19 novembro 2019

Vírgulas do Destino: Prisioneiros do Amor ~ Capítulo 4

Capítulo 4



Depois de Mikel e Caim se terem ido embora para Vigo, as coisas em Portugal começaram a piorar progressivamente. As greves tornaram-se tão banais e tão frequentes, que grande parte das pessoas já fazia contas à vida e precavia-se com os dias em que não tinha condições para ir trabalhar. Diariamente, a oposição exigia a demissão do governo em funções. Os sindicatos reclamavam cada vez mais. As manifestações passaram a surgir, por tudo e por nada, um pouco por todo o lado.

O povo, aos poucos, revoltava-se.

Uns queriam manter a moeda do Euro, outros não. Era opinião geral que o Euro viera arruinar a Economia e como tal, servia de bode expiatório para tudo, ou quase. Não tardou muito para que a Troika exigisse novos aumentos de impostos e os juros da dívida portuguesa subissem em flecha. Quando o governo em vigor decretou um aumento de impostos sob o pão e o leite, foi o descalabro total! Se os ministros daquele malfadado governo imaginassem o que iria acontecer, teriam pedido a demissão meses antes. As coisas tomaram uma dimensão jamais ponderada por quem quer que seja...


*5 de Outubro de 2013*


Toda a classe política estava reunida na Assembleia da República. O local estava completamente lotado de políticos, já que estava em causa o futuro do governo. Tudo apontava que este ia cair e sair de cena. O povo cá fora berrava e manifestava-se, enquanto lá dentro reinava a maior confusão, com todos a tentarem falar. O Presidente da República tentava manter a calma, mas não adiantava de nada. A dada altura, começaram a voar portáteis, canetas, telemóveis, IPhones, IPads, smartphones e cadeiras - alguns membros da Assembleia estavam mesmo muito enervados.

*De repente...*





Uma câmara de vídeo conseguiu captar o momento em que uma gigantesca explosão ocorreu! A Assembleia da República foi pelos ares! A explosão foi tão grande que ninguém sobreviveu! Houve mais uma série de atentados, em todas as sedes dos partidos políticos e também na Casa dos Duques de Bragança. Portugal perdeu num único dia, milhares de pessoas, entre políticos, ex-governantes, banqueiros, juristas, todos os membros da Família Real e muitas pessoas inocentes. Com tamanhas atrocidades a ocorrerem, Espanha fechou de imediato as fronteiras com Portugal.


A Assembleia da República foi pelos ares, matando todos os deputados!



A Europa expulsou Portugal do Euro e o resto do Mundo olhava com muita preocupação para o que se tinha passado, pois não queriam ser vítimas de algo tão grave. Com o retorno à moeda antiga, o Escudo, os portugueses começaram a ter ainda mais problemas.

Os produtos que compravam ao estrangeiro vinham sob forte protecção policial e militar. Tinham de ser pagos em euros, o que representava pagar praticamente o dobro.

Sem governo e sem apoios, Portugal entrou no declínio total, enquanto caminhava para a Bancarrota. Muitas pessoas começaram a viver à margem da Lei. A Democracia morreu e deu lugar a uma completa Anarquia. Ao princípio, as pessoas não percebiam bem a dimensão do problema. Tudo ficou mais caro. Havia cada vez mais roubos. A justiça que dominava era a justiça popular.

As coisas começaram realmente a piorar ao fim de um mês sem governação. Os credores começaram a exigir dinheiro, dinheiro esse que Portugal já não tinha. As coisas pioraram ainda mais e a revolta que estava iminente, veio à tona. As pessoas, em consequência do que estavam a passar, tornaram-se más e impiedosas, tal era a situação desesperante em que viviam...

Em princípios de Dezembro, um documento muito importante foi apresentado por Historiadores. Tratava-se de uma relíquia oficial, com vários séculos de existência, onde se declarava que, num hipotético caso de ingovernabilidade total de Portugal, certas famílias, caso tivessem descendentes a viverem no país, teriam o pleno direito a governar o país!

Este documento tinha sido utilizado várias vezes ao longo da História, sem o conhecimento geral, já que Portugal estivera sob essa condição mais do que uma vez! O que se veio a tornar a salvação do país revelou-se o maior dos problemas! As duas famílias que possuíam o direito a governar, tinham descendentes a viver em Portugal!

