11 julho 2020

Escrito nas Entrelinhas: Parte 1 ~ Capítulo 7


Capítulo 7


Quando Jules chegou a casa, o pai já lá estava. Sereno, Eddie disse para Jules lavar as mãos e sentar-se à mesa. Admirado com a atitude do pai, ele acenou com a cabeça e pouco tempo depois sentou-se ao lado do pai, que tinha aquecido a comida que tinha sobrado da festa para o jantar.

- Sabes, Jules? Apesar da tua atitude estúpida ontem, os teus amigos gostaram imenso da festa. Menos mal.

- Como é que tu sabes disso, pai?

- Estive a pesquisar no Criss-Cross e os teus amigos têm falado bastante da festa e como gostaram dela. Afinal, o que raio se passou ontem para tu acabares com a festa daquela maneira?

Jules engoliu em seco. Temia que o pai fizesse aquela questão desde que acordara. O que havia de dizer? Que estava triste porque Matoskah se tinha ido embora? Que nutria algo esquisito por Matoskah, que nem ele sabia bem o que era? Que na verdade só queria ter tido a companhia de Matoskah no seu aniversário? Que tudo aquilo lhe estava a causar confusão e, até certo ponto, sofrimento? Suspirando cansado, Jules rematou:

- Eu estava cansado e começava a ficar maldisposto. Não queria que me vissem a vomitar. Achei que ia passar uma má imagem… De nós.

Tinha dado a resposta certa. O pai valorizava a imagem. Um pouco mais satisfeito, Eddie declarou:

- Não gostei nada do que se passou ontem, Jules. Os teus amigos não deviam ter trazido álcool. E se algum deles acabasse a passar mal? Depois quem tinha de arcar com as responsabilidades era eu! Eu comprometi-me com os pais deles que os filhos não beberiam álcool na tua festa!

Jules riu-se. Aquilo era mesmo típico do pai, achar que podia controlar tudo e todos.

- Pai, às vezes parece que vives noutra época! No teu tempo, tu e os teus amigos não faziam o mesmo?

Eddie, atrapalhado, concordou com o filho, mas manteve o ar sério.

- É verdade, mas ainda assim! Eu vi que alguns estavam a fumar essas porcarias da moda! E tu também fumaste! Sabes muito bem que isso não te faz nada bem! Eu telefonei à Dra. Mariza Blumenthal e tu vais reiniciar as sessões com ela.

Jules bateu com o copo na mesa, chateado!

- Estás a brincar! Só pode! - exclamou.

- Não! Não estou, Jules Sullivan! É precisamente por este tipo de atitudes que vais retomar as consultas com ela. Ela vai receber-te depois de amanhã, às 4 horas! E ai de ti que faltes às consultas!

Depois disso, Jules manteve-se calado pelo resto da refeição. Estaria o pai a desconfiar de alguma coisa?


*3 de Novembro de 2016*


Jules dirigiu-se ao hospital onde a Psicóloga da cidade, a Dra. Mariza Blumenthal, o aguardava, com um sorriso.


Dra. Mariza Blumenthal


A Dra. Mariza era alta. Tinha os cabelos pintados, num tom platinado, quase branco. Os seus olhos eram azuis-escuros e a sua pele era rosácea. Ela vestia-se de forma provocante e ninguém diria que ela tinha 38 anos, já que aparentava ser mais jovem. Ela ficou satisfeita por ver Jules. Convidando-o a sentar-se, rapidamente preparou um chá para os dois. Jules, que inicialmente se mostrara contrariado pela ida à consulta, não tardou a baixar as defesas e a desabafar. Ele não confiava em muitas pessoas, mas sabia que a Dra. Mariza era uma boa profissional, pois já o tinha ajudado no passado.

Duas horas mais tarde, Jules saiu do consultório, cruzando-se com três médicos que ele não conhecia. Ficou a olhar para eles, embasbacado. Eles eram altos e bastante atraentes.


Estes médicos ainda vão dar que falar!


Os médicos sorriram-lhe quando se cruzaram com ele. A Dra. Mariza, que o tinha acompanhado até à saída para chamar outro paciente, riu-se e confidenciou:

- Aqueles médicos são aquisições recentes do hospital. Um deles é Psiquiatra, outro é médico da Medicina Legal e o terceiro é médico de Medicina Geral!

Jules comentou entre risos, sem pensar:

- Bolas, o hospital anda a ser muito bem frequentado!

