31 julho 2020

Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 13 [Último]


Capítulo 13 [FINAL]


A notícia de que Jules fora fotografado a beijar um rapaz correu pelo liceu a grande velocidade. Jules foi surpreendido com a novidade durante a hora de almoço. Naquele dia ele ia comer à cantina do liceu. Quando estava a preparar-se para se sentar numa das mesas mais afastadas, na companhia de Matoskah, um grupo de rapazes, entre eles, Rogers, começou a mandar piadas bastante brejeiras, provocando a risota geral. 


Rogers goza com Jules!

Matoskah só nessa altura se apercebeu que alguma coisa se passava e que estavam a gozar com Jules. Ele preparava-se para resolver as coisas à sua maneira, mas Jules levantou-se e impediu-o:

- Deixa-os falar, Matoskah! Por favor, não te metas em confusões!

- Jules! Eles estão a falar mal de ti! Estão a gozar contigo! Não vou tolerar isso! - resmungou Matoskah, que começava a ficar irritado com as afirmações mordazes que aqueles rapazes estavam a dizer! - Não vou permitir isso! 
  
- Puto, deixa-os falar! Não importa… Olha, vamos embora. Perdi o apetite! - rematou Jules, atirando os talheres com toda a força para cima da mesa.

- Olha, a princesa vai-se embora com o seu guarda-costas! - comentou alguém.

- A bicha deve ter contratado o índio para ser o relações-públicas, se é que me entendes! - gracejou outra pessoa, provocando a risota geral.

Jules esforçou-se o mais que pôde para não chorar. Não queria dar parte fraca ali, em frente daquela gente toda. Correu a toda a velocidade para a entrada e ficou a aguardar por Matoskah. Quando este chegou, disse-lhe:

- Vamos para o nosso cantinho na floresta. Preciso de falar contigo. Sobe para a mota! 


Matoskah ficou admirado pelo tom de voz de Jules. Acenou com a cabeça e sentou-se atrás de Jules, colocando o capacete. Este ligou a mota, colocou o capacete e arrancou a toda a velocidade.

Durante a Primavera, nos dias mais solarengos, eles preferiam vir para a floresta, ao invés de estarem no prédio abandonado. Jules ainda não tinha contado a Matoskah o que acontecera quando fora a San Lynch. Receava esse momento. A relação deles já estava por um fio. E custava-lhe magoar Matoskah. Quando chegaram ao local junto da cascata, saltaram da mota e abraçaram-se. Jules estava com muito medo do que poderia vir a acontecer a partir daquele momento.

- O que se passa, Jules? Porque estavam as pessoas a tratar-te daquela maneira na cantina? Porque não me deixaste tratar das coisas? Eles não voltariam a incomodar-te!

Jules observava Matoskah com carinho. Ele era mesmo um rapaz especial. Já lhe tinha aturado e perdoado muitas coisas. Conseguiria perdoar-lhe o que ele tinha para lhe dizer? Jules optou por seguir por outro caminho. Sentou-se num tronco e colocou Matoskah a sentar-se no seu colo.

- Jules? O que vem a ser isto? - perguntou Matoskah, com pouca convicção.

- Matoskah… - sussurrou Jules, enquanto enfiava as mãos debaixo da t-shirt deste, deslizando sobre as costas e apalpando-lhe o rabo, aquele rabo que ele tanto gostava de agarrar.

Jules estava por tudo. Agora que tinha sido descoberto, era uma questão de tempo até a sua reputação cair mais do que a Bolsa de Wall Street, na fatídica Terça-Feira Negra25!

- “Que se passa com ele? Porque age assim?” - pensava Matoskah.

- Olha lá Jules, o que é que tu tens?

- Nada… - foi a resposta deste.

- Eu conheço o teu nada. Quase sempre ele significa tudo… Tu não estás bem, Jules! Fala comigo! - pediu Matoskah.

Jules abraçou Matoskah e beijou-o.

- “Ele nunca me beijou assim… Tão acrisolado!” - pensou Matoskah, retribuindo o carinho.

As mãos de Jules deslizaram sobre o peitoral de Matoskah, enquanto ele apertava os mamilos deste. Matoskah gemia.

- Eu não te vou desapontar, Matoskah… Força! Faz aquilo que queres fazer…! - sussurrou Jules.

- O quê? Como assim? Que raio de conversa é esta, Jules?

- Shhhh!

- Puxa… Estás bem duro, Jules! Hummm! - sussurrou Matoskah, enternecido, ao colocar a mão dentro das calças de Jules.

- Estás desapontado, Matoskah?

- O quê? - Matoskah já não percebia nada.

- Quero senti-lo… Ao teu… - sussurrou Jules, tirando o animal que se debatia dentro das calças de Matoskah e que já não aguentava mais estar ali enclausurado. - Wow! Está bem grande! 

- Não… Não faças isso, Jules! Eu... Daqui a pouco não vou aguentar mais! Ohhhhh! Ahhhh!

Jules colocou-se por detrás de Matoskah, agarrando as duas feras que latejavam uma contra a outra, libertando um pouco das suas babas.

- Quem não aguenta mais sou eu, Matoskah! Preciso que cuides de mim, antes que eu enlouqueça! Por favor, Matoskah! Ahhhhhmmmm! - gemeu Jules.

- Eu consigo sentir isso, Jules! Consigo sentir o teu calor! O calor de todo o teu corpo! - murmurou Matoskah, deliciado.

Matoskah nunca tinha estado naquela posição. Que se passaria com Jules para agir assim? Havia algo nos olhos dele que estava diferente. Havia algo… Mas o que seria? Jules colocou o seu membro dentro de Matoskah. Este gritou e gemeu tão alto que alguns pássaros se assustaram e levantaram voo! Jules penetrou-o intensamente enquanto dava uma mãozinha a Matoskah, para que também ele pudesse atingir o orgasmo. Quando terminaram, Matoskah foi até ao rio para se aliviar. Jules seguiu-se-lhe.

- Estou sem palavras! - comentou Matoskah, sorrindo satisfeito. - Não sei o que se passa contigo hoje… Mas… Foi bom!


- Ainda bem que gostaste, Matoskah… - respondeu Jules, com um ar vago. - Tenho algo para te contar. Na verdade, tenho duas coisas para te falar… 

- Que se passa, Jules? Estás a deixar-me preocupado!

- Não vou estar com rodeios, Matoskah… Eu… Eu… Eu envolvi-me com um homem a semana passada! - desabafou Jules, começando a chorar. - Fui até um bar numa cidade vizinha e foi lá que o conheci! Como foi numa festa, andaram a tirar fotografias e postaram-nas nas redes sociais! O pessoal do liceu descobriu essas fotos hoje de manhã!

- Tu traíste-me, Jules? É isso que me estás a dizer? - indagou Matoskah, desiludido.

- Eu não queria! Quer dizer, eu naquele dia estava tão chateado contigo que… Sim, nesse dia eu queria mesmo! Mas…

- Porque não disseste nada antes, Jules? - a voz de Matoskah soava entorpecida.

Jules mostrava-se surpreso com o tom de voz de Matoskah. Pensou que ele fosse começar a disparatar, a gritar com ele, mas este parecia bastante triste para fazê-lo. Estava mesmo cabisbaixo e isso magoou-o ainda mais. Sentiu-se um traste da pior espécie.

- Tive medo da tua reacção … Tu não merecias que eu te fizesse isso… Aliás… Eu não te mereço, Matoskah. Tu mereces alguém bem melhor do que eu…

- O que raio estás para aí a dizer, Jules?

- Eu sou uma merda, Matoskah… Só te posso agradecer por gostares de mim, apesar de eu ser um lixo… E pelo tempo que dedicaste a mim. Quem me dera poder retribuir-te…

Matoskah aproximou-se de Jules e colocou uma mão sobre a testa deste.

- Tu estás a deixar-me preocupado! Não terás ficado com febre? Parece-me que estás a delirar…!

Jules sorriu. Lágrimas encheram os seus lindos olhos e começaram a escorrer. Suspirou e ganhando coragem, declarou:

- Tu fizeste tudo o que esteve ao teu alcance para me fazeres feliz. Sei que dedicaste-te como podias e sabias. Perdoa-me por ter sido uma porcaria como namorado. É por isso… Isto é um adeus, Matoskah. Por favor, não me procures mais. Talvez um dia possamos ser amigos, mas por agora, é melhor seguirmos caminhos diferentes. Pode ser que eu encontre alguma paz de espírito… A paz de espírito que procuro há tanto tempo…

Jules levantou-se e começou a correr, mas Matoskah foi mais rápido. Abraçou-o e perguntou, enquanto grossas lágrimas caíam pelo seu rosto: 

- Desiludi-te? Por favor, Jules! Não faças isto! É por culpa de eu querer fazer sexo sempre? Eu prometo que vou mudar! Por favor, não me deixes! Não quero ficar sem ti, Jules! Eu quero cuidar de ti, ajudar-te a curar estas feridas que tens! Não quero que sofras mais! - exclamou Matoskah, apontado para os cortes nos pulsos de Jules.


Matoskah confronta Jules sobre o facto deste se cortar constantemente!

As palavras de Matoskah derreteram o coração de Jules. Mas este já tinha decidido. Não iria voltar atrás.

