26 junho 2020

Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 3


Capítulo 3


*14 de Outubro de 2016*


Nos dias que se seguiram, Jules lá arranjou coragem e acabou tudo com Michelle. Não lhe fora fácil terminar, porque uma parte dele até gostava da rapariga. Mas no fundo, bem lá no fundo, Jules sabia que só se estava a enganar a ele próprio e à ex-namorada.


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Michelle Palmer 


Inicialmente, Michelle ficou muito chocada com a atitude dele e armou um escândalo em frente de toda a escola. Jules manteve a sua serenidade e boa disposição, já que estava preparado para essa eventualidade. Mais importante do que tudo isso, fora a sensação de alívio que sentiu no seu peito. Sabia que estava a agir de forma correcta ao terminar a relação. Seguindo o conselho do pai, ele deslocou-se à florista local, onde comprou um bonito ramo de antúrios brancos. Em seguida, mandou entregar o ramo na loja de ferragens da mãe de Michelle, Laura Palmer.

Esse gesto nobre e delicado caiu bem na família de Michelle, que considerou o rapaz ajuizado e maduro. Ele não chegou a explicar ao certo qual o motivo pelo qual queria terminar o namoro, mas Laura começou a espalhar o boato de que Jules tinha terminado o mesmo devido à pressão dos pais em relação aos estudos. 

Depois de acabar o namoro com Michelle, Jules passou a andar descalço. Esta atitude causou muita estranheza entre os colegas do liceu e os habitantes de Grace Falls, que encararam aquilo como uma atitude de aproximação à família de Matoskah. Alguns começaram a levar aquilo para a brincadeira, outros achavam que Jules estava a insultar a cultura indígena. As opiniões e críticas não tardaram a multiplicar-se! Uns eram a favor, outros eram contra! Não tardou muito para que toda a cidade soubesse que Jules andava descalço, embora não percebessem qual a sua intenção! Quando questionado, Jules argumentava que andar descalço fazia bem à saúde, com um sorriso no rosto! Inicialmente Jules praguejou para consigo mesmo! Andar descalço não era nada fácil!


*17 de Outubro de 2016*


O fim-de-semana chegou e Jules foi assistir à cerimónia que o Mayor Charles preparou, com toda a pompa e circunstância, no Hall da Câmara de Grace Falls. O Mayor Charles era uma velha raposa no campo da política. Ele governava a cidade há mais de 30 anos. Charles era um homem careca. Para disfarçar, usava um capachinho, numa tentativa desesperada de parecer mais jovem. Só que o resultado era precisamente o oposto! 

Baixo e com uma barriga proeminente, ele andava sempre com uma camisa aos quadrados e calças de fazenda, seguradas por suspensórios vermelhos. Quando o relógio deu as doze badaladas na igreja, uma carrinha pick-up estacionou em frente do edifício da Câmara. De lá saíram 4 pessoas: Matoskah, Takoda e os pais de ambos.

Uma data de jornalistas aguardava pela chegada deles. Flashes, várias pessoas a falarem ao mesmo tempo…. Estava montado um circo mediático, com muitos habitantes da cidade a tentarem aproximar-se. Queriam cumprimentar Matoskah e o irmão, numa tentativa de ficarem numa fotografia que sairia no jornal do dia seguinte ou de aparecerem na reportagem da televisão sobre o acontecimento.   

Jules estava a observá-los por detrás de uma moita. Conhecendo Matoskah, era muito pouco provável que este aceitasse ir à cerimónia. Assim, qual foi o espanto do rapaz quando viu Matoskah e o resto da família vestidos com roupas de cerimónia, embora estivessem descalços! Uma voz zangada interpelou-o:

- Que estás tu a fazer aí escondido, Jules?

Dando um pinote e virando-se surpreendido, Jules deu de caras com o pai. Eddie olhava para o filho com ar pouco simpático.

- Não foram estas as maneiras que eu e a tua mãe te ensinamos, Jules! O que vem a ser isto?

- Bom… Eu não sabia se o Matoskah e a família dele vinham à cerimónia, sabes? Foi por isso que…

- Ficaste escondido só por causa disso? Acho que andar descalço não te anda a fazer mal aos pés, mas sim à cabeça! Vá, à minha frente! Quero conhecer estes fulanos! Hoje é o dia perfeito para conseguir publicidade gratuita para a minha empresa! Vamos!

Eddie agarrou o filho pela mão e aproximou-se dos jornalistas e da restante população. Quando os jornalistas viram de quem se tratava, logo correram para entrevistar Eddie, que se mostrou muito solícito e bem-disposto.

- Eu ainda não tive a honra de conhecer os senhores… - começou ele, aproximando-se de Matoskah e da família deste. - Eu sou Eddie Sullivan, Gestor da empresa GraceTech! O vosso filho mais velho foi colocado na mesma turma que o meu… - comentou, puxando Jules para a beira dele. - Não é, filho?

