08 novembro 2019

Vírgulas do Destino: A Vingança! ~ Capítulo 8

Capítulo 8


Após um longo treino, Arun e Ghrishma regressaram à base da Zen Fong. Vinham cansados, mas satisfeitos com os resultados do treino.

- Que coisa! Se me contassem aquela história, eu nunca acreditaria...! Como pode ser? - perguntou Ghrishma a Arun.

Arun fechou o punho direito com alguma raiva.

- Eu compreendo perfeitamente... Aquilo fez-me lembrar o dia... Aquele fatídico dia em que eu perdi contra o Katsumo... Foi uma derrota humilhante! Para mim... Para mim, foi algo terrível! Eu nunca esquecerei aquele dia... Nunca!

- O mestre e o Katsumo eram crianças... A tua raiva… Eu acho que compreendo o que sentes... - respondeu Ghrishma, num suspiro.

Arun sorriu para o colega e rematou:

- Achas? Bom...! Deixo-te agora... Até amanhã!

Enquanto Ghrishma se dirigia para o seu quarto, Arun foi ter com Shinta. Quando o encontrou, deu com ele visivelmente perturbado...

- Aquele Ghrishma...! Ele fez-me abrir feridas que ainda não sararam! Desta vez, ele foi longe demais! Arun...! Amanhã...! Amanhã será o último dia dele, ouviste?

Arun abriu a boca, espantado.

- Desculpe? Porquê isso agora, Mestre Shinta? O Ghrishma faz bem o trabalho dele.…!

Shinta levantou-se chateado e ripostou:

- Sim! Ele fez um bom trabalho! Mas… A menos que queiras ser TU a ser eliminado, sugiro que não faças mais perguntas!

Arun endireitou-se logo! O seu mestre estava a ficar furioso e ele sentiu uma aura de energia muito forte a concentrar-se! Ele sabia que aquele homem tinha algum trunfo, caso Arun partisse para o ataque...! Estava quase na hora...! Depois de vencer Katsumo, Arun poderia finalmente deixar aquilo! Com um suspiro ansioso, rematou:

- Como entender, Mestre! Eu farei isso! Eu tratarei do assunto! Considere-o feito!

Sem que ambos se apercebessem, Ghrishma escutava-os atrás de um pedestal. Em pânico, apercebeu-se que só lhe restava fugir! Apesar disso, Ghrishma não iria fugir de mãos vazias! Desesperado e assustado, ele correu para um cofre que existia no esconderijo! Ele agarrou um saco de viagem e encheu-o de dinheiro!

- “Se pensam que fico à espera da morte, estão muito enganados! Está na hora de eu pôr-me a milhas daqui!” - pensou.

Quando o saco de viagem ficou cheio, Ghrishma correu o mais que pôde para o porto marítimo. Lá, meteu o saco numa lancha e ligou o motor. A lancha não tardou a avançar para fora da ilha! Sorrindo feliz, Ghrishma olhou para trás, fazendo uma irónica vénia.

- Finalmente! Adeus, Mestre Shinta! - gritou Ghrishma, já bem longe da costa.

Olhou para trás. A ilha maldita tornara-se num ponto bem pequeno, onde minúsculas luzes reluziam, trémulas. Feliz da vida, ele abriu o saco e pegou em vários maços de notas.

- Hummmm! Tanto dinheiro! Vou realizar todos os meus sonhos! Custou, mas consegui! - suspirou.

Não tardou para que Ghrishma se sentisse sozinho. De bom grado, ele daria uma boa parte do dinheiro para que Arun estivesse ali consigo. Apesar de chocarem, eram parceiros de crime. Poderiam continuar a trabalhar juntos ou pelo menos, beberem umas cervejas no final dos serviços.


Relembrou-se de Kaji. 




Como teria sido bom se o rapaz tivesse sobrevivido. 

Ghrishma poderia tê-lo resgatado das instalações da Zen Fong e agora fugiriam juntos. Kaji ficaria tão feliz e agradecido que os dois se abraçariam no alto mar e ali mesmo dariam asas a uma paixão selvagem, que duraria o tempo que tivesse de durar. Naquela noite, o mar estava calmo. Tanta calmaria estava a deixá-lo aborrecido. Para quebrar a monotonia, Ghrishma decidiu ligar o rádio para ter um pouco de companhia.






*CABOOUUUMMMMMMMMMMMMMMMM!!!!*



O barco foi pelos ares com tamanha explosão.


