Capítulo 2
*12 de Outubro de 2016*
- Coloco o jantar na mesa, senhor Sullivan?
Eddie Sullivan era um homem dos seus cinquenta e muitos anos. Ele era de estatura média, bem constituído. Tinha cabelos cor de palha e olhos esverdeados. Gestor de uma empresa que fornecia material tecnológico para todo o país, Eddie era uma das pessoas mais influentes da cidade de Grace Falls.
Edward Sullivan, conhecido por Eddie Sullivan, é o gestor de uma empresa tecnológica chamada GraceTech!
- Pode colocar sim, Maurice. Já liguei para o meu filho uma data de vezes, mas o telemóvel dele está desligado. Espero que ele apareça depressa! - respondeu o senhor Sullivan, com brusquidão.
Maurice é a governanta da família Sullivan.
Maurice fez-lhe uma vénia e deslocou-se à cozinha para trazer o jantar. Ela era uma senhora de meia-idade, que tinha vindo trabalhar para a família Sullivan ainda Jules não era nascido. Ela era de média estatura e tinha muitos cabelos grisalhos por entre os seus longos cabelos pretos, amarrados num carrapito no alto da cabeça. Boa pessoa e muito trabalhadora, toda a família Sullivan gostava muito dela. Depois de colocar o ensopado de borrego na mesa, o senhor Sullivan declarou:
- Por hoje é tudo, Maurice! Pode deixar que eu mando o meu filho arrumar a mesa depois, como castigo por não estar em casa a horas para jantar. Pode ir!
- Tem a certeza, senhor?
A porta de entrada abriu-se. Jules entrou com ar melindrado, ao aperceber-se de que o pai já se encontrava em casa. Pousou a mochila no hall de entrada e foi ter com o pai à sala de jantar.
- Jules, tu já viste que horas são? São quase nove da noite! - resmungou o pai, enquanto Jules lhe dava um beijo e este retribuía.
- Desculpa pai, estive com a Michelle… - desculpou-se Jules, com ar atrapalhado.
- Vá, vai lá lavar as mãos e anda para a mesa. Falamos depois!
Jules despediu-se de Maurice, que lhe fez uma festa nos cabelos. Ela pegou nas suas coisas e foi-se embora para casa. Jules foi à casa de banho e passados alguns minutos, sentou-se à mesa junto do pai. Este tinha ligado a televisão pois o noticiário estava prestes a começar. Duas caras sorridentes - uma mulher e um homem - surgiram no ecrã e apresentaram-se:
Dois dos pivôs da GFNews: Cher Sales e Mitch Ohlman!
- “Olá, caros telespectadores! Boa noite! Eu sou a Cher Salles!
- Olá, boa noite! Eu sou o Mitch Ohlman! Esta é a emissão das 21 horas do GFNews!”
Cher era uma mulher loira de cabelos compridos, que lhe davam pelo meio das costas. Tinha olhos esverdeados e um rosto cativante para ficar à frente das câmaras da televisão. Pigarreando, ela anunciou:
- “Nas notícias de hoje: Father Simon completa hoje dois meses como nosso Reverendo aqui na cidade! Toda a população de Grace Falls está muito satisfeita com o trabalho de Father Simon, que demonstra ser um Reverendo muito amigável e preocupado com o bem-estar da comunidade. Numa entrevista que passaremos depois das notícias, fiquem a conhecer um pouco mais da vida de Father Simon!”
Já Mitch era um homem bastante atraente! Alto, bem constituído, com cabelo curto, olhos escuros e um pouco de barba. Ao sorrir para a câmara, Mitch comentou:
- “É verdade! O nosso Reverendo já teve alguns episódios bastante interessantes na sua vida, que decidiu partilhar connosco! Por isso não percam, em exclusivo para a GFNews, a primeira grande entrevista de Father Simon! Entretanto, a nossa próxima história parece digna de um filme, não é, Cher?”
Mitch e Cher riram-se um pouco, mostrando estar à-vontade em frente das câmaras.
- “Assim é, Mitch! Durante a tarde de hoje, 4 assaltantes tentaram roubar o banco de Grace Falls, o Millennium Eagle Bank! O que eles não estavam à espera era da inesperada e eficaz acção de dois jovens que impediram o assalto! O banco foi salvo por dois índios!”
Jules estava a comer a sopa e quando escutou Mitch, engasgou-se! O pai olhou para ele, indignado:
- O que se passa?
Atrapalhado, Jules bateu com a mão no peito e bebeu um pouco de água, começando a tossir! O pai dele levantou-se e aplicou-lhe algumas palmadas nas costas, enquanto na televisão, Mitch prosseguia:
- “Vamos em directo para o Millennium Eagle Bank, onde a nossa repórter, Kelly Lars, já se encontra com a dona do banco, Joanne Olsen.”
A jornalista Kelly Lars e banqueira Joanne Olsen!
