Escrito nas Entrelinhas: Parte 3 ~ Capítulo 80

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ACTO OITAVO: A CHEGADA DO MESSIAS

Capítulo 80 [Especial]: O Julgamento! [1ª Parte] 

*9 de Outubro de 2018*

Shade, nos dias seguintes, decidira ir à polícia, tentar sacar alguma informação. Depois de muita conversa, lá conseguiu convencer um polícia a ver os casos arquivados, descobrindo, para grande surpresa sua e do próprio polícia, que o registo da violação de Laura tinha sido roubado! Shade pediu então informações sobre Lorenzo Gomez, ficando a saber que este era um homem alto, bonito, de olhos amendoados, cabelos pretos e com um porte atlético de fazer inveja a qualquer mortal. Lorenzo tinha sido transferido para Carmel-by-the-Sea, uma cidade no estado da Califórnia. 

Surpreso com a revelação, Shade deixou Loveland e partiu, rumo à Califórnia. Devido aos constantes temporais daquele Outono que mais fazia lembrar um Inverno fustigante, só naquele dia, a meio da tarde, é que Shade tinha chegado à pacata cidade de Carmel-by-the-Sea.

Aquela era uma cidadezinha típica do litoral norte-americano. Shade desceu do carro alugado e respirou profundamente o ar fresco e salgado do mar. A cidade era encantadora, com as suas ruas de paralelepípedos e casinhas charmosas. Ele caminhou pelas ruas, procurando por alguma pista que o levasse até Lorenzo Gomez.

Shade caminhava pela rua principal da cidade, enquanto observava as lojas e restaurantes que a ladeavam. Ao fundo, podia ver a praia com o seu areal branco, onde algumas pessoas se aventuravam a caminhar, apesar do frio. Perguntou, aqui e ali, onde poderia encontrar Lorenzo. A maior parte das pessoas recordava-se dele e deram-lhe uma morada, mas alegaram que já não o viam há imenso tempo, pois ele tinha outra casa, noutra cidade.

Finalmente, avistou o prédio onde Lorenzo vivia! Era um edifício antigo, com uma varanda de madeira e janelas de vidros duplos. Shade sentiu um nó na garganta quando se aproximou da porta, imaginando o que encontraria do outro lado.

Bateu duas vezes e esperou, mas ninguém respondeu. Tentou novamente, mas o silêncio manteve-se. Então, decidiu arriscar e abriu a porta devagar.

O interior estava escuro e sombrio, apenas iluminado por uma pequena janela ao fundo. Shade avançou, tacteando as paredes em busca de um interruptor. Quando finalmente encontrou um, acendeu as luzes e ficou chocado com o que viu.

O apartamento estava completamente vazio, sem haver qualquer vestígio de que alguém lá tivesse vivido! Apenas uma carta estava em cima da mesa, com o nome de Lorenzo escrito a caneta.

Shade pegou na carta e começou a ler. Era uma carta de despedida, escrita com uma letra tremida e emaranhada, onde Lorenzo explicava que não podia continuar a viver com a culpa que sentia pelo que tinha feito, depois de saber da morte de Jules Sullivan.

Shade sentiu um aperto no peito. Ele ficou desesperado! Todas as pistas conduziam a becos sem saída! Agora, só lhe restava tentar encontrar respostas para o que tinha acontecido, na tentativa de encontrar alguma pista sobre o que fazer a seguir.

Decidiu começar pela polícia local, para tentar descobrir se havia algum registo de um crime na cidade. Ele perguntou pelo Lorenzo, sendo informado que este estava fora da cidade já fazia muito tempo, junto da mulher e do filho de ambos. 

- Recordo-me bem dele, sim! Muito alto e elegante! Um verdadeiro polícia no seu melhor! - recordou-se um polícia de meia-idade, chamado Charles. 

- Não sabe onde o possa encontrar, senhor Charles? Eu queria muito encontrar o senhor Lorenzo porque… Sou um primo dele!

- Bom, eu não sei dizer se ele ainda é vivo, mas ele e a mulher tinham uma casa em San Diego, bem na Sea BaySide! É tudo o que sei, meu rapaz!  

