23 novembro 2019

Vírgulas do Destino: Prisioneiros do Amor ~ Capítulo 8

Capítulo 8


*Algumas horas mais tarde...*


- Chegamos! - anunciou Kojiru, enquanto o motorista estacionava o carro em frente de um cemitério.

Mikel, Howl e Michi acordaram meio estremunhados.

- Uahhh... Estava-me mesmo a saber bem esta sesta... - sussurrou Mikel.

- Possa, podes crer...! Não dormi nada a noite passada! Quando o Kojiru me disse que ia estar contigo, não consegui dormir...!

- Onde estamos, Fadachi?

- Estamos na Serra da Estrela... É nesta terra que estão os jazigos dos meus familiares e antepassados. Será aqui que vamos deixar estas urnas...

Saíram do carro ainda meio entorpecidos. Estava um dia de sol, bastante bonito. Não se via vivalma na rua. Ao fundo da estrada, uma barreira policial controlava o trânsito e desviava-o para outras artérias da localidade. Mikel não pôde deixar de ficar surpreso por ver que Kojiru levara a sério o seu pedido! Este virou-se para ele e declarou:

- Lord Yusuke, já mandei buscar as coisas que pediste e fechar a rua que conduz aqui ao cemitério. Quando quiserem resolver as coisas, estejam à vontade. Peço-vos que não se demorem, para não atrapalharmos muito a vida dos habitantes da localidade...

Mikel fez uma vénia enquanto alguns polícias se aproximaram e entregaram vários sacos a Kojiru e depois de se despedirem, regressaram ao posto de controlo, no fundo da rua. Este entregou os sacos a Mikel. Howl e Michi começaram a espreitar os sacos. Lá dentro vinham muitos sacos de sal, velas, entre outras coisas. Depois de confirmar tudo, Mikel olhou para Howl e anunciou:

- Óptimo, está aqui tudo do que vamos precisar! Estás pronto? Se achares que não és capaz, eu faço isto sozinho...

Howl assentiu com cabeça, veementemente.

- Não te importas? É demasiada responsabilidade!

Mikel assentiu com a cabeça e não disse mais nada. Michi, Kojiru e o motorista seguiam atrás deles, enquanto estes entravam no cemitério. Michi suspirou e deixou-se estar à porta.

Howl juntou-se-lhe. Kojiru e o motorista também por ali ficaram, enquanto viam Mikel seguir em frente, quase até perder de vista. Quando chegou juntos das campas de família, Mikel retirou os objectos dos sacos. Aos poucos, foi preparando tudo. A dada altura, partiu, criando um enorme círculo, enquanto entoava algo. Os restantes observavam, curiosos. O que será que ia acontecer? Passados uns minutos, Mikel regressou à porta do cemitério. Ele virou-se para Howl, Kojiru, Michi e o motorista e, num tom de voz grave, declarou:

- Está na hora. Vou fechar o portão do cemitério. Não ultrapassem este círculo, está bem? As coisas podem tornar-se perigosas! Eu não me vou responsabilizar pelo que vos possa acontecer a partir de agora, se entrarem neste círculo... - avisou.

- Está bom!

- Tem cuidado, Fadachi-Sensei! Boa sorte!

Mikel virou costas. Fechou os olhos. Concentrando-se, ele entoou algo, numa língua estranha. Pouco depois, o tempo alterou-se. Nuvens enormes e muito escuras cobriram o céu. Uma ténue névoa instalou-se na zona à volta do cemitério. Chegado às campas da sua família, Mikel acendeu as velas que os polícias tinham trazido, uma a uma, enquanto criava um caminho. Depois disso, ele retirou as urnas dos sacos. Kojiru virou-se para Michi e perguntou-lhe o que se ia passar.

- O Fadachi vai libertar as almas dos familiares, encaminhando-as para o Paraíso... É algo que não vês todos os dias!

- Relaxem e pensem em coisas bonitas... É muito importante... - acrescentou Howl, em êxtase.

- Caramba...! Isso é possível?!? - perguntou o motorista, com ar completamente aparvalhado.