Matoskah olhou para Jules com um ar sério. De repente, sorriu e acenou com a cabeça. Takoda, o irmão mais novo de Matoskah, sorriu timidamente para as câmaras e escondeu-se atrás do irmão. Tinha um ar amoroso! Os pais de Matoskah e Takoda sorriram e aproximaram-se de Eddie e Jules, cumprimentando-os com reverência.

- Então tu é que és o Jules! Muito prazer! Eu sou o Chayton! Esta é a minha esposa e mulher dos meus filhos, Shappa! Os nossos filhos são o Matoskah e o Takoda!


James Chayton


Chayton ainda era um homem novo. Não devia ter mais do que quarenta anos. Alto, forte, tinha cabelos pretos, lisos, enormes! Os cabelos iam quase até ao fundo das costas! Tinha olhos esverdeados e a mesma expressão fogosa que Jules já reconhecia em Matoskah. A sua pele era dourada pelo sol e tinha um físico invejável. Matoskah tinha a quem sair! 



Shappa Chayton


Shappa era um pouco mais nova que o marido. Ela era alta, mas muito mais magra que o marido. Tinha cabelos em tons férreos e um ar bastante feminino. Ela sorriu-lhe abertamente e Jules corou: Shappa ficava bem voluptuosa e sensual naquele vestido de cerimónia! Takoda aproximou-se de Eddie e fez-lhe uma vénia. O pai de Jules ficou admirado perante a atitude do rapazinho e ajoelhando-se, afirmou:

- Não sabia que vocês eram tão educados! Já faz muito tempo que ninguém me tratava com tanta consideração! É um prazer conhecer-te, Takeda!

- Não é Takeda! É Takoda, senhor!  - respondeu o miúdo, com um sorriso genuíno.

Os jornalistas suspiraram um “Ooohhhh!”, enternecidos. Por instantes ninguém falou, enquanto Takoda se aproximou de Eddie e o abraçou. Os jornalistas rapidamente enveredaram por aquele caminho e encheram o rapazinho de perguntas.


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Takoda Chayton


Ele lá foi respondendo, com um sorriso contagiante, provocando gargalhadas aqui e ali. Takoda era um rapaz de longos cabelos castanhos-escuros e olhos azuis. Tinha 9 anos e estava a adorar toda aquela atenção.

Quando viu que os seus convidados já tinham saboreado alguns minutos de fama, o Mayor Charles interrompeu aquele mediatismo e depois de se apresentar aos novos heróis da cidade, convidou-os a entrarem na Câmara. A cerimónia iria ser privada. Apenas para as maiores figuras da cidade poderiam entrar, embora fosse aberta aos jornalistas.

- Excelente! Isto vai dar muito boa publicidade! - murmurou Eddie para si mesmo, esfregando as mãos de contente.

A cerimónia em si foi muito rápida. O Mayor Charles entregou uma Chave da Cidade a cada um dos rapazes e dois cheques de compras em lojas da região. Depois disso seguiu-se uma sessão de fotos com as maiores figuras da cidade. A dona do banco, Joanne Olsen, encontrava-se entre os presentes.

- Olá bom dia! Eu sou a Doutora Joanne Olsen, directora do banco! Você pode-me tratar por Joanne! Os seus filhos ainda não foram lá ao banco para abrirem as contas, conforme eu lhes falei no outro dia… - comentou ela com Chayton. - Felizmente, trago aqui a papelada comigo, basta eles assinarem!

Chayton pegou nos contratos que Joanne lhe entregou e afastou-se com eles em silêncio, encostando-se a um pilar em frente de uma janela a ler. Estranhando aquela atitude, Joanne aproximou-se de Eddie e cochichou:

- Mas que raios? Então eu venho dar duas contas recheadas aos miúdos e o pai afasta-se com os papéis assim? E logo sem me dizer nada?

- Segundo sei, o pai dos miúdos é advogado de uma das maiores companhias do país, Joanne… Eu, se fosse a ti, não me armava em esperta com estes! Eles podem ser índios, mas não são burros! Além disso, sei de fonte segura que tanto ele como a esposa têm boas ligações com o Senador Tieman! - sussurrou Sullivan.

- Com o Tieman? Ó diabo! Tu tens a certeza disso, Eddie? Por essa é que eu não estava à espera… Ainda bem que me avisaste…. Felizmente que aqueles contratos são de boa fé…

- Pois, pois… De boa-fé anda o Inferno cheio… Ah ah ah ah! - rematou Sullivan, enquanto Chayton regressava para junto de Joanne, com ar satisfeito.