Shade agradeceu e virou costas. Decidiu que antes de partir, daria um passeio pela praia, para desanuviar a cabeça. E para lá se dirigiu, a pensar se teria a sorte de encontrar alguém que soubesse a morada exacta de Lorenzo e da esposa, Lucy Cazier. 

*Enquanto isso, num Teatro da Broadway, em Nova Iorque…*

A nova versão d’ “Os Miseráveis” estava a ser um enorme sucesso! Damian e alguns colegas estavam em palco, naquele preciso momento, enquanto cantavam, já bem perto do final da peça:

[Valjean]

Um dia a mais!

Outro dia, outro destino

Essa estrada interminável para o Calvário

Esses homens que sabem do meu crime

Certamente virão uma segunda vez

Um dia mais!

[Marius]

Eu não havia vivido até hoje

Como poderei viver quando nos separarmos?

[Valjean]

Um dia a mais

[Marius e Cosette]

Amanhã você estará a mundos de distância…

E com você, o meu mundo começou!

[Eponine]

Mais um dia totalmente sozinha…

[Marius e Cosette]

Vamos encontrar-nos novamente?!

[Eponine]

Mais um dia com ele não se importando comigo!

[Marius e Cosette]

Eu nasci pra estar com você!

[Eponine]

Que outra vida eu poderia ter conhecido?!

[Marius e Cosette]

E eu juro que serei fiel!

[Eponine]

Mas ele nunca me reparou…!

[Enjolras]

Mais um dia antes da tempestade!

[Marius]

Devo segui-la por onde ela for?

[Enjolras]

Nas barricadas da liberdade!

[Marius]

Ou devo juntar-me aos meus irmãos?

[Enjolras]

Quando as fileiras começarem a se formar!

[Marius]

Eu fico e me atrevo?!

[Enjolras]

Você vai tomar seu lugar comigo?!

O momento é agora!!

O dia é hoje!!

[Valjean]

Um dia mais!

[Javert]

Um dia mais até a revolução

Vamos cortar o mal pela raiz!

Vou pegar esses estudantezinhos

E sujá-los com o próprio sangue!

[Valjean]

Um dia mais!

[Thernadiers]

Veja-os cometendo loucuras

Pegá-los enquanto caem

Nunca se sabe da sorte quando tudo é grátis!

Aqui uma remexida

Ali um pequeno toque

Muitos deles já se foram, então não sentirão muita falta!

[Estudantes rebeldes - entre eles, Damian]

Um dia para um novo começo!

Levante bem alto a bandeira da liberdade!

Cada homem será rei!

Cada homem será rei!

Há um mundo novo para o vencedor!

Há um mundo novo a ser vencido!

Você está ouvindo as pessoas cantarem?

[Marius]

O meu lugar é aqui!!

Eu vou lutar com vocês!!

[Valjean]

Mais um dia!

[Marius e Cosette]

Eu não havia vivido até hoje

[Eponine]

Mais um dia totalmente sozinha

[Javert]

Vou aprender os seus segredinhos

Vou ficar sabendo das coisas que eles sabem

[Valjean]

Mais um dia!

[Thernadiers]

Veja-os cometendo loucuras

Veja como eles caem

Nunca se sabe da sorte quando todos são livres

[Javert]

Estaremos prontos para esses estudantezinhos

[Valjean]

Amanhã estaremos bem distantes

Amanhã é o Dia do Julgamento!!

[Todos]

Amanhã vamos descobrir

O que o nosso Deus, no Céu, nos preparou

Mais uma aurora!!

Mais um dia!!

Um dia a mais!!!

No final da canção, vários casais beijaram-se, entre eles, Damian e um colega, Lucius. Depois da actuação acabar, todos os actores voltaram ao palco, sendo ovacionados com uma estrondosa salva de palmas. 

Zelda e o seu corpo de seguranças mais próximos foram aos bastidores, no final do espectáculo. A Presidente queria conhecer o elenco. 

Alguns minutos mais tarde, o som ensurdecedor de uma explosão ecoou pelo teatro, fazendo com que todos os presentes começassem a gritar e a correr em todas as direções. As luzes do teatro apagaram-se, o que gerou ainda mais pânico. Damian, sem saber o que estava a acontecer, tentou manter a calma e procurar a saída de emergência mais próxima.

