conhecer os senhores… - começou ele, aproximando-se de Matoskah e da família deste. - Eu sou Eddie Sullivan, Gestor da empresa GraceTech! O vosso filho mais velho foi colocado na mesma turma que o meu… - comentou, puxando Jules para a beira dele. - Não é, filho?

Matoskah olhou para Jules com um ar sério. De repente, sorriu e acenou com a cabeça. Takoda, o irmão mais novo de Matoskah, sorriu timidamente para as câmaras e escondeu-se atrás do irmão. Tinha um ar amoroso! Os pais de Matoskah e Takoda sorriram e aproximaram-se de Eddie e Jules, cumprimentando-os com reverência.

- Então tu é que és o Jules! Muito prazer! Eu sou o Chayton! Esta é a minha esposa e mulher dos meus filhos, Shappa! Os nossos filhos são o Matoskah e o Takoda!


James Chayton


Chayton ainda era um homem novo. Não devia ter mais do que quarenta anos. Alto, forte, tinha cabelos pretos, lisos, enormes! Os cabelos iam quase até ao fundo das costas! Tinha olhos esverdeados e a mesma expressão fogosa que Jules já reconhecia em Matoskah. A sua pele era dourada pelo sol e tinha um físico invejável. Matoskah tinha a quem sair! 



Shappa Chayton


Shappa era um pouco mais nova que o marido. Ela era alta, mas muito mais magra que o marido. Tinha cabelos em tons férreos e um ar bastante feminino. Ela sorriu-lhe abertamente e Jules corou: Shappa ficava bem voluptuosa e sensual naquele vestido de cerimónia! Takoda aproximou-se de Eddie e fez-lhe uma vénia. O pai de Jules ficou admirado perante a atitude do rapazinho e ajoelhando-se, afirmou:

- Não sabia que vocês eram tão educados! Já faz muito tempo que ninguém me tratava com tanta consideração! É um prazer conhecer-te, Takeda!

- Não é Takeda! É Takoda, senhor!  - respondeu o miúdo, com um sorriso genuíno.

Os jornalistas suspiraram um “Ooohhhh!”, enternecidos. Por instantes ninguém falou, enquanto Takoda se aproximou de Eddie e o abraçou. Os jornalistas rapidamente enveredaram por aquele caminho e encheram o rapazinho de perguntas.


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Takoda Chayton


Ele lá foi respondendo, com um sorriso contagiante, provocando gargalhadas aqui e ali. Takoda era um rapaz de longos cabelos castanhos-escuros e olhos azuis. Tinha 9 anos e estava a adorar toda aquela atenção.

Quando viu que os seus convidados já tinham saboreado alguns minutos de fama, o Mayor Charles interrompeu aquele mediatismo e depois de se apresentar aos novos heróis da cidade, convidou-os a entrarem na Câmara. A cerimónia iria ser privada. Apenas para as maiores figuras da cidade poderiam entrar, embora fosse aberta aos jornalistas.

- Excelente! Isto vai dar muito boa publicidade! - murmurou Eddie para si mesmo, esfregando as mãos de contente.

A cerimónia em si foi muito rápida. O Mayor Charles entregou uma Chave da Cidade a cada um dos rapazes e dois cheques de compras em lojas da região. Depois disso seguiu-se uma sessão de fotos com as maiores figuras da cidade. A dona do banco, Joanne Olsen, encontrava-se entre os presentes.

- Olá bom dia! Eu sou a Doutora Joanne Olsen, directora do banco! Você pode-me tratar por Joanne! Os seus filhos ainda não foram lá ao banco para abrirem as contas, conforme eu lhes falei no outro dia… - comentou ela com Chayton. - Felizmente, trago aqui a papelada comigo, basta eles assinarem!

Chayton pegou nos contratos que Joanne lhe entregou e afastou-se com eles em silêncio, encostando-se a um pilar em frente de uma janela a ler. Estranhando aquela atitude, Joanne aproximou-se de Eddie e cochichou:

- Mas que raios? Então eu venho dar duas contas recheadas aos miúdos e o pai afasta-se com os papéis assim? E logo sem me dizer nada?

- Segundo sei, o pai dos miúdos é advogado de uma das maiores companhias do país, Joanne… Eu, se fosse a ti, não me armava em esperta com estes! Eles podem ser índios, mas não são burros! Além disso, sei de fonte segura que tanto ele como a esposa têm boas ligações com o Senador Tieman! - sussurrou Sullivan.

- Com o Tieman? Ó diabo! Tu tens a certeza disso, Eddie? Por essa é que eu não estava à espera… Ainda bem que me avisaste…. Felizmente que aqueles contratos são de boa fé…

- Pois, pois… De boa-fé anda o Inferno cheio… Ah ah ah ah! - rematou Sullivan, enquanto Chayton regressava para junto de Joanne, com ar satisfeito.

- Desculpe-me a indelicadeza, doutora Olsen. Eu sou advogado e sabe como é…! Para mim, já se tornou um hábito ler detalhadamente os papéis que me passam pelas mãos! Parece estar tudo em ordem! Matoskah! Takoda! Venham aqui, se fazem favor!

Os filhos aproximaram-se junto com a mãe. Todos se apresentaram a Joanne e pouco depois assinaram os papéis, com Shappa a agradecer imenso aquele gesto.

- Ora essa! Se não fossem os seus filhos, teríamos um prejuízo bastante grande! Sabe, as poupanças de muitas vidas de Grace Falls estão nos cofres do banco! Se aquele dinheiro nos fosse roubado, seria uma catástrofe!

Jules aproximou-se de Matoskah e fez-lhe sinal para irem para junto de uma das janelas apanhar ar.

- Francamente, já estou farto disto! Mas que grande seca! - comentou Matoskah. - Estou mortinho por tirar estas roupas!

