05 junho 2023

Escrito nas Entrelinhas: Parte 3 ~ Capítulo 77

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Capítulo 77 
 



*3 de Outubro de 2018*
    

No dia anterior, Shade fora ao cemitério, colocar um ramo de flores na campa de família de Alicia Sheppard. Apesar da raiva que o consumia por dentro, ele acabou por concluir que Alicia também não era só aquela mulher que tinha separado os três irmãos. Ela tinha feito muito por Shade, depois de ele ter sido tirado das ruas, junto com Damian. 

Talvez a grande culpada na verdade tivesse sido Laura Sullivan, a sua mãe biológica. Por outro lado, ele recordou-se que a mãe fora vítima de uma violação e sentou-se no chão do cemitério, a chorar, triste. Queria canalizar a sua raiva, mágoa e frustração e não sabia a quem a dirigir. Restava-lhe o pai, do qual ele não sabia nada. Ele chorou e gritou em voz alta, vociferando sobre a sua demanda ser tão difícil e o quanto ele queria encontrar o irmão perdido.
 
Ao levantar-se, deparou-se com um homem mais velho, de cabelos grisalhos, que o olhava com atenção, a alguma distância. O homem parecia-lhe familiar, mas Shade não conseguia lembrar-se de onde o conhecia. Foi então que o homem se aproximou dele e sussurrou no seu ouvido:

- Desculpe incomodá-lo neste momento, mas escutei o seu desabafo. Você está à procura do seu irmão desaparecido. Eu acho que posso ajudá-lo.

Shade ficou surpreendido. Como é que alguém poderia saber da sua procura por um irmão que ele próprio acabara de descobrir? Mas o homem continuou:

- Eu era o melhor amigo da Alicia. Na verdade, nós trabalhamos juntos no hospital, há muitos anos atrás. Jurei à Alicia que nunca falaria nesta história a ninguém, que a levaria comigo para o túmulo. É uma história bem complicada… Mas, ao ver o senhor a chorar assim… Isso está a dar cabo de mim. A minha consciência não aguentaria se, depois do que vi agora, não partilhasse consigo o que sei. O seu irmão foi levado por uma família adoptiva, mas tenho informações que podem ajudá-lo a encontrá-lo.

Shade ficou em choque. Era difícil acreditar que alguém pudesse ter informações tão precisas sobre a sua situação! Mas, ao mesmo tempo, sentiu uma esperança crescer dentro dele! Talvez finalmente pudesse ter alguma resposta sobre o irmão desaparecido!

Ele seguiu o homem para fora do cemitério e entraram num carro que estava estacionado ali perto. O homem disse que precisavam de ir para um lugar seguro para conversarem melhor. Shade concordou e seguiram viagem. Durante o caminho, o homem explicou o que sabia.

- Eu sempre fui um grande fã da sua falecida mãe, Laura Sullivan. Não sei se já sabe, mas foi aqui, nos arredores de Loveland, que ela começou a carreira dela como cantora de música country. Eu conheci-a durante uma das primeiras actuações dela, ainda tão inexperiente e insegura! Mantivemos desde essa altura contacto, tornamo-nos bons amigos, eu, a Alicia e a sua mãe! Quando ela deu entrada no hospital, vítima da violação, nós mantivemo-la sob vigilância apertada, não fosse o bandido que fez mal à sua mãe tentar fazer-lhe mal de novo! 

Eram tantas as perguntas que Shade queria fazer que nem sabia por onde começar!

- Senhor… Você sabe quem é que a violou?

O homem parou o carro, de repente.

- Essa pergunta, infelizmente, não te sei responder. Falou-se na altura de vários “artistas”, mas ninguém sabia ao certo. A polícia manteve tudo muito secreto, sabes? O que eu te posso dizer é que ela chegou ao hospital bastante magoada e ferida. Foi uma violação bem forçada e não consentida. Creio que a Laura tenha tido receio de falar ao marido o que tinha acontecido, pois eles tinham tido um arrufo cerca de três semanas antes do acontecimento. 

Shade sentiu um aperto no peito ao ouvir aquilo. Ele nunca chegara a conhecer pessoalmente a sua mãe biológica, mas agora sentia uma conexão muito forte com ela. Pensou no terceiro irmão e o peito ainda se apertou mais.

- Você disse que tinha informações sobre o meu irmão! O que sabe?

À medida que a conversa decorria, o homem ia levantando a formalidade. Com um sorriso terno, ele tocou no rosto de Shade e comentou:

- Bom… Tu és o filhote daquela pobre rapariga, não és? Aleksia, a mulher grega que foi sujeita aquele tratamento horrível, não é?    

Shade sentiu um arrepio percorrer o seu corpo ao ouvir aquelas palavras. Ele não esperava que o homem soubesse a história da sua mãe adoptiva. 

