Capítulo 10
Laura olhou à sua volta, agitada. Seria possível que alguém tivesse descoberto “aquele” segredo? Ela tentou manter-se calma, mas uma angústia enorme avassalou-a. Não tardou muito para que ela tivesse um ataque de pânico. Bianca, Eddie e Maurice tentaram acalmá-la, mas sem sucesso.
- Não pode ser…! Não pode ser…! – repetia Laura, com ar alucinado e completamente pálida.
- Eu vou preparar um chá bem forte! A senhora Laura não está bem! - declarou Maurice, correndo para a cozinha.
Como a mulher não dissesse mais nada, Eddie, em desespero, deu um estalo à mulher.
*PAFFF!*
Bianca deu um grito.
- Ó meu Deus! Pai!
Eddie aproximou-se de Laura, que parou imediatamente com aquela lengalenga. Olhou confusa para o marido e depois para Bianca. Parecia estar a pensar quem eram eles, até que sorriu timidamente.
- Pai!
Laura pegou na mão de Eddie. Este beijou-a e sorriu para ela.
- Laura… Estás bem? O que te aconteceu, querida?
- Mãe!! - gemeu Bianca, abraçando-a.
Durante alguns instantes, ninguém falou. Laura continuava com um olhar ansioso, enquanto Bianca se mantinha abraçada a ela, assustada. Eddie murmurava algo baixinho, ao ouvido de Laura. Maurice chegou, entretanto, com um chá forte. Estava ela a servir a família Sullivan quando Laura desmaiou.
- Oh não! Laura! - exclamou Eddie.
- Senhora! Senhora! Ó meu Deus! - gemeu Maurice, preocupada.
- Mãe! Mãe! - gritou Bianca, abanando a mãe com alguma violência.
Laura não reagia a nada. Preocupado, Eddie declarou:
- Eu vou à farmácia, ver se o Théo está disponível para vir cá prestar assistência!
Admirada, Bianca virou-se para o pai:
- Théo? Aquele Théo que eu estou a pensar?
- Sim, esse mesmo! Ele trabalha na farmácia da cidade! Além disso, ele vai a casa das pessoas fazer tratamentos, já que além de farmacêutico, é enfermeiro! Ele tirou vários cursos, sabias?
- Não, de facto não sabia, pai! Aos anos que não o vejo! Ele deve estar bem diferente! Olha… Eu vou à farmácia! - suspirou Bianca, pegando nas chaves do carro e saindo a correr.
Bianca entrou no carro e recordou-se com saudades, dos tempos em que ainda era criança. Jules ainda não era nascido nessa altura. Ela e Théo eram amigos inseparáveis. Anos mais tarde, fora a Théo que Bianca dera o seu primeiro beijo. Na altura, Théo estava muito apaixonado por Bianca, mas esta cedo decidira colocar os estudos e a vida profissional à frente de tudo o resto. Pouco tempo depois de Bianca ter dado aquele primeiro beijo, ela estava a despedir-se de Théo, aquando da sua partida para Boston, já que tinha obtido uma bolsa numa universidade por lá.
Desde então, poucas tinham sido as vezes que Bianca regressara a Grace Falls. Geralmente os pais e o irmão aproveitavam o facto de ela estar a estudar e a viver em Boston para a irem visitar e passar uns dias na sua companhia. Quando Bianca se formou, rapidamente arranjou trabalho. Como era professora, não tinha posto fixo. Nada que a incomodasse muito. Ela gostava daquela vida. Achava excitante o facto de hoje poder estar num Estado e no ano seguinte poder ir para o outro extremo do país. Isso permitia-lhe conhecer inúmeras pessoas e vivenciar imensas coisas.
Ela rapidamente chegou ao seu destino. Parou o carro, saiu e entrou na farmácia. A farmácia tinha um inegável cheiro a limpo e a medicamentos. A estrutura do estabelecimento em si tinha sido restaurada, mas havia ali uma deliciosa fusão entre o novo e o velho.
Bianca tocou a uma campainha que estava sobre um balcão, enquanto observava móveis antigos repletos de instrumentos ligados à medicina, que faziam parte de uma colecção do dono da farmácia e pai de Théo. Instantes depois, um rapaz alto, de cabelos pretos ondulados e olhos cinzentos apareceu, trazendo uma máscara no rosto. Ao ver Bianca, ele ficou em choque!
Théo
- Não pode ser! - exclamou. - Bianca, és mesmo tu?!
Bianca sorriu, admirada! Théo tinha-se tornado um homem muito atraente!
- Oi Théo! Como estás?
Théo e Bianca trocaram um beijo e abraçaram-se, emocionados. Deram um abraço terno, forte. Bianca sentiu um calor imenso no seu peito. Depois de tudo o que tinha acontecido desde que chegara a Grace Falls, sabia mesmo bem aquele abraço tão familiar. De repente, ela lembrou-se do que a levara a ir ali e suspirou:
- Olha Théo… Desculpa, mas eu preciso que venhas a minha casa, tipo, agora! A minha mãe está a passar mal, achamos que pode ser uma quebra de tensão ou assim!