- Se queres que te diga, eu também… Não me importava de ficar todo nu… - desabafou Jules, sem pensar.

- A sério? E o que te impede? - perguntou Matoskah, divertido.
  
- Ora! Vou mostrar-me aqui? Com tanta gente a ver? E tu, não te colocas nu agora porquê? - ripostou Jules, corado que nem um tomate.

Matoskah fechou os olhos, com ar satisfeito.

- Por respeito à minha família, principalmente. Não gosto destas cerimónias, sabes? Estas pessoas adorariam que eu tirasse a roupa toda aqui. Que me comportasse como um selvagem. Essa é a ideia que eles têm de mim, dos meus pais e do meu irmão. Mas eu não vou fazer isso! Eu honro o meu corpo. Ele não é para ser exibido para qualquer um…


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Matoskah Chayton


Jules não esperava por uma resposta daquelas. Baixou a cabeça e corou ainda mais, à medida que pensamentos cada vez mais ousados invadiam-lhe o cérebro. Imaginar o Matoskah todo nu, no riacho onde se tinham conhecido… Que visão maravilhosa! Abanando a cabeça com veemência para afastar aqueles pensamentos, ele pigarreou. Desatou a tossir para disfarçar o embaraço e ter oportunidade de disfarçar o alto que surgia nas suas calças.

Quando se acalmou, Matoskah já não estava ali. Estava bem no fundo do salão, a tirar fotografias com o irmão. Takoda estava particularmente feliz. Os pais deles estavam a conversar com o pai de Jules, que se mostrava bastante satisfeito e ria alto. Sem saber o que fazer, Jules decidiu ir para junto do pai, sendo interpelado por alguns jornalistas, que se haviam apercebido da sua proximidade com Matoskah. Depois de responder às questões, sendo que algumas foram um pouco maliciosas, Jules tocou no ombro do pai.

- Vamos indo, pai? Estou um pouco cansado e tenho de estudar para um teste que tenho na segunda-feira…   

Os pais de Matoskah e Takoda aproveitaram aquela deixa para também eles pegarem nos filhos e irem-se embora sem parecer mal. A cerimónia chegou assim ao fim.

- Até que são umas pessoas educadas e inteligentes. Gostei da forma como o Chayton se desembaraçou das pessoas. Quanto menos conversa derem a esta cambada de abutres, melhor para eles! - comentou Eddie Sullivan, quando entraram no carro e seguiram para casa.

Jules ficou admirado por escutar o pai falar assim.

- Possa pai, são os nossos vizinhos! Pensei que te davas bem com toda a gente aqui na cidade!

Eddie riu-se.

- Mas eu dou-me bem com eles, filho! Só que, como diz o ditado… “amigos, amigos, negócios à parte”! Não são estas pessoas que te pagam os luxos! Nem a ti, nem à tua mãe, nem à tua irmã! E por falar em luxos, sempre queres o que falamos de prenda de anos?   

- Estás mesmo a falar a sério, pai? Vais mesmo dar-me aquilo? - perguntou Jules, com os olhos brilhantes de excitação.

- Sabes que eu posso ser um pouco duro contigo às vezes, mas o que é que eu te digo sempre? Nada se consegue sem esforço! Tu tens-te mantido no quadro de honra do liceu e espero que assim continues! Eu vou dar-te, sim!

- Ó pai! És o melhor pai do mundo! - exclamou Jules, abraçando-se ao pai de forma demasiado entusiástica.

- Se eu não te conhecesse… Até pensava que eras gay, Jules… - retorquiu o Eddie, afastando o filho com um safanão, rindo-se divertido.


[Continua...]

24 junho 2020

Seis anos

O meu S. João nunca mais foi o mesmo... Nada voltou a ser a mesma coisa...

Se fosse vivo, o meu irmão estaria hoje com 29 anos.

Existem momentos na vida que nos marcam profundamente. Perder o meu único irmão foi um dos meus. Uma das minha maiores dúvidas é como será que a vida seria se isto não tivesse contecido. O que teria mudado? O que voltaria a acontecer? As questões são muitas, talvez porque a indignação e o sentimento de perda, que deu lugar à saudade, sempre estejam presentes.

Com o passar dos anos, a dor atenua-se, transforam-se e por vezes ainda se consegue rir, enquanto se recorda algum momento ou peripécia que vivi com ele. Noutras ocasiões, como o dia de hoje, a tristeza e a melancolia invadem-me.

Gostava que as coisas tivessem seguido um rumo bem diferente.


Nuno Fadário - 26/02/1991 ~ 24/06/2014



P.S. - A missa de homenagem a ele foi este ano especial. Além da igreja estar mais luminosa e bonita do que me recorde, a missa teve a co-participação de um padre com, nada mais, nada menos, 104 anos!

23 junho 2020

Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 2


Capítulo 2



*12 de Outubro de 2016*

- Coloco o jantar na mesa, senhor Sullivan?

Eddie Sullivan era um homem dos seus cinquenta e muitos anos. Ele era de estatura média, bem constituído. Tinha cabelos cor de palha e olhos esverdeados. Gestor de uma empresa que fornecia material tecnológico para todo o país, Eddie era uma das pessoas mais influentes da cidade de Grace Falls.



Edward Sullivan, conhecido por Eddie Sullivan, é o gestor de uma empresa tecnológica chamada GraceTech!


- Pode colocar sim, Maurice. Já liguei para o meu filho uma data de vezes, mas o telemóvel dele está desligado. Espero que ele apareça depressa! - respondeu o senhor Sullivan, com brusquidão.


Maurice é a governanta da família Sullivan.


