Sombras da Luz: Amanhecer ~ Capítulo 3

Capítulo 3

Ángel sentou-se. Chibi deu ordem aos restantes Principados para fazerem o mesmo. Eles obedeceram. Os deuses, deusas, ninfas e outras criaturas mitológicas ali presentes fizeram o mesmo. Chibi agradeceu e virou costas, desatando a correr atrás de borboletas, perante o olhar atento de Vesta.

- Muito bem, então queres saber a verdade. Pois bem, aqui vai ela... Como já percebeste, meu caro Hórus... Eu não sou bem aquilo que tu imaginas. Na verdade, nem sou quem o Mikel imagina! E queres saber a melhor parte? O próprio Mikel tem o conhecimento divino disto! Neste momento, por se encontrar na Terra, tal conhecimento é-lhe negado...! Ele está a viver o Plano Divino que criou comigo!

Hórus olhava para Ángel, sem perceber nada! Que discurso tão enigmático! Ángel já não tinha mais 19 anos, a idade em que partira da Terra. Estava um homem feito, com 30 anos, a idade de todos os Principados. Hórus tentava compreender o que Ángel lhe dissera. Que raio de história era aquela do Mikel saber de tudo e ao mesmo tempo, não saber? Que dizer de viverem o Plano Divino?

- Eu consigo ler-te os pensamentos, meu querido amigo! Eu sei que parece confuso, mas uma coisa de cada vez. Vá, deixa-me explicar-te tudo como deve ser. Se continuares com dúvidas, eu volto a explicar-te até entenderes. É importante que compreendas.

- Porquê? - perguntou Hórus, franzindo o sobrolho.

- A seu tempo saberás a resposta a isso... - suspirou Ángel, impaciente. - Bom, como te estava a dizer...

- Já lhe explicaste tudo? - perguntou Chibi instantes depois.

O Criador aproximava-se, com algumas borboletas pousadas nas mãos.

- Ainda não, Chibi-Sama! Lamento muito!

Chibi colocou as borboletas sobre algumas tulipas e declarou, condescendente:

- Oh! Não tem mal, Ángel! É natural que existam muitas dúvidas por esclarecer! Tenta despachar-te! Temos mais assuntos para falar com os nossos amigos!

Ángel assentiu com a cabeça e com um ar sério, explicou:

- Certo. Então é assim. Eu sou o Destino Personificado. Cada um dos Principados representa algo Divino, importante para a Harmonia do Universo. Quando o Mikel aceitou o Plano Divino dele, ficou combinado que eu iria reencarnar no Planeta Terra durante algum tempo, juntando-me a ele. Desta forma, eu iria ajudá-lo a despertar e ele iria ajudar-me também a concluir a minha missão, que me permitiria desenvolver os meus dons. Ele não sabe disto, já que neste momento não tem acesso às suas verdadeiras memórias, porque as memórias divinas, ele só as recuperará quando regressar a este Lado do Véu.

- Mas...! Então...! O vosso amor...! Ele esteve... Não... Ele está apaixonado por ti...! E tem estado a sofrer por ti...! Todo este tempo... Para nada?!? - retorquiu Hórus, indignado.

- Tudo isso faz parte do Plano Divino dele. Posso dizer-te que ele está a cumprir o seu com muito sucesso. O Mikel nem sequer é humano, tal como tu sabes... Ele descobrirá a verdade muito em breve.

- Então? - inquiriu Hórus.

- A seu tempo tu também saberás essa resposta, meu caro amigo... E, para terminar a conversa, quero dizer-te em nome de todos os Principados e do próprio Chibi-Sama que, se batemos em retirada, foi porque as coisas estavam realmente más para o nosso lado. Nós não somos cobardes... - rematou Ángel, recuando e colocando novamente o capuz sobre a cabeça.

Seguiu-se um enorme burburinho entre a plateia. Todos cochichavam uns com os outros. Hórus foi ter com Anúbis e perguntou-lhe em voz baixa o que é que ele achava disto tudo.

- Ele é, definitivamente, o rapaz da outra vez. Porquê que nos iludiu... Isso eu também não sei, Hórus. Mas é o rapaz. Ele está a dizer a verdade. Alguma coisa muito séria está a passar-se para termos sido chamados, acredita. - sussurrou Anúbis.

Chibi deixou-os falar à vontade. Quando todas as conversas começaram a esmorecer-se, por falta de respostas, ele sentou-se na chama do Fogo Sagrado. Por alguns instantes, parecia que ele ia arder, quando de repente, começou a levitar e a sua voz fez-se ouvir lindamente, por todo o Jardim dos Deuses.

- Meus queridos filhos e minhas queridas filhas. Lamento ter-vos causado estas confusões todas. Eu sei que vocês devem estar confusos com estas mensagens que estavam a ser trocadas entre Hórus e o meu Principado da Chama Verde. No entanto, ambas as histórias estão relacionadas. Esta, que acabaram de assistir, e a conversa que me levou a anunciar e a convocar o concílio.

Alguns deuses desataram a bater palmas e outros chegaram mesmo a comentar: 

- Até que enfim, vamos saber o que se passa! 

- Já não era sem tempo!

Chibi riu-se, com ternura.

- É tão bom descer a esta vibração! Vocês são tão parecidos com os humanos! Assumem muitas características deles. Apraz-me muito isso, sabiam? Demonstra o caminho que até os deuses devem percorrer para chegar ao Divino. É uma óptima forma de recordarmos que o caminho é constante! Bom, mas não foi para vos dar um sermão que eu vos convoquei. Nada disso. Como vocês sabem, correm rumores sobre uma energia desconhecida que anda pelo Universo, sem controlo...