- Perdoa-me. Espero que um dia me compreendas, Matoskah. E espero que nesse dia, possamos voltar a ser bons amigos! Obrigado, meu lindo! - rematou Jules, beijando Matoskah enquanto ambos choravam copiosamente.

Jules saltou para a mota e partiu a grande velocidade.


*21 de Maio*


Jules e Matoskah não foram às aulas nos dias seguintes. Sem Jules por perto, a risota inicial acabou por esmorecer dois dias depois, até porque outro acontecimento tomou o seu lugar: uma professora foi atropelada à saída do liceu, ficando em estado de coma! Ninguém sabia contar ao certo como é que o acidente tinha acontecido, pois tinha sido algo tão rápido, que começaram a circular as versões mais absurdas que se podiam imaginar!

Naquela tarde, Matoskah estava deitado na cama, a curar uma gripe forte. As ervas não estavam a funcionar muito bem desta vez. Quando Takoda chegou a casa, foi visitá-lo ao quarto e pediu-lhe para brincar com o portátil. Matoskah, que estava meio ensonado, acedeu. Alguns minutos mais tarde, Takoda entrou no quarto, assustado.

- Hey! O Jules escreveu uma coisa esquisita no Criss-Cross, Matoskah!


Matoskah virou-se para ver o que o irmão queria dizer. No perfil de Jules, este tinha colocado uma imagem, que dizia:

Eu acho que vou safar-me se ficar sozinho. 
Sem amigos, sem discussões, sem nada.
Só eu, sozinho. A Mão Divina ajudar-me-á a alcançar a Paz.

A publicação tinha sido colocada há pouco tempo, vinte minutos antes! Matoskah ficou com um mau pressentimento! A dor que sentia nos últimos dias aumentou exponencialmente! Jules estava em perigo!

Ele levantou-se, vestiu-se e disse para Takoda ficar calmo e quieto, que ele ia ver o que se passava com Jules. Saiu de casa a toda a velocidade, derrubando caixotes do lixo pelo caminho, enquanto se dirigia a casa de Jules. Chegado a casa deste, ele bateu com força, enquanto gritava.

- Jules! Estás aí? Abre a porta, por favor!

Alguns segundos mais tarde, a porta abriu-se. Era Maurice. Esta ficou admirada ao ver o rosto lívido de Matoskah. Nunca o tinha visto assim!

- Desculpe, senhora… O Jules está em casa?

Maurice acenou negativamente com a cabeça, afirmando que Jules tinha saído alguns minutos antes, de mota, sem dizer aonde ia. Matoskah agradeceu e virou costas, tentando captar o cheiro de Jules. Aos poucos, foi sentindo o rasto. O perfume de Jules deixava um odor forte, que Matoskah reconhecia com muita facilidade. O rasto acabou por perder-se não tardou muito. Porém, Matoskah deixou-se guiar pelos seus instintos e ligou para Jules. O telemóvel deste estava desligado.

- Típico…- comentou para si mesmo.

Após dar algumas voltas e perguntar a várias pessoas se tinham visto Jules, Matoskah acabou por dirigir-se para o prédio onde eles se costumavam encontrar. Uma música ecoava no ar.


- Jules? Estás aí?

Matoskah galgou os degraus rapidamente, até chegar ao terceiro andar, onde eles tinham montado o seu ninho de amor. Jules cantava algo, com olhar perdido, enquanto com uma mão espalhava algo sobre os objectos do quarto que tinham criado e com a outra cortava uma e outra vez os pulsos, que jorravam sangue intensamente!

Matoskah dá com Jules a cortar os pulsos! 

- Oh Jules! O que estás a fazer? - gritou Matoskah, desesperado, aproximando-se de Jules.

- Não te aproximes mais, Matoskah! - vociferou Jules. - Eu não quero conspurcar-te com o meu pecado! Tu não mereces isso!

- Mas…! Que raios? Tu estás doido! Jules!

Jules verteu um enorme galão sobre si. Um forte odor a gasolina espalhou-se de imediato pelo espaço.

- O que estás a fazer? Jules!

Jules sorriu. Mas era um sorriso triste.

- Matoskah…! Não imaginas como fico feliz que me tenhas encontrado…! Mas… É tarde demais…!

Os gritos de Matoskah desvaneceram-se. Horrorizado, ele viu Jules a acender e a atirar um isqueiro para o chão à sua frente! A chama percorreu de imediato todo o local, já que Jules tinha despejado outros galões de gasolina! O fogo começou a destruir todos os bens que Jules e Matoskah tinham levado para ali! 

- A morte do eu… Esta sim… É a liberdade absoluta! Obrigado, meu amor! Obrigado por todos os belos momentos que passamos juntos! 

De repente, o fogo deu uma reviravolta e Jules entrou em combustão instantânea!

Num acto final de desespero, Jules entra em combustão instantânea, depois de se regar com gasolina!

- Perdoa-me, Matoskah! Nada temo, porque a Mão Divina me irá acolher! Nada temo, porque…  - gritou Jules, atirando-se do terceiro andar!

- Jules! Nããããããooooo! - gritou Matoskah, totalmente escandalizado!


Quando a cabeça não tem juízo
Quando te esforças
Mais do que é preciso
O corpo é que paga
O corpo é que paga
Deix'ó pagar, deix'o pagar
Se tu estas a gostar

Quando a cabeça não se liberta
Das frustrações, inibições
Toda essa forca, que te aperta
O corpo é que sofre
As privações, mutilações

Quando a cabeça está convencida
De que ela é
A oitava maravilha
O corpo é que sofre
O corpo é que sofre
Deix'ó sofrer, deix'ó sofrer
Se isso te dá prazer

Quando a cabeça está nessa confusão
Estás sem saber que hás-de fazer
E ingeres tudo o que te vem à mão
O corpo é que fica
Fica a cair sem resistir

Quando a cabeça rola pró abismo
Tu não controlas esse nervosismo
A unha é que paga
A unha é que paga
Não páras de roer
Nem que esteja a doer

Quando a cabeça não tem juízo
E te consomes, mais do que é preciso
O corpo é que paga
O corpo é que paga
Deix'ó pagar, deix'ó pagar
Se tu estas a gostar

Deix'ó sofrer, deix'ó sofrer
Se isso te dá prazer

Deix'ó cantar, deix'ó cantar
Se tu estás a gostar

Deix'ó beijar, deix'ó beijar
Se tu estás a gostar


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Esta é uma obra de ficção. 
As imagens usadas nesta novela são meramente ilustrativas e destinam-se a dar mais impacto à história, assim como as músicas. 
Qualquer semelhança com a vida real terá sido mera coincidência.
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Nota do Autor:

25 - O dia 29 de Outubro de 1929 causou uma das maiores catástrofes da economia a nível mundial. Nesse dia, a Bolsa de Wall Street caiu mais de 11%, levando ao Crash da Economia. Só para ficarem com uma ideia, a Bolsa de Valores de Wall Street perdeu mais de 30 biliões de dólares, em apenas 2 dias! Este acontecimento levou ao nascimento do fenómeno “Grande Depressão”, que afectou todos os países industrializados, pelos 12 anos seguintes.

28 julho 2020

Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 12


Capítulo 12



Jules e Matoskah namoravam há mais de 2 meses. Os primeiros tempos não tinham sido fáceis. Os medos e as confusões de Jules em relação a si mesmo, associados aos choques culturais, provocaram diversas discussões que quase levaram ao final do namoro entre eles.

Os problemas começaram logo no dia seguinte. Jules não queria que ninguém soubesse do relacionamento. Isto obrigou os dois rapazes a fingirem que eram apenas bons amigos. Não podiam trocar carinho em público. Após muita insistência e persuasão, Matoskah aceitou que Jules namorasse com uma rapariga que se mostrava interessada nele. Porém, Matoskah perdeu as estribeiras durante um intervalo, dias depois, ao ver Jules a beijar a rapariga com intensidade. Matoskah e Jules por vezes iam namorar para a floresta, mas com a chegada de um Inverno rigoroso, que trouxe consigo muita neve, eles tiveram de procurar novas soluções.

A primeira delas foi os dois ficarem a namorar em casa, depois das aulas. Na casa de Jules, Maurice andava pela casa o dia todo e este nunca conseguia esconder o “entusiasmo” quando fazia sexo com Matoskah. Este revelara-se voraz no que dizia respeito ao sexo. Queria fazer sempre que estavam juntos e o seu corpo era a melhor prova disso. Estava sempre “pronto”.


Jules não conseguia esconder o seu entusiasmo quando estava com Matoskah!


Devido a isso, eles decidiram conviver para casa de Matoskah. 

Um dia, porém, eles foram apanhados por Takoda, quando estavam nus e em cima um do outro! Takoda ficou admirado por vê-los assim, mas considerou a situação muito natural. Afinal, Matoskah passava o tempo nu dentro de casa e por vezes brincava às lutas com ele.


Matoskah estava habituado a andar nu pela casa, mas esse facto ainda fazia confusão a Jules...


Jules saiu apressado da casa de Matoskah sem dizer uma palavra. Ficou a sentir-se pessimamente e cheio de vergonha. Durante alguns dias Jules até evitou frequentar a casa de Matoskah, apesar de este insistir que era o melhor local para ficarem. O irmão não tinha feito perguntas relevantes, nem falado mais no assunto. Procurar um motel estava fora de questão. Jules odiava a ideia, além de que não tinha dinheiro para tal. Apesar de ter um pai endinheirado, este controlava muito os gastos, pois era da opinião que nada se conseguia sem esforço. 