Maurice fez-lhe uma vénia e deslocou-se à cozinha para trazer o jantar. Ela era uma senhora de meia-idade, que tinha vindo trabalhar para a família Sullivan ainda Jules não era nascido. Ela era de média estatura e tinha muitos cabelos grisalhos por entre os seus longos cabelos pretos, amarrados num carrapito no alto da cabeça. Boa pessoa e muito trabalhadora, toda a família Sullivan gostava muito dela. Depois de colocar o ensopado de borrego na mesa, o senhor Sullivan declarou:

- Por hoje é tudo, Maurice! Pode deixar que eu mando o meu filho arrumar a mesa depois, como castigo por não estar em casa a horas para jantar. Pode ir!

- Tem a certeza, senhor?

A porta de entrada abriu-se. Jules entrou com ar melindrado, ao aperceber-se de que o pai já se encontrava em casa. Pousou a mochila no hall de entrada e foi ter com o pai à sala de jantar.

- Jules, tu já viste que horas são? São quase nove da noite! - resmungou o pai, enquanto Jules lhe dava um beijo e este retribuía.

- Desculpa pai, estive com a Michelle… - desculpou-se Jules, com ar atrapalhado.

- Vá, vai lá lavar as mãos e anda para a mesa. Falamos depois!

Jules despediu-se de Maurice, que lhe fez uma festa nos cabelos. Ela pegou nas suas coisas e foi-se embora para casa. Jules foi à casa de banho e passados alguns minutos, sentou-se à mesa junto do pai. Este tinha ligado a televisão pois o noticiário estava prestes a começar. Duas caras sorridentes - uma mulher e um homem - surgiram no ecrã e apresentaram-se:


Dois dos pivôs da GFNews: Cher Sales e Mitch Ohlman! 

- “Olá, caros telespectadores! Boa noite! Eu sou a Cher Salles! 

- Olá, boa noite! Eu sou o Mitch Ohlman! Esta é a emissão das 21 horas do GFNews!

Cher era uma mulher loira de cabelos compridos, que lhe davam pelo meio das costas. Tinha olhos esverdeados e um rosto cativante para ficar à frente das câmaras da televisão. Pigarreando, ela anunciou:

- “Nas notícias de hoje: Father Simon completa hoje dois meses como nosso Reverendo aqui na cidade! Toda a população de Grace Falls está muito satisfeita com o trabalho de Father Simon, que demonstra ser um Reverendo muito amigável e preocupado com o bem-estar da comunidade. Numa entrevista que passaremos depois das notícias, fiquem a conhecer um pouco mais da vida de Father Simon!

Já Mitch era um homem bastante atraente! Alto, bem constituído, com cabelo curto, olhos escuros e um pouco de barba. Ao sorrir para a câmara, Mitch comentou:

- “É verdade! O nosso Reverendo já teve alguns episódios bastante interessantes na sua vida, que decidiu partilhar connosco! Por isso não percam, em exclusivo para a GFNews, a primeira grande entrevista de Father Simon! Entretanto, a nossa próxima história parece digna de um filme, não é, Cher?

Mitch e Cher riram-se um pouco, mostrando estar à-vontade em frente das câmaras.

- “Assim é, Mitch! Durante a tarde de hoje, 4 assaltantes tentaram roubar o banco de Grace Falls, o Millennium Eagle Bank! O que eles não estavam à espera era da inesperada e eficaz acção de dois jovens que impediram o assalto! O banco foi salvo por dois índios!

Jules estava a comer a sopa e quando escutou Mitch, engasgou-se! O pai olhou para ele, indignado:

- O que se passa?

Atrapalhado, Jules bateu com a mão no peito e bebeu um pouco de água, começando a tossir! O pai dele levantou-se e aplicou-lhe algumas palmadas nas costas, enquanto na televisão, Mitch prosseguia:

- “Vamos em directo para o Millennium Eagle Bank, onde a nossa repórter, Kelly Lars, já se encontra com a dona do banco, Joanne Olsen.


A jornalista Kelly Lars e banqueira Joanne Olsen!


- “Olá senhores telespectadores, boa noite! Estamos em directo do Millennium Eagle Bank, onde esta tarde, um bando de quatro homens encapuzados entrou com intenção de assaltar o banco, pouco antes da hora do fecho. Diga-nos, Joanne, como é que tudo aconteceu?

Uma senhora de meia-idade, sorriu para a repórter e relatou:

- “Boa noite, Kelly! Olhe, foi tudo tão rápido! O assalto deu-se a dez minutos da hora do fecho do banco para os clientes. Um bando de quatro homens irrompeu com violência pelo banco, ameaçando funcionários e clientes. Queriam todo o dinheiro que tínhamos nas caixas. Entre as pessoas que estavam cá dentro, estavam dois irmãos índios. O mais novo correu para a rua e furou os pneus do carro dos bandidos! Depois disso, ele desatou a gritar que o banco estava a ser assaltado e que alguém chamasse a polícia. O irmão mais velho deixou-se estar deitado no chão como estávamos todos nós. Quando se apercebeu de que os ladrões estavam a ficar desorientados, porque o irmão havia dado o alerta e tinha furado todos os pneus do carro da fuga, o rapaz mais velho lançou-se como um urso sobre os bandidos e com meia dúzia de golpes, conseguiu imobilizá-los, até à chegada da polícia!

- “Não vemos disso todos os dias!” - comentou a repórter, surpreendida.

- “Tem toda a razão! Em nome do banco, eu quero agradecer novamente aos jovens Matoskah e Takoda! Nós vamos abrir uma conta-poupança no valor de cinco mil dólares para cada um deles! Passem cá no banco quando quiserem!

A câmara voltou-se para a repórter, que rematou:

- “Entretanto, os novos heróis de Grace Falls serão condecorados pelo Mayor Charles no próximo sábado, numa cerimónia a decorrer na Câmara Municipal de Grace Falls, às 12 horas!

A emissão voltou ao estúdio, onde Mitch comentou:

- “Uma cena digna de um filme de índios e cowboys! Ah ah ah!

