31 julho 2020

Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 13 [Último]


Capítulo 13 [FINAL]


A notícia de que Jules fora fotografado a beijar um rapaz correu pelo liceu a grande velocidade. Jules foi surpreendido com a novidade durante a hora de almoço. Naquele dia ele ia comer à cantina do liceu. Quando estava a preparar-se para se sentar numa das mesas mais afastadas, na companhia de Matoskah, um grupo de rapazes, entre eles, Rogers, começou a mandar piadas bastante brejeiras, provocando a risota geral. 


Rogers goza com Jules!

Matoskah só nessa altura se apercebeu que alguma coisa se passava e que estavam a gozar com Jules. Ele preparava-se para resolver as coisas à sua maneira, mas Jules levantou-se e impediu-o:

- Deixa-os falar, Matoskah! Por favor, não te metas em confusões!

- Jules! Eles estão a falar mal de ti! Estão a gozar contigo! Não vou tolerar isso! - resmungou Matoskah, que começava a ficar irritado com as afirmações mordazes que aqueles rapazes estavam a dizer! - Não vou permitir isso! 
  
- Puto, deixa-os falar! Não importa… Olha, vamos embora. Perdi o apetite! - rematou Jules, atirando os talheres com toda a força para cima da mesa.

- Olha, a princesa vai-se embora com o seu guarda-costas! - comentou alguém.

- A bicha deve ter contratado o índio para ser o relações-públicas, se é que me entendes! - gracejou outra pessoa, provocando a risota geral.

Jules esforçou-se o mais que pôde para não chorar. Não queria dar parte fraca ali, em frente daquela gente toda. Correu a toda a velocidade para a entrada e ficou a aguardar por Matoskah. Quando este chegou, disse-lhe:

- Vamos para o nosso cantinho na floresta. Preciso de falar contigo. Sobe para a mota! 


Matoskah ficou admirado pelo tom de voz de Jules. Acenou com a cabeça e sentou-se atrás de Jules, colocando o capacete. Este ligou a mota, colocou o capacete e arrancou a toda a velocidade.

Durante a Primavera, nos dias mais solarengos, eles preferiam vir para a floresta, ao invés de estarem no prédio abandonado. Jules ainda não tinha contado a Matoskah o que acontecera quando fora a San Lynch. Receava esse momento. A relação deles já estava por um fio. E custava-lhe magoar Matoskah. Quando chegaram ao local junto da cascata, saltaram da mota e abraçaram-se. Jules estava com muito medo do que poderia vir a acontecer a partir daquele momento.

- O que se passa, Jules? Porque estavam as pessoas a tratar-te daquela maneira na cantina? Porque não me deixaste tratar das coisas? Eles não voltariam a incomodar-te!

Jules observava Matoskah com carinho. Ele era mesmo um rapaz especial. Já lhe tinha aturado e perdoado muitas coisas. Conseguiria perdoar-lhe o que ele tinha para lhe dizer? Jules optou por seguir por outro caminho. Sentou-se num tronco e colocou Matoskah a sentar-se no seu colo.

- Jules? O que vem a ser isto? - perguntou Matoskah, com pouca convicção.

- Matoskah… - sussurrou Jules, enquanto enfiava as mãos debaixo da t-shirt deste, deslizando sobre as costas e apalpando-lhe o rabo, aquele rabo que ele tanto gostava de agarrar.

Jules estava por tudo. Agora que tinha sido descoberto, era uma questão de tempo até a sua reputação cair mais do que a Bolsa de Wall Street, na fatídica Terça-Feira Negra25!

- “Que se passa com ele? Porque age assim?” - pensava Matoskah.

- Olha lá Jules, o que é que tu tens?

- Nada… - foi a resposta deste.

- Eu conheço o teu nada. Quase sempre ele significa tudo… Tu não estás bem, Jules! Fala comigo! - pediu Matoskah.

Jules abraçou Matoskah e beijou-o.

- “Ele nunca me beijou assim… Tão acrisolado!” - pensou Matoskah, retribuindo o carinho.

As mãos de Jules deslizaram sobre o peitoral de Matoskah, enquanto ele apertava os mamilos deste. Matoskah gemia.

