Escrito nas Entrelinhas: Parte 3 ~ Capítulo 56

(Vi um pouco da Eurovisão... Que homão aquele do Chipre, hein? Era daqueles que me podia vir cantar a canção do bandido, que eu deixava!) =P

Escrito nas Entrelinhas: Parte 3
Capítulo 56 [Especial]: A Prova do Coiote Silencioso e do Lobo Branco! [1ª Parte]

*10 de Agosto de 2018*

Muitas horas mais tarde, Mikel saiu da tenda e sentou-se em posição de meditação. Os amigos saíram da tenda e formaram um círculo ao seu redor. Com as mãos dadas, eles começaram a cantar em uníssono, criando uma energia poderosa que permeava todo o ambiente.

De repente, um raio cortou o céu e atingiu a cascata, criando uma cortina de água que envolveu o grupo de guerreiros. Mikel sentiu uma energia pulsante invadir o seu corpo, e uma visão começou a formar-se diante dos olhos de todos!

Eles viram uma figura feminina, com longos cabelos negros e olhos azuis como o céu. Ela estava cercada por uma aura brilhante, e segurava um cajado de cristal. Mikel e Matoskah rapidamente aperceberam-se de que ela era uma deusa, e sentiram os seus corações acelerar com a emoção!

A deusa falou com os guerreiros numa língua que eles não conheciam, mas que ao mesmo tempo, entendiam perfeitamente. Ela disse-lhes que Mikel havia sido escolhido para uma missão importante. Ele deveria ajudar Baya Ainila a superar uma missão, assim que retornasse à tribo. Caso Baya Ainila passasse a missão, ele tornar-se-ia um jovem Guerreiro da Tribo dos Guerreiros Arco-Íris!

Mikel estava atordoado, mas sentiu uma grande responsabilidade invadi-lo. Ele sabia que aquela seria uma tarefa impossível de ser concretizada por uma única pessoa, mas os guerreiros ao seu redor transmitiram-lhe força e coragem!

Quando a visão terminou, os guerreiros ficaram em silêncio, mas os seus olhares eram profunda determinação! Mikel levantou-se e abraçou cada um deles, sentindo uma conexão profunda com cada uma daquelas pessoas maravilhosas.

Com um último olhar para a cascata, o grupo de guerreiros e Mikel caminharam de volta para a Aldeia, determinados a começar uma jornada que mudaria o curso da História...

*Chegados à Aldeia…*

- Vejo que estão todos bem! Onde se meteram? - perguntou Shade, curioso.

Com uma troca de olhares, os seis homens riram-se de forma cúmplice.

- Fomos passear pela floresta e ver as estrelas, assim como tu fizeste com o Kangee, Shade… - Correu tudo bem? Gostaste? - perguntou Matoskah, bem disposto. 

Shade corou um pouco e respondeu rapidamente:

- Ohhh sim! Foi um passeio muito bonito! O Kangee é um bom… Guia! - respondeu, um pouco atrapalhado. 

As palavras que lhe queriam sair pela boca eram outras, mas tinha medo de ofender Matoskah ao dizer que tinham passado a noite a fazer sexo desenfreado com o amigo, depois de vários passeios à volta da lagoa e do campo de pirilampos. 

Kangee e Shade haviam feito um pouco de tudo, incluindo aquilo que Shade mais gostava, que era gouinage. A prática de gouinage era conhecida na tribo, mas a maior parte dos membros preferia o sexo penetrativo, embora, quando se envolviam de forma mais romântica com alguém, o gouinage passasse a ser bem mais frequente, até porque todos eram bastante intensos e vorazes no que ao sexo dizia respeito. Na verdade, o que Shade mais queria naquele momento, era saber se Mikel estava bem e dormir um bocado. 

Mikel aparentava ter dormido pouco ou nada. Takoda e Baya Ainila correram para eles, felizes por verem que eles estavam bem. Matoskah abaixou-se com ar sério para Baila Ainila e gesticulou:

   

- Meu amado misún¹⁰! Baya Ainila! Chegou a hora da tua prova! Durante a nossa estadia na Cascata da Névoa Dourada, uma deusa surgiu sobre todos nós e falou!  

Baya Ainila foi a peça-chave para desvendar os mistérios em "Escrito nas Entrelinhas: Parte 2"!