Finalmente, depois de várias tentativas frustradas, Jules e Matoskah acabaram por chegar a um consenso: havia um prédio vazio nos limites da cidade. Era um local que ninguém visitava, que há muito estava em obras de remodelação. Jules ficou contente: aquele prédio era do seu pai! Se alguém fizesse perguntas, ele responderia que andava a visitar aquilo, sob as ordens do pai. Depois de se certificarem que estariam em segurança, combinaram que aquele seria o local onde se encontrariam, já que não tinham muito tempo livre.

E foi assim que a relação deles pôde, por fim, conhecer alguma tranquilidade. Jules e Matoskah transportaram algumas coisas para o prédio, com o objectivo de tornarem o local mais confortável. Matoskah não precisava de nada, já que estava habituado à vida simples na natureza, mas acedeu ao pedido de Jules. Assim, ambos levaram um colchão, roupa, comida, bebidas, tabaco e lenha para fazerem fogueiras nos dias mais frios. Não tardou muito para que um dos andares do prédio se convertesse num ninho de amor.





*6 de Março*


Jules adorava ver a chuva cair na rua. Mais ainda quando estava na companhia de Matoskah, no prédio abandonado. Já chovia há vários dias, mas isso não era problema para eles. Afinal, com o tempo assim, ninguém andava na rua. Depois de fazerem amor, Jules fumou um charro. Tinha descoberto, semanas antes, que isso lhe dava um prazer enorme. Matoskah não gostava dessa atitude, mas como Jules lhe saciava a fome do desejo, ele acabava por não dizer nada. Naquele dia, não era excepção. A chuva caía intensamente. Jules permitiu-se encostar-se à janela do prédio, enquanto fumava, a contemplar a paisagem.

Matoskah encontrava-se num momento de relaxamento, após o orgasmo. A fogueira que tinham criado ardia com vivacidade, pelo que ele se começou a sentir sonolento. Enroscou-se na capa de inverno que levara consigo e olhou para Jules.

- Ainda há momentos estive dentro de ti… E já sinto vontade de entrar novamente! - comentou, enquanto sacava o seu membro para fora, mostrando a Jules que não estava a brincar.      

- Tu saíste-me melhor do que a encomenda, Matoskah! Livra, tu só pensas nisso! Eu estou com dores, sabes? Dá-me tempo! - resmungou Jules, entre risos.

- Vá lá… Ao menos “faz-me um bico”, Jules! - respondeu Matoskah, com voz suplicante.

- Até parece que não fazemos nada sei lá eu há quanto tempo, seu parvo! Acabamos de fazer! E mais: ainda me vais dizer onde aprendeste a falar assim, puto!  

Matoskah levantou-se e aproximou-se de Jules. Abraçou-o contra si e este sentiu de imediato o regozijo do namorado.

- Tonto! Tu és um tonto! - sussurrou Jules.

Ele encostou-se a uma parede enquanto satisfazia o desejo do namorado. Matoskah beijava-o veemente. Jules saboreava com gosto aquele prazer que tinha nas mãos. Ele crescia e endurecia a olhos vistos. Jules fechou os olhos e deixou-se levar. Degustava lentamente, não queria que terminasse depressa. Aos poucos, o falo do Matoskah ingressava naquele domínio tão seu, cada vez mais a fundo. À medida que o fazia, este crescia ainda mais. A língua de Jules deliciava-se com um gosto doce que jorrava do pénis de Matoskah. Jules abocanhou com mais gosto, enquanto Matoskah gemia de prazer. Jules agarrou-se às nádegas duras e perfeitas de Matoskah, enquanto este acelerava o ritmo. Matoskah puxou a cabeça de Jules e beijou-o no pescoço. Colocou-o de quatro.

- Eu preciso disto, Sunka24! - sussurrou Matoskah, enquanto metia o seu dote dentro de Jules.

O ritmo não cessou, muito pelo contrário! Matoskah entrava e saía a grande velocidade, perante um Jules totalmente descontrolado, agarrado às almofadas, com lençol na boca para abafar os gritos e gemidos de prazer. Este revirava os olhos. Parecia-lhe impossível que minutos antes eles tivessem feito aquilo e repetir já estar a ser tão bom! Matoskah também gemia, deliciado. Ele dizia coisas já sem nexo, no seu dialecto.

Jules também não conseguia pensar em nada. Como era bom! O seu membro necessitava de atenção e Matoskah percebeu isso. Não tardou para que este começasse a friccionar o membro de Jules à medida que dava estocadas no sesso deste. De repente, Matoskah desfrutou do orgasmo, ejaculando dentro de Jules. Este sentiu um jorro quente a inundar-lhe as entranhas, escorrer e cair no chão. Delirante, Jules atingiu o orgasmo pouco depois. Deixou que a sua essência se espalhasse pelo corpo de Matoskah, entre gemidos e arfares.





*26 de Abril*


O relacionamento de Jules e Matoskah acabou por esfriar. As discussões tornaram-se frequentes, muitas vezes pela desarmonia de tesões. Matoskah detestava discutir com Jules. Quando este iniciava arengas, ele virava costas, sem dizer nada. Isto deixava Jules à beira de um ataque de nervos, pois não gostava daquela atitude. Preferia que Matoskah berrasse e até mesmo usasse de alguma violência para justificar a sua própria frustração. Assim, Jules acabava por descarregar no seu corpo, cortando-se não só nos pulsos, mas noutras partes do corpo também.



Jules descarrega no seu corpo as frustrações que sente na sua vida...


Com a chegada da Primavera, agora que era um homem adulto aos olhos dos seus semelhantes, Matoskah tinha de estudar e praticar diversas actividades ligadas ao seu povo. Ele acabou por sentir muita necessidade de estar sozinho na floresta, a fim de se concentrar plenamente e treinar para as funções a que estava destinado na sua tribo. 


Matoskah dedica-se cada vez mais ao seu derradeiro objectivo!


Matoskah tinha de estudar a fundo sobre a cultura indígena e por vezes, Chefes da sua tribo e os seus amados ciyé5 vinham visitá-lo e treinar com ele à floresta, junto da cascata onde ele passara as provas, meses antes.

Quanto a Jules, este não abdicava das consultas no hospital e das conversas com Father Simon. Houve dias em que sentiu que aqueles momentos conseguiam ser melhores que os momentos passados na companhia de Matoskah. 


Father Simon ajuda Jules a superar a depressão em que este se encontra!


Embora continuasse sem revelar uma palavra sobre o relacionamento com Matoskah, Jules aparentava estar melhor. Pressionado pelos médicos, ele lá acabou por confessar que estava apaixonado, mas não revelou por quem, até porque ele não tinha certezas quanto ao futuro da sua relação.


*11 de Maio*


Um dia, depois de mais uma discussão com Matoskah, Jules pegou na mota e decidiu sair para espairecer. Estava muito irritado! Para piorar a situação, ele estava sem marijuana! Frustrado, Jules deu algumas voltas pela cidade. Como continuasse com a neura, acabou por dar meia-volta e seguiu viagem até à cidade mais próxima. Ele viajava sem destino. Queria apenas libertar-se daquele desconforto que sentia. Pelo caminho, lembrou-se que numa outra cidade mais a norte existia um bar gay. Ele nunca tinha ido a um. Aquela noite era perfeita para tal. Precisava de conhecer alguém e libertar a frustração que sentia. Isso ou apanhar uma bebedeira fenomenal. Melhor ainda se conseguisse juntar as duas coisas!





Animado com os planos que começava a fazer na sua mente, Jules acelerou e passada uma hora, estava às portas de San Lynch. San Lynch era uma cidade muito mais moderna, quando comparada com Grace Falls. Prédios enormes, cheios de luz e cor, rodeavam Jules. Este procurou uma orientação num mapa da cidade. Como continuasse com dúvidas, acabou por ultrapassar a vergonha que sentia e acabou por pedir ajuda a transeuntes que encontrou e que com amabilidade lhe indicaram o caminho para o “Born2B”, o bar gay da cidade.


Born2B é o bar gay da cidade de San Lynch!


Chegado lá, Jules ficou admirado ao ver o espaço. O Born2B era um espaço moderno, que naquele momento se encontrava cheio de homens. Uns dançavam na pista de dança, outros envolviam-se com outros homens ali mesmo enquanto muitos estavam sentados às mesas ou nas cadeiras do bar, enquanto observavam o ambiente ou se estimulavam. A meia-luz e entorpecido pela música, Jules aproximou-se do balcão e pediu uma bebida. Estava surpreso por ver que ninguém queria saber se ele não tinha idade para estar ali. Na verdade, já se apercebera que havia muitos jovens da idade dele e até um pouco mais novos, que dançavam freneticamente, sem se importarem de estar a ser abordados por homens com idade para serem pais deles. Jules não tardou a cruzar olhares com um homem que estava na penumbra, iluminado às vezes pelas luzes do bar.

- “Aquela cara não me é estranha… Quem será?” - pensou.

O barman, entregou um copo a Jules. Como este se mostrasse surpreendido pelo gesto, o barman disse, com um sorriso:

- Oferta daquele pedaço de mau-caminho!