- Vê por ti mesmo...

Do nada, as velas que Mikel tinha colocado a arder mudaram de cor, ficando de um tom entre o azul e o violeta! Ele pegou nas urnas e abriu-as. Um vento forte e gélido desceu da serra. Do céu caía uma chuva miudinha e ao longe escutavam-se trovões...

Mikel cruzou os braços e fechando os olhos, recitou algo em voz alta. Kojiru, Howl, Michi e o motorista assistiam ao espectáculo, impávidos! Ao escutarem o recital de Mikel, arrepiaram-se! Era uma cena deveras assustadora!

- Que língua é aquela? - perguntou o motorista, branco como a cal.

- É uma língua... Ahmmm... A língua dos anjos e dos demónios... O Fadachi-Sensei está a conectar-se com O Outro Mundo, para abrir o Portal que levará as almas que ele tem nas urnas para lá...




[Mikel]

Eu voo em direcção à luz,
Que brilha no céu distante, mas
A chuva fria molha as minhas asas,
E hoje, eu estou sozinho de novo.

Eu aceno e sussurro
As memórias distantes do meu coração
Agora, eu só quero dormir por entre as brumas,
Dentro deste vento transparente e aceitar estas asas.

Eu procuro pelo paradeiro do Destino, aquele que me foi deixado a mim...
Uma pluma cai das minhas asas.
E os despojos, da minha alma,
Quem os vai recolher?

Algum dia, com certeza, eu vou chegar,
Ao lugar onde o meu coração se vai curar.
Os olhos que olham para cima reflectem,
Os pedaços de Tristeza infinita...


A dada altura, uma série de formas espectrais apareceu. Eram os familiares de Mikel e de Howl. Chorando triste, Mikel recomeçou a entoar aquela misteriosa cantilena, mais alto! Ele sabia que, se a conexão se perdesse agora, podia morrer! Chamando a si toda a presença de espírito e concentração, Mikel aumentou a sua energia. Enquanto isso, no portão do cemitério, Kojiru, o motorista, Howl e Michi observavam tudo, completamente surpreendidos. Manchas de luz surgiam nas costas de Mikel, ganhando forma.

- Oh meu Deus! Isto é espantoso...! - retorquiu o motorista, com os olhos totalmente arregalados, mal acreditando no que via.

- Eu bem vos disse que ia ser altamente! O Fadachi é espectacular...! Vocês vão ver...! - sussurrou Michi.

As manchas de luz nas costas de Mikel transformaram-se dois conjuntos de asas. Elas tinham três metros de altura e dois metros de largura. Quando as abriu, uma luz azul-aqua e verde-fluorescente espalhou-se à volta dele! 

Mikel não tardou a levitar, até ficar a metro e meio do solo! A energia dele atingira o ponto máximo! Vinte espectros estavam à volta dele, criando um semi-círculo.


[Mikel]

A Eternidade é Triste e Interminável
E eu há muito que luto para a alcançar...

Os sonhos são a miragem, mesmo agora,
Eles estão secretamente, fugazmente, a florescer em algum lugar...

Assim, a minha fantasia não vai acabar...
Para todo o Sempre, o meu sonho vai-se realizar...


De repente, Mikel abriu os olhos. Sorrindo levemente, virou-se para os espectros e anunciou:

- Sigam em paz! Agora, tudo ficará bem!

As formas espectrais sorriram para ele e aos poucos seguiram em frente, rumo a um raio de luz que entretanto se formou. A mãe de Howl foi a última a ir-se embora. Olhou para Mikel uma última vez. Sorriu para o filho que chorava copiosamente no portão do cemitério e acenou-lhe. Ao aperceber-se de que ele a tinha visto e acenava-lhe, sorriu e seguiu em frente, rumo ao raio de luz, que entretanto desvanecia-se.

Mikel respirou fundo e lentamente, começou a descer até ao solo. Quando pousou os pés firmemente no solo, as suas asas desfizeram-se em energia e ele caiu de joelhos sobre a terra, ofegante. O céu começou a clarear. O vento 

acalmou e não tardou muito para o sol voltar a brilhar. Estava exausto.