Baya Ainila era um jovem e corajoso menino nativo-americano órfão e surdo-mudo, que vivia ali, no coração da floresta, com a sua tribo, os Guerreiros do Arco-Íris. Um dia, o Grande Chefe Heȟáka Sápa encontrou-o, ainda embrulhado em mantas e acabado de nascer, no caminho que dava acesso à Reserva Ameríndia. Apesar de chorar, o bebé não emitia nenhum som. Instigados, os membros da aldeia cuidaram dele o melhor que sabiam. Apesar de ser surdo-mudo, Baya era um jovem determinado e resistente, e sonhava com o dia em que se tornaria oficialmente um Guerreiro da Tribo.

Matoskah explicou-lhe que ele fora escolhido para passar por uma série de desafios e testes para provar o seu valor e se tornar um guerreiro. Os desafios seriam difíceis e ele teria de enfrentá-los, mas ele estava determinado a provar seu valor e conquistar o respeito da sua tribo. O rapazinho gesticulou, afirmando estar preparado para embarcar numa jornada por si mesmo, provando que ele era digno de ser um guerreiro da tribo. 

Matoskah e os outros urraram e bateram palmas, saudando o pequeno guerreiro! 

- Tenho uma boa notícia para ti! - declarou Mikel, entre gestos. - A deusa ordenou que eu deveria acompanhar-te, para garantir que consegues levar esta missão até ao fim! Presumo que isto seja um teste também para mim, mas fico feliz que vamos enfrentar isto juntos!  

Emocionado, Baya Ainila correu para os braços de Mikel e tentou ulular, feliz! A alegria nos seus olhos não deixava ninguém indiferente!

Wakinyan aproximou-se deles e disse:

- Muito bem, meus amados! Preparem coisas para comerem, beberem e dormirem! Enquanto isso, eu e os restantes, vamos montar e certificar-nos que todos os desafios estão prontos! O Grande Chefe dir-vos-á quando podem partir! Boa sorte para vocês os dois!

Matoskah foi ter com Mikel. Abraçaram-se, beijaram-se e Matoskah sussurrou-lhe:

- Volta depressa e bem, meu amor! Eu terei uma recompensa só para ti, quando regressares! Prometo!

Mikel e Matoskah olharam-se olhos nos olhos. Mikel abriu-se num grande sorriso e assentiu com a cabeça.

E assim, Matoskah, Cetan Nagin, Siha Sápa, Maȟpyua Lúta e Wakinyan montaram a cavalo e desapareceram dali em menos de nada, rumo às montanhas do Búfalo Branco!

Shade observou a cena, incrédulo! 

- Deusa? - inquiriu a Kangee, que o levou até uma caverna cheia de desenhos pintados à mão, à muitas luas atrás, por guerreiros como eles. 

    

Takoda, por sua vez, junto com Shappa e Agatha, ajudou a preparar os sacos de mantimentos e bebidas. Depois de voltarem da caverna, que ficava ali perto, Kangee ofereceu-se para ajudar na escolha dos equipamentos, assim como o namorado de Agatha, Paytah.

- Vocês não sabem o que vão enfrentar, então é bom levarem um pouco de tudo. Apesar de ainda seres criança, eles não te vão facilitar a vida, Baya Ainila! O facto de levares o Mikel contigo já é uma das melhores ajudas que te poderiam ter dado!

Kangee retorquiu:

- A mim parece-me que a prova será para vocês os dois. Ambos terão desafios e provas a enfrentar! O melhor de tudo é que quando acabarem, regressarão à Aldeia mais fortes e unidos do que antes! 

Passado duas horas, o Grande Chefe Heȟáka Sápa veio ter com Mikel e Baya Ainila, que já tinham tudo pronto e estes aguardavam com impaciência quando começariam o teste. Mikel estava preocupado com a posição do sol no céu, pois não tardaria a ficar muito calor!

- Meus amados guerreiros, Baya Ainila e Mikel! - anunciou e gesticulou o Grande Chefe Heȟáka Sápa. - Os vossos desafios estão preparados! Sigam as marcas que encontrarão no caminho! Os nossos amigos criaram provas particularmente dedicadas a vós, por isso, é-vos exigido muita sintonia e sincronia! Aprendam a falar por outros meios! Boa sorte! Que os nagi tanka¹² vos acompanhem e vos conduzam à vitória!