- Eu não te vou desapontar, Matoskah… Força! Faz aquilo que queres fazer…! - sussurrou Jules.

- O quê? Como assim? Que raio de conversa é esta, Jules?

- Shhhh!

- Puxa… Estás bem duro, Jules! Hummm! - sussurrou Matoskah, enternecido, ao colocar a mão dentro das calças de Jules.

- Estás desapontado, Matoskah?

- O quê? - Matoskah já não percebia nada.

- Quero senti-lo… Ao teu… - sussurrou Jules, tirando o animal que se debatia dentro das calças de Matoskah e que já não aguentava mais estar ali enclausurado. - Wow! Está bem grande! 

- Não… Não faças isso, Jules! Eu... Daqui a pouco não vou aguentar mais! Ohhhhh! Ahhhh!

Jules colocou-se por detrás de Matoskah, agarrando as duas feras que latejavam uma contra a outra, libertando um pouco das suas babas.

- Quem não aguenta mais sou eu, Matoskah! Preciso que cuides de mim, antes que eu enlouqueça! Por favor, Matoskah! Ahhhhhmmmm! - gemeu Jules.

- Eu consigo sentir isso, Jules! Consigo sentir o teu calor! O calor de todo o teu corpo! - murmurou Matoskah, deliciado.

Matoskah nunca tinha estado naquela posição. Que se passaria com Jules para agir assim? Havia algo nos olhos dele que estava diferente. Havia algo… Mas o que seria? Jules colocou o seu membro dentro de Matoskah. Este gritou e gemeu tão alto que alguns pássaros se assustaram e levantaram voo! Jules penetrou-o intensamente enquanto dava uma mãozinha a Matoskah, para que também ele pudesse atingir o orgasmo. Quando terminaram, Matoskah foi até ao rio para se aliviar. Jules seguiu-se-lhe.

- Estou sem palavras! - comentou Matoskah, sorrindo satisfeito. - Não sei o que se passa contigo hoje… Mas… Foi bom!


- Ainda bem que gostaste, Matoskah… - respondeu Jules, com um ar vago. - Tenho algo para te contar. Na verdade, tenho duas coisas para te falar… 

- Que se passa, Jules? Estás a deixar-me preocupado!

- Não vou estar com rodeios, Matoskah… Eu… Eu… Eu envolvi-me com um homem a semana passada! - desabafou Jules, começando a chorar. - Fui até um bar numa cidade vizinha e foi lá que o conheci! Como foi numa festa, andaram a tirar fotografias e postaram-nas nas redes sociais! O pessoal do liceu descobriu essas fotos hoje de manhã!

- Tu traíste-me, Jules? É isso que me estás a dizer? - indagou Matoskah, desiludido.

- Eu não queria! Quer dizer, eu naquele dia estava tão chateado contigo que… Sim, nesse dia eu queria mesmo! Mas…

- Porque não disseste nada antes, Jules? - a voz de Matoskah soava entorpecida.

Jules mostrava-se surpreso com o tom de voz de Matoskah. Pensou que ele fosse começar a disparatar, a gritar com ele, mas este parecia bastante triste para fazê-lo. Estava mesmo cabisbaixo e isso magoou-o ainda mais. Sentiu-se um traste da pior espécie.

- Tive medo da tua reacção … Tu não merecias que eu te fizesse isso… Aliás… Eu não te mereço, Matoskah. Tu mereces alguém bem melhor do que eu…

- O que raio estás para aí a dizer, Jules?

- Eu sou uma merda, Matoskah… Só te posso agradecer por gostares de mim, apesar de eu ser um lixo… E pelo tempo que dedicaste a mim. Quem me dera poder retribuir-te…

Matoskah aproximou-se de Jules e colocou uma mão sobre a testa deste.

- Tu estás a deixar-me preocupado! Não terás ficado com febre? Parece-me que estás a delirar…!

