10 outubro 2020

Escrito nas Entrelinhas: Parte 2 ~ Capítulo 1



Capítulo 1




Depois de ti
Ficou o teu lugar
Na cama onde morri
De tanto de esperar

Chorei
Mas acordei por fim
Esta vida é mesmo assim

Depois de ti
Fiquei aqui parad@
À espera de te ouvir
Chegar de madrugada

Chorei
Mas acordei, por fim
Esta vida é mesmo assim

Se amanhã um dia
Tu precisares de mim
Vem, entra e senta-te à vontade
Quero ver o que vais fazer
Ao sentires como eu mudei
Como eu me perdi de ti
E me encontrei

Depois de ti
Ficou a porta aberta
A mesa ainda posta
E a casa deserta

Chorei
Mas acordei por fim
Esta vida é mesmo assim

Se amanhã, um dia
Tu precisares de mim
Vem, entra e senta-te à vontade
Quero ver o que vais fazer
Ao sentires como eu mudei
Como eu me perdi de ti
E me encontrei







Matoskah correu para o parapeito de onde Jules tinha caído, enquanto gritava que nem um louco. Atrás de si tudo ardia vorazmente. Algumas pessoas começaram a aperceber-se do fumo que vinha do edifício e começaram a aproximar-se. Ao aperceberem-se que um corpo ardia na rua, as pessoas não tardaram a gritar, chocadas. Entretanto, Matoskah apercebeu-se que não tardaria a ficar refém das chamas, se não saísse dali.


Confuso e desorientado com tudo o que acontecera, ele correu em direcção às escadas, decidido a ver se Jules ainda estaria vivo. Estava ele no primeiro andar quando duas violentas explosões ocorreram. Jules e Matoskah tinham levado botijas de gás, daquelas que se usam nos acampamentos, para o seu ninho de amor. O fogo que Jules despoletara chegara até elas. As explosões fizeram-se ouvir em toda a cidade. Com o impacto, o prédio, que já se encontrava em ruínas, cedeu e desmoronou-se.


Os bombeiros não tardaram a chegar e a apagar o fogo que restava. A polícia levou cães-pisteiros, pois sabiam que haveria pelo menos duas pessoas nos escombros. Cedo descobriram Matoskah. Este estava inconsciente e a sangrar bastante da cabeça. Tinha algumas escoriações no resto do corpo, mas fora isso, parecia estar bem. Uma ambulância transportou-o de imediato para o hospital, a fim de se evitar mais alguma tragédia. Quanto a Jules, o seu corpo foi encontrado horas depois, totalmente carbonizado.


*Horas mais tarde…*




- “Boa noite! O meu nome é Suzanna Wells e este é o Jornal das 21 horas! Grace Falls foi hoje abalada por uma tragédia sem precedentes: Jules Sullivan, de apenas 17 anos, o filho mais novo de Eddie e Laura Sullivan, duas das mais importantes figuras da nossa cidade, morreu em circunstâncias misteriosas! Ninguém sabe como, mas o corpo de Jules apareceu hoje, ao final da tarde, totalmente carbonizado! Aparentemente, ele atirou-se do terceiro andar da fábrica abandonada nos limites da cidade. Esta fábrica pertence à empresa que o pai de Jules lidera. Jules Sullivan encontrava-se na fábrica na companhia de um amigo, o índio Matoskah. Poucos minutos após o ocorrido, ouviram-se duas grandes explosões e a fábrica, que já se encontrava bastante degradada e com planos de ser restaurada, desmoronou-se. Os bombeiros e a polícia acorreram ao local de imediato, resgatando dos escombros os dois rapazes. O jovem Matoskah foi levado para o hospital e de momento, encontra-se nos cuidados intensivos, em estado crítico, devido aos ferimentos que sofreu. Ninguém parece encontrar explicações para o que se passou. Fala-se numa explosão de gás como tendo sido a causadora do desmoronamento da fábrica. Entretanto, uma equipa da GFNews foi ao encontro de Maurice, a empregada da família Sullivan e a última pessoa que esteve com Jules e Matoskah.


Suzanna olhou para as câmaras e fez um ar sério. Passados alguns segundos, uma nova repórter apareceu, junto de Maurice.





- “Olá Suzanna, boa noite! Estamos em directo com Maurice, a governanta da família Sullivan, que foi, supostamente, a última pessoa a ter estado com os dois jovens esta tarde. Maurice... Diga-nos, como estava Jules quando esteve com ele?


Maurice olhou atrapalhada para a câmara da televisão e depois virou-se para a jornalista, entre lágrimas.


- “Boa noite. Olhe, o menino Jules esteve em casa, calmo, fechado no quarto, como é costume dele. Nestes últimos dias ele andava mais sossegado do que habitual, mas como esteve adoentado, eu considerei a situação normal…


- A Maurice nunca suspeitou que Jules pudesse estar com problemas?


- Não, não… O menino sempre foi um rapaz pacato e muito reservado em relação à sua vida pessoal. Falava quando entendia que devia falar. Pelo menos sobre isso. De resto, sempre tratava bem as pessoas e era educado…


A jornalista escutou alguma coisa através do auricular e mudando de tom, perguntou:


- “E em relação ao índio? Como é que a Maurice via essa relação? Ao que a GFNews apurou, eles os dois davam-se muito bem…


Maurice pigarreou. Olhando séria para a câmara, respondeu num tom de voz mais firme:


- “O menino Jules e o jovem Matoskah eram bons amigos. Deram-se bem desde o primeiro momento. Sei que muitas pessoas aqui na cidade não gostam do Matoskah e da família dele, mas eles são muito boas pessoas! Só peço a Deus para que o Matoskah recupere depressa!