- E nós estaremos atentos! Se vocês precisarem de alguma coisa, é só gritarem por ajuda, que nós iremos ter com vocês! - declarou Siha Sápa.

Ele e os restantes guerreiros tinham regressado. Mostravam-se confiantes e sorridentes!

E assim, a um sinal de partida, Baya Ainila e Mikel desataram a correr rumo à floresta! A jornada foi repleta de vários desafios que testaram a Coragem, a Força e a Resistência de Baya Ainila. 

O primeiro teste foi atravessar um rio perigoso cheio de rápidos e pedras pontiagudas. Mikel ajudou Baya a navegar por entre as águas traiçoeiras e como chegar ao outro lado do rio com segurança.

Baya e Mikel seguiram em frente na jornada, com a mente preparada para mais desafios. Depois de passarem por um extenso deserto, chegaram a uma nova e densa floresta. Ao entrarem na floresta, Baya e Mikel foram recebidos por uma série de sons estranhos, incluindo o canto de pássaros desconhecidos e o grunhido de animais selvagens.

No meio desta floresta, eles encontraram uma clareira. Lá, só existia uma única árvore no centro, que se erguia alta e majestosa, rumo ao céu. Baya reconheceu a árvore imediatamente: era a Árvore dos Desejos! Rezava a lenda que, quem conseguisse subir na árvore e fazer um desejo, teria o seu desejo realizado!

Mikel alertou Baya sobre os perigos de subir naquela árvore gigante, mas Baya estava determinado a tentar! Com a ajuda de Mikel, Baya começou a escalar a árvore. Ele subiu, subiu e subiu, ignorando a dor nas mãos e nos pés! Quando finalmente chegou ao topo, Baya Ainila viu uma visão incrível! A floresta estendia-se por quilómetros e, ao longe, bem ao longe, ele podia ver o oceano! Baya Ainila fechou os olhos e fez um desejo. Naquele momento, o seu maior desejo era aquele sentimento que nutria e lhe inundava o coração. E com toda a fé, ele rogou à árvore que aquele desejo se tornasse realidade.

Quando Baya Ainila abriu os olhos, ele estava de volta à clareira, enquanto descia da árvore. Mikel olhou para Baya Ainila e viu a determinação nos seus olhos. Ele sabia que Baya Ainila se tornara mais forte e corajoso do que nunca!

Eles deixaram a clareira e seguiram em frente, acompanhando as marcas que tinham sido deixadas para eles. Eles tiveram de atravessar um pântano pantanoso, enfrentar uma tempestade violenta que surgiu do nada e escalar uma montanha nevada. Em cada desafio, Baya Ainila e Mikel trabalhavam juntos para superar os obstáculos, numa sintonia e sincronia cada vez maior.  

Assim que a tempestade de neve passou, eles tiveram de escalar o resto da montanha íngreme, para recuperar uma pena especial do topo da montanha! Baya Ainila quase que desistia, mas com o incentivo de Mikel, ele finalmente chegou ao topo e recuperou a pena, que viria a ser aplicada no seu cocar!

Enquanto os dois heróis desciam a montanha, eles encontraram uma matilha de lobos que guardava uma entrada para uma caverna sagrada. Mikel comunicou com os lobos e estes, depois de os farejarem bastante, abanaram as caudas e concordaram em deixar Baya Ainila e Mikel entrarem na caverna. A entrada era estreita e escura, mas Baya Ainila e Mikel não hesitaram em avançar. Eles acenderam as suas tochas e seguiram em frente, adentrando nas profundezas da caverna.

A medida que avançavam, perceberam que a caverna era muito mais extensa do que imaginavam. Eles depararam-se com salões enormes, estalactites e estalagmites que pareciam tocar o tecto e o chão e rios subterrâneos que corriam pelas rochas.

Eles também encontraram alguns obstáculos perigosos, como buracos profundos e pontes instáveis. Mas Baya Ainila e Mikel continuaram a trabalhar juntos, apoiando-se um ao outro e garantindo que ambos atravessassem com segurança.

Finalmente, depois de horas de exploração, eles encontraram o que era suposto: uma pedra antiga com inscrições misteriosas e símbolos estranhos! Eles aproximaram-se da pedra com cautela, conscientes do poder que ela poderia conter!