A Dra. Mariza riu-se com gosto. Ao ver o rapaz a ficar atrapalhado, rematou:

- É verdade! Desde que a nova direcção tomou posse, começamos a ver algumas caras novas! Jules, vemo-nos na próxima semana, está bem?

- Combinado! - rematou Jules, despedindo-se da médica e indo para casa, muito bem-disposto.


*8 de Novembro de 2016*


Matoskah e Jules estavam na aula de Filosofia. O professor da disciplina, Dennis Miles, era um senhor já de uma certa idade. Dizia-se que aquele seria o seu último ano a leccionar, pois pretendia reformar-se. Ele era um senhor de baixa estatura, careca, com um bigode branquinho e óculos. O professor Miles era muito dinâmico e apesar de exigente, era justo com os seus alunos. Estava ele no meio da aula daquela manhã quando alguém bate à porta. Miles vai à porta e uma funcionária diz-lhe baixinho:

- Senhor, estão aqui estes dois senhores para falarem com a sua turma. Eles não podem esperar. Posso mandar entrar?

Miles olhou para aos homens e apercebendo-se que eram polícias, mandou-os entrar de imediato. A turma começou toda a murmurar baixinho, até que os dois homens respiraram fundo e começaram a falar:

- Bom dia, meus jovens! Nós somos da Polícia Montada do Estado do Nebraska!

Todos cumprimentaram-nos, cochichando entre si, intrigados! O que estariam ali a fazer dois polícias de outro estado? Os polícias começaram a passar uma fotografia de um rapaz e explicaram:

- O rapaz nessa fotografia chama-se Kris Sanders. Ele tem 17 anos e desapareceu há uma semana, no Nebraska. Nós decidimos expandir o nosso perímetro de buscas e como a vossa cidade se encontra na fronteira entre o Nebraska e Dakota do Sul… O que nós queremos saber é se algum de vocês o viu ou conhece? Talvez sejam amigos dele no Criss-Cross? Pensem bem, levem o tempo que for preciso!



Kris Sanders deixa uma mensagem enigmática: 

Deixem a chuva cair e lavar as minhas lágrimas, deixem as minhas lágrimas encherem a minha alma e afogar os meus medos.


Jules e Matoskah, que eram parceiros naquela aula, receberam uma foto do rapaz desaparecido, entregue pelas colegas da carteira ao lado. Kris era um rapaz magro, delineado, com cabelo liso castanho-férreo e olhos azuis. Os polícias prosseguiram:

- Ele deixou uma mensagem misteriosa como legenda dessa fotografia que estão a ver. A mensagem era a seguinte: “Deixem a chuva cair e lavar as minhas lágrimas, deixem as minhas lágrimas encherem a minha alma e afogar os meus medos.

- Awwwww! Tão lindo! - exclamaram algumas raparigas, soltando um suspiro.

Jules concordava com elas. Eram palavras lindas e que para ele, faziam todo o sentido. Desde a morte de Christine e Daniel que ele sentia o mesmo.

- Oxalá este rapaz esteja bem e o encontrem de perfeita saúde! - comentou Matoskah, num murmúrio.

- Podes crer! - respondeu Jules, suspirando ao olhar para a fotografia.

Os polícias começaram a recolher as fotografias e deixaram um contacto para onde os alunos poderiam ligar, caso obtivessem informações sobre o paradeiro de Kris. Viraram costas e saíram da sala, passando à sala seguinte. Tinham esperanças que algum aluno ou aluna daquele liceu conhecesse Kris e pudesse ter alguma pista sobre o seu paradeiro.






*11 de Novembro de 2016*


O dia amanheceu solarengo e quente para a época. Muitos alunos do liceu aproveitaram a tarde daquele dia para darem um salto até uma praia fluvial que existia nos arredores de Grace Falls. Jules combinou com Matoskah e Takoda uma ida até aquela praia, convite esse que foi aceite de imediato.

Os três jovens chegaram à praia e ficaram espantados: a praia estava cheia! Aquela praia era uma praia de areia rochosa. Takoda nunca tinha estado num local assim e estava todo contente! Depois de procurarem durante algum tempo por um lugar, os três rapazes lá conseguiram um cantinho à beira de uma árvore frondosa, a poucos metros da água. Colocaram as toalhas, tiraram as t-shirts e deitaram-se nas toalhas de praia, a observar ao redor.

A praia era rodeada por montes e colinas, a perder de vista. As encostas estavam bastante coloridas, entre o castanho, o laranja e o vermelho. Algumas colinas tinham casas aqui e ali, casas essas que estavam fechadas grande parte do ano, pois pertenciam a emigrantes que só regressavam a Grace Falls nas férias grandes.