- Então a Maurice não acha que o Matoskah possa estar envolvido na tragédia que aconteceu hoje?


- Deus me livre, senhora!” - respondeu Maurice, olhando chocada para a jornalista.


- “Sendo assim, peço-lhe que nos explique o que aconteceu hoje de tarde, Maurice!


Cheia de paciência, Maurice suspirou. Já tinha dado a mesma explicação aos pais de Jules e à polícia. Começava a ficar cansada.


- “Olhe, foi assim. O menino Jules saiu de mota a meio da tarde, sem dizer para onde ia. Apenas estranhei o facto de ele ter-me abraçado de uma forma efusiva, com muita força. Os seus olhos estavam brilhantes, mas como ele tem estado adoentado, pensei que fosse por causa disso. Pouco depois, o menino Matoskah apareceu lá em casa, a bater à porta como se não houvesse amanhã! Ele também me parecia adoentado, sabe? Tinha aquele ar febril… O rosto das pessoas não engana. Perguntou pelo menino Jules, com ar preocupado. Quando soube que o menino Jules não estava em casa, ele agradeceu e saiu a correr, embora corresse com esforço. Estava visivelmente cansado, mas ainda assim, corria a uma velocidade formidável. Oh, quem me dera ter percebido que alguma coisa se passava!


Maurice começou a chorar e a repórter tentou reconfortá-la, com umas palmadinhas nos ombros. Em seguida, a jornalista voltou-se para a câmara e com uma expressão de pesar, rematou:


- “Muito obrigado, Maurice! Esta foi a entrevista possível com a governanta da família Sullivan. Passo a emissão para ti, Suzanna!


Suzanna voltou a aparecer, com um pequeno sorriso.


- “Muito obrigada, Linda! Vamos passar para outro ponto de entrevista, desta vez no hospital. Temos lá o nosso jornalista, Daniel Bales! Olá Daniel, o que podes dizer-nos de momento?




O repórter escutava pelo auricular e segundos depois, respondeu para a câmara: 


- “Olá Suzanna, boa noite. De facto, assim é. Estamos aqui, no hospital de Grace Falls, onde reina a confusão. Muitos populares acorreram ao hospital, revoltados com o facto de ter sido permitida a entrada de um possível assassino. A polícia foi obrigada a intervir e a manter a ordem. Os ânimos serenaram com o cair da noite. Estivemos, há alguns minutos atrás, com o Dr. Michael, que está encarregue deste caso. Segundo ele, o Matoskah sofreu um traumatismo crânio-encefálico e foi induzido em coma. Isto para que os médicos possam operá-lo sem causar mais danos. Estivemos também à conversa com a polícia e com os investigadores federais, que já vieram recolher vestígios, a fim de apurarem se Matoskah realmente está envolvido de alguma forma na morte de Jules ou tudo não terá passado de um infeliz acaso. Isto é, de Matoskah estar no local errado à hora errada.


Suzanna perguntou:


- “Muito bem! Mas diz-me uma coisa, Daniel! O que terá levado as pessoas a assumirem tão rapidamente que Matoskah possa ser o culpado e neste caso, o assassino?   


- Bom, de acordo com o que viemos a apurar, existem pessoas que viram Jules a cair do terceiro andar, já em chamas! As mesmas testemunhas referem que se ouviu alguém a gritar e viram um vulto à janela desse mesmo terceiro andar. Como estamos numa cidade pequena, o rumor espalhou-se rapidamente e terá sido por isso que as pessoas começaram a pensar que Matoskah esteja envolvido em alguma coisa, até porque ele também foi encontrado nos escombros da fábrica abandonada…


- E os pais de Matoskah, já disseram alguma coisa?  


- Já tive oportunidade de falar com eles, embora não tenham aceitado falar para as câmaras. Eles reclamam pela inocência do filho. Ao verem os ânimos exaltados da população, pediram protecção para o filho, pois temem que o mesmo corra perigo de vida. Tal pedido foi aceite e o quarto onde Matoskah se encontra está sob vigia e assim ficará. Resta esperar que o rapaz recupere e possamos saber, finalmente, o que aconteceu ao certo.


A emissão regressou ao estúdio. Suzanna sorriu para as câmaras e rematou:


- “Tens toda a razão, Daniel! A equipa da GFNews espera que Matoskah se recupere e possamos apurar o que de facto se passou. Aproveito o momento para expressar as condolências, em nome de toda a equipa, à família Sullivan. Devido às circunstâncias em que morreu, ainda não se sabe quando se realizará o funeral de Jules Sullivan. O corpo dele será devidamente autopsiado. Os telespectadores poderão contar com a minha, a nossa, enfim, a vossa GFNews para ficarem a saber de tudo! E com isto me despeço por hoje, senhores telespectadores. Que Jules Sullivan descanse em paz.


Uma fotografia de Jules apareceu no ecrã, com a legenda:


Jules Christian Sullivan
31/10/1999 - 21/05/2017


[Continua...]

2 comentários:

  1. Bom reler este teu conto

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    1. Fico feliz que estejas a gostar! Ele terá novas músicas e imagens em algumas partes para dar mais ênfase à novela!

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