29 novembro 2020

39 anos e 364 dias ou 40 anos menos 1 dia

Existem datas que nos marcam. Esta é uma delas. A véspera de fazer 40 anos. Não é para qualquer um. Afinal, tantos que nunca chegam a celebrá-los, não é?


Desde pequeno que escuto que a vida só começa aos 40. Os quarenta parecem ser um número bem redondo e marcante. Afinal, a partir de agora, é sempre “-enta”, daqui até aos noventa e muitos. Passamos mais de metade da vida – se lá chegarmos – nesta viagem pelos “-enta”.


Paco Bandeira canta, com uma certa doçura e melancolia na voz sobre a “Ternura dos Quarenta”. Parto do princípio que ele tenha razão e que realmente os 40 anos são aquela idade especial, que nos traz mais sabedoria, calma, uma nova forma de vermos a vida, de aceitarmos a morte, de valorizarmos o que realmente importa.


Mas esta reflexão não é sobre os 40 anos, apesar de, em muitos aspectos, acabar por ser também. Afinal, eu ainda não cheguei lá. Faltam algumas horas, pouquinhas é certo, mas ainda não cheguei lá. 


Apesar isso, fazendo uma retrospectiva pela minha vida, ao longo das últimas semanas mais em concreto e ao longo deste ano em geral, apercebi-me do quanto já percorri e calcorreei nesta estrada. A última década foi particularmente dura e penosa. Partiram pessoas bastante importantes na minha vida. Umas porque morreram, outras porque a vida se encarregou de nos separar e não trazer de volta. 




Tenho um amigo chamado Francisco que costuma dizer, em tom de brincadeira, que “eles voltam sempre”. Embora a vida me mostre que, em parte, o Francisco tem razão - naquilo a que ele se refere - a verdade é que, na maioria das vezes, eles não voltam. Seja porque não houve margem para regressarem, seja porque não querem, mas na maior parte do tempo, é porque eu já não estou naquela vibração. Já “não dou” para esse peditório. [risos]  




Tal como nas minhas histórias e contos, tudo tem um princípio, meio e fim. Algumas das histórias terminam inacabadas, outras têm finais infelizes. Há histórias que terminam bem, com um desfecho encorajador e inspirador para todos. Existem histórias que terminam com um “até já!”, mesmo tendo consciência de que esse “até já” poderá demorar anos. Recordo-me, com particular ternura, do tempo que levei para conhecer pessoalmente um grande amigo e apoio ao longo desta última década, que só tive o prazer e alegria de abraçar no Verão passado. Foram precisos 9 anos para nos conhecermos pessoalmente! 



Eu e o Hotei, que outrora escreveu o blog Any More Than A Whisper 



Ainda assim, existem histórias que teimam em continuar, talvez porque seja demasiado difícil colocar-lhes um ponto final. A vida, um dia, encarregar-se-á disso. Mas até lá, essas histórias e os leques de personagens que lhes dão cor, permanecerão presentes, enriquecendo a minha vida e as vidas de outras pessoas.





Esta última década de vida foi bastante impactante a vários níveis. 


Trabalho, relacionamentos, a “saída do armário”… 





Tantas alegrias e decepções, tantas lutas em vão, tanto sofrimento desmedido… 


É assim que costumamos pensar quando estamos a enfrentar as coisas. Depois da tempestade passar, da dor deixar de latejar tão intensamente, com um pouco de discernimento e maturidade, lá acabamos por ver que muita da dor e sofrimento, não mais eram do que fases do nosso crescimento pessoal. Passos que tínhamos de dar, erros que tínhamos de cometer, quedas que tinham de acontecer, para podermos compreender mais e melhor a vida, junto de tudo o que nos rodeia. No final de contas, nós não mais somos do que grãos de areia. Seremos até menos do que isso, num Universo [In]Finito.    






É verdade que também não podemos ser demasiado condescendentes. 


Tudo na vida deve ter conta, peso e medida. 


No entanto, vivemos num Mundo tão injusto e desequilibrado, onde é tão fácil ver o lado pior e mais negativo dos outros, que trabalharmos a Empatia é quase uma “obrigação”. Devia ser, pelo menos. 


O Mundo tornou-se tão difícil… 


Não o Mundo em si, mas a forma como as pessoas se tratam e lidam umas com as outras. Não consigo entender como existe alguém que fique feliz com a tristeza dos outros. Não consigo entender porque pessoas ricas, invejam aquilo que pessoas mais desfavorecidas possuem. As pessoas querem sempre mais, mais e mais. 


Será assim tão difícil ficar feliz com o que se tem? 


