Capítulo 14
Emocionada, Bianca abriu o diário. Ia começar a ler, quando o seu telemóvel tocou. Era o seu pai, Eddie.
- Estou, Bianca? Ligaste-me?
- Sim, pai! Aconteceram umas coisas por aqui! A mãe desapareceu, assaltaram-nos a casa e mataram o Joker!
- O quê?
- É isso mesmo que tu ouviste!
Enquanto Bianca explicava ao pai tudo o que se tinha passado, os telemóveis de Shappa e Agatha tocaram, quase em simultâneo. Eram os chefes de ambas, que tinham notícias bastante importante para transmitir-lhes. Quando Bianca terminou de falar com o pai, reparou no olhar tenso tanto de Shappa, como de Agatha. Inquirindo-as sobre o sucedido, Agatha respondeu:
- Eu e a Shappa vamos ter de te deixar por agora. Aconteceu uma tragédia muito grande!
Bianca olhou para Shappa e esta prosseguiu:
- Vamos fazer assim: tu ficas em minha casa até eu voltar. É perigoso regressares hoje a tua casa, não vá quem vos assaltou voltar para roubar mais coisas. Talvez não tenham tido tempo para mais. Não sabemos.
- Mas, o que aconteceu? Aonde vão vocês? - perguntou Bianca, curiosa.
- Como a Agatha disse, aconteceu uma tragédia. Oh, não é isso que estás a pensar. Desta vez não morreu ninguém!
- No entanto, é algo muito grave! Depuseram o nosso Presidente, Ronald Vamp! - continuou Agatha, parecendo nervosa pela primeira vez.
O telemóvel de Shappa voltou a tocar. Desta vez era o marido, Chayton, que lhe apresentou mais informações sobre o que havia sucedido.
- Nós temos de ir, querida! Ficas em casa da Shappa e logo que pudermos, vamos dando notícias, está bem? Leremos o diário do teu irmão quando voltarmos a estar todas juntas! Todo o cuidado é pouco! - rematou Agatha, assim que pararam em frente da casa dos Chayton.
- Toma, tens aqui a chave. Prepara qualquer coisa para comeres e aproveita para descansares. O teu dia foi muito pesado. Eu procurarei saber sobre a tua mãe, entretanto. - rematou Shappa, com um pequeno sorriso. - Agora temos esta batata quente nas mãos!
- Mas, mas…! - indagou Bianca, sem saber o que dizer.
- Mais tarde! - despediram-se Shappa e Agatha, partindo a toda a velocidade.
Bianca entrou na casa dos Chayton completamente confusa. O que teria acontecido para o Presidente dos Estados Unidos da América ter sido deposto? A resposta a essa pergunta não tardou a chegar pela televisão, já Bianca tinha tomado um bom duche e estava recostada num sofá da sala de estar, enquanto continuava a telefonar para a mãe. Na televisão, Cher anunciava, com ar grave:
- “O dia de hoje ficará na memória da nossa cidade e do nosso país como um dos dias mais terríveis da nossa História Moderna. Hoje, Grace Falls foi palco de mais um suicídio colectivo…”
- O quê? - assustou-se Bianca, enquanto aparecia na televisão uma fotografia de 3 jovens.
Mais 3 jovens cometem suicídio! O que estará a acontecer?!
Cher prosseguiu:
- “… Os jovens eram todos habitantes da nossa cidade. Ricky Méndez, Samantha Foxx e Théo Casper tinham 16 anos. Os jovens suicidaram-se hoje, através de sufocamento, tendo sido encontrada uma mensagem de despedida junto do corpo deles, que dizia o seguinte: TODOS dizem que é bom ser diferente; No entanto, NINGUÉM suporta a diferença dos outros… Só a Mão Divina nos compreende…”
Cher olhou para a câmara por alguns momentos.
- “Os três jovens tinham marcas e cortes profundos nos pulsos. As autópsias preliminares denunciaram que os jovens tinham substâncias opiáceas no organismo, quem sabe para ganharem coragem para fazer o que fizeram. Infelizmente, quanto a isso, estes jovens não foram os únicos. Há relatos de vários suicídios colectivos ao longo do país todo. Só hoje, até ao momento, foram registados suicídios de 100 pessoas, todas elas com idades entre os 20 e os 70 anos. Em todos os casos, surge uma mensagem de esperança, remetida à Mão Divina.”