- “E onde não faltou acção! Ih ih ih!” - gracejou Cher.

Mitch pigarreou e falou num tom mais sério:

- “A GFNews já tentou chegar à fala com os dois jovens, que se mudaram há pouco tempo para a nossa cidade, sendo que até agora a tarefa se mostrou impossível, uma vez que nenhum dos jovens, nem mesmo os pais deles, se mostraram disponíveis para fazer qualquer declaração.

Jules estava abismado a olhar para a televisão! Então fora isso que acontecera com Matoskah depois do final das aulas! O pai de Jules perguntou:

- Tu conheces o… Como é que é mesmo? Matosak?

- Matoskah, pai! Sim, eu conheço-o! O Matoskah é meu colega de turma. E é muito bom aluno…

- Qual o apelido dele?

- Hummmm… Não sei… Nunca perguntei…

- Grunf! A miudagem de hoje em dia nunca sabe nada! É incrível! - resmungou Eddie.

- Sei que o pai dele é advogado e que se chama Chayton… - suspirou Jules, baixando a cabeça.

- Chayton? Estás a falar do James Chayton? Já ouvi falar muito dele! É amigo do Senador Tieman! Esse advogado trabalha para uma das maiores companhias de advogados do país! Ó Jules! Então tu tens um colega dessa envergadura e ainda não o trouxeste cá a casa porquê?

- Ó pai, não sabia que tu estavas interessado em conhecer os meus colegas…

- Esse não é um colega qualquer! Tudo bem que ele não é como nós! Ele é um índio e eles lá têm os seus costumes. Segundo ouvi dizer, esse Chayton anda sempre descalço! - comentou Sullivan, rindo-se em seguida.

- Sim… O Matoskah também anda… E eu estou a pensar experimentar… - respondeu Jules, sorrindo um pouco envergonhado.

- Se com isso ficares mais próximo desse rapaz, por mim… Já fizeste asneiras bem piores… - gracejou Sullivan, sarcástico.

- Tu queres que eu traga o Matoskah cá a casa, pai? Para um jantar?

- Claro que sim! Quero conhecê-lo a ele, quero conhecer o irmãozinho dele! Agora que são heróis, será boa publicidade para a minha empresa!

Jules suspirou aliviado. Ele queria levar Matoskah a sua casa, mas receava que o pai reprovasse a atitude.

- Disseste que esse miúdo é um bom aluno?

- Neste momento, eu e o Matoskah somos os melhores alunos da turma…

- Então tens mais um motivo para o trazer cá a casa! Vocês podiam estudar juntos! Espero sinceramente que tu melhores mais as tuas notas. Afinal seres o melhor da turma e teres um índio ao mesmo nível do que tu…! Bom, deixa a tua mãe regressar da tournée que depois combinamos um jantar com a família do teu colega. Quero mesmo conhecer esses tipos! - declarou Sullivan com ar interessado, enquanto comia o ensopado de borrego.

Jules suspirou, triste.

Era o que ele temia. O pai mostrava claramente o seu preconceito, como aliás, tantas outras pessoas na cidade haviam feito ultimamente. Podia ser que agora, com a história do assalto frustrado ao banco, a família de Matoskah passasse a ser vista com outros olhos.

Remetendo-se ao silêncio, feliz por um lado e triste por outro, Jules comeu o ensopado de borrego. O jantar naquela noite estava delicioso. Perdido em pensamentos sobre o colega indígena, Jules olhava absorto para a televisão. Cher falava, com um ar grave:

- “Continuam as buscas por Christine Bolt, a jovem de 19 anos que desapareceu sem deixar rasto há 3 semanas. A polícia de Grace Falls pede e agradece a todos os cidadãos por qualquer informação sobre Christine. Até agora, todas as buscas revelaram-se infrutíferas. Esta é a última fotografia que a rapariga publicou nas redes sociais, com a legenda: “Perdida na escuridão, há espera de um sinal. Só escuto a voz do silêncio...”. Qualquer informação que os senhores telespectadores possam ter, é favor de a comunicarem ao posto de Polícia mais próximo ou através do telefone: 605-106-549. Obrigado!


Antes de desaparecer misteriosamente, Christine Bolt deixa uma mensagem enigmática:
“Perdida na escuridão, há espera de um sinal. Só escuto a voz do silêncio...”


Jules voltou a engasgar-se, desta vez com violência, ao escutar a notícia e ao ver a fotografia de Christine na televisão. Ele e Christine tinham tido um relacionamento, meses atrás. Um dia, sem que nada o fizesse prever, Christine decidira acabar tudo com ele e inclusive, deixou de lhe falar. Jules tentara saber o motivo para Christine ter acabado com ele, mas perante os constantes silêncios dela, ele acabara por desistir e seguir em frente. Fora nessa altura que Jules começara a namorar com Michelle. Eddie desligou a televisão, bebeu um pouco de vinho e comentou:

- Vocês hoje em dia não sabem lidar com a vida. Basta surgir uma pedra maior no vosso caminho, que logo vocês fogem de casa, em vez de enfrentarem os problemas. Esta miúda provavelmente fugiu para outro Estado e agora anda por aí, perdida…

- Não sei pai, não sei… - respondeu Jules, perturbado. - A Christine é uma rapariga forte e decidida. Não me parece, do que conheço dela, que ela seja do género de pessoas que fogem dos problemas.

- Então e tu e a Michelle? Esse namoro é para valer ou já te fartaste, como todas as outras miúdas antes dela? - perguntou Eddie Sullivan, com um sorriso.

Jules corou. Envergonhado, baixou os olhos para o prato e comentou:

- Conheces-me bem, não é pai? Pois…. Acho que o namoro já deu o que tinha a dar…. Quero ver se acabo tudo com ela até aos meus anos…

- Ela é filha da senhorita Palmer, não é? Vê lá se lhe envias um ramo de flores quando fizeres isso! Não quero histerismos à nossa porta!

