04 maio 2023

Escrito nas Entrelinhas: Parte 3 ~ Capítulo 54

Capítulo 54




Shade e Kangee deixaram a clareira e seguiram em direcção de um prado, perto da floresta, iluminado por inúmeros pirilampos. Shade e Kangee caminhavam pelo prado, admirando a beleza dos pirilampos que brilhavam intensamente ao redor deles. A erva alta e macia acariciava os pés deles, enquanto eles caminhavam em direção a uma pequena lagoa no centro do prado. Ao chegarem à lagoa, Kangee apercebeu-se que algo se movia na água.

- Olha para ali, Shade! - declarou ele, apontando para a superfície da água. - Existe algo ali em baixo!

Curioso, Shade aproximou-se da borda da lagoa e olhou para a água. De repente, um peixe enorme saltou da água, quase atingindo-o no rosto!

Shade saltou para trás, cambaleando um pouco, enquanto tentava recuperar o equilíbrio. Kangee riu-se.

- Tu és muito medroso! Ah ah ah! - exclamou ele, trocista.

Shade riu-se também, sacudindo a cabeça.

- Eu não sou medroso! - resmungou. - Só não esperava que um peixe tão grande saltasse da água assim!

Os dois amigos continuaram a caminhar ao redor da lagoa enquanto observavam a vida selvagem ao seu redor. Várias aves nocturnas voavam acima deles, piando suavemente enquanto caçavam insetos. O som da água corrente e o estridular dos grilos criava uma sinfonia harmoniosa.

Enquanto caminhavam, Shade percebeu que o prado parecia infinitamente grande. 

- Nós já andamos há tanto tempo e ainda há mais prado pela frente! - comentou ele, surpreso.

Kangee sorriu. 

- É assim que é a Natureza, Shade. Ela é vasta e cheia de surpresas. Nunca se sabe o que vamos encontrar ao virar da próxima esquina.

Shade sorriu de volta para ele. Ele estava maravilhado. Estacou no caminho e puxou Kangee para si. Os dois abraçaram-se. Olharam-se nos olhos e de repente, trocaram um beijo! 

Shade sentiu algo a despertar no seu peito! Um arrepio, semelhante à lava de um vulcão prestes a entrar em erupção subiu-lhe pelo corpo e rebentou no seu coração! Ele fechou os olhos e beijou Kangee com ainda mais deleite! Após aquele ósculo, os dois rapazes continuaram a explorar o prado, maravilhados com a beleza e a diversidade da vida selvagem ao seu redor.




*Enquanto isso, na Aldeia dos Guerreiros Arco-Íris…*
 

Matoskah, Cetan Nagin, Siha Sápa, Maȟpyua Lúta e Wakinyan foram ter com Mikel, que tinha ido à cabana de Shade guardar a viola. Wakinyan tomou a palavra.

- Amado ciyé17 Mikel, nós preparamos algo especial para ti! Dás-nos a honra de nos acompanhar?  

Mikel apercebeu-se imediatamente da energia que pairava no ar, ao redor daqueles belos guerreiros. Olhou para todos por uns instantes e assentiu com a cabeça, com um sorriso malicioso. Animados e felizes, o grupo de guerreiros ameríndios abraçou-se a Mikel, que retribuiu o gesto.

Juntos, os guerreiros e Mikel caminharam por uma trilha rumo à floresta. Quando Mikel perguntou para onde estavam a ir, Wakinyan respondeu:

- Estamos a seguir a trilha que conduz à Cascata da Névoa Dourada. É um dos lugares mais sagrados da Aldeia. Não levamos qualquer um a este lugar, uma vez que ele é um local muito especial e abençoado para nós! É uma honra levar-te lá, amado ciyé17 Mikel!  

Matoskah começou a cantar uma canção de invocação, enquanto Siha Sápa tocava o tambor.

Ao chegarem à cascata, montaram rapidamente um pequeno acampamento. Depois disso, Maȟpyua Lúta acendeu uma fogueira, enquanto Cetan Nagin preparava uma mistura de ervas sagradas. Wakinyan pegou na sua flauta de bambu e começou a tocar uma melodia suave.

Mikel contemplava o local, fascinado!

A Cascata da Névoa Dourada era um lugar magnífico, cercado por uma vegetação exuberante e densa. A trilha que levava até lá era íngreme, mas recompensadora, com vistas incríveis da floresta e das montanhas ao redor.

Ao aproximar-se da cascata, podia-se sentir a humidade no ar, proveniente das águas que caiam de uma altura impressionante, formando uma cortina de névoa que envolvia o local e que tinha originado o nome, muito tempo atrás. A névoa era tão densa que, em muitas ocasiões, era difícil ver a cascata na sua totalidade.

A água que descia da Cascata da Névoa Dourada era cristalina, e a sua queda criava uma espuma branca e brilhante, que parecia ter uma luz própria, refletindo os raios da lua, que conseguiam penetrar a densa vegetação.

Ao redor da cascata, havia rochas enormes e escorregadias, cobertas por musgos e líquenes, que pareciam brilhar com a humidade da névoa e da lua. Algumas árvores gigantes erguiam-se majestosas, enraizadas nas rochas e empenhadas em alcançar o céu.

O som da água a cair era ensurdecedor, mas ao mesmo tempo reconfortante, como se a cascata tivesse algum poder de cura. O ar ficou impregnado com o cheiro das ervas sagradas que estavam a ser queimadas na fogueira, criando uma atmosfera mística e acolhedora.

- Como vês, a Cascata da Névoa Dourada é um lugar sagrado e especial, onde a Natureza e o Sagrado se encontram, criando um ambiente de paz e harmonia! - sussurrou Matoskah, abraçando Mikel por detrás e beijando-lhe o pescoço.


[Continua...]

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