Jules levantou o copo em direcção ao homem, que levantou o seu com um sorriso. Bebeu a bebida de um só trago e aproximou-se do homem.

- Olá boa noite! Obrigado pela bebida! Eu tenho estado a pensar que a sua cara é-me familiar, mas acho que não nos conhecemos… Eu sou o Jules!

O homem saiu da penumbra e sorriu abertamente:

- Não fomos apresentados formalmente, mas sim, já nos conhecemos de vista! Sou o Dr. Michael, ao teu dispôr!

- Dr. Michael? Ohhh! Você também é gay? - perguntou Jules, espantado.


O Dr. Michael é um dos médicos que trabalha no Hospital de Grace Falls!




O médico começou-se a rir, divertido. Ele era um homem alto, um pouco mais alto que Jules. Ele tinha 28 anos. Michael tinha cabelos pretos, lisos, abaixo dos ombros. Os seus olhos eram castanhos-escuros. Elegante, ele vestia uma t-shirt branca debaixo de uma camisa azul-noite, que estava aberta e calças da mesma cor, bastante justas e que lhe realçavam os atributos. Michael colocou uma mão sobre os ombros de Jules e respondeu:

- Presumo que esta seja a tua primeira vez num bar gay, estou certo? Nem toda a gente que aqui está é gay. Muitas pessoas vêm a bares gay pela música ambiente e pelo espaço em si! Mas sim, Jules. Eu sou gay. Fiquei surpreso de te ver aqui. Mas não te preocupes!

- Oh… Sabe… - retorquiu Jules.

Ele ficou atrapalhado. Tinha-se desmascarado! Como se não bastasse aquilo, a uma figura da cidade dele! Michael riu-se da atrapalhação de Jules e rapidamente ofereceu-lhe bebidas e charros, já que ele também fumava. Muito mais aliviado, Jules baixou as defesas e animado pela música, abriu o seu coração e desabafou. Não conseguiu deixar de sentir um enorme alívio ao fazê-lo. O médico escutava-o com atenção.

- Sabes, Michael? Eu não quero deixar uma marca no Mundo! Eu quero que o Mundo deixe uma marca em mim! Mas também não quero ser renegado, só porque sou do jeito que eu sou…

- Renegado, Jules? Tu achas que vivemos no século XVIII ou assim?

- As coisas não são assim tão simples! Eu… Eu não sei o que eu quero! Eu quero ser feliz! Mas não sei como! Não encontro a felicidade em lado nenhum!

Michael olhou nos olhos de Jules, aproximando-se deste.

- Sabes, Jules? Muita gente questiona exactamente a mesma coisa que tu. Achas que a maioria das pessoas aqui presentes não deseja a mesma coisa que tu? Ser feliz? A felicidade é algo especial por ser efémera. Se ela fosse algo presente o tempo todo nas nossas vidas, ela tornava-se banal… Quanto às tuas dúvidas em relação à sexualidade, eu não sou o melhor conselheiro nessa área. Devias falar com a Mariza ou com o Joshua sobre isso. Mas, da minha parte, enquanto gay, posso-te garantir que todos enfrentamos esses medos e dúvidas que te assaltam o tempo todo. Mesmo quem não é gay tem medos e dúvidas. O medo de sermos rejeitados está inerente na essência do ser humano. Ninguém quer ser rejeitado, Jules. Mas, também não deixa de ser verdade que não há mal nenhum em seres como és, muito pelo contrário. Esses medos fazem parte do nosso crescimento. Renegar a nossa essência, a nossa verdadeira natureza, isso sim, é que nos faz mal. E muito…

- Tu achas que sim? - indagou Jules, pensativo.   

- Não só acho, como tenho a certeza, Jules. Tu és um rapaz tão bonito… Porque tens tanto medo? E já agora... O teu namorado não veio contigo porquê?

- Estamos chateados. Ele só pensa em sexo, sabes? - comentou Jules, com desagrado.

- Ah ah ah ah! Nada de mais natural! Com a vossa idade, eu também pensava sempre nisso! - retorquiu Michael, rindo-se.

Ao fim de várias rodadas, Jules já só dizia coisas disparatadas. Queria ir para a pista de dança dançar com Michael.

- Anda, esta música é porreira! Vem daí! - clamou Jules, dando mãos ao médico e conduzindo-o para o palco!

Ali, os dois jovens deixaram-se levar pelo momento. Michael e Jules tiraram as t-shirts e beijaram-se com volúpia. Outros homens aproximaram-se e apalpavam Jules e Michael, mas estes não davam por nada, de tão focados que estavam um no outro. Quando a música terminou, Michael convidou Jules para irem para sua casa, onde poderiam estar mais à vontade.

Este aceitou de imediato.


*17 de Maio*




- Olhem só as fotografias que postaram da última festa do Born2B! - comentou Rogers, um colega de Jules, durante um intervalo.   

- O quê? O que é isso do Born2B? - perguntou Michelle.

- Um bar em San Lynch! Michelle, tu vais gostar de ver estas! - rematou Rogers, com um ar gozão.



Jules bem tentou manter segredo sobre a sua sexualidade, mas...


Jules aparecia em várias fotografias a dançar de forma ousada, seminu. Numa delas, ele surgia abraçado a um homem mais velho, não dando para ver quem era, enquanto trocavam um beijo.


[Continua...]


E no próximo episódio...

Jules bem tentou esconder de toda a gente, mas uma câmara indiscreta apanhou-o e carregou o seu segredo directamente para a rede social Criss-Cross! Conseguirá o rapaz aguentar este golpe? 

Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 13 [FINAL]
31 de Julho de 2020, disponível a partir das 00:00!

27 julho 2020

Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 11


Capítulo 11






Jules passou muito tempo dos dias que se seguiram a pensar no que acontecera. Na sua fantasia, as coisas eram muito mais agradáveis! Ele debatia-se com sentimentos de culpa. O que raio acontecera com a satisfação que tinha quando imaginava tudo? Para onde fora a alegria que sentira naquela noite, aconchegado no peito de Matoskah? Houve momentos em que pura e simplesmente ele não conseguia acreditar que alguma coisa tivesse ocorrido. Por outro lado, existiam coisas que Jules não conseguia esquecer. Vivera momentos que tinham sido bons demais. 

E ele estava desejoso de repetir.

Depois da forma como Jules se tinha despedido, Matoskah achou melhor respeitar o espaço que depreendera que o amigo lhe tivesse pedido. Assim, nos dias que se seguiram, manteve-se muito afastado dele. Apesar de não querer, todos os colegas aperceberam-se de que Matoskah parecia triste. Nos intervalos, ele sentava-se num recanto dos jardins a tocar uma melodia melancólica na sua flauta. Alguns colegas de turma até chegaram a comentar que Matoskah e Jules tinham-se zangado.


*10 de Dezembro de 2016*


Depois da hora de almoço, o pai de Jules telefonou.

- Então filho, como tens estado?

- Pai! Então! Tudo bem? Que te aconteceu?

- Apanhei uma tempestade de neve aqui onde me encontro! Foi por isso que não te pude ligar nos últimos dias! Espero que não tenhas ficado muito preocupado!

- A mãe falou-me nessa possibilidade! Caso contrário, teria morrido de preocupação! - comentou Jules, com um meio sorriso. - Agora a sério… Tu estás bem? Quando voltas para casa?

- Bom, para te dizer a verdade, ainda não sei! Assim que os aviões puderem voar, creio. Talvez daqui a dois ou três dias… Tens dado trabalho à Maurice?

- Nah! Ela está aqui, pai! Queres falar com ela?

- Não é preciso! Estás a portar-te bem, é isso que importa. Olha, como está o tempo por aí?

- Aqui está um pouco de sol, mas já disseram que para a semana vamos ter o nosso primeiro nevão!

- Ah é? Então é melhor aproveitares! Filho, podes dar umas voltas na tua mota! Eu deixo-te!

- Estás a falar a sério? Ó pai, obrigado! - guinchou Jules, todo contente!

- Olha lá… O que estás a pensar fazer durante o fim-de-semana?

- Eu devo ficar por casa, tenho provas para a semana. O Matoskah logo vem cá dormir, se não te importares. Vamos estudar juntos…

- Não me importo nada! Fazem bem! A Maurice que prepare algo para vocês comerem!

- Sim, ela já está a fazê-lo! Vou dar-lhe o resto do dia de folga depois!

- É isso mesmo, filho! Até terça-feira! Beijos!

- Tchau, pai! Boa viagem! Beijos!

Jules suspirou animado quando desligou. Tivera receio que o pai não autorizasse a ida de Matoskah. Claro que este iria de uma forma ou de outra, mas assim, pelo menos, não corria o risco de apanhar um castigo, logo agora que o pai o autorizara a andar na mota! 

Depois de Maurice ter tudo pronto, Jules vestiu-se e foi à garagem buscar a mota. Sentou-se nela e num ápice estava à porta de Matoskah. Este, ao ouvir o barulho da mota, veio à porta e foi com surpresa que viu Jules a sorrir-lhe, feliz.

- Oi! Já tens tudo pronto? Queres vir dar uma volta de mota comigo? É a minha viagem inaugural, ah ah ah!

Matoskah coçou a cabeça, atrapalhado.

- Andar… Nisso? É seguro?

