Capítulo 11
Jules passou muito tempo dos dias que se seguiram a pensar no que acontecera. Na sua fantasia, as coisas eram muito mais agradáveis! Ele debatia-se com sentimentos de culpa. O que raio acontecera com a satisfação que tinha quando imaginava tudo? Para onde fora a alegria que sentira naquela noite, aconchegado no peito de Matoskah? Houve momentos em que pura e simplesmente ele não conseguia acreditar que alguma coisa tivesse ocorrido. Por outro lado, existiam coisas que Jules não conseguia esquecer. Vivera momentos que tinham sido bons demais.
E ele estava desejoso de repetir.
Depois da forma como Jules se tinha despedido, Matoskah achou melhor respeitar o espaço que depreendera que o amigo lhe tivesse pedido. Assim, nos dias que se seguiram, manteve-se muito afastado dele. Apesar de não querer, todos os colegas aperceberam-se de que Matoskah parecia triste. Nos intervalos, ele sentava-se num recanto dos jardins a tocar uma melodia melancólica na sua flauta. Alguns colegas de turma até chegaram a comentar que Matoskah e Jules tinham-se zangado.
*10 de Dezembro de 2016*
Depois da hora de almoço, o pai de Jules telefonou.
- Então filho, como tens estado?
- Pai! Então! Tudo bem? Que te aconteceu?
- Apanhei uma tempestade de neve aqui onde me encontro! Foi por isso que não te pude ligar nos últimos dias! Espero que não tenhas ficado muito preocupado!
- A mãe falou-me nessa possibilidade! Caso contrário, teria morrido de preocupação! - comentou Jules, com um meio sorriso. - Agora a sério… Tu estás bem? Quando voltas para casa?
- Bom, para te dizer a verdade, ainda não sei! Assim que os aviões puderem voar, creio. Talvez daqui a dois ou três dias… Tens dado trabalho à Maurice?
- Nah! Ela está aqui, pai! Queres falar com ela?
- Não é preciso! Estás a portar-te bem, é isso que importa. Olha, como está o tempo por aí?
- Aqui está um pouco de sol, mas já disseram que para a semana vamos ter o nosso primeiro nevão!
- Ah é? Então é melhor aproveitares! Filho, podes dar umas voltas na tua mota! Eu deixo-te!
- Estás a falar a sério? Ó pai, obrigado! - guinchou Jules, todo contente!
- Olha lá… O que estás a pensar fazer durante o fim-de-semana?
- Eu devo ficar por casa, tenho provas para a semana. O Matoskah logo vem cá dormir, se não te importares. Vamos estudar juntos…
- Não me importo nada! Fazem bem! A Maurice que prepare algo para vocês comerem!
- Sim, ela já está a fazê-lo! Vou dar-lhe o resto do dia de folga depois!
- É isso mesmo, filho! Até terça-feira! Beijos!
- Tchau, pai! Boa viagem! Beijos!
Jules suspirou animado quando desligou. Tivera receio que o pai não autorizasse a ida de Matoskah. Claro que este iria de uma forma ou de outra, mas assim, pelo menos, não corria o risco de apanhar um castigo, logo agora que o pai o autorizara a andar na mota!
Depois de Maurice ter tudo pronto, Jules vestiu-se e foi à garagem buscar a mota. Sentou-se nela e num ápice estava à porta de Matoskah. Este, ao ouvir o barulho da mota, veio à porta e foi com surpresa que viu Jules a sorrir-lhe, feliz.
- Oi! Já tens tudo pronto? Queres vir dar uma volta de mota comigo? É a minha viagem inaugural, ah ah ah!
Matoskah coçou a cabeça, atrapalhado.
- Andar… Nisso? É seguro?
Jules começou-se a rir:
- ‘Tás a gozar! Tu nunca andaste de mota?
- Para ser sincero… Não… Nunca gostei desses objectos que vocês usam… - comentou Matoskah, um pouco acabrunhado.
Jules desligou a mota e saltou, aproximando-se de Matoskah. Olhou para ele com carinho e disse:
- Matoskah… Não tem mal! Está tudo bem contigo? Sempre queres vir dormir hoje a minha casa?
Este olhou para Jules, um pouco surpreso!
- Tu… Tu não te esqueceste! Mas eu pensei que…
- Teremos muito tempo para falar sobre isso. Já arranjaste as tuas coisas?
- Eu vou a casa num instante! Volto já! - rematou Matoskah, virando costas a grande velocidade.
Takoda apareceu à porta minutos depois, um pouco choroso.
- Eu também queria ir para tua casa! Mas o Matoskah diz que hoje é só para meninos crescidos!
Jules aproximou-se de Takoda e abraçou-o.
- Assim é! Eu e o teu irmão vamos estudar para umas provas que temos para a semana!
