21 janeiro 2020

Sombras da Luz: Amanhecer ~ Capítulo 4


Capítulo 4


Árion abriu as suas longas asas negras e com Hórus ainda inconsciente, selado no seu porte, cerrou os dentes ao Tridente de Neptuno e voou o mais depressa que pôde para o mais longe dali. Apesar de estar chocado e de lágrimas cristalinas verterem pelo seu lindo rosto, ele não podia perder a cabeça naquele momento. Se o fizesse, o mais certo seria eles morrerem também!

Perdeu a noção do tempo e do espaço.

Fora tudo tão rápido!

Os pensamentos de Árion estavam num intenso turbilhão, quase tão rápido como a velocidade a que ele se deslocava. De repente, uma voz suave comunicou-lhe por telepatia:

- “Amado Árion, eu sou um dos Mestres Ascensos. Sei que vocês correm grande perigo. Segue as coordenadas que vão surgir na tua intuição. Eu vou ajudar-vos.”

Este ficou bastante surpreendido! No entanto, recordou-se das palavras de Anúbis e decidiu confiar naquela voz. Instantes depois, um mapa espacial surgiu no seu pensamento! Pelo que via, eles não estariam muito longe do local apontado no mapa. Tendo em conta que Hórus estava a piorar a cada momento que passava, Árion decidiu aumentar a velocidade a que se deslocava. 

Tudo parecia bem encaminhado, quando um novo imprevisto surgiu no horizonte. Uma tempestade de meteoros!

- “Oh não! Agora não!” - pensou Árion.

Ziguezagueando por entre as enormes pedras, algumas do tamanho de campos de futebol, Árion fazia tudo o que podia para se desviar destes, manter Hórus atrelado a si e preservar o Tridente de Neptuno na sua boca.

- “Se me safar disto, é um milagre...!” - pensou ele, em desespero.

Depois do que pareceu ser uma eternidade, a tempestade passou! Após atravessar a tempestade, ele viajou durante alguns anos-luz. Apanhou boleia na cauda de um cometa, sobrevoou várias nebulosas e constelações. Por fim, chegou ao local que havia visualizado na sua mente.

Era uma nave enorme, brilhante, completamente transparente. Em tudo a nave assemelhava-se a uma grande estrela, com forma oval. Ao aproximar-se dela, Árion ouviu a mesma voz que o conduzira até ali:

- “Chegaram ao local indicado. Por favor, entrem, queridos amigos!”

Árion olhou para todos os lados, indignado. Nunca tinha visto um edifício tão grande na vida dele. Como é que aquilo se aguentava no ar? Fascinado com o que via, não se apercebeu de uma luz branca que se criou e formou uma ponte, entre ele e a nave. Ao aproximar-se desta, imediatamente Árion e Hórus foram teleportados para dentro da mesma. Ao abrir os olhos, Árion deu por si numa sala enorme, parecida com uma catedral.

O espaço em si estava quase vazio. Era todo em tons de branco-azulado. Ao olhar para o tecto, uma cúpula de cristal transmitia luz que vinha do espaço àquele lugar. No chão, uma grande carpete dourada dava um pouco mais de cor ao local. Árion imaginou que a carpete tivesse continuação para outras zonas da nave, uma vez que ela parecia seguir para além dos portões brancos que estavam atrás do local onde ele se encontrava.

Os portões abriram-se de par em par e entraram uma série de entidades encapuçadas. Árion nunca tinha visto seres tão altos na sua vida! A energia deles era muito semelhante à energia de Chibi e dos Principados. No entanto, havia algo de mais confortável, mais agradável...

- Mais familiar, queres tu dizer... - comentou um dos seres, sorrindo para Árion.

- Ahm... É verdade...! - respondeu este, ligeiramente envergonhado.

As entidades começaram-se a rir, genuinamente. Árion riu-se também, mais descontraído. Não tardou a sentir-se bem. De repente, lembrou-se de que ainda transportava Hórus às costas e que este estava bastante ferido, pelo que ele começou a preparar-se para explicar tudo o que tinha acontecido. Uma das entidades aproximou-se dele e declarou:

- Nós já estamos a par de tudo, meu amado Árion. Anúbis enviou-nos mensagem, mal abriu a brecha para vocês escaparem. Nós estávamos à vossa espera. Antes de mais, vamos ver o que se passa com o nosso amado Hórus...

Árion baixou-se e as entidades removeram Hórus do seu dorso, levando-o para uma outra sala, esta de um tom esverdeado. 

Enquanto se dirigiam para lá, a entidade que o acompanhava anunciou:

- Ainda não nos apresentamos e peço-te desculpa por isso. O meu nome é Karran e sou um dos Comandantes desta nave. Sejam bem-vindos a bordo, meus amados.