Jules começou-se a rir:

- ‘Tás a gozar! Tu nunca andaste de mota?

- Para ser sincero… Não… Nunca gostei desses objectos que vocês usam… - comentou Matoskah, um pouco acabrunhado.

Jules desligou a mota e saltou, aproximando-se de Matoskah. Olhou para ele com carinho e disse:

- Matoskah… Não tem mal! Está tudo bem contigo? Sempre queres vir dormir hoje a minha casa?

Este olhou para Jules, um pouco surpreso!

- Tu… Tu não te esqueceste! Mas eu pensei que…

- Teremos muito tempo para falar sobre isso. Já arranjaste as tuas coisas?

- Eu vou a casa num instante! Volto já! - rematou Matoskah, virando costas a grande velocidade.

Takoda apareceu à porta minutos depois, um pouco choroso.

- Eu também queria ir para tua casa! Mas o Matoskah diz que hoje é só para meninos crescidos!

Jules aproximou-se de Takoda e abraçou-o.

- Assim é! Eu e o teu irmão vamos estudar para umas provas que temos para a semana!

- Oh, isso é chato! Aposto que vocês vão fazer outras coisas bem melhores! - resmungou o pequeno. 

- Para a semana eu deixo o teu irmão em casa e vens tu passar a noite comigo! Que me dizes? - perguntou Jules, brincalhão.

- Sim! Vamos brincar muito! E comer gelado! E contar histórias! E…

- Estou pronto! - exclamou Matoskah, com um pequeno saco às costas.

Chayton acompanhava o filho. Takoda correu para junto do pai.

- Pai! O Jules disse que para a semana me leva para casa dele e deixa o Matoskah em casa! Vou passar a noite fora! E vamos comer gelado!

O pai de Matoskah e Takoda riu-se com gosto.

- Que bom, meu filho! Hoje vamos ficar só eu e tu! Vamos ver aquele filme que tu tanto querias ver!

- Yuuuuppiii! - guinchou Takoda.

- Matoskah, precisas de alguma coisa? Levas dinheiro? - perguntou Chayton.

- Tudo em ordem, pai! Obrigado!

Chayton aproximou-se de Jules:

- Toma conta do meu filho! E cuidado, que ele nunca andou de mota! Se saírem à noite, vejam lá se não bebem nada de esquisito!

- Eh pai, fogo! Eu já sou um homem, não precisas de estar com essa conversa! - resmungou Matoskah.

Jules começou-se a rir! A cena parecia-lhe familiar! Com uma vénia, sorriu e respondeu:

- Esteja descansado. Nós vamos dar uma voltinha na minha mota e daqui a pouco vamos para casa. Afinal, temos testes para semana, vamos aproveitar para estudar um pouco…

Chayton ficou satisfeito por ouvir aquilo. Mais aliviado, rematou:

- Muito bem! Meus filhos, espero que se divirtam muito! Até amanhã!

- Adeus, pai! Adeus, Takoda! - despediu-se Matoskah, enquanto Jules e ele se sentavam na mota e colocavam os capacetes.   

Pouco depois, Jules e Matoskah circulavam pela cidade, sorrindo felizes. Era engraçado como a perspectiva mudava completamente, vista de cima de uma mota. Matoskah partilhava estes pensamentos com Jules, que conduzia devagar, para que Matoskah não se assustasse. Depois de darem uma volta pela cidade, Matoskah perguntou:

- Porque não aceleras um pouco?

Jules riu-se.

- Tu não tinhas medo? Estou a andar devagar por tua causa!

Matoskah fingiu-se ofendido:

- Medo? Eu? Deves estar a confundir-me com alguém!

Jules entrou na brincadeira e ripostou:

- Ah é? Então agarra-te a mim, que vou acelerar!





Matoskah assim fez. Aconchegou-se, colocou os seus braços ao redor do corpo de Jules e enfiou as suas mãos frias dentro do casaco dele.

- Tenho as mãos frias, preciso de me aquecer! - sussurrou Matoskah, com um tom de voz bem sedutor.

As mãos de Matoskah depressa chegaram aonde queriam. O corpo de Jules não tardou a dar sinal da invasão subtil. Jules sorriu, atrapalhado por não conseguir disfarçar o embaraço. Naquele momento não se importou. 

Queria viver o momento. 

Acelerou a toda a velocidade. 

Matoskah, por sua vez, também não conseguia ocultar a rigidez que surgia nas suas calças e que se comprimia, furiosa, sob as costas de Jules. Os dois rapazes estavam felizes e riam-se um para o outro. Depois de passearem algum tempo sem destino, Jules acabou por virar num caminho que ia dar a um pequeno lago.

Quando Jules desligou a mota, Matoskah saltou logo fora e não conseguiu disfarçar o alívio que era estar com os dois pés sobre terra firme! Jules achou piada, mas não disse nada. Matoskah aproximou-se dele e beijou-o. Jules retribuiu, beijando-o energeticamente. Matoskah começou logo a tirar a roupa e Jules seguiu-se-lhe.

- Ó Jules… Meu Sunka! Se soubesses como estava desejoso de fazer isto…!

- Eu também, Matoskah… Eu também… - respondeu Jules, num sussurro.


Jules e Matoskah beijam-se com tesão, mas...


Matoskah começou a percorrer o corpo de Jules. Este deixou-se levar, totalmente imobilizado pelo desejo. As mãos de Matoskah deslizavam sobre o seu peito, apertando-lhe os mamilos, que depressa ficaram erectos. Jules gemia. Matoskah beijava o pescoço de Jules, enquanto as suas mãos se detinham perante o falo de Jules, que estava hirto! Nessa altura, Matoskah sussurrou:

- Hummmm… Temos aqui algo bem duro! É melhor eu fazer alguma coisa, não é?

- Uhhhhnnnn! Não pares! - gemeu Jules, incapaz de resistir.

Acenando com a cabeça, Matoskah prosseguiu. Deslizava lentamente o membro de Jules, à medida que este endurecia e crescia ainda mais. Jules já não conseguia disfarçar de nenhuma forma o quão prazeroso aquele momento estava a ser. Ele queria que aquela situação se prolongasse.

O corpo dele estava à espera daquela ocasião há tanto tempo que, pouco tempo depois, libertava a sua essência para cima de Matoskah. Este sorriu feliz. Jules, por sua vez, após aquela euforia que advém do orgasmo, levantou-se e começou-se a vestir. Matoskah olhou para ele, completamente incrédulo!




- Jules? Então e eu?

- Tratamos disso em casa, está bem? Está a cair a noite. Eu tenho medo de não encontrar o caminho de regresso… - respondeu Jules, com alguma frieza.

- Ah é? Então se é assim, agora esperas! - resmungou Matoskah, com azedume.

Este começou a masturbar-se ali mesmo. Como estava bastante excitado, rapidamente atingiu o clímax. Jules evitou o contacto visual durante todo o tempo que Matoskah estivera “entretido”. Ele sentia-se sujo e enojado. Porque tinha de ser assim? Já estava arrependido de ter marcado o encontro para o fim-de-semana. Que pensaria Matoskah de tudo aquilo?

- Estás pronto? Então vamos embora! - rematou Jules, colocando o capacete e ligando a mota.

Matoskah sentou-se atrás dele, em silêncio. Estava amuado. Não conseguia entender o que se passava com Jules. Será que este estava com vergonha dele, por causa de ele ser indígena? A viagem decorreu em silêncio. Os dois amigos estavam perdidos nos seus próprios pensamentos. 

Chegados a casa de Jules, este convidou o amigo a entrar. Mal entraram e Jules fechou a porta, Matoskah encostou-o contra uma parede e inquiriu, num tom de voz ríspido:

- Olha lá… O que é que tu tens? Já é a segunda vez que me rejeitas! Pensas que eu sou o quê? Um boneco que podes usar conforme te dá na cabeça? Uma pila ambulante, que usas quando estás com o tesão? É isso? Se pensas assim, mais vale dizeres, que eu vou-me já embora!

Jules empurrou-o, mas Matoskah tinha muito mais força! Olhando-o nos olhos, respondeu, assustado:

- Espera! Entendeste tudo mal! Não é nada disso! Olha Matoskah, fazes o favor de me largar? Eu não queria que nos chateássemos!

Matoskah respirou fundo e afastou-se. Sentou-se num dos sofás da sala. Jules seguiu-se-lhe, enquanto esfregava os pulsos.

- Eu não sei por onde começar, Matoskah… Eu peço-te desculpas!

- Outra vez isso? O que foi agora, Jules?

Jules suspirou, cansado.

- Olha Matoskah… Eu nunca me tinha envolvido com um rapaz… Esta é a minha primeira vez… Quer dizer… Bom… Tu entendeste…

- Já me tinhas dito isso…

- Não é isso. Deixa-me continuar. Eu… Eu estou um bocado confuso com tudo isto, Matoskah! Eu… Eu nunca tinha sentido isto por ninguém. Quer dizer…. Bem… - Daniel irrompeu-lhe os pensamentos. Jules hesitou durante uns segundos antes de prosseguir. - O que quero dizer é… Para mim, tudo isto é muito estranho e confuso!

- Acho que estás a fazer uma tempestade num copo-d’água, Jules…

- Pois eu não acho! Aliás, não entendo como encaras tudo com tanta naturalidade! Tu és gay, Matoskah?