Com um suspiro, Cher continuou:
- “Soubemos, há instantes, que em Boston um rapaz chamado Chuck Stevens, de 15 anos, suicidou-se por enforcamento, deixando uma selfie com algo escrito no braço esquerdo, com o seu próprio sangue. A mensagem dele foi a seguinte: "Eles só sabem julgar. A Mão Divina libertar-me-á desta agonia." Com tudo isto a acontecer, é seguro dizer que já existem pessoas por todo o país que estão a ficar com medo do que andará a acontecer e acredito que tenhamos razões para isso.”
Bianca chorava copiosamente! O que ganharia a Mão Divina com tudo aquilo? Cher ajeitou o cabelo, pigarreou e continuou:
- “Como se não bastassem estas tragédias, o nosso querido e amado Presidente, Ronald Vamp, foi hoje, ao fim da tarde, deposto de funções! Uma longa investigação conjunta do FBI, a CIA e os IA descobriram provas inequívocas de que o Presidente dos Estados Unidos da América traiu a nação, ao fornecer dados ultra-secretos a pessoas ligadas tanto à Rússia, como à Coreia do Norte, em troca de minar a confiança do eleitorado norte-americano e manipular os votos nas eleições que ele disputou contra a Senadora Marilyn Zilton! O Presidente Ronald Vamp afirma categoricamente que isto se trata de uma campanha difamatória contra ele e que tudo não passa de uma gigantesca cabala para o destituir, já que, e passo a citar: Vocês jamais conseguiriam tirar-me do poder! Eu trouxe à nossa amada América o melhor dos dois Mundos! Eu fiz a América ser GRANDE outra vez! Vocês e os vossos amiguinhos jornalistas não passam de uma cambada de filhos da p***! Gente de m****! Oxalá que os muçulmanos vos invadam o c* e vos cortem o c******!”
- Ó meu Deus! - exclamou Bianca, horrorizada! - E agora?
Cher parecia envergonhada depois de ler o que Vamp havia comentado numa rede social. Não perdendo a compostura, ela continuou:
- “Entretanto, já foi nomeado um Presidente Sucessório, até a situação ficar regularizada oficialmente. A Câmara dos Senados escolheu o Senador Tieman, que obteve a maioria absoluta dos votos, tanto entre os mandatários Republicanos como entre os mandatários Democratas. O Novo Presidente já falou ao país, deixando uma mensagem de esperança e de unificação. O Presidente Tieman espera acabar com o flagelo da Mão Divina e trazer paz e serenidade às populações. Veremos se tal será possível…”
Desligando a televisão, Bianca pegou no diário de Jules e subiu as escadas, rumo aos quartos. Sem saber em qual ficar, acabou por acomodar-se no quarto de Matoskah. A cama era confortável e ela não tardou a adormecer.
*14 de Julho de 2017*
Durante os dias seguintes, Bianca folheou o diário, percebendo que o irmão tinha escrito bastantes coisas nele. Para além disso, o irmão tinha juntado fotos, cartas e desenhos. Como a mãe dela não desse mais notícias, ela não conseguia focar-se inteiramente na leitura do diário. Ao fim de 3 dias sem notícias da mãe, ela procurou a ajuda da polícia e foi lançado um alerta local, que até passou na GFNews. Entretanto, devido ao que acontecera no país, Shappa não regressou a casa nos dias seguintes e Agatha também não. O escândalo do ex-Presidente Ronald Vamp tinha causado repercussões a nível mundial.
*16 de Julho de 2017*
Triste, sozinha e a sentir-se mais perdida do que nunca, Bianca seguiu um conselho de Théo, que fazia os possíveis para estar sempre com ela. A rapariga procurou a ajuda da psicóloga da cidade, a dra. Mariza, que a recebeu de braços abertos. Bianca sabia que Mariza tinha sido a psicóloga de Jules. Talvez ela soubesse alguma coisa que a pudesse ajudar. Após uma grande conversa, com muito choro à mistura, a psicóloga propôs a Bianca que esta fosse vista pelo psiquiatra que tinha acompanhado o caso do irmão. Bianca acedeu e horas depois estava deitada no divã do doutor Joshua, que estava mais bonito e encantador do que nunca.