Será assim tão difícil agradecermos cada dia por estarmos vivos, pela Saúde, pelas pessoas que temos na vida? 


Existem tantas e tantas formas subtis que a vida nos coloca diariamente no caminho, mas nós tendemos a ver apenas e só aquilo que o nosso ego e as nossas necessidades básicas nos colocam à frente. Depois, quando a vida nos tira aquilo que damos como adquirido, lamentamos a perda. Aí, nós choramos, sofremos, pedimos desculpa, pedimos perdão, ficamos com a consciência pesada, porque sempre achamos que poderíamos ter feito mais e melhor. 


Poderíamos ter dado aquele passeio. 


Poderíamos ter feito aquela chamada. 


Poderíamos ter visitado aquela pessoa. 


Poderíamos ter dito: “eu amo-te”. 




Haverá melhor expressão de amor - independentemente de ser um amor romântico, familiar, amizade genuína, amor incondicional - do que dizer “amo-te” às pessoas que realmente amamos?


Sim… Muitas vezes escudamo-nos por detrás da desculpa: 


- “Eu não digo, mas pessoa X sabe. Afinal, eu mostro e demonstro os sentimentos, através de actos e gestos…”  


É verdade que a pessoa ou as pessoas até podem saber. 


Mas sabe sempre tão bem ouvir! 





É tão bom sentirmos o quanto somos amados, queridos, desejados, estimados pelos outros! 


Afinal, quando partirmos, de nada adiantam as lágrimas, a dor, a tristeza de quem cá fica!


Supostamente, quando partimos, seguimos para uma Nova Vida. Uns acreditam que irão para o Paraíso. Outros acreditam que depois de partirem, regressam ao Nada. Outros, como eu, acreditam que depois de se partir, vamos para um local onde nos reencontramos com as pessoas que mais queremos reencontrar. E lá, prosseguiremos para uma nova Caminhada, rumo à Eternidade, até que os nossos caminhos se voltem a separar, porque para mim a Eternidade é o Fim e o Recomeço… Uma morte sempre gerará uma nova vida e assim sucessivamente. 


Qualquer que seja o final depois da nossa estadia por aqui, o importante é que estejamos de bem com a vida, de bem com nós mesmos, acima de tudo, em paz. Afinal, desta vida nada levamos, a não ser, quem sabe, as memórias do que fomos e somos. 


Bens materiais, fama, sucesso, prosperidade, abundância… Tudo isso fica cá.


Muitas vezes, dou por mim a pensar se tudo isto não passará de um sonho. Imagino-me a voltar a ser criança, aquele menino tímido e reservado de 7 anos e a acordar desse sonho. E nessa altura, aperceber-me de que tudo o que vivi não passou disso mesmo. Um sonho, um longuíssimo sonho, com o que a minha vida poderia ser, graças às escolhas que eu faria ao longo do tempo. 


É…


…Talvez isso soe demasiado infantil… 


…Ou talvez seja apenas um desejo inerente que muitos de nós possuem, de voltarmos atrás.




De voltarmos até àquele tempo em que não tínhamos preocupações. Em que passavamos o dia a brincar, a ver desenhos animados, em que ficávamos felizes com respostas simples e questionávamos coisas tão interessantes como “porquê que o céu é azul?”, “porquê que as nuvens são brancas?”… E muitos porquês se seguiriam, até levarmos à exaustão as pessoas a quem questionávamos, que acabariam por dizer “Não sei!”. 


Mas isso não era relevante. 


Rapidamente esquecíamos esse “não sei”. Rapidamente voltaríamos a brincar, a correr, a pular, a sermos crianças.


Ontem, quando vinha para casa, vinha a pensar como as crianças da actualidade são tristes e infelizes. Elas têm tudo, muito mais do que alguma geração teve antes delas. No entanto, o custo que pagaram e pagam para serem e terem tudo, foi muito alto. O preço a pagar foi deixarem de ter infância. Hoje em dia, as crianças já não são mais crianças. São adultos em ponto pequeno. 


Afinal, quanto tempo temos para brincar? 


Quanto tempo dura a infância? 


Na melhor das hipóteses, dura 5/7 anos. Depois disso, passamos o resto das nossas vidas - partindo do princpío que vivamos até aos 80 anos, passamos cerca de 65 anos na “vida adulta” - presos a responsabilidades, a privações, a lutas… 


Aos poucos, vamos deixando de brincar… Até que acabamos por nos esquecer do que é isso. Achamos que “brincar” é dizer umas piadas brejeiras, é beber uns copos e fazer umas “palhaçadas”, com a mente toldada pelo álcool ou usando o álcool como desculpa. Mas isso não passam de meras cópias de fraca categoria do que realmente é brincar.