- Combinado! - rematou Jules, pedindo licença para sair da mesa e começando a levar a loiça para a cozinha.

- Tens o teu telemóvel desligado, Jules. Vê lá se não te esqueces de o pôr a carregar. Liguei-te quando cheguei a casa para saber onde estavas e essa porcaria estava desligada.

- Desculpa, pai! Vou já colocar a carregar! Pronto, satisfeito? - retorquiu Jules, colocando o telemóvel a carregar na mesinha ao lado do sofá da sala.

Eddie Sullivan levantou-se da mesa e anunciou:

- Vou tomar um café ao Rochest Bar. Acaba de levantar a mesa, lava a loiça, toma um banho quente e vai dormir. O tempo começa a arrefecer, vou pedir à Maurice que mude a roupa de cama para a roupa de Inverno. Até amanhã!

- Está bom, pai! Diverte-te! Até logo! - respondeu Jules, com um aceno, enquanto o pai saía porta fora.

Passado uma hora, Jules encontrava-se sentado à janela a observar as estrelas, enquanto a banheira da casa de banho do quarto dele se enchia de água. Ele enrolou um charro enquanto pensava em Christine e no fim do seu namoro com Michelle.

Foi até à banheira e fechou a torneira.

Despiu-se.

Regressou à janela e ligou o sistema de som, sentando-se no parapeito a fumar.

O sistema de som começou a tocar uma música.




Estou a sentir-me grosseiro, estou a sentir-me vivo
Estou no auge da minha vida!
Vamos fazer alguma música, conseguir algum dinheiro
Encontrar algumas modelos para esposas!
Vou mudar-me para Paris, espetar heroína e foder as estrelas
Tu tomas conta da ilha da cocaína e dos carros elegantes!

Essa é a nossa decisão: viver rápido e morrer jovem!
Nós tivemos a visão, agora vamos ter alguma diversão!
Sim, é esmagador, mas o que mais poderemos fazer?
Conseguir empregos em escritórios,
E acordar diariamente pela manhã?

Esquece tudo sobre os nossos irmãos e amigos!
Nós estamos destinados a fingir…
Fingir!
Estamos destinados a fingir!

Fingir!
Estamos destinados a fingir!

Sentirei falta das idas aos parques, dos animais e de cavar minhocas!
Sentirei falta do conforto da minha mãe, do peso do mundo!
Sentirei falta da minha irmã, do meu pai, do meu cão e do meu lar!
Sim, sentirei falta do tédio, da liberdade,
E do tempo passado sozinho!

Mas não há realmente nada, nada que possamos fazer:
O amor deve ser esquecido!
A vida pode sempre recomeçar novamente!
As modelos terão filhos, nos divorciaremos!
Encontraremos mais modelos, tudo deve correr no seu curso!

Engasgar-nos-emos no nosso próprio vómito
E esse será o fim!
Estamos destinados a fingir!

Fingir!
Estamos destinados a fingir!

Fingir!
Yeah yeah yeah!


Jules aproximou-se da secretária onde estudava e pegou num x-acto. Acabou de fumar o charro e foi para a banheira, onde gemeu de prazer ao sentir o agradável calor da água a tocar o seu corpo frio por estar totalmente despido há já algum tempo. Olhou para os pulsos, onde alguns pequenos cortes ardiam em contacto com a água quente. Trauteando a música, Jules fez um pequeno corte no pulso esquerdo, enquanto chorava e suspirava:




- Estou cansado de fingir…
[Continua...]

22 junho 2020

Good Boys

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Good Boys [Tudo Bons Meninos] [2019] foi um dos filmes que assisti no fim de semana.


Sinopse:

3 rapazes procuram alcançar o "sonho" de se tornarem meninos populares. Depois de serem convidados para uma festa onde só entram os mais "in" da escola, eles são confrontados com uma "terrível" novidade: a festa a que vão é uma "festa do beijo". O problema? Nenhum deles sabe beijar...


Eis um trailer:




A minha opinião:


Esta é uma comédia protagonizada por miúdos mas, definitivamente, é um filme para adultos! O trailer já vos deixa com uma ideia do que podem contar - um filme cheio de cenas politicamente incorrectas, mas protagonizadas de forma bem original e divertida por estes três rapazes. 


Aqui os miúdos partem numa viagem repleta de peripécias, rumo ao "Mundo" que começa a aflorar neles - estão a entrar na adolescência, começam a interessar-se por raparigas, querem dar o primeiro beijo, surge o primeiro amor - ao mesmo tempo que procuram manter a inocência [vamos ser amigos para sempre!]. 


O enredo é original e bastante simples, na verdade. A aventura é que faz toda a diferença, tornando uma coisa tão simples em algo bastante divertido e que nos faz dar algumas boas gargalhadas! Pelo meio o filme passa-nos algumas lições de vida, sobre o que significa deixar de ser criança, crescer, o valor das amizades e por aí fora.


A imagem e a música estão muito boas. Os ângulos de câmara também são muito bons e o desempenho dos rapazes está bastante convincente. É um filme divertido, com semelhanças com outros filmes dos mesmos realizadores e com um final um pouco inesperado.


Nota Final João: 8,8/10

21 junho 2020

Gretel & Hansel



Gretel & Hansel [Maria e João: O Conto de Bruxas] [2020] é a proposta que vou abordar hoje.


Sinopse:


Esta é mais uma versão da famosa história dos Irmãos Grimm, que nos conta a aventura de dois irmãos que se perdem numa floresta e encontram um abrigo... Nesta casa vive uma bruxa que os alimenta bem, com um objectivo muito peculiar... No entanto, nesta trama, o objectivo é diferente daquele que vocês conhecem! [Se conhecerem a história original].