Uma guerra pelo poder teve início!






Depois de mais uma carnificina que não beneficiou ninguém, as duas facções lá acabaram por se decidir e chegaram a um acordo temporário: uma das famílias governaria o Norte de Portugal até à linha de Sintra e os Açores.

A outra governaria o restante território e a Madeira. Foram criadas fronteiras a separar ambos os territórios, embora existissem aldeias, vilas e cidades que se mantiveram neutras.

Ambas as famílias tinham ideias e perspectivas de governação diferentes. A norte, George governava de forma liberal, “tão liberal quanto possível em tempos de guerra, dizia-se. Já a sul, Milú adoptou uma postura conservadora. Num ponto, ambos os governantes estavam de acordo - queriam conquistar rapidamente o restante território.



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 George, o Governador das Terras do Norte!


O Governador George era um aristocrata inglês que liderava uma grande companhia de vinhos do Porto. Ele era alto e apesar de já ter 56 anos, aparentava ter menos idade. Os seus cabelos eram totalmente grisalhos. Adorava andar com o seu chapéu de côco e um monóculo. Tinha olhos cinzentos e uma mente perspicaz. Era viúvo. A sua falecida esposa morrera ao dar à luz o único filho do casal, Kojiru.


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Kojiru 


Kojiru era um jovem de 28 anos. Estava a estudar na sua terra natal, o Japão, quando Portugal começou a entrar numa profunda crise política, a pior de que havia memória nos últimos 150 anos.

Antevendo que o pai pudesse vir a precisar da sua ajuda, ele suspendeu os estudos e regressou para junto deste. Kojiru era um homem bonito. Ele era de média estatura, cabelos escuros, bastante curtos. Os seus olhos eram pretos, rasgados, tal como as da sua falecida mãe. Herdara dela o olhar penetrante e misterioso, bem como o sorriso enigmático. Possuía um visual moderno e elegante. Não era homem de muitas palavras, pois cedo aprendera que o silêncio era de ouro.


Milú, a Governadora das Terras do Sul!

A Governadora Milú era uma das famosas “tias” de Cascais. Herdara o título de Miss dos tempos áureos da sua juventude, mas agora, com 53 anos, ainda dava bastante nas vistas, pois sempre fora uma mulher bonita. De cabelos loiros platinados, olhos azuis, sorriso falso. De uma futilidade e materialismo incontornáveis. Tal como George, também ela era viúva. No seu caso, já perdera dois maridos. Milú tinha uma filha, fruto do seu segundo casamento.


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Jéssica

A filha de Milú chamava-se Jéssica. Era uma rapariga de 25 anos. Baixa como a mãe, era uma rapariga loira de olhos esverdeados, que herdara do falecido pai. Tudo nela se assemelhava mais ao pai do que à mãe, para grande tristeza de Milú. Jéssica era pouco dada ao materialismo e frequentemente discutia com a mãe por causa disso. Ela queria viver a vida em pleno, sem ter de andar a seguir protocolos. Infelizmente para ela, Milú tinha muitas pessoas que a bajulavam e lhe faziam crescer o ego. Entre essas pessoas, estava uma mulher chamada Artemisa.


Artemisa


Esta era uma baronesa e aia de companhia de Milú.

Após a morte do primeiro marido, um médico recomendara-lhe que arranjasse alguém para a acompanhar, visto que Milú estivera à beira de um esgotamento. Artemisa e Milú conheceram-se uma bela tarde, quando se preparavam para comprar a mesma peça de roupa dentro de uma loja. A partir desse dia, as duas mulheres tornaram-se inseparáveis. Artemisa era alta, com uma grande cabeleira ruiva, muito bem tratada. Ela tinha olhos verdes-acastanhados e uma pele clara. A sua vaidade era equivalente ao seu egoísmo e egocentrismo.

Uma combinação fatal, dirão vocês.

E com muita razão.

[Continua...]

2 comentários:

  1. Gosto do senhor do Norte, tenho que ir pata lá rapidamente ehehehehe

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    1. Tens que aproveitar, que ele é viúvo e está sozinho! :P

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