*19 de Julho de 2017*
- Estou sim? Bianca Sullivan? - perguntou uma voz roufenha.
- Sim, é a mesma! Quem fala?
- Daqui fala da Esquadra da Polícia de Grace Falls. Temos novidades sobre o desaparecimento da sua mãe. Pode vir cá, tipo… Agora?
Bianca sentiu o seu coração a saltar-lhe pela boca.
- Claro que sim! Eu vou já para aí!
Bianca tinha regressado a casa, depois de saber que Shappa e Agatha não regressariam a Grace Falls nos dias seguintes. A situação do país estava caótica.
Entre os suicídios que agora ocorriam diariamente, todos eles dedicados ou de alguma forma relacionados com a Mão Divina, ao pavor nas cidades, às pilhagens e actos de vandalismo, à queda da Bolsa de Wall Street e aos conflitos internacionais que levariam a uma guerra não tardaria muito a rebentar, Bianca vivia num carrossel de emoções.
O pai de Bianca não regressou a casa tão cedo. Ele tornou-se o dono da empresa GraceTech, depois de comprá-la durante a crise de Valores da Bolsa. Fora um verdadeiro golpe de mestre! Assim que a empresa passou para as mãos dele, a mesma foi contratada pelos militares norte-americanos para fornecer material altamente secreto! Apesar de extremamente ocupado, tal como Shappa e Agatha, Eddie contactava Bianca diariamente.
Assim que soube da novidade, a rapariga correu para a esquadra de Grace Falls. Lá, deparou-se com um senhor bem-apessoado, de fato e gravata. Um polícia bexigoso surgiu por detrás de um guiché e cumprimentou-a.
- Menina Bianca, fui eu quem ligou para si. Agradeço que tenha vindo rapidamente. Este senhor tem informações para si…
A rapariga virou-se para o homem de fato e gravata, que lhe sorriu e explicou:
- Olá senhorita! O meu nome é Adam. Eu trabalho para a Uber. Sou motorista. Ouvi, pelas notícias da televisão, que aquela senhora desaparecida é a sua mãe. Talvez eu tenha uma informação para si.
- Diga lá, Adam! O que sabe? - inquiriu Bianca, nervosa.
- É assim, menina. Há uns dias, no dia 11, se não estou em erro, a senhora em questão contactou os meus serviços e pediu-me para a levar ao Pico do Diabo.
- Ao Pico do Diabo? O desfiladeiro? - perguntou Bianca, admirada.
- Sim, esse mesmo. A sua mãe pediu para pararmos no caminho, no banco. Esteve lá um bocado! Quando ela saiu do banco, notei que ela estava com ar nervoso e ansioso. Ainda tentei meter conversa, mas ela tinha um olhar vago, passou a viagem toda em silêncio. Quando chegamos ao local, pagou-me e rejeitou o troco! Pediu-me para ficar com ele, como gorjeta! Eu ainda lhe perguntei se queria que aguardasse por ela, mas ela disse que umas amigas iriam ali ter com ela e que se precisasse dos meus serviços, me voltaria a contactar!
- E depois? A que horas foi isso? - perguntou o polícia, atento.
- Foi depois de almoço, creio eu. Sim, já passava das duas horas da tarde! Alguma coisa, também é só consultarem o registo telefónico da central! - comentou o motorista, com ar despreocupado.
O polícia tomou nota de tudo e agradeceu. Bianca fez o mesmo. O motorista foi embora e Bianca questionou o polícia sobre a possibilidade de ter acontecido alguma coisa com a mãe dela no local onde o motorista a tinha levado.
- Como vê, menina Bianca, de momento só estou eu ao serviço. No entanto, eu falarei com o meu chefe e de certeza que ele ordenará uma equipa para investigar o local!
- Eu espero que sim! - rematou Bianca, virando costas e agradecendo a ajuda.