- Como sabe disso? - perguntou Shade, com curiosidade.

- Eu conheci a tua mãe há muitos anos atrás, quando ela ainda era uma jovem estudante de Arqueologia. Ela veio explorar umas ruínas aqui nos arredores. Nós apaixonamo-nos e começamos um relacionamento, mas infelizmente as coisas não deram certo. Ela, depois de nós acabarmos, viajou para outros locais, mas voltava todos os anos cá, porque estava a fazer uma tese sobre as ruínas. Foi durante uma dessas viagens que ela veio ter connosco ao hospital, com complicações na gravidez. Daquilo que ela nos revelou, o pai da criança abandonou-a, assim que soube que ela estava grávida. - respondeu o homem, com alguma tristeza na voz.

- Porquê que ela nunca me contou nada disto? - perguntou Shade, com um tom de voz um pouco mais duro do que gostaria.

- A gravidez da pobre Aleksia foi de mal a pior, meu filho. Dias houve em que achávamos que íamos perder a criança e a ela. A Aleksia passou por inúmeras dificuldades e o tratamento a que foi sujeita… Coitada, correu tudo mal… 




Shade ficou em silêncio por alguns instantes, processando todas aquelas informações. Ele sentia uma mistura de emoções dentro de si, mas principalmente uma grande curiosidade em saber mais sobre a sua mãe adoptiva. O homem prosseguiu.

- Ela quase enlouqueceu de dor quando o bebé nasceu morto. Eu e a Alicia eramos os únicos de serviço naquela fatídica noite. E que noite infernal, meu Deus! Era a Aleksia e a tua mãe, ambas a gritarem de dores, ambas a entrarem em trabalho de parto, quase ao mesmo tempo! A Laura teve o teu irmão Jules às 22:20. Tu nasceste no mesmo dia às 23:49 e o vosso irmão nasceu passadas umas semanas, a 1 de dezembro às 00:00. Tivemos de manter a tua mãe cá, até ao final da gravidez. Foi uma odisseia para manter o segredo, posso-te garantir! O bebé da Aleksia, a tua mãe adoptiva, nasceu a 31 de Outubro às 23:02.

Horrorizado, Shade olhava para o homem, com ar incrédulo! 

- Mas… Isso é possível? Três gémeos nascerem em dias diferentes?!
 
O homem olhou para Shade, com ar triste e pesaroso, antes de responder à sua pergunta.

- Sim, meu rapaz. É possível. É muito raro, mas acontece...




O homem explicou detalhadamente os factos, enquanto Shade escutava com atenção, fascinado! De repente, Shade deu um grito e levou as mãos à cabeça. 

- Aiiiiii!

O homem olhou para Shade, com um olhar assustado e preocupado!

- Que se passa, meu rapaz?

Shade já não conseguia pensar em mais nada. Uma forte dor de cabeça atingira-lhe o cérebro.

- Leve-me de volta para o hotel, por favor! Preciso de tomar uma medicação! Estou cheio de dores de cabeça!!

Atrapalhado e assustado, o homem obedeceu às ordens de Shade, seguindo rapidamente para o local que este entretanto lhe indicara. Ao chegar ao hotel, o homem deu-lhe um cartão com um número de telefone. Shade agradeceu, com um nó na garganta. Ele agradeceu ao homem pelas informações e perguntou o que poderia fazer para ajudá-lo em troca.

- Não precisas de me ajudar em nada! Eu só quero ver-te a ti e ao teu irmão juntos. O meu nome é Jack, e estou aqui para ajudar no que precisares! Procura-me quando estiveres melhor! Falarei o que sei sobre o teu irmão da próxima vez!

Shade agradeceu a Jack e sentiu uma gratidão imensa por ele ter aparecido naquele momento. Ele tinha uma nova esperança, um novo rumo a seguir. Talvez não estivesse tão sozinho quanto pensava.




O rapaz entrou no hotel e cumprimentou o funcionário que estava na recepção. Estava tão abalado pelas dores que não se apercebeu que alguém esperava por ele. Discretamente, assim que o viu, o vulto foi atrás de Shade, procurando ser o mais discreto possível.

As dores de cabeça latejavam de tal maneira que Shade não conseguiu chegar ao quarto. Ele estava a atravessar o último corredor na direcção do quarto quando começou a ver tudo a ficar turvo. Segurou-se a uma parede e não tardou a perder os sentidos, sendo amparado pelo vulto misterioso, que pegou nele ao colo e o levou para o quarto.

- Querias conhecer-me, Shade? Pois aqui estou eu… O teu Super-Homem! - sussurrou o vulto mascarado, não contendo a emoção, ao deitar Shade na cama.


[Continua...]

2 comentários:

  1. Gostei muito
    Boa semana

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    1. Obrigado Francisco! Agora vão ser revelações atrás de revelações, até ao final!
      Boa semana!

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