Baya Ainila leu as inscrições com cuidado, tentando decifrar o seu significado. Depois de alguns minutos de silêncio, ele finalmente virou-se para Mikel com uma expressão de triunfo. Porém, ele tinha tirado a pedra do pedestal! Não tardou para que um teste de fogo surgisse na frente deles! Baya Ainila tinha de passar aquele teste de fogo para provar a sua bravura! Com o apoio de Mikel, Baya Ainila passou no teste com sucesso!

Ao saírem da caverna, pelo outro lado, perceberam que teriam de voltar a seguir para cima. Não havia outro caminho de regresso possível! Subiram, subiram, subiram… 

Quando por fim a montanha acabou, depararam-se com uma floresta, bem no alto da montanha, com uma nasceste que formava uma pequena lagoa natural, suficiente para eles os dois! Era a Nascente do Bisonte Prateado! A floresta era densa e exuberante, com árvores altas e frondosas que formavam um dossel verde acima das suas cabeças. O chão era coberto por um tapete de folhas secas e musgo macio, tornando cada passo silencioso e confortável.

A nascente que formava a lagoa era cristalina e brilhante, refletindo a luz do pôr-do-sol que entrava por entre as folhas das árvores. A água era fresca e refrescante, e os dois amigos entregaram-se a ela com prazer! Cansados, com calor e fome, os dois amigos pousaram as coisas, tiraram as roupas e lançaram-se à água.

A lagoa em si era pequena, cercada por pedras e musgos que formavam pequenas cascatas e rápidos que levavam a água para fora da piscina natural. Havia pequenos peixes que nadavam na água e borboletas coloridas voavam ao redor, pousando nas flores próximas.

Baya Ainila e Mikel ficaram algum tempo na água, deixando o cansaço e o calor dissiparem-se com a brisa fresca que soprava da floresta. Eles riram e brincaram na água, recuperando as suas forças, enquanto apreciavam a beleza do lugar!

Depois de algum tempo, eles saíram da água e sentaram-se nas pedras ao redor da lagoa. Criaram uma fogueira para se aquecerem, comeram as frutas, os alimentos e as bebidas que tinham trazido na mochila. Eles estavam felizes. Naquele momento, queriam apenas descansar e aproveitarem a paz e a tranquilidade da floresta e o momento que estavam a vivenciar juntos.

A noite surgiu de mansinho, enquanto Mikel e Baya Ainila partilhavam histórias e momentos das suas vidas um com o outro. Baya Ainila estava reconfortado no peito de Mikel e este abraçava-o pela barriga, enquanto lhe dava beijinhos no rosto. Um sentimento indefinível de felicidade transbordava-os.

- Acho que foi um bom dia de provas! Caramba, sozinho eu não conseguiria! - comentou Mikel por gestos, enquanto reflectia em tudo o que tinham vivido naquele dia.

- Eu acho que eles fizeram mais complexo porque tu vinhas comigo. Mas o importante é que conseguimos! Se não fosse com a tua ajuda, nunca teria chegado até ao fim! Por isso, muito obrigado, meu amado ciyé¹⁷!! 

Dito isto, Baya Ainila levantou-se e colocou um pacotinho de ervas que Takoda lhe mandara colocar quando o fogo estivesse brando e eles não tardassem a dormir.

O fogo cresceu exponencialmente, lançando chamas verde-esmeralda! Um estranho cheiro adocicado espalhou-se pelo ar! Com a visão entorpecida, Mikel gritou, atrapalhado:

- Baya Ainila? Baya Ainila? Onde estás?

Embora não conseguisse escutar a voz, as vibrações que Mikel emitia soavam preocupadas! Baya Ainila deu-lhe as mãos de imediato, enquanto inspirava aquele misterioso fumo! No último instante, Mikel abraçou Baya Ainila. Os dois sorriram um para o outro e trocaram um beijinho, antes de caírem para o lado e perderem os sentidos.

Notas do Autor:

 

¹⁰ - Irmão mais novo, quando é um rapaz mais velho, a falar;

¹² - Grandes Espíritos;

¹⁷ - Irmão mais velho, quando é um rapaz mais novo, a falar;

[Continua...]