Ao sair da esquadra, Bianca entrou no carro dela, decidida a visitar o local onde a mãe tinha sido vista pela última vez. Como já não fizesse aquele percurso há muitos anos, ela ligou a Théo, que se prontificou a ir com ela! Assim, pouco depois, os dois jovens seguiam no carro de Bianca, sem se aperceberem que um carro seguia e dava exactamente as mesmas voltas que eles, alguns metros atrás.
Chegados ao Pico do Inferno, Bianca e Théo procuram por indícios de algum acidente. Foi com horror que Bianca encontrou uma bolsa vazia, cheia de pó e que ela reconheceu como sendo uma bolsa que a mãe usava!
- Ó Théo! Eu sinto! Eu sinto que lhe aconteceu algo de terrível! Por favor! Tu tens de acreditar em mim! - clamava Bianca, com ar aterrorizado.
Théo abraçou-a contra si, recostando a cabeça de Bianca sob o seu peito.
- Eu estou aqui, minha querida! Tem calma e conta-me tudo!
- Ó Théo… Eu nem sei por onde começar… - suspirou Bianca, com voz frágil.
- Começa pelo princípio, meu amor… - sussurrou Théo, com ar sedutor.
Bianca estava com as defesas em baixo. Théo percebeu isso e aproveitou para lançar a sua rede. Seria desta que ele conquistaria o coração dela! Coração esse que ele cobiçava desde que ambos eram crianças!
- Sabes Théo… Eu acho que o meu irmão Jules estava envolvido com a Mão Divina… - desabafou Bianca, entre soluços. - Eu acho que ele morreu porque foi obrigado a isso… Quer dizer… Sei lá? Não sei o que pensar…! Tudo isto é muito confuso! Mas eu acho que ele sabia de alguma coisa! Por isso ele guardou tantos segredos!
- Que segredos? - Théo olhava Bianca com muita atenção.
- O meu irmão tinha uma.... Chamemos-lhe assim.... Colecção de recortes e notícias sobre suicídios que andavam a ocorrer em vários pontos do país. De início, eu achei que fosse apenas uma maluquice, uma palermice dele, mas depois fui percebendo que não, que ele andava a informar-se sobre os suicídios que estavam ligados a esta coisa da Mão Divina! Ele até colocou os computadores dele… Protegidos por palavras-passe!
- Computadores? - perguntou Théo, surpreso.
- Sim, ele tinha dois computadores… Um de secretária e um portátil! Eu guardei o portátil dele e ainda bem! Quando nos assaltaram a casa, a semana passada, levaram apenas e só, advinha o quê: o computador de secretária! Não te parece estranho? Não tocaram nem jóias, nem em dinheiro! Só levaram aquilo, além de terem morto o meu cão, o Joker! Que monstro seria capaz de fazer mal a um bichinho daqueles?
- Isso de facto é muito estranho…. - comentou Théo, com ar pensativo. - Onde é que guardaste o portátil, Bianca? Eu posso guardá-lo na farmácia, se quiseres! Lá, tenho a certeza de que o portátil estará seguro!
Bianca e Théo tinham caminhado quase até à ponta do precipício, enquanto falavam. De repente, Bianca soltou-se do abraço de Théo. Havia uma grande mancha de sangue seco na extremidade do local! Perto dali estava a mala de Laura, vazia e suja de pó e um pouco de lama.
- Oh não! Olha para ali! Théo! Aquilo será…. Da minha mãe?
Théo aproximou-se relutantemente do local.
- É melhor avisarmos a polícia! - rematou. - Vamos embora, Bianca!
Bianca pegou na mala empoeirada que era da sua mãe e os dois seguiram para o carro de Théo, onde aguardaram a chegada da polícia. Oculto na floresta, um vulto observava a cena com interesse. Quando se apercebeu que vários carros da polícia estavam a chegar, virou costas e entrou num veículo que estava do outro lado da floresta à sua espera. Assim que fechou a porta com cuidado para não fazer barulho, o carro arrancou velozmente.
[Continua...]
Darias um excelente roteirista de novelas na Globo ... eita ...
ResponderEliminarObrigado Paulo! Com esse elogio ganhei o dia! ;)
EliminarAbreijos :3
As tuas histórias tem uma qualidade inigualável :)
ResponderEliminarOlá Francisco! Fico feliz que estejas a gostar da história!
EliminarObrigado!