Capítulo 13 [FINAL]
A notícia de que Jules fora fotografado a beijar um rapaz correu pelo liceu a grande velocidade. Jules foi surpreendido com a novidade durante a hora de almoço. Naquele dia ele ia comer à cantina do liceu. Quando estava a preparar-se para se sentar numa das mesas mais afastadas, na companhia de Matoskah, um grupo de rapazes, entre eles, Rogers, começou a mandar piadas bastante brejeiras, provocando a risota geral.
Rogers goza com Jules!
Matoskah só nessa altura se apercebeu que alguma coisa se passava e que estavam a gozar com Jules. Ele preparava-se para resolver as coisas à sua maneira, mas Jules levantou-se e impediu-o:
- Deixa-os falar, Matoskah! Por favor, não te metas em confusões!
- Jules! Eles estão a falar mal de ti! Estão a gozar contigo! Não vou tolerar isso! - resmungou Matoskah, que começava a ficar irritado com as afirmações mordazes que aqueles rapazes estavam a dizer! - Não vou permitir isso!
- Puto, deixa-os falar! Não importa… Olha, vamos embora. Perdi o apetite! - rematou Jules, atirando os talheres com toda a força para cima da mesa.
- Olha, a princesa vai-se embora com o seu guarda-costas! - comentou alguém.
- A bicha deve ter contratado o índio para ser o relações-públicas, se é que me entendes! - gracejou outra pessoa, provocando a risota geral.
Jules esforçou-se o mais que pôde para não chorar. Não queria dar parte fraca ali, em frente daquela gente toda. Correu a toda a velocidade para a entrada e ficou a aguardar por Matoskah. Quando este chegou, disse-lhe:
- Vamos para o nosso cantinho na floresta. Preciso de falar contigo. Sobe para a mota!
Matoskah ficou admirado pelo tom de voz de Jules. Acenou com a cabeça e sentou-se atrás de Jules, colocando o capacete. Este ligou a mota, colocou o capacete e arrancou a toda a velocidade.
Durante a Primavera, nos dias mais solarengos, eles preferiam vir para a floresta, ao invés de estarem no prédio abandonado. Jules ainda não tinha contado a Matoskah o que acontecera quando fora a San Lynch. Receava esse momento. A relação deles já estava por um fio. E custava-lhe magoar Matoskah. Quando chegaram ao local junto da cascata, saltaram da mota e abraçaram-se. Jules estava com muito medo do que poderia vir a acontecer a partir daquele momento.
- O que se passa, Jules? Porque estavam as pessoas a tratar-te daquela maneira na cantina? Porque não me deixaste tratar das coisas? Eles não voltariam a incomodar-te!
Jules observava Matoskah com carinho. Ele era mesmo um rapaz especial. Já lhe tinha aturado e perdoado muitas coisas. Conseguiria perdoar-lhe o que ele tinha para lhe dizer? Jules optou por seguir por outro caminho. Sentou-se num tronco e colocou Matoskah a sentar-se no seu colo.
- Jules? O que vem a ser isto? - perguntou Matoskah, com pouca convicção.
- Matoskah… - sussurrou Jules, enquanto enfiava as mãos debaixo da t-shirt deste, deslizando sobre as costas e apalpando-lhe o rabo, aquele rabo que ele tanto gostava de agarrar.
Jules estava por tudo. Agora que tinha sido descoberto, era uma questão de tempo até a sua reputação cair mais do que a Bolsa de Wall Street, na fatídica Terça-Feira Negra25!
- “Que se passa com ele? Porque age assim?” - pensava Matoskah.
- Olha lá Jules, o que é que tu tens?
- Nada… - foi a resposta deste.
- Eu conheço o teu nada. Quase sempre ele significa tudo… Tu não estás bem, Jules! Fala comigo! - pediu Matoskah.
Jules abraçou Matoskah e beijou-o.
- “Ele nunca me beijou assim… Tão acrisolado!” - pensou Matoskah, retribuindo o carinho.
As mãos de Jules deslizaram sobre o peitoral de Matoskah, enquanto ele apertava os mamilos deste. Matoskah gemia.
- Eu não te vou desapontar, Matoskah… Força! Faz aquilo que queres fazer…! - sussurrou Jules.
- O quê? Como assim? Que raio de conversa é esta, Jules?
- Shhhh!
- Puxa… Estás bem duro, Jules! Hummm! - sussurrou Matoskah, enternecido, ao colocar a mão dentro das calças de Jules.
- Estás desapontado, Matoskah?
- O quê? - Matoskah já não percebia nada.
- Quero senti-lo… Ao teu… - sussurrou Jules, tirando o animal que se debatia dentro das calças de Matoskah e que já não aguentava mais estar ali enclausurado. - Wow! Está bem grande!
- Não… Não faças isso, Jules! Eu... Daqui a pouco não vou aguentar mais! Ohhhhh! Ahhhh!
Jules colocou-se por detrás de Matoskah, agarrando as duas feras que latejavam uma contra a outra, libertando um pouco das suas babas.