Eis um trailer:





A minha opinião:


O filme tem um excelente trabalho de câmaras, som, música, luzes. A cenografia é muito boa também, convencendo-nos de que realmente estamos dentro de uma casa de uma bruxa numa floresta qualquer.

Já a trama em si, infelizmente desenrola-se de uma forma muito vagarosa. Graças à sua escuridão e beleza, o filme tem potencial para muito mais, até pela lufada de ar fresco no argumento. No entanto, a forma como tudo se desenvolve leva-nos a desejar que o filme termine rápido...

Os momentos finais do filme acabam por se revelar inesperados e totalmente anti-clímax. Este é um filme que deixa muito a desejar.

 
Nota Final João: 6,3/10

20 junho 2020

R.I.P. Pedro Lima

Foi com choque que soube da morte do actor Pedro Lima. Ao que tudo indica, ele suicidou-se hoje de manhã, instantes depois de mandar mensagem a dois amigos a despedir-se... Ao que tudo indica o actor estava com uma profunda depressão.

Este é um momento muito triste para a Cultura portuguesa.

Ele era um grande actor e do que conhecia dele, um homem de grande carácter, bastante sensível a causas e a ajudar as outras pessoas.

Muita paz, muita luz para esta alma que certamente estava perdida há já algum tempo. A depressão é algo muito sério.


Pedro Lima num dos seus papéis mais populares, o Tristão, na telenovela "Espírito Indomável".



Pedro Lima
 20/04/1971 ~ 20/06/2020



The Boys [1ª Temporada]

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The Boys [1ª Temporada] [2019] é uma série da Amazon.


Sinopse:


Um grupo de homens decide fazer justiça pelas suas próprias mãos, quando um Super Herói mata, por acidente [a sério?] a namorada de um deles.


Eis um trailer:




A minha opinião:


Esta é daquelas séries que definitivamente, toda a gente devia assistir.

A série é uma grande crítica à nossa sociedade, mostrando que perdemos os Valores reais, prestando "vassalagem" a falsos "deuses", como os Super-Heróis desta série. Esta série está repleta de episódios com alguma violência explícita, alguma nudez [já abordarei isto mais abaixo!], entre outros aspectos que tornam a série bem mais realística do que podíamos imaginar. 

Nesta história, existem pessoas que nascem com poderes super-humanos. É uma espécie de crítica e sátira aos heróis da Marvel e da DC. Aqui, esses "privilegiados" são adorados pelo povo norte-americano. 

Apesar disso, o Mundo não é a utopia que vemos nos filmes de super-heróis. Aqui, os heróis - denominados "Os Sete" são pagos, vendem produtos de merchandising, fazem acções de propaganda e até se metem na política e na religião. Eles são, no fundo, produtos de Marketing criados por uma empresa que trabalha com eles e que os ajuda a crescer e a fazer cada vez mais dinheiro.    

Este é, aliás, um dos temas centrais da 1ª Temporada - as tentativas da Vought, a empresa que contrata os Super-Heróis, de se infiltrar e expandir ainda mais a sua já vasta influência na sociedade norte-americana.

Cada um dos Sete tem as suas motivações pessoais, sendo que, na sua maioria, não passam de pessoas mesquinhas e gananciosas, que fazem as coisas que fazem por interesses pessoais. De todos eles, o pior será o Homelander, uma clara alusão ao Capitão América, que tem tanto de herói como de vilão. 


Por outro lado, é curioso de ver como as histórias dos Super Sete se vão desenvolvendo: o Profundo [uma alusão ao Aquaman, interpretado pelo Chace Crawford] [para mim a melhor aquisição da série para já], costuma fazer heroísmos ligados à Natureza e ao meio subaquático, embora logo ao início ele faça merda da grossa. É curioso de ver como o personagem se desenvolve, passando de Bestial a Besta. Mas, mais ainda, fiquei curioso para ver o que vai acontecer com ele, visto que no final ele decide mudar radicalmente. 
 
E já que estou a falar nele, vejam só as fotos que foram enviadas na altura em que se anunciou esta série:


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 Chace Crawford no seu melhor!!


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A isto é o que se chama "dar o corpo ao manifesto"! [risos]

Estas foram fotografias oficiais da série! Fotos cedidas pelo jornalista @evanrosskatz


Do ponto de vista do enredo, ele está muito bem concebido, assim como a actuação dos actores - embora alguns fiquem aquém do esperado. 


No que diz respeito à qualidade de som e imagem, a série está excelente, com planos muito bem delineados. Nada foi colocado ao acaso, até porque o orçamento da série não era muito. Os poderes dos Super Sete são pouco usados, mas isso não se torna um problema, bem pelo contrário! Com essa ausência, os dramas são mais centrados nas histórias dos personagens e nos seus próprios dilemas e angústias. 

Estes Super Heróis nada mais são do que pessoas como todos nós, com poder a mais nas mãos e a abusarem [pelo menos a maioria deles] desses poderes. Numa altura em que impera o Policamente Correcto, esta série é um bálsamo de Policamente Incorrecto!

 
Estou desejoso de ver a continuação da história, [talvez lancem em 2021], principalmente porque deixaram o final da 1ª Temporada num verdadeiro clímax! 


Nota Final João: 10/10

19 junho 2020

American Gods [2ª Temporada]



American Gods [2ª Temporada] [2019] é a série que irei abordar hoje.


Sinopse:

A história continua. Para quem não sabe, esta série é sobre um personagem chave, chamado Shadow Moon, que se vê no meio de uma disputa entre Deuses Antigos [como Odin] e os Novos Deuses [como a Internet]. Nesta Temporada, os Deuses Antigos e os Novos Deuses procuram aliados para o grande combate! Quem vencerá a Guerra?!