- Gay? O que é isso? - perguntou Matoskah, rindo-se divertido.

- Oh! Vai-te foder, Matoskah! ‘Tás a gozar comigo, é que só pode! Como é que tu não sabes o que é isso? No outro dia fodeste comigo e com os outros rapazes da tua tribo! Vocês beijaram-se com volúpia à minha frente! Além do que fizemos depois! E pareceram-me bastante satisfeitos com isso! - resmungou Jules.

- Deixa-me ver se eu percebi bem, Jules… - questionou Matoskah, com ar sereno. - Então… Para ti, ser gay é isso? Expressar a alegria que nos vai na alma? Demonstrar afecto e amor pelas pessoas que são especiais para nós? Se beijasses ou fizesses amor com uma rapariga, isso fazia de ti gay?

Jules abanou de imediato a cabeça.

- Não! Ser gay é quando fazes isso com alguém do mesmo género que tu! Se for com alguém de género diferente, então…

- Se for com uma rapariga… Então não tem mal, aos teus olhos… Para ti, só é isso de ser gay quando é um rapaz a fazer com outro rapaz. - rematou Matoskah.   

- E quando é uma rapariga a fazer com uma rapariga. Sim, é isso. - completou Jules.

- Sendo assim, porque ficas sempre alterado quando estou por perto? Desde que nos conhecemos que tu ficas esquisito quando estás comigo, Jules!

Matoskah tinha tocado na ferida. Jules ainda se surpreendia com os lapsos de perspicácia do amigo. Embora Matoskah fosse bastante inocente, havia momentos, como aquele, em que ele demonstrava muita sagacidade. Jules coçou a cabeça, enquanto rebuscava uma desculpa. 

Por fim, suspirou cansado e desabafou:

- Eu… Bem… Hummmm… Não tenho bem a certeza do que vou dizer, Matoskah… Mas… Acho que estou a gostar de ti. Passo os dias a pensar em ti. Quando não estou contigo, o meu coração bate mais forte, se me recordo de ti. Quando não estou contigo, parece que deixo de ter forças para viver. Tenho dias em que conto os segundos que faltam para te voltar a ver. Tu invadiste o meu coração de assalto. Conquistaste-o. Ele bate por ti e para ti.


Finalmente, Jules abre o seu coração e confessa o seu amor a Matoskah!


Matoskah aproximou-se de Jules e beijou-o apaixonadamente.

- Sunka…! Nunca ninguém me disse nada tão bonito…! Mas… Eu sinto que tens medo de sentir isso, não é?

- Eu acho que nunca me apaixonei assim por alguém! Matoskah… Tu és um rapaz!  Eu não queria sentir isto! Eu não sei como lidar com isto!

Jules começou a chorar, triste e confuso. Matoskah abraçou-o com carinho.

- Ó Jules… Não precisas de ficar assim… Qual é o mal de estares apaixonado por mim? Tens medo de que eu te rejeite? Tens medo que deixemos de ser amigos por causa disso? É esse o teu medo? Tem alguma coisa a ver com o facto de eu ser indígena?

- Não! Nada disso! Que estupidez, Matoskah! Claro que não tem nada a ver com tu seres indígena! Não, Matoskah! O meu medo é…

Jules ficou com um nó na garganta. Como explicar a Matoskah o que sentia? Ele parecia tão seguro de si! Não parecia sentir qualquer tipo de problema por ter um rapaz a declarar-se a ele! Então, porque estava a custar-lhe tanto?

- Eu acho que já percebi qual é o teu problema. Tu não estás habituado a amar e a ser amado de volta. É isso, Jules?

Aquela questão deixou Jules a olhar para Matoskah durante algum tempo, sem saber o que responder. Nunca tinha pensado nisso! Sempre se sentira amado... No entanto, existia um vazio no seu coração desde sempre. Recordou-se de Daniel. Nem ele fora capaz de preencher aquele vazio, muito por culpa de Jules. Aquele vazio que deixara de sentir quando conhecera Matoskah! Respirando fundo, Jules explicou, conforme pôde:

- Parece-me que tens razão no que dizes, Matoskah… Embora eu ache que se trate de outra coisa. Tu és o primeiro rapaz por quem me estou a apaixonar de verdade. Acho eu. Sempre gostei de raparigas… Mas também não é menos verdade que eu já nutri algo por rapazes no passado. Mas isso deixava-me desconfortável. Eu não queria sentir-me assim… Eu não quero ser assim!

- Assim como?

- Fogo… Assim! Sujo, confuso, às vezes enojado!

Matoskah ficou muito surpreendido quando escutou aquilo! Sentou-se ao lado de Jules e tocou no rosto deste. Baixando o tom de voz, perguntou:

- Comigo… Sentes-te assim? Eu faço-te mal?

Jules virou o rosto e fechou os olhos.

- Não me entendas mal, Matoskah. Eu sei que vivemos e viemos de culturas diferentes. Talvez seja por isso que tu és como és e eu sou como sou...

Matoskah aproximou o seu rosto do rosto de Jules.  

- Sunka! Não foi bom, tudo aquilo que fizemos com os meus amados ciyé da outra vez? Não foi bom fazer aquilo que estávamos a fazer hoje de tarde? Porque estás a reprimir aquilo que te faz realmente feliz?

Jules abriu os olhos. Os olhos de Matoskah estavam bem perto dos seus. Ele conseguia sentir a respiração quente e levemente acelerada de Matoskah. Assim ficava difícil resistir aos seus avanços! Jules sorriu para ele, enquanto acariciava os seus longos cabelos castanho-avermelhados.

- Olha Matoskah… Se quiseres ter paciência comigo… Se me quiseres ajudar… Ahmmm… Se me quiseres ajudar a descobrir quem eu sou… O que eu sou… Então… Então eu serei todo teu… - rematou Jules, beijando Matoskah.

Entre beijos e arfares, Matoskah sussurrou:

- Não tenhas medo, Sunka! Eu só não quero que sofras mais! Deixa-me fazer-te feliz!

- Ensina-me, Matoskah! Ensina-me a ser maravilhoso como tu… - respondeu Jules, enquanto Matoskah o pegava ao colo e o levava para o andar de cima.

Jules indicou a Matoskah qual era o seu quarto. Matoskah colocou-o na cama com muito cuidado. Jules estava encantado! Matoskah deitou-se em cima dele e beijaram-se intensamente.

- Vamos com calma, está bem? - pediu Jules, ligando a televisão.

- O senhor manda! - respondeu Matoskah, com um sorriso brincalhão.

- Ohhhhh! - exclamou Jules, bastante satisfeito. - Esta música!

Na televisão, um clip de música começou a tocar. Matoskah virou-se, incrédulo:




- Whitney Houston? - exclamou, dando uma gargalhada.

- Conheces? Pensei que só escutavas música indígena!

- Existe tanta coisa que ainda não sabes sobre mim, Sunka! Agora… Whitney Houston? Isso sim, é ser gay! - exclamou Matoskah, entre risos.

Jules empurrou-o para o lado e saltou da cama, começando a dançar, feliz!

- Ohhh! Vai-te lixar, puto! - respondeu Jules, bastante divertido.

[Whitney Houston]

Existe um rapaz que eu conheço, é com ele que eu sonho
Quando ele olha nos meus olhos, ele leva-me às nuvens
Ohhh, eu perco o controlo, não me canso
Quando acordo dos meus sonhos, vejo que é amor!

Como saberei? (Não confies nos teus sentimentos!)
Como saberei?
Como saberei? (O amor pode iludir-te!)
Como saberei?
Como saberei se ele me ama de verdade?

Eu digo uma prece a cada batida do coração
Eu apaixono-me sempre que me encontro com ele
Eu pergunto-te: O que sabes tu destas coisas?
Como saberei se ele está a pensar em mim?

Tentei o telefone, mas eu sou tímida demais (Não consigo falar!)
Sentirmo-nos apaixonados é algo agridoce!
Este amor é forte, porquê que me sinto frágil?

Ohhh! Acorda-me, estou a tremer, queria ter-te perto de mim agora!
Não há como confundir, o que eu sinto é realmente amor!
Como saberei? (Não confies nos teus sentimentos!)
Como saberei?
Como saberei? (O amor pode iludir-te!)
Como saberei?
Como saberei se ele me ama de verdade?

Se me ama, se não me ama!
Se me ama, se não me ama!
Se me ama, se não me ama!




Matoskah abraçou Jules e entre beijos, este sussurrou:


- Que o amor dure, enquanto tivermos sorte…


[Continua...]

22 julho 2020

Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 10


Capítulo 9


Os amigos de Matoskah começaram a urrar e a bater palmas, rindo felizes. Matoskah ficou surpreso com o gesto de Jules. Apesar disso, deixou-se levar, beijando-o intensamente! Jules, porém, afastou Matoskah, segundos depois!

Os amigos de Matoskah aproximaram-se de Matoskah e rindo, abraçaram-no. Trocaram um beijo entre si e depois com ele! Jules olhava para eles, sem saber o que pensar! Os amigos de Matoskah beijavam-se e beijavam Matoskah! Parecia que nenhum deles se sentia mal com isso! Seriam todos gays? Porquê que havia problemas se fosse ele a beijá-lo? Jules sentia-se confuso! Queria beijar Matoskah há tanto tempo! Porque tinha ficado assim?