- Oh, isso é chato! Aposto que vocês vão fazer outras coisas bem melhores! - resmungou o pequeno.
- Para a semana eu deixo o teu irmão em casa e vens tu passar a noite comigo! Que me dizes? - perguntou Jules, brincalhão.
- Sim! Vamos brincar muito! E comer gelado! E contar histórias! E…
- Estou pronto! - exclamou Matoskah, com um pequeno saco às costas.
Chayton acompanhava o filho. Takoda correu para junto do pai.
- Pai! O Jules disse que para a semana me leva para casa dele e deixa o Matoskah em casa! Vou passar a noite fora! E vamos comer gelado!
O pai de Matoskah e Takoda riu-se com gosto.
- Que bom, meu filho! Hoje vamos ficar só eu e tu! Vamos ver aquele filme que tu tanto querias ver!
- Yuuuuppiii! - guinchou Takoda.
- Matoskah, precisas de alguma coisa? Levas dinheiro? - perguntou Chayton.
- Tudo em ordem, pai! Obrigado!
Chayton aproximou-se de Jules:
- Toma conta do meu filho! E cuidado, que ele nunca andou de mota! Se saírem à noite, vejam lá se não bebem nada de esquisito!
- Eh pai, fogo! Eu já sou um homem, não precisas de estar com essa conversa! - resmungou Matoskah.
Jules começou-se a rir! A cena parecia-lhe familiar! Com uma vénia, sorriu e respondeu:
- Esteja descansado. Nós vamos dar uma voltinha na minha mota e daqui a pouco vamos para casa. Afinal, temos testes para semana, vamos aproveitar para estudar um pouco…
Chayton ficou satisfeito por ouvir aquilo. Mais aliviado, rematou:
- Muito bem! Meus filhos, espero que se divirtam muito! Até amanhã!
- Adeus, pai! Adeus, Takoda! - despediu-se Matoskah, enquanto Jules e ele se sentavam na mota e colocavam os capacetes.
Pouco depois, Jules e Matoskah circulavam pela cidade, sorrindo felizes. Era engraçado como a perspectiva mudava completamente, vista de cima de uma mota. Matoskah partilhava estes pensamentos com Jules, que conduzia devagar, para que Matoskah não se assustasse. Depois de darem uma volta pela cidade, Matoskah perguntou:
- Porque não aceleras um pouco?
Jules riu-se.
- Tu não tinhas medo? Estou a andar devagar por tua causa!
Matoskah fingiu-se ofendido:
- Medo? Eu? Deves estar a confundir-me com alguém!
Jules entrou na brincadeira e ripostou:
- Ah é? Então agarra-te a mim, que vou acelerar!
Jules e Matoskah beijam-se com tesão, mas...
Matoskah começou a percorrer o corpo de Jules. Este deixou-se levar, totalmente imobilizado pelo desejo. As mãos de Matoskah deslizavam sobre o seu peito, apertando-lhe os mamilos, que depressa ficaram erectos. Jules gemia. Matoskah beijava o pescoço de Jules, enquanto as suas mãos se detinham perante o falo de Jules, que estava hirto! Nessa altura, Matoskah sussurrou:
- Hummmm… Temos aqui algo bem duro! É melhor eu fazer alguma coisa, não é?
- Uhhhhnnnn! Não pares! - gemeu Jules, incapaz de resistir.
Acenando com a cabeça, Matoskah prosseguiu. Deslizava lentamente o membro de Jules, à medida que este endurecia e crescia ainda mais. Jules já não conseguia disfarçar de nenhuma forma o quão prazeroso aquele momento estava a ser. Ele queria que aquela situação se prolongasse.
O corpo dele estava à espera daquela ocasião há tanto tempo que, pouco tempo depois, libertava a sua essência para cima de Matoskah. Este sorriu feliz. Jules, por sua vez, após aquela euforia que advém do orgasmo, levantou-se e começou-se a vestir. Matoskah olhou para ele, completamente incrédulo!
- Jules? Então e eu?
- Tratamos disso em casa, está bem? Está a cair a noite. Eu tenho medo de não encontrar o caminho de regresso… - respondeu Jules, com alguma frieza.
- Ah é? Então se é assim, agora esperas! - resmungou Matoskah, com azedume.
Este começou a masturbar-se ali mesmo. Como estava bastante excitado, rapidamente atingiu o clímax. Jules evitou o contacto visual durante todo o tempo que Matoskah estivera “entretido”. Ele sentia-se sujo e enojado. Porque tinha de ser assim? Já estava arrependido de ter marcado o encontro para o fim-de-semana. Que pensaria Matoskah de tudo aquilo?
- Estás pronto? Então vamos embora! - rematou Jules, colocando o capacete e ligando a mota.