Eis um trailer:





A minha opinião:


A trama perdeu conteúdo, qualidade, lógica... A lista de problemas que teve ao longo da segunda temporada é extensa. É um dos problemas que muitas séries ganham, quando se tornam vítimas do seu próprio sucesso. Se a trama ficou bem definida ao longo da 1ª Temporada, já nesta as coisas ficam meio aborrecidas e chatas. Tudo se desenvolve com muita "pastelice", o que não ajuda em nada a tornar a história melhor.


O enredo ficou fraco, as personagens e os actores não foram muito condizentes, e existiram mesmo actores que se despediram e outros que deitaram literalmente os argumentos no lixo, tal foi a porcaria dos diálogos.


American Gods tinha muito potencial, mas com a saída dos produtores originais, com as críticas acérrimas do autor da novela com o mesmo nome e no qual a série se inspira e problemas com o orçamento, a trama desenvolveu-se de uma forma confusa e insatisfatória.


Os únicos pontos positivos vão para as temáticas que nos fazem pensar, seja a questão racial - muito abordada nesta temporada, os valores da Humanidade e como as Fake News e uma campanha de Medo nos estão a dominar. Assustador quando percebemos que na vida real seguimos pelo mesmo caminho.     


Custou-me assistir esta 2ª Temporada. Vi-a porque tinha esperanças que até ao final, tudo melhorasse, o que não foi o caso. Já foi anunciado uma 3ª Temporada e acredito que seja a última. 


Esperemos que eles tenham aprendido com os erros.


Nota Final João: 6,2/10

18 junho 2020

Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 1

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Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 1




Quando a cabeça não tem juízo
E te consomes mais do que é preciso
O corpo é que paga
O corpo é que paga
Deix'ó pagar, deix'ó pagar
Se tu estas a gostar...

Deix'ó sofrer, deix'ó sofrer
Se isso te dá prazer...
Deix'ó cantar, deix'ó cantar
Se tu estas a gostar...
Deix'ó beijar, deix'ó beijar
Se tu estas a gostar...



*24 de Setembro de 2016*


O Outono havia começado dias antes. Por todo o lado, as folhas das árvores mudavam de cor. Inúmeros tons entre o castanho, o laranja e o vermelho, começavam a dominar a paisagem. Era uma época mesmo bonita para se viver em Grace Falls.

Jules adorava o Outono. Ele era um rapaz de dezasseis anos. Nascera e crescera naquela cidade, embora ambicionasse um dia pegar nas suas coisas e partir à descoberta do Mundo, tal como haviam feito a sua mãe, Laura, e a sua irmã mais velha, Bianca. Jules era um rapaz igual a tantos outros rapazes da sua idade: alto, bonito, magro, preocupado em vestir-se bem. No fundo, ele pretendia agradar a toda a gente.


Jules Sullivan


No entanto, Jules era bem mais do que isso. Ele era um filho pródigo. Bom aluno, respeitador, educado. Tinha quase sempre as melhores notas do liceu e devido à sua constituição física, era bom aluno em desporto. Com cabelos ruivos e um sorriso maroto, não lhe era nada difícil arranjar namoradas. 

Mas… 

Não era bem isso que ele queria para a vida dele.


Jules adorava o Outono. Ele era um rapaz de dezasseis anos. Nascera e crescera naquela cidade, embora ambicionasse um dia pegar nas suas coisas e partir à descoberta do Mundo, tal como haviam feito a sua mãe, Laura, e a sua irmã mais velha, Bianca. Jules era um rapaz igual a tantos outros rapazes da sua idade: alto, bonito, magro, preocupado em vestir-se bem. No fundo, ele pretendia agradar a toda a gente.


Ao regressar da escola, vindo daquele que fora o seu primeiro dia de aulas do novo ano escolar, Jules decidiu parar pelo caminho. Uma leve melodia ecoava no ar. Era uma melodia triste, melancólica. Uma melodia que Jules poderia descrever como sendo perfeita para aquele final de tarde. Ainda estava um pouco de calor, pelo que ele se sentou no chão, encostado a uma árvore no jardim da sua casa, para tentar averiguar de onde viria a melodia. Cedo compreendeu que ela vinha de algum sítio, mas não ali perto. A melodia não era contínua. O vento é que a trazia até ele. Curioso, ele decidiu partir em busca da melodia. Afinal, ela não podia estar a ser tocada muito longe dali! Decidido, começou a correr, rezando para que a melodia não terminasse antes dele a encontrar. Não demorou a chegar a um dos muitos bosques que existiam em Grace Falls. 

Chegado lá, Jules colocou as mãos nos ouvidos em forma concha e fechou os olhos. Fora a coisa certa a fazer. A melodia vinha de dentro do bosque! Jules sorriu feliz. Agora ele conseguia escutar a música perfeitamente! Entrou na floresta e fechou os olhos. Deixou que os ouvidos o guiassem naquela viagem. 

Ele não tardou a chegar a uma clareira, onde um rapaz tocava uma melodia, em frente de um riacho! Pé ante pé, Jules aproximou-se. Não queria perturbar o rapaz. Ele avançava com cuidado. Não se apercebeu que o terreno ficava mais íngreme e inclinado. Assim, Jules tropeçou, fazendo um grande estardalhaço! O rapaz que tocava a melodia levantou-se, sobressaltado!

- Ai, ai, ai! O meu joelho! - gemeu Jules, agarrando-se ao joelho esquerdo, que sangrava.

- Tu estás bem? Magoaste-te? - perguntou o rapaz, aproximando-se de Jules com um ar preocupado.

- Dói-me o joelho! Ao cair acho que caí mal e dei com ele em alguma pedra! - queixou-se Jules, tentando levantar-se.

- Espera aí! Eu ajudo-te! Vá, coloca-te assim, para eu ver isso! - respondeu o rapaz, com delicadeza.