Jules sorriu. Lágrimas encheram os seus lindos olhos e começaram a escorrer. Suspirou e ganhando coragem, declarou:

- Tu fizeste tudo o que esteve ao teu alcance para me fazeres feliz. Sei que dedicaste-te como podias e sabias. Perdoa-me por ter sido uma porcaria como namorado. É por isso… Isto é um adeus, Matoskah. Por favor, não me procures mais. Talvez um dia possamos ser amigos, mas por agora, é melhor seguirmos caminhos diferentes. Pode ser que eu encontre alguma paz de espírito… A paz de espírito que procuro há tanto tempo…

Jules levantou-se e começou a correr, mas Matoskah foi mais rápido. Abraçou-o e perguntou, enquanto grossas lágrimas caíam pelo seu rosto: 

- Desiludi-te? Por favor, Jules! Não faças isto! É por culpa de eu querer fazer sexo sempre? Eu prometo que vou mudar! Por favor, não me deixes! Não quero ficar sem ti, Jules! Eu quero cuidar de ti, ajudar-te a curar estas feridas que tens! Não quero que sofras mais! - exclamou Matoskah, apontado para os cortes nos pulsos de Jules.


Matoskah confronta Jules sobre o facto deste se cortar constantemente!

As palavras de Matoskah derreteram o coração de Jules. Mas este já tinha decidido. Não iria voltar atrás.

- Perdoa-me. Espero que um dia me compreendas, Matoskah. E espero que nesse dia, possamos voltar a ser bons amigos! Obrigado, meu lindo! - rematou Jules, beijando Matoskah enquanto ambos choravam copiosamente.

Jules saltou para a mota e partiu a grande velocidade.


*21 de Maio*


Jules e Matoskah não foram às aulas nos dias seguintes. Sem Jules por perto, a risota inicial acabou por esmorecer dois dias depois, até porque outro acontecimento tomou o seu lugar: uma professora foi atropelada à saída do liceu, ficando em estado de coma! Ninguém sabia contar ao certo como é que o acidente tinha acontecido, pois tinha sido algo tão rápido, que começaram a circular as versões mais absurdas que se podiam imaginar!

Naquela tarde, Matoskah estava deitado na cama, a curar uma gripe forte. As ervas não estavam a funcionar muito bem desta vez. Quando Takoda chegou a casa, foi visitá-lo ao quarto e pediu-lhe para brincar com o portátil. Matoskah, que estava meio ensonado, acedeu. Alguns minutos mais tarde, Takoda entrou no quarto, assustado.

- Hey! O Jules escreveu uma coisa esquisita no Criss-Cross, Matoskah!


Matoskah virou-se para ver o que o irmão queria dizer. No perfil de Jules, este tinha colocado uma imagem, que dizia:

Eu acho que vou safar-me se ficar sozinho. 
Sem amigos, sem discussões, sem nada.
Só eu, sozinho. A Mão Divina ajudar-me-á a alcançar a Paz.

A publicação tinha sido colocada há pouco tempo, vinte minutos antes! Matoskah ficou com um mau pressentimento! A dor que sentia nos últimos dias aumentou exponencialmente! Jules estava em perigo!

Ele levantou-se, vestiu-se e disse para Takoda ficar calmo e quieto, que ele ia ver o que se passava com Jules. Saiu de casa a toda a velocidade, derrubando caixotes do lixo pelo caminho, enquanto se dirigia a casa de Jules. Chegado a casa deste, ele bateu com força, enquanto gritava.

- Jules! Estás aí? Abre a porta, por favor!

Alguns segundos mais tarde, a porta abriu-se. Era Maurice. Esta ficou admirada ao ver o rosto lívido de Matoskah. Nunca o tinha visto assim!

- Desculpe, senhora… O Jules está em casa?

Maurice acenou negativamente com a cabeça, afirmando que Jules tinha saído alguns minutos antes, de mota, sem dizer aonde ia. Matoskah agradeceu e virou costas, tentando captar o cheiro de Jules. Aos poucos, foi sentindo o rasto. O perfume de Jules deixava um odor forte, que Matoskah reconhecia com muita facilidade. O rasto acabou por perder-se não tardou muito. Porém, Matoskah deixou-se guiar pelos seus instintos e ligou para Jules. O telemóvel deste estava desligado.

- Típico…- comentou para si mesmo.

Após dar algumas voltas e perguntar a várias pessoas se tinham visto Jules, Matoskah acabou por dirigir-se para o prédio onde eles se costumavam encontrar. Uma música ecoava no ar.