- “Olá senhores telespectadores, boa noite! Estamos em directo do Millennium Eagle Bank, onde esta tarde, um bando de quatro homens encapuzados entrou com intenção de assaltar o banco, pouco antes da hora do fecho. Diga-nos, Joanne, como é que tudo aconteceu?”
Uma senhora de meia-idade, sorriu para a repórter e relatou:
- “Boa noite, Kelly! Olhe, foi tudo tão rápido! O assalto deu-se a dez minutos da hora do fecho do banco para os clientes. Um bando de quatro homens irrompeu com violência pelo banco, ameaçando funcionários e clientes. Queriam todo o dinheiro que tínhamos nas caixas. Entre as pessoas que estavam cá dentro, estavam dois irmãos índios. O mais novo correu para a rua e furou os pneus do carro dos bandidos! Depois disso, ele desatou a gritar que o banco estava a ser assaltado e que alguém chamasse a polícia. O irmão mais velho deixou-se estar deitado no chão como estávamos todos nós. Quando se apercebeu de que os ladrões estavam a ficar desorientados, porque o irmão havia dado o alerta e tinha furado todos os pneus do carro da fuga, o rapaz mais velho lançou-se como um urso sobre os bandidos e com meia dúzia de golpes, conseguiu imobilizá-los, até à chegada da polícia!”
- “Não vemos disso todos os dias!” - comentou a repórter, surpreendida.
- “Tem toda a razão! Em nome do banco, eu quero agradecer novamente aos jovens Matoskah e Takoda! Nós vamos abrir uma conta-poupança no valor de cinco mil dólares para cada um deles! Passem cá no banco quando quiserem!”
A câmara voltou-se para a repórter, que rematou:
- “Entretanto, os novos heróis de Grace Falls serão condecorados pelo Mayor Charles no próximo sábado, numa cerimónia a decorrer na Câmara Municipal de Grace Falls, às 12 horas!”
A emissão voltou ao estúdio, onde Mitch comentou:
- “Uma cena digna de um filme de índios e cowboys! Ah ah ah!”
- “E onde não faltou acção! Ih ih ih!” - gracejou Cher.
Mitch pigarreou e falou num tom mais sério:
- “A GFNews já tentou chegar à fala com os dois jovens, que se mudaram há pouco tempo para a nossa cidade, sendo que até agora a tarefa se mostrou impossível, uma vez que nenhum dos jovens, nem mesmo os pais deles, se mostraram disponíveis para fazer qualquer declaração.”
Jules estava abismado a olhar para a televisão! Então fora isso que acontecera com Matoskah depois do final das aulas! O pai de Jules perguntou:
- Tu conheces o… Como é que é mesmo? Matosak?
- Matoskah, pai! Sim, eu conheço-o! O Matoskah é meu colega de turma. E é muito bom aluno…
- Qual o apelido dele?
- Hummmm… Não sei… Nunca perguntei…
- Grunf! A miudagem de hoje em dia nunca sabe nada! É incrível! - resmungou Eddie.
- Sei que o pai dele é advogado e que se chama Chayton… - suspirou Jules, baixando a cabeça.
- Chayton? Estás a falar do James Chayton? Já ouvi falar muito dele! É amigo do Senador Tieman! Esse advogado trabalha para uma das maiores companhias de advogados do país! Ó Jules! Então tu tens um colega dessa envergadura e ainda não o trouxeste cá a casa porquê?
- Ó pai, não sabia que tu estavas interessado em conhecer os meus colegas…
- Esse não é um colega qualquer! Tudo bem que ele não é como nós! Ele é um índio e eles lá têm os seus costumes. Segundo ouvi dizer, esse Chayton anda sempre descalço! - comentou Sullivan, rindo-se em seguida.
- Sim… O Matoskah também anda… E eu estou a pensar experimentar… - respondeu Jules, sorrindo um pouco envergonhado.
- Se com isso ficares mais próximo desse rapaz, por mim… Já fizeste asneiras bem piores… - gracejou Sullivan, sarcástico.
- Tu queres que eu traga o Matoskah cá a casa, pai? Para um jantar?
- Claro que sim! Quero conhecê-lo a ele, quero conhecer o irmãozinho dele! Agora que são heróis, será boa publicidade para a minha empresa!
Jules suspirou aliviado. Ele queria levar Matoskah a sua casa, mas receava que o pai reprovasse a atitude.
- Disseste que esse miúdo é um bom aluno?
- Neste momento, eu e o Matoskah somos os melhores alunos da turma…
- Então tens mais um motivo para o trazer cá a casa! Vocês podiam estudar juntos! Espero sinceramente que tu melhores mais as tuas notas. Afinal seres o melhor da turma e teres um índio ao mesmo nível do que tu…! Bom, deixa a tua mãe regressar da tournée que depois combinamos um jantar com a família do teu colega. Quero mesmo conhecer esses tipos! - declarou Sullivan com ar interessado, enquanto comia o ensopado de borrego.
