Sombras da Luz: Amanhecer ~ Capítulo 2

Capítulo 2

- Problemas? Que problemas? - perguntou Artémis.

Vesta ajoelhou-se em frente da fogueira. Ao fazê-lo, colocou uma chama especial, violeta, que trouxera consigo, tirando-a de dentro do seu manto. Ela aguardou alguns segundos até que a chama cresceu o suficiente para iluminar todo o jardim. Depois de se certificar que a chama estava grande e vívida, Vesta levantou-se e olhou para todos os deuses. Com ar sereno, ela declarou:

- Os Principados e as Potestades estão novamente em guerra pelo poder. Até parece que já não temos problemas que chegue... Enfim... 

Os deuses viraram-se uns para os outros e começaram a murmurar. Aquilo que Vesta tinha dito era a mesma coisa que afirmar que dois mais dois era igual a cinco. Para eles não fazia qualquer sentido, uma vez que estava acima da consciência divina deles entender o que se estava a passar. Ao aperceber-se do que lhes passava pela mente, Vesta pigarreou e explicou:

- O que se passa é muito simples. Imaginem dois exércitos inimigos em luta pelo mesmo reino. Temos um rei que está ocupado a travar uma luta para defender o seu reino contra um inimigo e eis que surge de repente uma nova luta, contra outro inimigo forte e poderoso! Este novo inimigo não pretende combater para conquistar aquele reino, visto que o seu objectivo é outro! No entanto, a sua intervenção nesta altura pode influenciar todo o rumo da batalha!!

A esta explicação seguiram-se “Ahhhm!” de entendimento. Muitos deuses e deusas mostraram-se interessados em saber mais. Apolo e Hórus questionaram de imediato:

- Vesta, posso colaborar de alguma forma? Eu sou o Deus da Guerra!

De imediato, os dois deuses fulminaram-se com o olhar. Ambos riram-se com desdém, enquanto se comparavam entre si e despertavam a rivalidade que sempre existira entre eles.

A deusa Vesta pigarreou.

- Aguentem os “Pégasus”, meninos! Ele está prestes a chegar, não sou eu que tenho o poder de vos autorizar a entrar nesta guerra... Nem a vocês, nem aos restantes, claro está.

Ao ouvirem isto, muitos deuses e deusas colocaram-se em posição de combate. Todos vestiram rapidamente as suas armaduras e colocaram as armas em riste. Um clima de expectativa e excitação gerou-se de imediato!

Pouco tempo depois, um arco-íris gigantesco irrompeu pelos céus de Spodeth-Ómega! Por momentos, o céu deixou de ser vermelho e passou a ser de todas as 7 cores do arco-íris! Todos os deuses sentiram um arrepio que percorria os seus corpos. Levantaram-se, surpresos. Um gigantesco megágono, uma esfera de luz com um milhão de lados e arestas irradiava uma doce melodia, enquanto descia dos céus, acompanhada por 7 raios de luz que definiam o arco-íris!

- Aí vem ele! - gritou Vesta. - Preparem-se!

Todos os deuses sentiram a mudança na vibração da Estrela-Planeta! Aquela energia era extraordinária e única! Completamente indescritível! Condensava em si toda a força do Universo! Era nada mais, nada menos, do que o próprio Criador!
Assim que a esfera tocou o solo, ela desabrochou lentamente, no formato de uma gigantesca flor de lótus. Da flor saiu um rapaz andrógino, envolto numa intensa chama dourada e luz branca, do mais puro branco que se possa imaginar. O rapazinho tinha aspecto humano e não teria mais do que 9 anos. Era loiro, de cabelos pelos ombros, aos caracóis. Tinha os olhos esverdeados, verde-água. O seu olhar era doce. A sua pele era branca como a neve. Era baixinho e tinha um sorriso ternurento. 

Nas minhas novelas, o Criador é este rapaz e chama-se Chibi-Sama! 

Ao lado do rapaz ajoelharam-se os sete raios de luz do arco-íris. Assim que se materializaram, os sete raios de luz converteram-se em formas humanas, para conseguirem permanecer naquele local, visto que a sua vibração era demasiado elevada para se manterem na forma divina. Os Sete Raios mantiveram-se cobertos por mantos e capuzes, um para cada cor do arco-íris. Estavam de tal maneira encapuçados, que nem se conseguia ver-lhes o rosto. O Criador aproximou-se de Vesta e afirmou, numa voz cristalina:

- Muito Obrigado! O fogo está muito bonito!