- Jules? Estás aí?

Matoskah galgou os degraus rapidamente, até chegar ao terceiro andar, onde eles tinham montado o seu ninho de amor. Jules cantava algo, com olhar perdido, enquanto com uma mão espalhava algo sobre os objectos do quarto que tinham criado e com a outra cortava uma e outra vez os pulsos, que jorravam sangue intensamente!

Matoskah dá com Jules a cortar os pulsos! 

- Oh Jules! O que estás a fazer? - gritou Matoskah, desesperado, aproximando-se de Jules.

- Não te aproximes mais, Matoskah! - vociferou Jules. - Eu não quero conspurcar-te com o meu pecado! Tu não mereces isso!

- Mas…! Que raios? Tu estás doido! Jules!

Jules verteu um enorme galão sobre si. Um forte odor a gasolina espalhou-se de imediato pelo espaço.

- O que estás a fazer? Jules!

Jules sorriu. Mas era um sorriso triste.

- Matoskah…! Não imaginas como fico feliz que me tenhas encontrado…! Mas… É tarde demais…!

Os gritos de Matoskah desvaneceram-se. Horrorizado, ele viu Jules a acender e a atirar um isqueiro para o chão à sua frente! A chama percorreu de imediato todo o local, já que Jules tinha despejado outros galões de gasolina! O fogo começou a destruir todos os bens que Jules e Matoskah tinham levado para ali! 

- A morte do eu… Esta sim… É a liberdade absoluta! Obrigado, meu amor! Obrigado por todos os belos momentos que passamos juntos! 

De repente, o fogo deu uma reviravolta e Jules entrou em combustão instantânea!

Num acto final de desespero, Jules entra em combustão instantânea, depois de se regar com gasolina!

- Perdoa-me, Matoskah! Nada temo, porque a Mão Divina me irá acolher! Nada temo, porque…  - gritou Jules, atirando-se do terceiro andar!

- Jules! Nããããããooooo! - gritou Matoskah, totalmente escandalizado!


Quando a cabeça não tem juízo
Quando te esforças
Mais do que é preciso
O corpo é que paga
O corpo é que paga
Deix'ó pagar, deix'o pagar
Se tu estas a gostar

Quando a cabeça não se liberta
Das frustrações, inibições
Toda essa forca, que te aperta
O corpo é que sofre
As privações, mutilações

Quando a cabeça está convencida
De que ela é
A oitava maravilha
O corpo é que sofre
O corpo é que sofre
Deix'ó sofrer, deix'ó sofrer
Se isso te dá prazer

Quando a cabeça está nessa confusão
Estás sem saber que hás-de fazer
E ingeres tudo o que te vem à mão
O corpo é que fica
Fica a cair sem resistir

Quando a cabeça rola pró abismo
Tu não controlas esse nervosismo
A unha é que paga
A unha é que paga
Não páras de roer
Nem que esteja a doer

Quando a cabeça não tem juízo
E te consomes, mais do que é preciso
O corpo é que paga
O corpo é que paga
Deix'ó pagar, deix'ó pagar
Se tu estas a gostar

Deix'ó sofrer, deix'ó sofrer
Se isso te dá prazer

Deix'ó cantar, deix'ó cantar
Se tu estás a gostar

Deix'ó beijar, deix'ó beijar
Se tu estás a gostar


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Esta é uma obra de ficção. 
As imagens usadas nesta novela são meramente ilustrativas e destinam-se a dar mais impacto à história, assim como as músicas. 
Qualquer semelhança com a vida real terá sido mera coincidência.
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Nota do Autor:

25 - O dia 29 de Outubro de 1929 causou uma das maiores catástrofes da economia a nível mundial. Nesse dia, a Bolsa de Wall Street caiu mais de 11%, levando ao Crash da Economia. Só para ficarem com uma ideia, a Bolsa de Valores de Wall Street perdeu mais de 30 biliões de dólares, em apenas 2 dias! Este acontecimento levou ao nascimento do fenómeno “Grande Depressão”, que afectou todos os países industrializados, pelos 12 anos seguintes.

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