A sociedade parece impôr-nos as regras:

Tens de ter um trabalho, de preferência onde ganhes bem; 
Tens de encontrar uma pessoa que te aceite e te faça feliz; 
Tens de comprar uma casa; 
Tens de ter um carro, de preferência grande, para mostrar que és bem-sucedido; 
Tens de casar; 
Tens de ter filhos; 
[….] 


E por aí adiante, até morrermos.


A lista sobre como a sociedade nos vê como pessoas bem-sucedidas e felizes é deveras grande. Quando não preenchemos os requistos, somos mal-vistos e acabamos por ser rejeitados, vivendo à margem da sociedade. Isto acontece particularmente em meios pequenos, onde toda a gente sabe da vida de toda a gente.  


Se somos todos únicos, porque temos todos que seguir as mesmas regras? 


Porque não podemos criar as nossas próprias regras? 


Afinal, a vida de cada um, a si pertence, não é? 


Desde que saibamos respeitar os limites e nunca esquecer que a nossa Liberdade termina onde começa a Liberdade das outras pessoas, eu acho que devemos é aproveitar mais e melhor a vida que temos. Aceitar que existem coisas que nunca mudarão. Outras, mudarão se nós nos predispusermos a fazer para que as mudanças ocorram. Afinal, “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” - já dizia Lavoisier. 


E nada mudará, realmente, se nós não agirmos nesse sentido.


Voltando aos pensamentos de ontem, acabei por chegar à conclusão que as crianças deviam aprender desde cedo a lição do “Carpe Diem” - vive o dia, vive o momento. Devia ser disciplina obrigatória na escola, assim como deveria ser obrigatório que elas brincassem. E aprendessem a brincar. Porque brincar é uma arte. Não é ficar sentado em frente de um computador a jogar. É algo que se faz com pouco ou nada até, mostrando-nos a simplicidade que a vida é, na sua essência. 





A vida, por si só, é simples. É uma questão de nos deixarmos ir com a corrente. 


Somos nós que complicamos a vida. Somos tantos neste Mundo, cada um com a sua bagagem,  as suas características únicas, com as suas dúvidas, interesses, sonhos, desejos, e por aí adiante. À medida que vamos conhecendo cada vez mais pessoas, aumentámos o nosso leque e abrimos os nossos horizontes pessoais. E é aqui que as coisas começam a tornar-se mais desafiantes. A linha que separa o nosso Eu do Eu das outras pessoas é ténue, às vezes. É fácil perdermo-nos no emaranhado de emoções, sonhos, vontades, desejos, egos… Difícil é manter a nossa postura, o nosso coração puro, perante as dificuldades e as perdas que a vida nos provoca. 


Como tudo na vida é relativo, a dor também o é. Podemos sofrer imenso com a perda de alguém que amamos, um animal de estimação, um amor que acabou inesperadamente, um adeus repentino e sem motivo. É verdade que podemos chorar e temos o direito de o fazer. De chorar e sofrer, porque a dor faz parte da condição de estarmos vivos. 


Mas também podemos sorrir, porque apesar da perda, tivemos a oportunidade de viver algo bom e bonito. Sorrir porque aconteceu. As memórias e a saudade acompanhar-nos-ão até ao fim, ou pelo menos até ao momento em que o nosso cérebro nos trair…


São vários os desejos e votos que levo para a vida, a partir de agora. A poucas horas de entrar na “ternura dos quarenta”, termino esta reflexão, parafraseando a letra do Paco Bandeira


Meus amigos, importante é o sorriso
Para seguir viagem, co'a coragem, que é preciso
Não adianta, deitar contas à vida
A ternura dos quarenta, não tem conta, nem medida…


Venham daí os quarenta. E que com eles venham com novas emoções, novos sonhos, novas vivências, novas experiências, novas realidades. Que venham muitos sorrisos e alegrias e muitos “amo-te” a serem ditos e a serem escutados, de forma genuína. Que venham infinitos motivos para estar grato por aqui continuar, junto com vocês.



Abreijos, 
João

2 comentários:

  1. Seguramente já viveste metade da tua vida, cada dia é um novo dia :)
    Gostei dos 40 e agora estou nos 50
    Um dia muito feliz para mais logo, daqui a 1h58 minutos

    Abreijos

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    Respostas
    1. Olá Francisco! Muito obrigado! Um pouco apreensivo por chegar aos 40, mas olha, temos que seguir em frente e de cabeça erguida, afinal, a vida é um dom maravilhoso e temos que o saber aproveitar!

      Abreijos :3

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