- Quem não aguenta mais sou eu, Matoskah! Preciso que cuides de mim, antes que eu enlouqueça! Por favor, Matoskah! Ahhhhhmmmm! - gemeu Jules.
- Eu consigo sentir isso, Jules! Consigo sentir o teu calor! O calor de todo o teu corpo! - murmurou Matoskah, deliciado.
Matoskah nunca tinha estado naquela posição. Que se passaria com Jules para agir assim? Havia algo nos olhos dele que estava diferente. Havia algo… Mas o que seria? Jules colocou o seu membro dentro de Matoskah. Este gritou e gemeu tão alto que alguns pássaros se assustaram e levantaram voo! Jules penetrou-o intensamente enquanto dava uma mãozinha a Matoskah, para que também ele pudesse atingir o orgasmo. Quando terminaram, Matoskah foi até ao rio para se aliviar. Jules seguiu-se-lhe.
- Estou sem palavras! - comentou Matoskah, sorrindo satisfeito. - Não sei o que se passa contigo hoje… Mas… Foi bom!
- Ainda bem que gostaste, Matoskah… - respondeu Jules, com um ar vago. - Tenho algo para te contar. Na verdade, tenho duas coisas para te falar…
- Que se passa, Jules? Estás a deixar-me preocupado!
- Não vou estar com rodeios, Matoskah… Eu… Eu… Eu envolvi-me com um homem a semana passada! - desabafou Jules, começando a chorar. - Fui até um bar numa cidade vizinha e foi lá que o conheci! Como foi numa festa, andaram a tirar fotografias e postaram-nas nas redes sociais! O pessoal do liceu descobriu essas fotos hoje de manhã!
- Tu traíste-me, Jules? É isso que me estás a dizer? - indagou Matoskah, desiludido.
- Eu não queria! Quer dizer, eu naquele dia estava tão chateado contigo que… Sim, nesse dia eu queria mesmo! Mas…
- Porque não disseste nada antes, Jules? - a voz de Matoskah soava entorpecida.
Jules mostrava-se surpreso com o tom de voz de Matoskah. Pensou que ele fosse começar a disparatar, a gritar com ele, mas este parecia bastante triste para fazê-lo. Estava mesmo cabisbaixo e isso magoou-o ainda mais. Sentiu-se um traste da pior espécie.
- Tive medo da tua reacção … Tu não merecias que eu te fizesse isso… Aliás… Eu não te mereço, Matoskah. Tu mereces alguém bem melhor do que eu…
- O que raio estás para aí a dizer, Jules?
- Eu sou uma merda, Matoskah… Só te posso agradecer por gostares de mim, apesar de eu ser um lixo… E pelo tempo que dedicaste a mim. Quem me dera poder retribuir-te…
Matoskah aproximou-se de Jules e colocou uma mão sobre a testa deste.
- Tu estás a deixar-me preocupado! Não terás ficado com febre? Parece-me que estás a delirar…!
Jules sorriu. Lágrimas encheram os seus lindos olhos e começaram a escorrer. Suspirou e ganhando coragem, declarou:
- Tu fizeste tudo o que esteve ao teu alcance para me fazeres feliz. Sei que dedicaste-te como podias e sabias. Perdoa-me por ter sido uma porcaria como namorado. É por isso… Isto é um adeus, Matoskah. Por favor, não me procures mais. Talvez um dia possamos ser amigos, mas por agora, é melhor seguirmos caminhos diferentes. Pode ser que eu encontre alguma paz de espírito… A paz de espírito que procuro há tanto tempo…
Jules levantou-se e começou a correr, mas Matoskah foi mais rápido. Abraçou-o e perguntou, enquanto grossas lágrimas caíam pelo seu rosto:
- Desiludi-te? Por favor, Jules! Não faças isto! É por culpa de eu querer fazer sexo sempre? Eu prometo que vou mudar! Por favor, não me deixes! Não quero ficar sem ti, Jules! Eu quero cuidar de ti, ajudar-te a curar estas feridas que tens! Não quero que sofras mais! - exclamou Matoskah, apontado para os cortes nos pulsos de Jules.
Matoskah confronta Jules sobre o facto deste se cortar constantemente!
As palavras de Matoskah derreteram o coração de Jules. Mas este já tinha decidido. Não iria voltar atrás.
- Perdoa-me. Espero que um dia me compreendas, Matoskah. E espero que nesse dia, possamos voltar a ser bons amigos! Obrigado, meu lindo! - rematou Jules, beijando Matoskah enquanto ambos choravam copiosamente.
Jules saltou para a mota e partiu a grande velocidade.
*21 de Maio*
Jules e Matoskah não foram às aulas nos dias seguintes. Sem Jules por perto, a risota inicial acabou por esmorecer dois dias depois, até porque outro acontecimento tomou o seu lugar: uma professora foi atropelada à saída do liceu, ficando em estado de coma! Ninguém sabia contar ao certo como é que o acidente tinha acontecido, pois tinha sido algo tão rápido, que começaram a circular as versões mais absurdas que se podiam imaginar!