Ele não parecia zangado por Jules tê-lo interrompido. O rapaz ajudou o Jules a sentar-se e foi ao riacho buscar um pouco de água para limpar a ferida, que afinal não passava de alguns arranhões.

- Não te preocupes! Não é desta que morres…! - respondeu o rapaz, com voz divertida. - Já te limpei os arranhões e agora…

O rapaz levantou-se e afastou-se, como se procurasse algo. Jules queria levantar-se para o acompanhar. O rapaz, que estava de costas para ele, gritou:

- Deixa-te estar aí, quieto! Eu estou à procura de umas folhas que te vão ajudar a aliviar o ardor dos arranhões! Ah, aqui está! Com licença, Mãe Terra! - declarou o rapaz, com ar cerimonial, enquanto retirava gentilmente um bocadinho de uma planta verde com flores laranjas e vermelhas.

Satisfeito, o rapaz regressou para junto de Jules e explicou:

- Vou friccionar o teu joelho com a seiva desta planta. Ela chama-se babosa e é muito boa para cicatrizar arranhões e queimaduras provocadas por fricção.

- Ok… - gemeu Jules, admirado pelo rapaz estar a ajoelhar-se perante ele e esfregar a planta no seu joelho.

Instantes depois, Jules começou a sentir um alívio imenso no ardor! Gemeu levemente e suspirou. A noite não tardaria a chegar. O sol estava-se a pôr, fazendo incidir os seus raios sobre a floresta e sobre os cabelos daquele rapaz que o estava a ajudar.


Jules cruza-se com um misterioso rapaz! Quem será?


Os cabelos do rapaz pareciam uma pira de fogo, tal era o brilho provocado pelos raios do sol naquele momento. Ele tinha uma longa cabeleira castanha-avermelhada. Os seus olhos eram acinzentados, mas com o reflexo daquela luz do entardecer, também eles pareciam flamejar.

Jules recordou-se de algo, ao escutar um sino. Muitas pessoas estavam a mudar-se para Grace Falls, graças à publicidade feita nas televisões, tanto ao ar puro, como à boa qualidade de vida. Aquele rapaz devia ser um dos novos residentes. Jules tinha ouvido qualquer coisa sobre o assunto. Sabia que entre os novos moradores estava uma família de indígenas, mas Jules não aprofundara o assunto. Afinal, ele nunca tivera interesse em coscuvilhar a vida das outras pessoas, ao contrário da maioria da população da cidade.

Grace Falls era uma pequena cidade que, em muitos aspectos, parecia parada no tempo. Rodeada de frondosos carvalhos, as construções eram na sua grande maioria em madeira, numa arquitectura misturada entre o estilo colonial e o vitoriano. As casas remontavam a tempos idos, algumas com vários séculos, aquando da chegada dos peregrinos, na sua maioria, alemães e escoceses.


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Grace Falls

Os edifícios mais recentes já eram construídos em tijolo. Apesar disso, os proprietários exibiam com orgulho placas de pedra gravadas, que datavam os edifícios como sendo dos finais do século XVIII e século XIX. Também existiam os edifícios governativos, restaurados recentemente. Entre eles, estavam a Câmara Municipal e o Banco. Ambos erguiam-se, imponentes, em granito cinzento.     

A população em peso ia aos domingos assistir ao sermão na igreja. A igreja de Grace Falls ficava bem no centro da cidade. Lá faziam-se quermesses e bazares comunitários, com o objectivo de ajudar as pessoas necessitadas, não só da cidade, mas de cidades ao redor. Tingida em cor de salmão, a igreja tinha uma torre enorme, onde se encontrava um dos símbolos turísticos da cidade - um sino, que viera da Europa com os primeiros peregrinos. Aquele era o sino que Jules escutava ao longe.

- Estás bem? Estás a ouvir-me? Hey! - exclamou o rapaz, levantando-se.

- O quê? Hã? Desculpa, estava distraído… - respondeu Jules, preparando-se para se levantar.

- “Distraído a observar-te…” - pensou Jules, rindo-se para si mesmo.

- Estava a dizer que já não deves ter mais dores agora. A pele já absorveu a seiva totalmente. Se quiseres, eu acompanho-te até casa! Já está a anoitecer e mesmo sem esse ardor, vais ter algumas dificuldades em andar, durante um ou dois dias… - observou o rapaz, com um ar amigável.

- Hummm… Obrigado! Eu aceito! - acenou Jules, enquanto o rapaz o ajudava a levantar.

- Vamos lá…! Eu não quero chegar tarde a casa, senão tenho de ouvir da minha mãe! - suspirou o rapaz, sorrindo abertamente. - Já agora… Ainda não nos apresentamos. Eu sou o Matoskah. E tu?

- Matoskah? Então és mesmo um índio! - respondeu Jules com um sorriso. - Quer dizer, eu pensei que fosses um descendente deles ou assim, percebes? Ohmm…! Desculpa, estou a ser um parvo… O meu nome é Jules! - rematou, corado que nem um tomate.

- Tudo bem! Muito prazer, Jules! Podes tratar-me por Matoskah. Acho que será mais fácil assim… - rematou, enquanto dava um forte apertão de mãos a Jules.

- Não me leves a mal, por favor… Não estou habituado a conhecer pessoas como tu! - suspirou Jules.

No seu íntimo, Jules sentia que estava a enterrar-se cada ainda mais.

- Vamos andando, está bem? - respondeu Matoskah, com ar seco.

E assim, Jules e Matoskah desceram a floresta, rumo à cidade. A noite já tinha caído quando Jules entrou em casa. Ao fechar a porta, ele não pôde deixar de reparar em como Matoskah andava. Ele caminhava descalço, com uma passada firme e decidida.   


[Continua...]