Théo sorriu.
- Sempre a mesma, tu! Nunca mudas! Está bom, deixa-me só preparar a minha mala com algumas coisas e já vamos ver o que se passa com a tua mãe!
Mais calma, Bianca suspirou e voltou para o carro. Théo fechou a farmácia, colocou um letreiro na porta, pegou numa mala castanha e entrou no carro de Bianca, que partiu imediatamente.
- Desculpa lá tudo isto… - queixou-se Bianca.
- Ora, eu é que tenho de pedir-te desculpas…. Afinal, ainda não vos tinha ido visitar desde que... Bem… Tu sabes… - confessou Théo, atrapalhado.
- Estavas com medo de me ver? - troçou Bianca, com um sorriso.
- Na verdade, eu nem estava cá quando isso aconteceu, sabes? Tenho estado fora da cidade, em congressos. Tenho aproveitado essas viagens para visitar farmacêuticas. Só cheguei anteontem.
Admirada, Bianca parou o carro em frente de casa. Théo tinha-se tornado um homem importante! Ele saiu e Eddie veio buscá-lo, tal era o desespero por Laura se manter imóvel.
Depois de alguns minutos de diagnóstico, Théo decretou que Laura tinha sofrido uma quebra de tensão e um choque hipoglicémico. Ele injectou algo no corpo de Laura e poucos instantes depois, esta reagiu. Bianca, Eddie e Maurice suspiraram aliviados! Laura estava a recuperar a cor e o seu olhar parecia lúcido! Théo congratulou-se:
- Agora está tudo bem! A senhorita Laura teve uma crise de ansiedade, motivada por toda a situação que tem vivido! Essa crise provocou-lhe uma quebra de tensão severa, que se agravou porque muito provavelmente a senhorita não tomou o pequeno-almoço hoje!
Laura concordou, envergonhada.
- É verdade! Hoje saímos à pressa e eu não tomei o pequeno-almoço! Tantas vezes que faço isso e nunca me aconteceu nada assim!
Théo adoptou uma postura muito profissional e continuou:
- Mas não o deve fazer! O pequeno-almoço é a primeira e mais importante refeição do dia! Eu aconselho a senhorita a ficar em repouso pelo resto do dia de hoje, está bom? E nada de emoções fortes nos próximos dias!
- Ó doutor… Não sei como lhe agradecer! - exclamou Eddie, apertando a mão de Théo com força.
- Ora essa! Está tudo bem! - rematou Théo, fechando a sua mala e preparando-se para ir embora.
Bianca olhou para Théo. Estava encantada! Ele tinha-se tornado muito mais confiante do que se alguma vez fora. O seu olhar demonstrava muita segurança em tudo o que dizia e fazia. Maurice acompanhou Théo à porta. Ao vê-lo a ir embora, Bianca foi a correr atrás dele.
- Théo! Espera! Espera um pouco!
Este parou e sorriu.
- Bianca! Que se passa?
- Nada...! É que… Bom… Eu gostaria de te compensar pelo que acabaste de fazer…
Théo riu-se.
- Mas eu não fiz nada de especial!
- Awwwww! Tu sabes! Eu… Eu gostaria de falar contigo…
- Queres combinar um jantar? Deixa-me ver aqui na minha agenda…. Pode ser para depois de amanhã? - questionou Théo, com ar sedutor.
Bianca ficou atrapalhada. Geralmente era ela quem dominava as situações, mas parecia que Théo sabia exactamente como lidar com ela e estava a tirar proveito disso.
- Ah, sim! Por mim está bom!
- Óptimo! Vou reservar mesa no Four Seasons! Venho buscar-te às 20 horas?
- No Four Seasons?! - perguntou Bianca, surpreendida. - Esse não é o restaurante mais caro da cidade?
Théo riu-se, divertido.
- Até mais, Bianca! Alguma coisa, é só ligares!
Um cartão com um número surgiu nas mãos de Bianca. Esta não tinha dado por nada. Estava totalmente derretida!
*27 de Junho de 2017*
- Mamã, papá, posso ir despedir-me do tio Eddie? - perguntou Takoda, com ar suplicante.
Shappa e Chayton sorriram um para o outro.
- Vai lá, filho! Mas não te demores! Não devemos fazer esperar o Grande Chefe! Se virmos que estás a demorar, passamos por lá para te apanhar, está bom?
Takoda deu um beijo aos pais e partiu a correr, rápido como uma flecha. Matoskah e os amigos já tinham tudo pronto para a viagem que iriam fazer. O grupo que tinha acompanhado o Grande Chefe e que estava acampado na floresta de Grace Falls desde o funeral de Jules iria partir com eles. O grupo separar-se-ia na chegada à aldeia natal. Matoskah precisava de ser visto por um grupo de wicasa wakan que vivia na Reserva, a fim de recuperar do choque.