Todos os presentes colocaram-se em alerta máximo, bastante atentos ao que Chibi iria dizer a seguir.

- Esses rumores estão correctos. Esta energia é ainda desconhecida. Ataca quando menos se espera. Não tem rasto. Não tem qualquer forma de presença identificável. Não sei como foi criada. Nem sei quem a criou. A única coisa que eu sei é que ela é extremamente perigosa e que absorve o poder de todas as criaturas que encontra pela frente. Imaginem o pesadelo que será, se esta energia se cruzar no caminho das Potestades. Pior ainda, se estes a dominarem ou vice-versa... Todos corremos perigo.      

- Até nós, deuses? - perguntou Apolo, com um ar sério.

- Até eu, meu querido filho, até eu... - respondeu Chibi, com uma expressão preocupada.

Os deuses desataram a falar e a debater ao mesmo tempo, bastante preocupados. Do nada, ouviu-se um som semelhante a algo gigante a ser rasgado. Intrigados, todos olharam em volta. 




E de repente... 

Teve início um verdadeiro pesadelo! 

Uma energia em forma de ectoplasma ia sendo lançada em todas as direcções, por dois vultos que abriram uma enorme brecha no Outro Lado do Véu e cantavam uma arrepiante canção:

[???]
Pé ante pé, através da janela,Pela janela, que é onde eu estou...
Vem, pé ante pé, através das tulipas, ter comigo!Ohhhh, pé ante pé, caminhamos por aqui,No Jardim Sagrado dos Deuses!
Vem, pé ante pé, através das tulipas, ter comigo!Se estivermos ajoelhados em flores, vamo-nos desviar!Vamos manter os chuveiros à distância!
E se eu te beijar no jardim, sob o luarTu vais-me perdoar?Vem, pé ante pé, através das tulipas, ter comigo!

Por todo o lado, viam-se deuses e deusas a correr desesperados, para fugirem dali, mas não havia fuga possível! O Jardim dos Deuses tinha sido selado pela estranha energia em forma de ectoplasma! Aos poucos, todos os deuses estavam a ser transformados em estátuas de pedra! Ao transformá-los em estátuas, o estranho ectoplasma sugava os poderes dos deuses!

[???]
Se estivermos ajoelhados em flores, vamo-nos desviar!Vamos manter os chuveiros à distância!
E se eu te beijar no jardim, sob o luarTu vais-me perdoar?Vem, pé ante pé, através das tulipas, ter comigo!

- Hórus, toma o meu Tridente! Foge! - gritou Neptuno, a dada altura, bastante ferido.
- O quê? Como? Eu não posso fugir! Eu sou um dos deuses da Guerra! - respondeu este, de imediato. - Tenho medo, mas não vou fugir! Vou lutar contra esta besta maldita!
- Sempre foste um idiota, até tenho vergonha de ser teu avô... - respondeu Anúbis, com um sorriso no rosto. - Neptuno tem razão! Tens de fugir, tu és dos poucos que pode fazer algum coisa por nós!
O estranho ectoplasma não tardou a chegar aos Principados. Chibi desapareceu instantaneamente! Vesta foi atingida por um raio vermelho lançado pelos vultos que observavam tudo da brecha que tinham aberto entre as dimensões! O Fogo Sagrado que ela colocara no centro do Jardim dos Deuses começou a extinguir-se. 
Neptuno, que se encontrava bastante ferido, lutava corajosamente. Acabou por ser atingido por um segundo raio vermelho, lançado pelos misteriosos vultos. Apelando às suas últimas forças, ele lançou o seu Tridente a Hórus e gritou:
- Por favor... Leva o meu Tridente ao meu filho... Ele vive na Terra... O Mikel sabe quem ele é... Por favor... Ajuda-os... O Universo inteiro corre perigo...
Hórus estava chocado! Ao pegar no Tridente de Neptuno, ele decidiu lutar contra aquela estranha criatura sem forma.
- Maldita coisa! Pára de destruir os meus amigos! Morre, seu monstro! - gritou, virando-se para o ectoplasma que preparava-se para absorver Neptuno!
O ectoplasma transformou-se num vulto negro, encapuçado e aplicou um valente murro no peito de Hórus, que ficou com as marcas de uma queimadura azeviche na pele, na zona do impacto. O impacto foi tão forte que Hórus voou literalmente duzentos metros para trás, embatendo contra os pilares de uma fonte. Com o impacto, ele perdeu os sentidos.
- Neto idiota e inconsequente! És sempre o mesmo! - resmungou Anúbis, teletransportando-se para junto de Hórus. - Nunca vi ferimentos assim... Não podes morrer aqui, meu neto...! Tens de salvar-nos deste Inferno! 
Virando-se para um grupo de cavalos alados que se preparava para descolar e tentar fugir, Anúbis gritou:
- Árion! Salva-te e leva o meu neto daqui para fora! Ele precisa de ser visto pelos Mestres Ascensos! Depois disso, ele deverá partir para o Planeta Terra, onde deve entregar o Tridente de Neptuno ao filho dele, o Mikel! Posso contar contigo?
- Claro que sim, senhor! Com todo o gosto! - respondeu Árion, ajeitando-se para que Anúbis colocasse Hórus no seu porte e segurando o Tridente de Neptuno com os dentes.
- Então vai, meu jovem! Salva-te e salva o meu neto! Fico em dívida para contigo! - rematou Anúbis, abrindo uma nova brecha no Jardim com o seu Bastão, directamente para o Espaço.
- Aqueles dois vão fugir! - gritou um dos vultos, apontado para Árion e Hórus.
- Deixa lá, no estado em que estão, não vão longe, ah ah ah ah! - respondeu o outro vulto.

[Continua...]