Algum tempo depois, os três rapazes foram até à água. Esta estava gelada! Não demorou muito para que todos se habituassem à temperatura da mesma.

Matoskah olhava para as colinas com ar sonhador. Ele virou-se para Jules e comentou que adoraria conhecer aqueles montes e vales, que aparentavam ter florestas selvagens quase até ao topo! A parte superior destes montes era dominada por enormes penedos, que davam o nome à região, River Peaks.

Vários amigos de Jules vinham ter com eles. Conversavam um pouco, mas rapidamente viravam costas. Descontraído, Jules observava como toda a gente parecia estar a divertir-se naquele dia. Nem parecia um dia de Outono, tal era o calor que fazia! Havia pessoas a andar de jet-ski. Outras andavam de barco. Um magote de gente brincava em insufláveis. Como sentisse frio, ele saiu da água e foi secar-se na toalha, deixando Takoda e Matoskah a brincarem na água.

Deitou-se e levantou a cabeça, olhando para o sol através dos ramos da árvore. Lembrou-se de Daniel e de como tinham passado momentos muito agradáveis naquela mesma praia. Estava ele perdido em recordações, quando Takoda apareceu à sua frente, tapando-lhe momentaneamente o sol e pingando gotas de água geladas sobre o seu corpo.


Takoda


- Estás acordado, Jules? O meu ciyé5foi alugar um barco! Vamos dar um passeio no lago! Queres vir?

- Oh, claro que sim! - respondeu Jules, levantando-se e dando a mão a Takoda.

Matoskah conseguira alugar uma lancha a motor durante meia hora. Os três rapazes saltaram para a lancha, onde um homem os aguardava, com um sorriso prazenteiro.   

- Sejam bem-vindos, marujos! Antes de partirmos, coloquem por favor os coletes salva-vidas!

Jules colocou o seu rapidamente, na esperança de ajudar Matoskah a colocar o seu e ter assim uma oportunidade de tocar nos seus peitorais. Porém, Matoskah colocou o seu colete facilmente e ajudou Takoda com o dele, sorrindo satisfeito. Quando confirmou que todos os seus clientes estavam seguros, o condutor ligou a lancha e arrancou a grande velocidade.

Takoda estava extasiado! Nunca tinha andado num barco daqueles! Gritando e urrando feliz, cedo a sua alegria contagiou os restantes, com o irmão dele a colocar-se na borda da lancha a uivar bem alto! O homem abrandou a velocidade, não fosse Matoskah cair à água. Jules sentiu uma agradável sensação de liberdade, ao sentir o vento a soprar sobre os seus cabelos. 

De repente, Takoda queixou-se ao irmão de que estava com dores de barriga. O condutor deu uma volta para a direita, quando estavam no meio do lago e rapidamente chegou a uma das margens do lago, no lado oposto àquele onde tinham entrado. 







Matoskah saltou da lancha com o irmão e correram para dentro da floresta. O condutor saltou da lancha e dirigiu-se a um arbusto à direita, sem cerimónias. Jules, sentindo a bexiga cheia, calcorreou um pouco a floresta, virando à esquerda. Pouco depois, estava ele a regressar à lancha, quando ouviu um grito de Takoda.

- Ó diabo! Queres ver que o miúdo se magoou? - questionou o condutor, saltando da lancha e correndo para dentro da floresta, sendo seguido por Jules.

- Takoda! Takoda! Matoskah! Onde estão? - perguntou Jules, preocupado.

- Hey! Jules! Aqui! Estamos aqui! - gritou Matoskah, com uma voz diferente do habitual. Parecia assustado.

Jules e o condutor seguiram a voz e foram dar a uma margem do rio, mais a oeste. Matoskah e Takoda estavam lívidos a olhar para algo à sua esquerda. Quando Jules se aproximou, deu um grito!

Kris Sanders boiava na água, ensanguentado.    



Nota do Autor:

5- Irmão mais velho, quando é um rapaz a dizer;


[Continua...]

4 comentários:

  1. Aqui continuo a adorar o que escreves ;)

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    1. Awwww! Muito obrigado Francisco! <3
      Fico muito feliz que gostes das histórias que vou escrevendo e publicando por aqui! :D

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  2. Estou esperando a próxima história emocionante

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    1. Thank you so much!
      You are very welcome, and I really hope you can read and understand my novels! <3

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