Escrito nas Entrelinhas: Parte 3 ~ Capítulo 3

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Capítulo 3

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Jules e Shade voltaram-se, bem como todos os presentes na cerimónia. À entrada da igreja estava Laura, uma mulher de longos cabelos ruivos. Ela era a verdadeira mãe de Jules e de Shade. Ao seu lado esquerdo, estava um homem alto, com o rosto coberto por algo que parecia ser uma névoa. Ao lado direito de Laura estava uma mulher de cabelos loiros e olhos azuis, que Shade reconheceu imediatamente. Era a sua mãe adoptiva!

- Este casamento tem de ser anulado! Vocês não podem casar! Nós não podemos permitir isso! Eu e o vosso pai não aceitamos isso! Vocês são irmãos! - resmungou Laura, perante a concordância da mãe adoptiva de Shade e do homem misterioso.

Jules deu a mão a Shade, que se preparava para discutir e responder num tom agreste. Shade sentia-se confuso! Todas as restantes pessoas presentes ali cochichavam entre si, como um grande enxame de abelhas zangadas. Jules afastou-se de Shade e deu alguns passos através da nave, rumo a um piano, enquanto sorria para Laura e para o homem misterioso. Aquele homem, pelos vistos, era o verdadeiro pai de Jules e Shade!

Um intenso raio de luz branca entrou pelo vitral do nártex da igreja e iluminou Jules. Este olhou para os pais, olhou para Shade e com um grande sorriso, começou a tocar e a cantar:

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[Jules]

Há tanto tempo que eu não estou contigo!

Sofri muito com a saudade!

Mesmo longe, eu não me conformei!

Eu viajei contra a minha vontade!

O teu amor chamou por mim e eu regressei!

Todo o Amor é infinito!

Em cada Solidão vencida, eu desejava:

O reencontro contigo, o meu porto de abrigo!

A Noite e o Dia, no meu coração,

Trouxeram a Luz do nosso instante mais bonito!

Na Escuridão, o teu olhar iluminou-me!

E a minha Estrela-Guia, foi o teu sorriso!

Ah! Meu adorado!

Viajei durante tanto tempo

Para finalmente reencontrar-te!

Amo-te!

Amo-te…!

Shade correu para os braços de Jules, abraçando-o. Os dois irmãos beijaram-se apaixonadamente. De repente, Jules desvaneceu-se no raio de luz, assim como todos os restantes! Shade deu por si sozinho. Gritou desesperado:

- Jules! Nãããoooo! Jules!!!

*PIIP! PIIP! PIIP!*

- Enfermeiras! Depressa! Venham aqui! O rapaz da cama 11 acordou! - gritou uma voz roufenha, um pouco assustada.

Um jovem enfermeiro de média estatura, moreno, de cabelos castanhos encaracolados e olhos esverdeados entrou no quarto, preocupado. Ele aproximou-se da cama onde Shade repousava, ligado a várias máquinas, que emitiam vários sinais intermitentes. Shade encontrava-se de olhos fechados, mas estava bastante agitado.

Este enfermeiro chama-se Noah e ainda vai dar que falar!

- Hey! Está tudo bem! Já passou! - sussurrou o jovem enfermeiro, aplicando uma injecção no braço de Shade.

Uma médica de cabelos castanhos-escuros e nariz empinado entrou no quarto e aproximou-se do enfermeiro.

- Enfermeiro Noah! O que se passa com esse paciente?

- Doutora Alice, este rapaz começa a despertar do coma induzido em que o colocamos há algumas semanas. Os sinais vitais dele dispararam de repente. Veja o desempenho cerebral…

A médica pegou numa folha que estava a ser impressa por uma das máquinas que estavam ligadas a Shade. Fez um sinal de concordância para Noah. Os sinais vitais mantinham-se estáveis, mas de repente, houvera uma grande oscilação. Algo despertara na mente daquele rapaz.

- O que lhe deu para o acalmar? - perguntou Alice, tomando notas numa prancheta.

- Dei-lhe 5 miligramas de Haloperidol associado a 7,5 miligramas de Versed, via intramuscular. - respondeu Noah, verificando todos os fios que estavam ligados ao corpo de Shade. Apesar da agitação inicial, tudo parecia estar sob controlo.

- Estou a ver que tem bons conhecimentos para tratar deste tipo de casos! - respondeu Alice, com tom melífluo. - Segundo sei, é o Noah quem tem estado responsável por este paciente, não é? Como é que ele se chama?

- Assim é, doutora Alice. Eu assumi a responsabilidade por ele. Quanto ao nome dele, na verdade, ainda não sabemos… Não sabemos como é que ele se chama. Quando ele foi encontrado, não trazia documentos consigo. A única coisa que estava com ele era um diário, que ele trazia junto ao peito…

- Um diário, hã? Interessante…. Olhe, mantenha este paciente sob observação. Os efeitos da medicação que lhe deu levarão pelo menos umas vinte horas a passar. Quando regressar amanhã, venha visitar logo este doente. Já agora, você leu alguma coisa do tal diário?

- Não, minha senhora. É algo pessoal do paciente. O diário está bem guardado. Irei devolvê-lo ao paciente quando ele acordar do coma induzido!

Alice não gostou daquela resposta. O diário podia indicar o nome do rapaz, já que os dados que tinham recolhido sobre ele não estavam inseridos no sistema. Pelos vistos, aquele rapaz não existira até ao dia em que o haviam levado para o hospital. E isso só podia significar uma de duas coisas: ele era um rapaz protegido do governo ou ele era um foragido do governo. Ambas as hipóteses não eram do agrado da médica. Ela decidiu que assim que pudesse, daria uma palavrinha à direcção do hospital. Já tivera problemas com casos do mesmo género no passado. Antes de virar costas, advertiu o enfermeiro:

- Muito bem, Noah. Espero que você tenha consciência do que está a fazer. Assumir a responsabilidade por um perfeito desconhecido pode causar-lhe sérias dores de cabeça. Acredite em mim. Até amanhã.

A médica saiu apressadamente do quarto, pois ainda queria visitar mais dois doentes antes de terminar o seu turno. Quanto ao enfermeiro, este pegou numa toalha levemente húmida e passou sobre a testa de Shade, sorrindo para ele.

- Vai ficar tudo bem…

[Continua...]