- “Estraguei tudo! Sou um estúpido! Mesmo estúpido!” - pensou, esforçando-se para não chorar.

Os amigos de Matoskah sentaram-se à volta da fogueira, para se aquecerem, enquanto Matoskah ia à tenda dele buscar comida e bebida para se alimentarem. Matoskah puxou Jules para a beira deles e falando no seu dialecto, apresentou-o:

- Amados ciyé5, hoje é um dia muito feliz para a nossa tribo! Além de eu ter passado nas provas que prepararam para mim, o meu colega e amigo Jules passou na prova que o torna um dos nossos! Saudemos o nosso novo ciyé5! Temos de pensar num nome para ele! Mas, antes disso, brindemos!

- Assim é que se fala, Matoskah! Taŋyáŋ yahí18, misún6Jules! - gritou um dos rapazes, sendo seguido pelos restantes.

Os amigos de Matoskah levantaram-se. Aproximaram-se de Jules e um a um, abraçaram-no e deram-lhe um beijo, apresentando-se:

- Eu sou o Cetan Nagin19! - Muito prazer! - disse um rapaz de cabelos prateados com olhos azuis esbranquiçados.



Cetan Nagin


- Eu sou o Mahpyua Leita20! - declarou um rapaz de cabelos pretos, com grandes madeixas brancas.



Mahpyua Leita



- Eu sou o Siha Sapa21! Sou um dos primos do Matoskah! - declarou um rapaz de cabelos escuros, com um olhar cativante, como o de Matoskah.



Siha Sapa



- E eu sou o Wakinyan22! - rematou um rapaz que tinha colocado uma capa de coiote sobre a cabeça.



Wakinyan


- Deves estar com frio não é, Jules? Anda aqui! - pediu Matoskah.

Jules fez uma vénia aos novos amigos e foi ter com Matoskah à sua tenda. Este entregou-lhe uma capa para colocar sobre as costas, tirando outras capas para os seus amigos. Estes já tinham montado duas tendas ao lado da sua e também eles tinham ido buscar coisas para comer e beber. Como estava frio, todos colocaram as capas sobre as costas e sentaram-se bem juntinhos uns dos outros, enquanto olhavam para a chama da fogueira, que ardia viçosa.




A noite em si estava linda. O céu estava totalmente limpo, repleto de estrelas. Depois de comerem e beberem até ficarem bem saciados, todos deitaram-se ali mesmo, no conforto da fogueira, enquanto observavam as estrelas. Wakinyan, que aparentava ser o mais velho do grupo, contava lendas da tribo e já não devia ser a primeira vez que o fazia. Os amigos acrescentavam detalhes às histórias, aqui e ali, entre muita risota. Matoskah acabou por pedir a Wakinyan para contar as aventuras do Rapaz-Coelho, para alegria de Jules.

Jules por sua vez, já não se sentia assim tão bem havia muito tempo. Sentia-se totalmente em paz. Cetan foi à tenda e trouxe uma guitarra. Matoskah foi buscar mais bebidas e Mahpyua foi buscar um cachimbo especial. Não tardou para todos começassem a entoar cânticos indígenas e a rir, enquanto bebiam e fumavam.

- Agora que já és um homem, já podes fumar no cachimbo, Matoskah! - congratulou Siha.

Matoskah não gostava de fumar, mas naquele dia permitiu-se a isso. Como Jules olhasse para ele, Matoskah explicou:

- Este é um cachimbo muito especial! O cachimbo sagrado! Só os homens adultos o podem fumar! É uma outra versão do famoso cachimbo da paz, do qual já deves ter ouvido falar! Este é o cachimbo usado nas celebrações dos rapazes que se tornam homens!

Jules experimentou o cachimbo e começou logo a tossir! As ervas eram muito fortes! Rindo-se atrapalhado com os restantes, ele tentou várias vezes até lhe apanhar o jeito. Os efeitos das ervas não tardaram a fazer efeito!

Sentindo-se extremamente eufórico, Jules não tardou a levantar-se, enquanto dançava e saltava ao redor da fogueira, totalmente nu. Os amigos, contagiados pelo seu entusiasmo, imitaram-no. Se existissem animais selvagens nas redondezas, certamente já tinham fugido dali a sete pés, tal era a algazarra que os 6 rapazes estavam a fazer! A dada altura, Wakinyan foi buscar uma garrafa à tenda. Tratava-se de uma bebida especial, preparada para ocasiões como aquela.

- Nós chamamos a esta bebida o Elixir de Holos. Meus senhores, provemos o Whisky do Sol. À nossa, meus ciyé5!

Jules sentiu as entranhas a queimar, quando bebeu um copo daquele whisky! Todos começaram a tossir e riram-se uns dos outros! Beberam vários copos enquanto diziam coisas já sem nexo. A dada altura, Jules levantou-se.

- Vocês são muito boas pessoas! Mas… Foda-se! Tenho de mijar! - comentou, cambaleando até ao rio.

Os amigos levantaram-se e passados uns momentos, estavam todos lado a lado, enquanto suspiravam aliviados.

- Isto é tão bom… - divagou Matoskah.

- Podes crer! - suspiraram os restantes, sorrindo entre si.

Todos regressaram para junto da fogueira. Jules sentou-se ao lado de Matoskah. Encostou a cabeça no peito deste, beijando-o. Matoskah passou as mãos sobre o peito de Jules, enquanto os restantes se sentavam junto deles e acariciavam Matoskah.





- Tu hoje és a nossa wičháȟpi23, Matoskah! - sussurrou Wakinyan, beijando Matoskah.


Cetan, Mahpyua e Siha fizeram o mesmo. Não tardou nada para que todos os rapazes se envolvessem uns com os outros. Jules já perdera completamente o controlo sobre as suas acções. Ele beijava Matoskah e os seus novos amigos, sendo retribuído com beijos escaldantes, carícias íntimas e chupões.

Jules estava acostumado a beber álcool, mas o Elixir de Holos era novidade. Não sabia se fora por conta da bebida ou do cachimbo, mas depois da euforia inicial, ele teve a estranha sensação de que os seus sentidos estavam a ficar mais lentos.

- Sinto-me um super-herói às avessas... - comentou, provocando a risota geral.

Os movimentos de Jules, pelo contrário, eram rápidos. As suas mãos deslizavam sobre um peito delineado. Ou estariam a deslizar sobre outras coisas? O seu raciocínio estava a leste do Paraíso. A mente, meio esfumaçada. Já não conseguia pensar em nada! A sua visão, um tanto turva. O que ele sentia era apenas um aconchego. Um aconchego como ele não se recordava de alguma vez ter sentido.

A sua visão, mesmo enevoada, via que os rapazes ao seu lado se riam imenso. Ele só sabia que estava dentro de um círculo. Um círculo que emanava uma alegria enorme.


- “Porque será que eles se estão a rir?” - pensou.

A boca não conseguiu expressar a dúvida que lhe surgira nos pensamentos. Ele não sabia os motivos e naquele momento não era importante descobrir. Jules sabia apenas que era divertido estar ali! Sentia-se vivo! Não tardou a descobrir que não havia necessidade de manter os olhos abertos para participar daquela felicidade, já que esta era contagiante!

O corpo dele demonstrava esse rasgo de bem-estar. Mesmo com os olhos fechados, Jules via que estava num ambiente livre, libertador, natural, novo! A cabeça dele, aconchegada no peito de Matoskah, sentia-se como se estivesse estendida sobre uma enorme almofada felpuda, de tão macia que era! Nunca estivera num ambiente tão acolhedor! No entanto, a última coisa em que ele pensava era em adormecer.

Naquele travesseiro pulsava um coração acelerado, que fazia o ambiente ficar ainda mais festivo, mais rítmico! Parecia que aquela melodia que escutava, que fazia tum-tum, tum-tum, tum-tum, tinha sido composta especialmente para ele. O coração de Jules tentava acompanhar as batidas do coração da sua almofada, tocando a mesma melodia. Queria aprender a tocá-la, queria escutá-la para sempre!

A fogueira ria-se para Jules. O coração da sua almofada dizia-lhe o que ele precisava escutar. Assim, não foi surpresa quando o seu pescoço recebeu o vapor e o arfar... De uma chaleira? Não! Não podia ser uma chaleira, pois a sua cabeça estava recostada no peito de Matoskah. Porém, junto com o sussurro da chaleira, sentiu uma quentura molhada a sugar o seu pescoço, a envolver-se na sua nuca. 

Se fosse uma jibóia prestes a esganá-lo, permitir-se-ia que morresse sufocado, pois naquele momento ele estava tão agradável, tão perfeito, que acreditava que aquele era o seu destino! Sendo uma jibóia, uma trepadeira ou um cipó, aquelas quenturas molhadas que arfavam próximas aos seus ouvidos, murmuravam incompreensões que faziam todo o sentido. Tentou abrir os olhos, mas para quê? Se estava nos braços de Matoskah, ele sabia que estava no seu porto seguro!

Ao tentar levantar-se, para mudar de posição, Jules sentiu as garras de um animal feroz a puxá-lo para o chão! O seu corpo nu caiu em cima do animal. Ou seria do travesseiro? Talvez da chaleira? Quem sabe se tinha sido apanhado pelo abraço da jibóia? Não sabia que animal o agarrava, mas permitiu-se agarrar o animal também! O seu corpo tornou-se uma sucessão de arrepios.