Matoskah sentou-se atrás dele, em silêncio. Estava amuado. Não conseguia entender o que se passava com Jules. Será que este estava com vergonha dele, por causa de ele ser indígena? A viagem decorreu em silêncio. Os dois amigos estavam perdidos nos seus próprios pensamentos.
Chegados a casa de Jules, este convidou o amigo a entrar. Mal entraram e Jules fechou a porta, Matoskah encostou-o contra uma parede e inquiriu, num tom de voz ríspido:
- Olha lá… O que é que tu tens? Já é a segunda vez que me rejeitas! Pensas que eu sou o quê? Um boneco que podes usar conforme te dá na cabeça? Uma pila ambulante, que usas quando estás com o tesão? É isso? Se pensas assim, mais vale dizeres, que eu vou-me já embora!
Jules empurrou-o, mas Matoskah tinha muito mais força! Olhando-o nos olhos, respondeu, assustado:
- Espera! Entendeste tudo mal! Não é nada disso! Olha Matoskah, fazes o favor de me largar? Eu não queria que nos chateássemos!
Matoskah respirou fundo e afastou-se. Sentou-se num dos sofás da sala. Jules seguiu-se-lhe, enquanto esfregava os pulsos.
- Eu não sei por onde começar, Matoskah… Eu peço-te desculpas!
- Outra vez isso? O que foi agora, Jules?
Jules suspirou, cansado.
- Olha Matoskah… Eu nunca me tinha envolvido com um rapaz… Esta é a minha primeira vez… Quer dizer… Bom… Tu entendeste…
- Já me tinhas dito isso…
- Não é isso. Deixa-me continuar. Eu… Eu estou um bocado confuso com tudo isto, Matoskah! Eu… Eu nunca tinha sentido isto por ninguém. Quer dizer…. Bem… - Daniel irrompeu-lhe os pensamentos. Jules hesitou durante uns segundos antes de prosseguir. - O que quero dizer é… Para mim, tudo isto é muito estranho e confuso!
- Acho que estás a fazer uma tempestade num copo-d’água, Jules…
- Pois eu não acho! Aliás, não entendo como encaras tudo com tanta naturalidade! Tu és gay, Matoskah?
- Gay? O que é isso? - perguntou Matoskah, rindo-se divertido.
- Oh! Vai-te foder, Matoskah! ‘Tás a gozar comigo, é que só pode! Como é que tu não sabes o que é isso? No outro dia fodeste comigo e com os outros rapazes da tua tribo! Vocês beijaram-se com volúpia à minha frente! Além do que fizemos depois! E pareceram-me bastante satisfeitos com isso! - resmungou Jules.
- Deixa-me ver se eu percebi bem, Jules… - questionou Matoskah, com ar sereno. - Então… Para ti, ser gay é isso? Expressar a alegria que nos vai na alma? Demonstrar afecto e amor pelas pessoas que são especiais para nós? Se beijasses ou fizesses amor com uma rapariga, isso fazia de ti gay?
Jules abanou de imediato a cabeça.
- Não! Ser gay é quando fazes isso com alguém do mesmo género que tu! Se for com alguém de género diferente, então…
- Se for com uma rapariga… Então não tem mal, aos teus olhos… Para ti, só é isso de ser gay quando é um rapaz a fazer com outro rapaz. - rematou Matoskah.
- E quando é uma rapariga a fazer com uma rapariga. Sim, é isso. - completou Jules.
- Sendo assim, porque ficas sempre alterado quando estou por perto? Desde que nos conhecemos que tu ficas esquisito quando estás comigo, Jules!
Matoskah tinha tocado na ferida. Jules ainda se surpreendia com os lapsos de perspicácia do amigo. Embora Matoskah fosse bastante inocente, havia momentos, como aquele, em que ele demonstrava muita sagacidade. Jules coçou a cabeça, enquanto rebuscava uma desculpa.
Por fim, suspirou cansado e desabafou:
- Eu… Bem… Hummmm… Não tenho bem a certeza do que vou dizer, Matoskah… Mas… Acho que estou a gostar de ti. Passo os dias a pensar em ti. Quando não estou contigo, o meu coração bate mais forte, se me recordo de ti. Quando não estou contigo, parece que deixo de ter forças para viver. Tenho dias em que conto os segundos que faltam para te voltar a ver. Tu invadiste o meu coração de assalto. Conquistaste-o. Ele bate por ti e para ti.
Finalmente, Jules abre o seu coração e confessa o seu amor a Matoskah!
Matoskah aproximou-se de Jules e beijou-o apaixonadamente.
- Sunka…! Nunca ninguém me disse nada tão bonito…! Mas… Eu sinto que tens medo de sentir isso, não é?