Dito isto, Karran removeu o seu capuz, mostrando o seu rosto. Era um homem muito alto, com quase dois metros e meio. Loiro, de cabelos compridos lisos, que lhe davam pelo meio das costas. Os seus olhos eram azuis-índigo. Tinha uma expressão séria, mas um sorriso sereno. Era esbelto, tal como todos os restantes.

- Uau! - exclamou Árion, perante o magnetismo que Karran lhe provocara.

Mesmo entre deuses e entidades ascensionadas, a beleza era apreciada. Karran riu-se.

- Tu és um ser muito belo, muito lindo. Somos todos belos, não concordas? O nosso amado Hórus está a ser observado pelo Mestre da Cura, Hilarion e pelo Arcanjo que trabalha com este.

- Achas que vão demorar muito? - perguntou Árion, preocupado. - Tenho medo que ele não aguente muito tempo...

- Não tenhas medo. O Medo é uma energia terrível e só provoca mais coisas más. Tem confiança, o nosso querido Hilarion não tarda há-de ter notícias para nos dar... Entretanto, temos que tratar de ti... - sussurrou Karran, conduzindo Árion para um quarto.

- Vou ter direito a um quarto? - perguntou este, surpreso.

- Claro, precisas de te restabelecer e recuperar dos ferimentos. Preparamos um quarto que servirá os teus propósitos. Vê se dormes. Quando acordares, estarás melhor e já teremos notícias de Hórus! - rematou Karran, virando costas.

Árion entrou no seu quarto e abriu a boca de espanto! O seu quarto era uma enorme pradaria, cheia de erva verde e fresca! Alguns riachos apareciam aqui e ali. Na linha do horizonte podia ver-se uma grande mancha azulada, que Árion supôs ser um oceano ou um grande lago. A alguns quilómetros de distância, existiam muitos cavalos e éguas, entre outros animais. Além de Árion, coabitavam ali outros cavalos alados, Pégasus e outros seres espirituais!

- “Alguns safaram-se! Que bom!” - pensou Árion, relinchando de alegria e começando a correr veloz como a luz, até se aperceber que a gravidade naquele local era muito grande!

Com uma gravidade tão alta, Árion mal podia correr mais do que um carro de corridas dos mais potentes! Isso foi um valente balde de água fria! Depois de inúmeras tentativas de estabelecer contacto com os amigos que estavam lá ao longe e de se aperceber que por mais que corresse, não conseguia chegar lá, acabou por se deitar à sombra de uma árvore, desiludido e caiu num sono encantado.

O Comandante Karran foi ter com o Mestre Hilarion à Sala Verde. Encontrou este preocupado. Hilarion era mais baixo do que Karran, tendo um metro e noventa e cinco de altura. Ele tinha cabelos castanhos-claros, a fugir para o loiro, que ele puxava para trás, mas que teimavam em cair-lhe para a frente. A sua pele era branca-caucasiana e os seus olhos eram verdes, um verde-esmeralda lindíssimo. Tinha uma barba loira – na verdade, era mais uma “penugem” do que uma barba propriamente dita - que lhe dava um ar de jovem adulto. Era magro, mas todo ele definido e musculado quanto baste. As suas vestes eram verdes. Estava ajoelhado diante do corpo de Hórus, a criar um icosaedro de energia verde, dourada, branca e violeta sobre o corpo deste para curá-lo.

- Amado irmão Hilarion, como está a decorrer a cura? - perguntou Karran, ajoelhando-se diante de Hilarion e colocando as mãos em frente das mãos de Hilarion, para aumentar o poder.

- Infelizmente, nunca vi nada assim, irmão Karran. Esta maldição não pára de se alastrar pelo corpo dele. Acabará por destruí-lo. Estou a fazer tudo o que posso, mas Hórus só tem uma alternativa quando acordar... Por agora, só posso recuperá-lo o suficiente para ele cumprir a missão!

- Então, ele não tem muito tempo... - sussurrou Karran, preocupado.

- É irónico, não é? Um deus a precisar de Tempo! - respondeu Hilarion, com um meio sorriso.

- Árion já está debaixo de fogo. Mas... Tem de ser assim... - ripostou Karran. - De outra forma, não conseguiremos vencer esta guerra que está prestes a começar!

- A guerra já teve início... E acho que não devíamos meter-nos nisto, amado irmão. Não sabemos o que aconteceu com Chibi... - argumentou Hilarion.

- Isso é mais um motivo para pormos o plano em acção! Não penses que me agrada interferir no Plano Divino do Planeta Terra, mas se tiver que ser, isto é o mais importante! Principalmente agora, com esta energia desconhecida à solta capaz de atacar os deuses e os próprios anjos! - rematou Karran, num tom de voz decidido.

[Continua...]

2 comentários:

RIP Akira Toriyama

Bom, confesso que quando soube desta partida, hoje de tarde, me emocionei bastante. Afinal, esta é uma das pessoas cujos trabalhos serviram ...