*16 de Maio de 2016*


Um novo dia despertou, com o sol a brilhar timidamente. Era um grande dia para Arun! Ele iria defrontar Katsumo, o seu sonho! Recordava-se da dor que tinha sido perder contra um miúdo, anos antes! A proposta de Shinta... É certo que a aceitara, mas no seu íntimo, Arun sentia-se enjaulado desde essa altura. Ele estava farto de aturar aquele homem. Shinta tratava-o sempre tão rispidamente, a ele e a Ghrishma. Suspirou. Ele teria de acabar com o colega naquele dia! Ghrishma podia ser um idiota, mas Arun habituara-se a tê-lo por perto. Quando aquele maldito torneio terminasse, ele e o comparsa até poderiam vir a trabalhar juntos...

- Hoje acaba tudo! Vou derrotar aquele maldito miúdo! O Hao será canja depois disso! Ah ah ah ah ah! - comentou para si mesmo.

Ele acabou de se preparar para o combate. Depois disso, foi ter com Shinta.

- Bom dia, mestre!

- Bom dia, Arun! Vejo que já arrumaste o Ghrishma! Muito bem! Mwa ah ah ah! - declarou Shinta com um sorriso diabólico.

- Hã? Como assim? - perguntou Arun, confuso.

Shinta respondeu:

- Então! Comigo não precisas de fingir! Ele não está no quarto! Nem sequer desfez a cama! Já andei a perguntar por aí e ninguém o viu na ilha! Muito bom trabalho!

Arun riu-se, para disfarçar o embaraço:

- Sim, mestre! Ah ah ah ah ah! Não deu trabalho nenhum! Foi fácil!

Shinta fechou os olhos, satisfeito.

- É assim mesmo! Vá, acaba com o Katsumo! Vinga-te dele! Mwa ah ah ah!

Arun seguiu para o ringue, orgulhoso! Shinta virou costas, dirigindo-se ao seu cadeirão na tribuna vip. Resmungou, entredentes:

- Finalmente! Já falta pouco! Em breve, a vitória será absolutamente minha! Pouco me importa qual de vocês ganhe! Eu vou destruir-vos a todos! Hao e Katsumo, vocês não perdem pela demora...!

- Senhoras e senhores, vamos dar início à próxima meia-final do torneio! Este combate espectacular, uma verdadeira final antecipada, opõe Arun, que vem da Tailândia... A Katsumo, que vem do Japão!! - exclama o árbitro, perante os gritos do público.

Escutaram-se muitos gritos de louvor por parte do público, enquanto Arun e Katsumo levantaram os braços, satisfeitos!

- Katsumo! Arun! Muito boa sorte aos dois! Que vença o melhor! - declarou o árbitro.

O público ovacionou uma vez mais e Shinta, bastante satisfeito, suspirou, impaciente:

- Finalmente! Já falta pouco! Em breve a vitória será minha!

Arun lançou um esgar a Katsumo e rosnou:

- É hoje, Katsumo! É hoje que eu vou vingar-me de tudo o que me fizeste!

Katsumo virou-lhe costas, dirigindo-se para um canto da arena. Encolheu os ombros e declarou, com desprezo:

- Boa sorte para ti também!


*Dong, dong, dong!*




- Que comece o combate! - anunciou o árbitro.

Mal o combate teve início, Arun avançou sobre Katsumo. Lançou-se impiedoso, com uma poderosa combinação de socos, aproximando-se cada vez mais de Katsumo. Este fez os possíveis para se defender, bloqueando os socos, que eram lançados ao peito e à cara! Como Katsumo continuasse a bloquear e a proteger a cara, Arun prosseguiu com o ataque, empurrando Katsumo contra uma parede da arena. A dada altura, Arun, para desbloquear a defesa do adversário, pegou no braço esquerdo de Katsumo e puxou-o com violência, para fazê-lo perder o equilíbrio! Ao mesmo tempo, com o cotovelo direito, Arun atingiu a cabeça de Katsumo!

Shinta riu-se, completamente extasiado:

- Mwa ah ah ah ah! Katsumo! Vais pagar por tudo, seu maldito!

- “Hummm... Ele tem treinado a sério... Este combate vai ser mais interessante do que estava à espera...” - pensou Arun.

Katsumo levou as mãos à cabeça, atordoado.

- O Arun está mesmo mais forte e confiante do que da última vez...! Isto vai ser um bom desafio!

- Então Katsumo? Estás a gostar do aquecimento? Acho que deveríamos começar a lutar a sério! - perguntou Arun, com um sorriso trocista.