Quando finalmente conseguiu sair do teatro, viu uma cena de caos e destruição. Havia destroços espalhados por toda a parte, pessoas feridas e outras em pânico. De repente, ouviu-se um grito vindo dos bastidores, e Damian correu em direção ao som.

Lá, descobriu que a Presidente Zelda Washington tinha sido raptada! Damian, sem pensar duas vezes, juntou-se a um grupo de polícias e aos seguranças da Presidente, oferecendo-se para participar das buscas. No meio da confusão, Agatha apareceu, dando ordens para que ninguém, além do FBI, da Segurança Nacional e a Polícia de Nova Iorque participasse das buscas.

- Sinto muito Damian, mas isto é um assunto da mais alta gravidade! Não podemos correr o risco de saíres ferido! No entanto, mantém-te por perto, um grupo de investigadores vai interrogar-te! - rematou, virando costas com ar muito sério. 

Muito longe dali, Zelda despertava, um pouco confusa com o que tinha acabado de acontecer. Ao abrir os olhos, tentou perceber onde se encontrava. O sítio era escuro e cheirava mal. Olhou à volta, mal sentindo o seu corpo. Onde estaria? Claramente abalada pelo que acabara de acontecer, Zelda tentou-se levantar, mas as suas pernas estavam dormentes! Ela começou a tactear o chão em busca de algo que pudesse ajudá-la a erguer-se. Foi então que sentiu algo frio e metálico na sua mão. Ela ergueu o objecto para examiná-lo melhor e percebeu que era uma corrente de metal!

Assustada, Zelda começou a examinar o espaço ao seu redor. O local onde ela estava era pequeno e escuro, com apenas uma pequena abertura no tecto que permitia a entrada de um feixe de luz fraca. Havia uma cama improvisada de paletes de madeira e um balde sujo no canto. Zelda não podia acreditar que ela havia sido sequestrada e que estava presa num lugar desconhecido! Ela preparava-se para gritar, mas… 

De repente, a porta rangeu e um homem entrou no quarto. Ele usava um manto com capuz vermelho, o que escondia a sua identidade. Zelda engoliu em seco e tentou afastar-se, mas não conseguiu. A corrente de ferro prendia-a ao chão. O homem aproximou-se lentamente, com um sorriso macabro no rosto.

- Olá, minha querida Presidente. Sinto muito por tê-la colocado presa desta maneira, mas eu precisava de ter a certeza de que você não tentaria fugir.

Zelda encarou o vulto com ódio! Quem era aquele homem? Porquê que ele tinha feito aquilo?

- Quem é você? O que você quer de mim?

O homem riu-se, um som frio e sinistro! Não aguentando mais, ele levantou o capuz e apresentou-se:

- Eu sou o Messias, minha querida. E a senhora é minha prisioneira!

A Presidente Zelda sentiu um calafrio a percorrer na sua espinha. Messias?! Seria possível? Olhou para o homem de cima a baixo. O homem parecia ser ainda novo. Era alto e elegante, com os cabelos grisalhos. As feições davam a entender a Zelda que ele não teria mais do que 40 anos, no máximo. Não podia ser! Ela não conseguia entender o que ele queria dizer com aquilo!

- Messias? O que quer dizer com isso? O que é que o senhor quer de mim?

O homem aproximou-se mais, agora tão perto dela que Zelda podia sentir o seu hálito quente e fétido!

- Eu sou o Messias! O verdadeiro líder e fundador da Mão Divina! Eu sou o Escolhido, minha querida! O Escolhido de Deus!! E a senhora não passa de uma pecadora! Uma líder corrupta, que precisa de ser purificada! Pagará caro pela sua arrogância, minha querida Presidente!

  

Zelda tentou afastar-se, mas a corrente prendia-a! Ela estava presa e à mercê daquele homem louco!

- O que quer de mim? Porque me sequestrou?

O homem afastou-se, com um sorriso de orelha a orelha.

- Eu quero que a senhora confesse seus pecados, minha querida! Quero que você reconheça a sua culpa e aceite a punição que Deus lhe reservou! Garanto-lhe que já não sairá daqui com vida!

Zelda encarou-o com descrença. Aquele homem era louco! Pensou em Mikel. Mikel saberia o que fazer! Ela não sabia o que o suposto Messias queria dela, mas sabia que precisava de escapar antes que fosse tarde demais!

[Continua...]