Vesta sorriu envergonhada e agradeceu, recuando em silêncio. O Criador aproximou-se do Fogo e pegando nele com as mãos, deu-lhe um pouco de Sopro Divino. No mesmo instante, o Fogo Violeta mudou de cor, tornando-se Branco e a sua chama aumentou exponencialmente, criando sombras em muitos locais daquele jardim, conhecido como o Jardim dos Deuses.

O rapaz sorriu e declarou:

- Nada temam, meus queridos filhos, as chamas estão a consumir as energias negativas que vocês carregavam convosco! Antes de mais, obrigado por terem vindo ao meu encontro! Lamento muito por ter-vos feito esperar! Infelizmente, as coisas lá em cima não estão muito fáceis... Creio que a jovem Vesta já vos comunicou sobre o que se passa...

- A Vesta apenas falou sobre uma nova guerra que está a decorrer e que vos fez atrasar, Chibi-Sama... No entanto, é do conhecimento de todos nós que alguma coisa se anda a passar de muito estranho... E... Atrevo-me a dizer... Já não é de agora... - comentou Anúbis, perante aceno geral de todo o concílio de deuses.

O Criador sorriu triste e suspirou.

- É verdade. Têm toda a razão. As Potestades lembraram-se de atacar, uma vez mais, porque querem conquistar o Poder. Eles sabem que nós estamos mais fragilizados. E o problema é que, com as coisas que têm andado a acontecer, esta não vai ser uma guerra fácil de vencer nas condições actuais. Vamos precisar de reforços...

- Isso quer dizer que está finalmente disposto a deixar-nos lutar a seu lado, Chibi-Sama? - perguntou um deus chamado Neptuno, com voz forte.

Neptuno era um deus que se assemelhava muito com um velho lobo do mar. Ele era alto, tinha uma barba escura pelo queixo, cabelos pretos e olhos negros como o carvão. A sua pele era muito morena. O deus era bastante musculado e tinha uma cicatriz acima do olho esquerdo.

- Nem esperava eu outra coisa vindo de ti, Neptuno. - respondeu Chibi, rindo-se levemente.

Neptuno baixou o olhar, levemente corado. A voz de Chibi era tão doce e encantadora que até deuses como ele se derretiam de imediato.

Chibi prosseguiu.

- No entanto, existem algumas coisas que vocês precisam de saber antes de decidirem o quer que seja. Para além da luta que os Principados estão a ter neste momento e da qual eles tiveram que bater-se em retirada, porque não dispúnhamos de meios para vencer...

Hórus interrompeu-o e virando-se para os sete encapuzados, comentou, sarcástico:

- A sério? Estavam a perder contra as Potestades? Mas que raio de Principados são vocês que fogem com o “rabinho entre as pernas” perante o inimigo?

Todos os deuses e deusas exclamaram em suspenso! Hórus fora longe de mais! O que lhe teria dado para falar assim com entidades superiores a ele? Um dos Principados, o detentor da Chama Verde, deu um passo em frente e retirou o capuz. Hórus ficou em estado de choque.

- Não pode ser! - exclamou ele, apontando para o Principado da Chama Verde. - Tu!!!

Este riu-se.

- Sim, Hórus, sou eu mesmo.

Até a voz era idêntica. Hórus estava perplexo!

- Ouve lá, como é que isto é possível? Da última vez que eu te vi, tu estavas mais novo, eu e o Anúbis tínhamos aberto o portal para que visses o Mikel uma última vez¹... Como é que tu estás aqui, Ángel?

Ángel estava um homem feito. Coberto pela sua túnica verde, mantinha-se bastante belo. Continuava aloirado, embora os seus cabelos estivessem mais pequenos agora. A sua expressão estava mais endurecida, o seu olhar tornara-se frio e negro, mas Ángel mantinha os traços andróginos.

- Muito bem... Hórus, creio que mereces uma boa explicação. Eu vou dar-ta. Temos tempo, Chibi-Sama?

- O deus Hórus merece saber das coisas, Ángel. Afinal, ele é o pai do Mikel. - rematou Chibi.

Nota do Autor:

¹ - "Vírgulas do Destino: Prisioneiros do Amor";

[Continua...]