Jules suspirou, triste.
Era o que ele temia. O pai mostrava claramente o seu preconceito, como aliás, tantas outras pessoas na cidade haviam feito ultimamente. Podia ser que agora, com a história do assalto frustrado ao banco, a família de Matoskah passasse a ser vista com outros olhos.
Remetendo-se ao silêncio, feliz por um lado e triste por outro, Jules comeu o ensopado de borrego. O jantar naquela noite estava delicioso. Perdido em pensamentos sobre o colega indígena, Jules olhava absorto para a televisão. Cher falava, com um ar grave:
- “Continuam as buscas por Christine Bolt, a jovem de 19 anos que desapareceu sem deixar rasto há 3 semanas. A polícia de Grace Falls pede e agradece a todos os cidadãos por qualquer informação sobre Christine. Até agora, todas as buscas revelaram-se infrutíferas. Esta é a última fotografia que a rapariga publicou nas redes sociais, com a legenda: “Perdida na escuridão, há espera de um sinal. Só escuto a voz do silêncio...”. Qualquer informação que os senhores telespectadores possam ter, é favor de a comunicarem ao posto de Polícia mais próximo ou através do telefone: 605-106-549. Obrigado!”
Antes de desaparecer misteriosamente, Christine Bolt deixa uma mensagem enigmática:
“Perdida na escuridão, há espera de um sinal. Só escuto a voz do silêncio...”
Jules voltou a engasgar-se, desta vez com violência, ao escutar a notícia e ao ver a fotografia de Christine na televisão. Ele e Christine tinham tido um relacionamento, meses atrás. Um dia, sem que nada o fizesse prever, Christine decidira acabar tudo com ele e inclusive, deixou de lhe falar. Jules tentara saber o motivo para Christine ter acabado com ele, mas perante os constantes silêncios dela, ele acabara por desistir e seguir em frente. Fora nessa altura que Jules começara a namorar com Michelle. Eddie desligou a televisão, bebeu um pouco de vinho e comentou:
- Vocês hoje em dia não sabem lidar com a vida. Basta surgir uma pedra maior no vosso caminho, que logo vocês fogem de casa, em vez de enfrentarem os problemas. Esta miúda provavelmente fugiu para outro Estado e agora anda por aí, perdida…
- Não sei pai, não sei… - respondeu Jules, perturbado. - A Christine é uma rapariga forte e decidida. Não me parece, do que conheço dela, que ela seja do género de pessoas que fogem dos problemas.
- Então e tu e a Michelle? Esse namoro é para valer ou já te fartaste, como todas as outras miúdas antes dela? - perguntou Eddie Sullivan, com um sorriso.
Jules corou. Envergonhado, baixou os olhos para o prato e comentou:
- Conheces-me bem, não é pai? Pois…. Acho que o namoro já deu o que tinha a dar…. Quero ver se acabo tudo com ela até aos meus anos…
- Ela é filha da senhorita Palmer, não é? Vê lá se lhe envias um ramo de flores quando fizeres isso! Não quero histerismos à nossa porta!
- Combinado! - rematou Jules, pedindo licença para sair da mesa e começando a levar a loiça para a cozinha.
- Tens o teu telemóvel desligado, Jules. Vê lá se não te esqueces de o pôr a carregar. Liguei-te quando cheguei a casa para saber onde estavas e essa porcaria estava desligada.
- Desculpa, pai! Vou já colocar a carregar! Pronto, satisfeito? - retorquiu Jules, colocando o telemóvel a carregar na mesinha ao lado do sofá da sala.
Eddie Sullivan levantou-se da mesa e anunciou:
- Vou tomar um café ao Rochest Bar. Acaba de levantar a mesa, lava a loiça, toma um banho quente e vai dormir. O tempo começa a arrefecer, vou pedir à Maurice que mude a roupa de cama para a roupa de Inverno. Até amanhã!
- Está bom, pai! Diverte-te! Até logo! - respondeu Jules, com um aceno, enquanto o pai saía porta fora.
Passado uma hora, Jules encontrava-se sentado à janela a observar as estrelas, enquanto a banheira da casa de banho do quarto dele se enchia de água. Ele enrolou um charro enquanto pensava em Christine e no fim do seu namoro com Michelle.
Foi até à banheira e fechou a torneira.
Despiu-se.
Regressou à janela e ligou o sistema de som, sentando-se no parapeito a fumar.
O sistema de som começou a tocar uma música.
- Estou cansado de fingir…
Um Eddie Sullivan é que eu precisava na minha vida :) eheheheheh manda vir amigo
ResponderEliminarEle vai ter contigo aì à Amadora, assim que as ligações estiverem abertas entre os Estaods Unidos e Portugal! :)
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