Michi abraçou Howl. Sorrindo, virou-se para os outros e perguntou:

- E pronto! Ele conseguiu! Foi fixe, não foi?

Kojiru nem sabia o que dizer. Já ouvira e vira muitas coisas, mas nunca na sua vida pensou assistir a algo assim! O motorista também estava sem palavras! 

Quanto a Mikel, este arrumou as coisas e depois disso, aproximou-se a cambalear dos restantes. Com um sorriso cansado, declarou:

- Obrigado por terem aguardado. Vamos pousar as coisas ao carro e almoçar? Adorava comer leitão...

- Muito bem, vamos comer e depois seguimos para o Porto, temos de ir embora para a base... - respondeu Kojiru.

E assim, os cinco rapazes seguiram para a Mealhada onde tiraram a barriga de misérias. Com o estômago cheio, o resto da viagem foi passado numa típica sonolência que se sucede a um bom repasto. Não tardou muito para que Mikel, Michi e Howl voltassem a adormecer. Kojiru também sentia-se cansado da viagem e como tal, acabou por adormecer. O motorista aproveitou a oportunidade para enviar mensagens a Agostinho, a contar-lhe o que se estava a passar.


*Duas horas mais tarde...*


- Senhor Kojiru... Chegamos ao Porto...

- Já? Foi rápido... - respondeu Kojiru, virando-se para trás. 

Mikel e os seus pupilos olharam para ele e começaram-se a rir.

- Isso é que foi dormir!

- Estava cansado... Vocês estão bem?

- Lindamente!

Michi virou-se para Kojiru e pediu:

- Olha... Deixa-me em São Bento... Já sabes que eu não vou poder ir com vocês...

O motorista conduziu o carro e parou em frente da estação de São Bento. Todos saíram do carro entrando na estação de comboios, com a excepção do motorista. O comboio de Michi partiria dentro de minutos. Mikel olhou para ele e ficou triste. Não queria separar-se dele. Lendo-lhe os pensamentos, Kojiru entregou um cartão a Michi.

- A partir de agora és um dos nossos, Michi. Nesse cartão tens os novos contactos do Lord Yusuke, sempre que precisares e quiseres. Esses números não estão sob escuta, pelo que serão ligações seguras...

Mikel virou-se para Michi e declarou, com voz serena:

- Michi, conto com a tua ajuda. Reúne-te com os outros e aguardem instruções minhas. Vamos tentar acabar com esta maldita guerra o mais cedo possível. Trata de saber o maior número de informações sobre a Governadora Milú!

- Está descansado! Já sabes como sou! - respondeu Michi a sorrir. - Os restantes ficarão felizes de saber que estás de regresso!

- Sempre que pudermos, viremos visitar-te! E... Não me esqueci do Rafael...! Ele voltará para ti!

- Awwww... Fadachi...! - Michi abraçou-se a Mikel, enquanto chorava. Howl aproximou-se e abraçou-se a ambos. Um apito e um aviso roufenho anunciaram que o comboio estava prestes a partir. Michi correu para o comboio enquanto Howl, Mikel e Kojiru lhe acenavam.

- Até breve!

- Até breve, Michi! Boa sorte!

- Haii! Para vocês também! Howl, toma conta do Fadachi!

- Não te preocupes! Eu tomo conta dele!

E assim, o comboio partiu. Os 3 amigos regressaram ao carro.

- Para onde vamos agora, Kojiru? - perguntou Howl.

- Nós agora vamos para o aeroporto... A base ainda fica um bocadinho longe daqui... - respondeu Kojiru, com um sorriso.

Mikel e Howl trocaram um olhar cúmplice e riram-se baixinho. Para onde iriam? A viagem até ao aeroporto da cidade foi muito rápida. Chegados lá, dirigiram-se para uma gare especial, onde um rapaz de média estatura e óculos escuros os aguardava. Kojiru foi ter com ele, cumprimentando-o. Ao trazê-lo para junto dos restantes, declarou:

- Lord Yusuke, Howl, este é o nosso piloto e professor...

[Continua...]

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