Takoda não tardou a encontrar-se com Eddie, Laura e Bianca, na casa deles. Ele tinha-se afeiçoado muito ao pai de Jules e Bianca. Foi com alguma tristeza que Eddie soube que Takoda, Matoskah e os amigos iriam partir, sem data de regresso. Ele pediu a Takoda para aguardar na sala, enquanto foi ao escritório buscar uma surpresa.
- Toma filho, é para ti! - comentou Eddie, com um grande sorriso.
- Ohhhhh! Uma prenda! O que é? - perguntou Takoda, curioso.
- Abre e verás!
Takoda assim o fez. Com um grande sorriso na cara, desembrulhou uma caixa, que continha um telemóvel!
- Uau! Um telefone daqueles que dá para ver imagens e tudo! Ó tio…! Eu não posso aceitar isto! Eu ainda sou pequeno para usar estas coisas!
Eddie, Laura e Bianca riram-se, divertidos! A cara de Takoda demonstrava muita convicção no que acabara de dizer!
- Filho, tu podes e deves usar o telemóvel! Eu já gravei os nossos números aí para quando quiseres falar connosco! É muito útil! Para além disso, nesse smartphone tens jogos e acesso à Internet!
- A sério? Altamente! Vou pedir ao Wakinyan que me crie uma conta no Criss-Cross! Assim poderemos falar por lá! E vou pedir-vos a todos em amizade, está bom? - perguntou Takoda, muito excitado.
- A propósito, Takoda… - inquiriu Bianca, de repente.
- Sim?
- Quando é que tu e o teu irmão fazem anos?
- Eu faço a 21 de Março. O meu ciyé faz a 3 de Dezembro. Porquê? - questionou o miúdo, entretido com o seu novo “brinquedo”.
- Por nada, era só para eu tomar nota, sabes? Gosto de tomar nota dos aniversários dos meus amigos!
Takoda levantou a cabeça. Fez um sorriso triste.
- Ainda me lembro de quando o Jules foi visitar o meu irmão no aniversário dele… Ele tinha um cheiro esquisito nas roupas… E… O Jules não dizia assim… Não dizia coisa com coisa… Mas depois… A minha mãe deu-lhe um chá e ele ficou bem!
Um carro buzinou três vezes na rua. Uma voz gritou:
- Takoda!
- Ooohhhh! Tenho de ir! Até qualquer dia! Tio Eddie! Gosto muito de si! - rematou Takoda, abraçando-se a Eddie com força. - Obrigado por tudo!
- Obrigado nós pela tua visita, querido! Façam boa viagem! - exclamou Eddie, acompanhado por Laura e Bianca, que acenaram à porta.
Takoda entrou no carro, que ia cheio. Shappa gritou:
- Amanhã eu passo por aqui, pode ser?
Bianca acenou com a cabeça, sorridente. Takoda e os restantes deram um grito triunfante de despedida. O carro partiu a grande velocidade. Eles iriam encontrar-se com o Grande Chefe e os restantes no limite da floresta, de onde partiriam para casa.
Bianca ficou a pensar nas palavras de Takoda. Ela tinha um pressentimento de que ali estava uma pista para o que ela procurava saber. Assim que teve oportunidade, foi para o seu quarto, fechou a porta à chave e retirou o portátil do esconderijo.
Ao ligá-lo, apercebeu-se de que o irmão tinha criado uma palavra-passe para iniciar sessão. Intrigada, ela tentou várias combinações. De repente, ao colocar “Matoskah”, conseguiu entrar!
Ela vasculhou o computador de uma ponta à outra. Aparentemente, o irmão usava o portátil com frequência, já que se encontrava cheio de pastas. Curiosamente, ele tinha pastas dentro de pastas, muitas com imagens retiradas do Criss-Cross e outros sites. Estava também cheio de artigos variados e notícias de suicídios que tinham ocorrido em Grace Falls e nas cidades vizinhas.
De repente, ela descobriu uma pasta chamada “Jules - XXX”.
Curiosa, clicou lá. Qual o seu espanto quando se apercebeu que a pasta exigia uma palavra-passe! Indignada, Bianca tentou, durante mais de uma hora, todas as senhas que se conseguiu lembrar. Nenhuma delas funcionou. Bianca desanimou. Desligou o portátil e deitou-se na cama. Sentia que estava num beco sem saída. Que segredos esconderia aquela pasta no portátil do seu falecido irmão?
[Continua...]
Continuo encantado com as tuas histórias
ResponderEliminarObrigado Francisco!
EliminarEsta história está praticamente a chegar ao meio, mas ainda vem por aí muitas surpresas!
Francisco, tu não lês estes contos da carochinha, deixa-te de coisas. Só o dizes para que ele comente o teu blogue. Sabe-lo tu, sei-o eu e até o sabe o rapazito.
EliminarE vamos que vamos. Encanta-me a tua criatividade.
ResponderEliminarObrigado, Paulo! :)
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