Naquela tarde, Matoskah estava deitado na cama, a curar uma gripe forte. As ervas não estavam a funcionar muito bem desta vez. Quando Takoda chegou a casa, foi visitá-lo ao quarto e pediu-lhe para brincar com o portátil. Matoskah, que estava meio ensonado, acedeu. Alguns minutos mais tarde, Takoda entrou no quarto, assustado.
- Hey! O Jules escreveu uma coisa esquisita no Criss-Cross, Matoskah!
Matoskah virou-se para ver o que o irmão queria dizer. No perfil de Jules, este tinha colocado uma imagem, que dizia:
“Eu acho que vou safar-me se ficar sozinho.
Sem amigos, sem discussões, sem nada.
Só eu, sozinho. A Mão Divina ajudar-me-á a alcançar a Paz.”
A publicação tinha sido colocada há pouco tempo, vinte minutos antes! Matoskah ficou com um mau pressentimento! A dor que sentia nos últimos dias aumentou exponencialmente! Jules estava em perigo!
Ele levantou-se, vestiu-se e disse para Takoda ficar calmo e quieto, que ele ia ver o que se passava com Jules. Saiu de casa a toda a velocidade, derrubando caixotes do lixo pelo caminho, enquanto se dirigia a casa de Jules. Chegado a casa deste, ele bateu com força, enquanto gritava.
- Jules! Estás aí? Abre a porta, por favor!
Alguns segundos mais tarde, a porta abriu-se. Era Maurice. Esta ficou admirada ao ver o rosto lívido de Matoskah. Nunca o tinha visto assim!
- Desculpe, senhora… O Jules está em casa?
Maurice acenou negativamente com a cabeça, afirmando que Jules tinha saído alguns minutos antes, de mota, sem dizer aonde ia. Matoskah agradeceu e virou costas, tentando captar o cheiro de Jules. Aos poucos, foi sentindo o rasto. O perfume de Jules deixava um odor forte, que Matoskah reconhecia com muita facilidade. O rasto acabou por perder-se não tardou muito. Porém, Matoskah deixou-se guiar pelos seus instintos e ligou para Jules. O telemóvel deste estava desligado.
- Típico…- comentou para si mesmo.
Após dar algumas voltas e perguntar a várias pessoas se tinham visto Jules, Matoskah acabou por dirigir-se para o prédio onde eles se costumavam encontrar. Uma música ecoava no ar.
- Jules? Estás aí?
Matoskah galgou os degraus rapidamente, até chegar ao terceiro andar, onde eles tinham montado o seu ninho de amor. Jules cantava algo, com olhar perdido, enquanto com uma mão espalhava algo sobre os objectos do quarto que tinham criado e com a outra cortava uma e outra vez os pulsos, que jorravam sangue intensamente!
Matoskah dá com Jules a cortar os pulsos!
- Oh Jules! O que estás a fazer? - gritou Matoskah, desesperado, aproximando-se de Jules.
- Não te aproximes mais, Matoskah! - vociferou Jules. - Eu não quero conspurcar-te com o meu pecado! Tu não mereces isso!
- Mas…! Que raios? Tu estás doido! Jules!
Jules verteu um enorme galão sobre si. Um forte odor a gasolina espalhou-se de imediato pelo espaço.
- O que estás a fazer? Jules!
Jules sorriu. Mas era um sorriso triste.
- Matoskah…! Não imaginas como fico feliz que me tenhas encontrado…! Mas… É tarde demais…!
Os gritos de Matoskah desvaneceram-se. Horrorizado, ele viu Jules a acender e a atirar um isqueiro para o chão à sua frente! A chama percorreu de imediato todo o local, já que Jules tinha despejado outros galões de gasolina! O fogo começou a destruir todos os bens que Jules e Matoskah tinham levado para ali!
- A morte do eu… Esta sim… É a liberdade absoluta! Obrigado, meu amor! Obrigado por todos os belos momentos que passamos juntos!
De repente, o fogo deu uma reviravolta e Jules entrou em combustão instantânea!
Num acto final de desespero, Jules entra em combustão instantânea, depois de se regar com gasolina!
- Perdoa-me, Matoskah! Nada temo, porque a Mão Divina me irá acolher! Nada temo, porque… - gritou Jules, atirando-se do terceiro andar!
- Jules! Nããããããooooo! - gritou Matoskah, totalmente escandalizado!
Nota do Autor:
25 - O dia 29 de Outubro de 1929 causou uma das maiores catástrofes da economia a nível mundial. Nesse dia, a Bolsa de Wall Street caiu mais de 11%, levando ao Crash da Economia. Só para ficarem com uma ideia, a Bolsa de Valores de Wall Street perdeu mais de 30 biliões de dólares, em apenas 2 dias! Este acontecimento levou ao nascimento do fenómeno “Grande Depressão”, que afectou todos os países industrializados, pelos 12 anos seguintes.