- Desculpe-me a indelicadeza, doutora Olsen. Eu sou advogado e sabe como é…! Para mim, já se tornou um hábito ler detalhadamente os papéis que me passam pelas mãos! Parece estar tudo em ordem! Matoskah! Takoda! Venham aqui, se fazem favor!

Os filhos aproximaram-se junto com a mãe. Todos se apresentaram a Joanne e pouco depois assinaram os papéis, com Shappa a agradecer imenso aquele gesto.

- Ora essa! Se não fossem os seus filhos, teríamos um prejuízo bastante grande! Sabe, as poupanças de muitas vidas de Grace Falls estão nos cofres do banco! Se aquele dinheiro nos fosse roubado, seria uma catástrofe!

Jules aproximou-se de Matoskah e fez-lhe sinal para irem para junto de uma das janelas apanhar ar.

- Francamente, já estou farto disto! Mas que grande seca! - comentou Matoskah. - Estou mortinho por tirar estas roupas!

- Se queres que te diga, eu também… Não me importava de ficar todo nu… - desabafou Jules, sem pensar.

- A sério? E o que te impede? - perguntou Matoskah, divertido.
  
- Ora! Vou mostrar-me aqui? Com tanta gente a ver? E tu, não te colocas nu agora porquê? - ripostou Jules, corado que nem um tomate.

Matoskah fechou os olhos, com ar satisfeito.

- Por respeito à minha família, principalmente. Não gosto destas cerimónias, sabes? Estas pessoas adorariam que eu tirasse a roupa toda aqui. Que me comportasse como um selvagem. Essa é a ideia que eles têm de mim, dos meus pais e do meu irmão. Mas eu não vou fazer isso! Eu honro o meu corpo. Ele não é para ser exibido para qualquer um…


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Matoskah Chayton


Jules não esperava por uma resposta daquelas. Baixou a cabeça e corou ainda mais, à medida que pensamentos cada vez mais ousados invadiam-lhe o cérebro. Imaginar o Matoskah todo nu, no riacho onde se tinham conhecido… Que visão maravilhosa! Abanando a cabeça com veemência para afastar aqueles pensamentos, ele pigarreou. Desatou a tossir para disfarçar o embaraço e ter oportunidade de disfarçar o alto que surgia nas suas calças.

Quando se acalmou, Matoskah já não estava ali. Estava bem no fundo do salão, a tirar fotografias com o irmão. Takoda estava particularmente feliz. Os pais deles estavam a conversar com o pai de Jules, que se mostrava bastante satisfeito e ria alto. Sem saber o que fazer, Jules decidiu ir para junto do pai, sendo interpelado por alguns jornalistas, que se haviam apercebido da sua proximidade com Matoskah. Depois de responder às questões, sendo que algumas foram um pouco maliciosas, Jules tocou no ombro do pai.

- Vamos indo, pai? Estou um pouco cansado e tenho de estudar para um teste que tenho na segunda-feira…   

Os pais de Matoskah e Takoda aproveitaram aquela deixa para também eles pegarem nos filhos e irem-se embora sem parecer mal. A cerimónia chegou assim ao fim.

- Até que são umas pessoas educadas e inteligentes. Gostei da forma como o Chayton se desembaraçou das pessoas. Quanto menos conversa derem a esta cambada de abutres, melhor para eles! - comentou Eddie Sullivan, quando entraram no carro e seguiram para casa.

Jules ficou admirado por escutar o pai falar assim.

- Possa pai, são os nossos vizinhos! Pensei que te davas bem com toda a gente aqui na cidade!

Eddie riu-se.

- Mas eu dou-me bem com eles, filho! Só que, como diz o ditado… “amigos, amigos, negócios à parte”! Não são estas pessoas que te pagam os luxos! Nem a ti, nem à tua mãe, nem à tua irmã! E por falar em luxos, sempre queres o que falamos de prenda de anos?   

- Estás mesmo a falar a sério, pai? Vais mesmo dar-me aquilo? - perguntou Jules, com os olhos brilhantes de excitação.

- Sabes que eu posso ser um pouco duro contigo às vezes, mas o que é que eu te digo sempre? Nada se consegue sem esforço! Tu tens-te mantido no quadro de honra do liceu e espero que assim continues! Eu vou dar-te, sim!

- Ó pai! És o melhor pai do mundo! - exclamou Jules, abraçando-se ao pai de forma demasiado entusiástica.

- Se eu não te conhecesse… Até pensava que eras gay, Jules… - retorquiu o Eddie, afastando o filho com um safanão, rindo-se divertido.


[Continua...]

4 comentários:

  1. Never heard of it, nope 🤷‍♂️

    But still cool! 🙂

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  2. Já tinha te acompanhado mas está a dar nova vida ao conto :)

    gostei

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    Respostas
    1. A história está ligeiramente diferente, em alguns pontos. :)
      Fico contente que tenhas gostado! ^^

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