Escrito nas Entrelinhas: Parte 3 ~ Capítulo 36

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Capítulo 36

*8 de Agosto de 2018*

O sol já ia alto quando Mikel acordou. Tivera inúmeros sonhos estranhos e acordara com um peso no coração. Alguma coisa lhe dizia que aquele dia não ia ser fácil. Espreguiçou-se, esticando os músculos ao máximo. Observou o local onde estava. Uma ligeira dor de cabeça despertou-lhe os sentidos. Levantou-se e foi tomar um duche. O quarto que lhe tinham disponibilizado tinha casa de banho privativa. Deixou a água quente cair sobre o corpo delgado e musculoso, enquanto sentia as dores que o incomodavam a desvanecerem-se. Pensou em Matoskah e sorriu, encostando a cabeça na parede do chuveiro e relembrando os momentos que haviam passado juntos. Naquele momento, ele sentiu a presença de Matoskah. Os dois entrelaçaram-se num abraço e num beijo, enquanto davam largas às sensações. 

Alguns minutos mais tarde, ele regressou ao quarto, mais aliviado e mais relaxado. Aquele duche fizera-lhe bem. As preocupações com que iniciara o dia desvaneceram-se assim que tomou o duche. Mikel percebeu que Matoskah não lhe fora indiferente. Outros homens no seu Passado haviam causado a mesma sensação, mas tinham sido muito, muito, muito poucos. Contavam-se pelos dedos de uma só mão. Intrigado com o que se desenrolaria entre ele e Matoskah, deitou-se novamente na cama, a olhar pela janela. Aquele quarto nem parecia de facto um quarto de um centro hospitalar, tal era o nível de conforto.

Quando sentiu que o corpo estava completamente seco, Mikel vestiu umas roupas e saiu. As preocupações voltaram-se para Shade, uma vez que não obtivera nenhuma informação sobre o estado do rapaz. Atravessou vários corredores. Tudo impecavelmente limpo e asseado, em tons brancos luminosos e outras cores agradáveis aos olhos. 

No entanto, Mikel sentia que algo não estava bem. O que seria?  

 

De repente, fez-se luz!

Mikel percebeu que reinava o silêncio absoluto. Não havia vivalma! Ao olhar com mais atenção pelas enormes janelas que davam para os belíssimos jardins interiores, apercebeu-se que não corria uma ponta de vento. Tudo parecia estar parado.

- “Parado”… - sussurrou. - Está tudo… Parado. 

Intrigado, Mikel olhou à sua volta. Ficou em estado de alerta. Procurava encontrar vestígios do Mal Desconhecido. Não havia o mínimo sinal. Admirado, começou a correr. Ele queria perceber o que se estava a passar!

- Shade! Shade! Estás aí? - gritava ele, um pouco assustado. - Sou eu, o Mikel!

 

Nada, nem ninguém lhe respondia de volta, nem o seu próprio eco! E foi isso que lhe causou mais estranheza e o assustou ainda mais! Estava ele a pensar nisso, quando chegou ao Hall de Entrada do edifício e se apercebeu que este estava cheio de gente!

- Mas… Que raio?! - indignou-se.

Todas as pessoas estavam em movimento suspenso. Umas agachadas, outras de cabeça virada para o lado, outras com um pé no ar, algumas a rirem de algo, enquanto tomavam notas, com as canetas em suspenso no ar. Todas as pessoas agiam assim! 

Aproximando-se delas, Mikel percebeu que todas elas estavam vivas. Estavam quentes e a única coisa que era estranha era o facto de estarem em movimentos suspensos, como se o Tempo tivesse parado para elas. 

Atónito, olhou para as portas de entrada do Centro Hospitalar e percebeu que aquilo acontecia também na rua! Carros parados a ultrapassarem outros carros, um cão com uma pata alçada de encontro a uma boca de incêndio, pessoas a conversarem em grupo a atravessarem numa passadeira, um grupo de jovens médicos a fumar numa pequena roda, um pouco afastados da entrada do edifício.

Assustado, Mikel activou as suas defesas. Tratou de se dirigir ao balcão de atendimento e procurou a ficha do Shade, a ver se descobria em que quarto estava o amigo.

[Continua...]