De cada vez que uma das garras passava pelas suas costas, ele puxava a sua cabeça para junto da dele. Nessas alturas, ele sentia que as garras lhe perfuravam a alma, destroçavam o seu espírito e o libertavam de prisões em que estivera acorrentado desde sempre!

Do nada, a sua boca recebeu um gosto quente, furioso, urgente! Parecia-lhe um beijo. Jules já beijara antes. Já beijara muitas vezes, mas aquilo não era um beijo! Aquilo que sua boca recebia era uma chama de desespero! Algo fazia com que a sua boca fosse o oxigénio que mantinha uma, duas, três, quatro, cinco feras vivas! Todas elas procuravam a salvação, o ar que as mantinha de boa saúde! A sua língua sentia-se como sendo quase mastigada ou talvez fosse o próprio Jules quem mastigava a língua das feras que o procuravam! E nesse momento, o ritmo do seu coração certamente acompanhou o compasso do travesseiro. Um pensamento assustou-o:

- “Será que estes constantes arrepios, a cada dez ou quinze segundos, poderão causar-me algum tipo de mal súbito ou até mesmo um enfarte?”

Era tanta a adrenalina que sentia a percorrer no seu corpo por cada arrepio que lhe percorria a espinha, que tinha medo de desfalecer! O seu corpo parecia feito de gelatina, de tão molengo que se encontrava! 

Jules estava deitado num travesseiro macio, preso a uma fera feroz, com uma chaleira a arfar nos seus ouvidos murmúrios esclarecedores, uma jibóia a envolvê-lo, com uma quentura a explodir, dentro de si. Quem sabe Jules até se queimasse sozinho? Naquele momento, era possível que ele entrasse numa combustão espontânea!

O sexo não era novidade para Jules. Mas a sensação daquele momento era novidade! Sabia que estava no lugar certo, com as pessoas certas, fazendo as coisas certas. E sentiu uma sensação de felicidade, de bem-estar, de… 

...Enfim… 

...Paz! 

Quando as suas pernas sentiram outras garras, sabia que a noite não se reduziria a entregar-se apenas a uma fera! Não tardou para que outras feras o puxassem para si, fazendo o mesmo, fazendo o oposto, fazendo o melhor dos ataques! Outras chaleiras ao ouvido, outras jibóias sobre o seu corpo, outros travesseiros onde Jules pôde recostar a cabeça. 

Cada um destes travesseiros possuía um coração específico, com uma melodia particular. Todas as melodias davam vontade de dançar. E por conta disto, Jules permitiu-se experimentar cada um destes novos ritmos. Tentava abrir os olhos, mas só conseguia ver a fogueira à sua frente! 

Não sabia se estava dentro da fogueira, se estava próximo dela, se ele era a própria fogueira! O que sabia é que ele parecia que ia explodir a qualquer momento! E isto era simplesmente a melhor coisa que poderia acontecer! Todos deixaram-se levar pelo momento. Rapidamente escutaram-se gemidos de seis vozes que procuravam saciar-se. 

Naquela noite, Jules gritou como nunca tinha gritado.


*4 de Dezembro de 2016*


Cetan e os amigos arrumaram tudo e despediram-se de Matoskah e Jules pouco depois do almoço.

- Vocês já vão? Vou sentir a vossa falta, amados ciyé5! - comentou Matoskah.

- Tem de ser, tem de ser! A viagem ainda é longa, tu sabes. A viagem no cavalo-de-ferro é longa…

- É só um até breve, Matoskah! Tu vens passar as festas à Reserva, certo? - perguntou Siha.

- Oh sim! Estou cheio de saudades! Mal posso esperar! - respondeu Matoskah, com um grande sorriso.

Wakinyan aproximou-se de Jules.

- Também sentiremos a tua falta, Sunka24! Espero que um dia destes o Matoskah te leve à Lakota Oyate15! Agora és um de nós!

Jules abraçou cada um dos novos amigos e com um sorriso, respondeu:

- Awwwwnnn! Aiiii…! Obrigado! Eu também sentirei a vossa falta! Vocês por acaso têm perfil no Criss-Cross? Se sim, eu mando-vos pedido de amizade! Poderemos falar por lá também!

- Combinado! É só procurares os nossos nomes! Adeus! Até breve! - responderam Cetan, Mahpyua, Siha e Wakinyan.

Os quatro rapazes pegaram nas mochilas, colocaram-nas às costas e com um último aceno, viraram costas, começando a correr enquanto urravam em coro com Matoskah, que sorria muito satisfeito. Quando desapareceram, o sorriso de Matoskah desvaneceu-se e começou a apagar a fogueira.


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- É melhor nós irmos também, Jules…

Jules aproximou-se de Matoskah e deu-lhe um beijo. Este sorriu e de imediato animou-se, deitando Jules por terra e colocando-se em cima dele. Jules encolheu-se. Estava cheio de dores.

- Não. Não vamos fazer nada agora, desculpa… Só quis dar-te um beijo… - suspirou.

- Estás chateado comigo? Foi por causa do que se passou durante a noite?

- Oh…! Não é nada disso… - mentiu.

Jules não queria que Matoskah ficasse chateado com ele. Não depois de tudo o que acontecera nas últimas 12 horas. Tinha sido uma noite inesquecível! Mas Jules ainda não estava certo de ter sido pelos melhores motivos. Na verdade, sentia-se mais incomodado do que nunca. Como Matoskah olhasse para ele com ar inquisidor, Jules explicou:

- Matoskah, eu nunca tinha feito sexo assim, com um rapaz. Quanto mais com cinco! Não estava nada à espera…

- Eu também nunca tinha feito assim, Jules! Foi a minha primeira vez… Quer dizer... Bem… Hummmm.... - comentou Matoskah, envergonhado.

Por esta é que Jules não contava! Virou-se totalmente surpreendido para Matoskah, que se levantara e virara costas, enquanto desmontava a tenda.

- Estás a falar a sério? Matoskah! Como…?

- Eu e os meus ciyé5não vemos as coisas da mesma forma que vocês, os caras-pálidas, vêem. Não distribuímos a nossa essência por aí, entendes?

- Então… Tu nunca tinhas feito nada com ninguém?

Matoskah corou.

- Já tinha feito com eles. 

- E ontem? Foi bom? Gostaste?

Matoskah aproximou-se de Jules e beijou-o.

- Poder deixar dentro de ti a minha essência… Foi bom, sim!

Jules ficou corado que nem um tomate e apercebendo-se dos avanços de Matoskah, empurrou-o para trás e levantou-se. O alto que surgia entre pernas já não dava para disfarçar, pelo que Jules foi à sua mochila buscar as roupas e começou-se a vestir. Matoskah fez o mesmo, um pouco aborrecido.

- Vá lá, Matoskah! Tem paciência! Estou cheio de dores!

- Coloca estas ervas, que isso passa…! - comentou Matoskah, apontado para umas ervas junto da tenda, com um sorriso maroto.

- Parvo! - respondeu Jules, enquanto Matoskah pegava nas suas coisas e as colocava às costas.

Depois de se certificarem que deixavam tudo limpo, Jules e Matoskah regressaram à cidade. O sol já descia no horizonte. Não tardaria a anoitecer. 

Jules manteve-se calado grande parte do tempo, enquanto escutava Matoskah a tocar uma flauta de madeira. À medida que se afastavam da floresta e regressavam à civilização, a disposição de Jules foi-se alterando. Se não fosse aquele momento, Jules teria achado que tudo não teria passado de um sonho bastante nítido. Afinal, ele estava com bastantes dores. Quando chegaram a casa de Matoskah, este abraçou Jules e preparava-se para beijá-lo, mas este afastou-o.

- Não. Aqui não, Matoskah!

- Porquê? Qual o mal, Sunka24? Agora és um dos nossos! És considerado um irmão entre os homens da minha tribo!

- Um irmão, ? Dá-me tempo… Está bem? Dá-me tempo para digerir tudo o que aconteceu, ok?

- Presumo que isso signifique que não queres entrar e passar a noite comigo… Mesmo que eu te garanta que hoje dormimos só os dois, aconteça o que acontecer? - perguntou Matoskah, com um olhar sedutor.

Os olhos de Matoskah brilhavam, tal como no dia em que ele e Jules se tinham conhecido. Jules suspirou, cansado.

- Olha, Matoskah… No próximo fim-de-semana vens dormir a minha casa. Que tal? Pode ser? Combinamos isso durante os próximos dias!

- Jules…! Espera! - retorquiu Matoskah, confuso com atitude do amigo.

- Eu vou indo, Matoskah! O meu pai deve estar possesso por eu não dar notícias desde ontem! - rematou Jules, desatando a correr para casa.



Confuso com tudo o que aconteceu, Jules foge de Matoskah...




Notas do Autor:

18 - Bem-vindo!
19- Falcão das Sombras;
20- Nuvem Vermelha;
21- Pé Preto;
22- Pássaro do Trovão;
23- Estrela;
24- Cão; Wakinyan usa aqui o termo com duplo sentido. Além de ser o nome que decidiram para Jules, representando a Amizade e a Lealdade, também refere-se aos acontecimentos da noite que passaram juntos.


[Continua...]