- Eu acho que nunca me apaixonei assim por alguém! Matoskah… Tu és um rapaz! Eu não queria sentir isto! Eu não sei como lidar com isto!
Jules começou a chorar, triste e confuso. Matoskah abraçou-o com carinho.
- Ó Jules… Não precisas de ficar assim… Qual é o mal de estares apaixonado por mim? Tens medo de que eu te rejeite? Tens medo que deixemos de ser amigos por causa disso? É esse o teu medo? Tem alguma coisa a ver com o facto de eu ser indígena?
- Não! Nada disso! Que estupidez, Matoskah! Claro que não tem nada a ver com tu seres indígena! Não, Matoskah! O meu medo é…
Jules ficou com um nó na garganta. Como explicar a Matoskah o que sentia? Ele parecia tão seguro de si! Não parecia sentir qualquer tipo de problema por ter um rapaz a declarar-se a ele! Então, porque estava a custar-lhe tanto?
- Eu acho que já percebi qual é o teu problema. Tu não estás habituado a amar e a ser amado de volta. É isso, Jules?
Aquela questão deixou Jules a olhar para Matoskah durante algum tempo, sem saber o que responder. Nunca tinha pensado nisso! Sempre se sentira amado... No entanto, existia um vazio no seu coração desde sempre. Recordou-se de Daniel. Nem ele fora capaz de preencher aquele vazio, muito por culpa de Jules. Aquele vazio que deixara de sentir quando conhecera Matoskah! Respirando fundo, Jules explicou, conforme pôde:
- Parece-me que tens razão no que dizes, Matoskah… Embora eu ache que se trate de outra coisa. Tu és o primeiro rapaz por quem me estou a apaixonar de verdade. Acho eu. Sempre gostei de raparigas… Mas também não é menos verdade que eu já nutri algo por rapazes no passado. Mas isso deixava-me desconfortável. Eu não queria sentir-me assim… Eu não quero ser assim!
- Assim como?
- Fogo… Assim! Sujo, confuso, às vezes enojado!
Matoskah ficou muito surpreendido quando escutou aquilo! Sentou-se ao lado de Jules e tocou no rosto deste. Baixando o tom de voz, perguntou:
- Comigo… Sentes-te assim? Eu faço-te mal?
Jules virou o rosto e fechou os olhos.
Jules virou o rosto e fechou os olhos.
- Não me entendas mal, Matoskah. Eu sei que vivemos e viemos de culturas diferentes. Talvez seja por isso que tu és como és e eu sou como sou...
Matoskah aproximou o seu rosto do rosto de Jules.
- Sunka! Não foi bom, tudo aquilo que fizemos com os meus amados ciyé da outra vez? Não foi bom fazer aquilo que estávamos a fazer hoje de tarde? Porque estás a reprimir aquilo que te faz realmente feliz?
Jules abriu os olhos. Os olhos de Matoskah estavam bem perto dos seus. Ele conseguia sentir a respiração quente e levemente acelerada de Matoskah. Assim ficava difícil resistir aos seus avanços! Jules sorriu para ele, enquanto acariciava os seus longos cabelos castanho-avermelhados.
- Olha Matoskah… Se quiseres ter paciência comigo… Se me quiseres ajudar… Ahmmm… Se me quiseres ajudar a descobrir quem eu sou… O que eu sou… Então… Então eu serei todo teu… - rematou Jules, beijando Matoskah.
Entre beijos e arfares, Matoskah sussurrou:
- Não tenhas medo, Sunka! Eu só não quero que sofras mais! Deixa-me fazer-te feliz!
- Ensina-me, Matoskah! Ensina-me a ser maravilhoso como tu… - respondeu Jules, enquanto Matoskah o pegava ao colo e o levava para o andar de cima.
Jules indicou a Matoskah qual era o seu quarto. Matoskah colocou-o na cama com muito cuidado. Jules estava encantado! Matoskah deitou-se em cima dele e beijaram-se intensamente.
- Vamos com calma, está bem? - pediu Jules, ligando a televisão.
- O senhor manda! - respondeu Matoskah, com um sorriso brincalhão.
- Ohhhhh! - exclamou Jules, bastante satisfeito. - Esta música!
Na televisão, um clip de música começou a tocar. Matoskah virou-se, incrédulo:
Gostei deste post e deste amor :)
ResponderEliminarEste teu post deveria ser enviado para a Polónia, acho que eles lá não percebem muito bem o que significa amor :(
Obrigado Francisco! A história do Jules e do Matoskah é muito bonita, acho que o Jules é um personagem bem carismático, vai deixar saudades quando toda a trama terminar.
EliminarRealmente, as coisas não andam nada famosas na Polónia. Com um Presidente a fazer aquele tipo de afirmações, as coisas só podem piorar cada vez mais...
Abreijos :3