- Sim! Arun! Desta vez, eu concordo contigo! - exclamou Katsumo, concentrando-se.

Ele aproveitou aquele momento para recuperar um pouco os sentidos e ficar mais atento ao seu oponente. Arun lançou-se novamente sobre Katsumo! Desta vez, porém, Katsumo estava preparado! Arun aplicou dois socos de esquerda e ao dar um terceiro golpe, desta vez com a direita, Katsumo defendeu-se. Ele dispersou o golpe, lançando-se com o corpo para a frente e deu um soco com toda a força no plexo solar de Arun!

Arun recuou ligeiramente. 

Katsumo lançou um pontapé baixo na perna esquerda do adversário. Em seguida, ele aproveitou o momento e deu um pontapé lateral na face de Arun! Katsumo continuou com o ataque, saltando e lançando um pontapé rotativo na cara de Arun! Este, por sua vez, agarrou o pé de Katsumo e aplicou uma valente cotovelada no peito de Katsumo! Este caiu, cheio de dores! Arun riu-se. Imponente, rosnou:

- Ah ah ah ah! Gostaste, Katsumo? Agora sentes na pele a dor que me provocaste, seu miserável!

- Aiiii...! Ahmmmmm...! Esta foi em cheio...! Eu não posso desistir...! - replicou Katsumo.

- Isso foi só o princípio! - ameaçou Arun.

Katsumo colocou-se imediatamente em pé! Esfregando o peito, ele correu de encontro a Arun e este ao encontro de Katsumo! Arun deu uma joelhada em salto! Katsumo saltou, não só para evitar o golpe, mas também para aplicar dois socos: um no peito e outro na cara de Arun!


*Dong, dong, dong!*


- Que grande combate! Eles estão a dar tudo o que têm! Estão em pé de igualdade! - anunciou o árbitro.

Katsumo sentou-se a um canto da arena, pensativo:

- “Como é possível que Arun se tenha tornado tão forte! Ambos estamos feridos, mas, tal como eu, ele não desiste! Se as coisas continuarem assim, isto vai ser um combate até à morte!

Arun foi para o outro lado da arena, perdendo-se em pensamentos:

- “O combate está mesmo renhido! Mas como pode este rapaz conseguir antever os meus golpes e ainda ferir-me? Aonde é que vai ele buscar tanto poder?

Pensativo, recordou-se do primeiro encontro com Shinta.


*11 de Fevereiro de 2011*


Arun fungou e rodando o pescoço, respondeu:

- Hummm... Vejo que andas bem informado... Sim, é verdade... Não me esqueci daquilo que aquele rapaz me fez... Desejo isso mais do que tudo na minha vida...!

Shinta riu-se, satisfeito:

- Mwa ah ah ah! Muito bem, creio que isso é um sim! Eu ajudo-te a derrotares o Katsumo, mas em troca, tu tornas-te o meu fiel servidor... Aviso-te já que eu não perdoo “deslizes” ...

- Por mim não há problemas! Se me pagar bem, eu aceito! - respondeu Arun, com uma vénia.

- Óptimo! O dinheiro não é problema! Receberás o teu peso em ouro, quando derrotares o Katsumo! Parece-me um valor justo, não achas? Entretanto… Presumo que já conheces o Ghrishma... Doravante, vocês irão trabalhar juntos. Ele é o meu assassino pessoal e colocar-te-á a par de tudo o que for necessário. Alguma questão, é só dizeres! Se os teus serviços me agradarem, então teremos oportunidade de nos conhecermos pessoalmente!

Fazendo uma nova vénia, Arun sorriu:

- Com certeza! Será um gosto derrotar aquele maldito! É tudo o que mais quero!

- Então, brindemos à nossa aliança! Mwa wa wa wa! -respondeu Shinta.

Aos poucos, o barulho ensurdecedor do público fê-lo despertar das suas memórias. Ele fechou os olhos.

- “Aqueles tempos foram mesmo difíceis... O Ghrishma era um grande lutador, mas o Mestre Shinta não lhe deu a oportunidade que ele merecia para mostrar o seu potencial... Ele não merecia uma punição tão severa... Hummmm... O Shinta está a começar a ir longe demais! Espera lá...! Não! Isto nem pareço eu...! Concentra-te, Arun! Tens um combate para acabar... E ganhar!” - pensou.

Katsumo observava Arun. Espantado por o ver sem uma reacção aparente, esfregou os olhos, enquanto pensava:

- “O Arun está diferente... Não sei o que lhe aconteceu, mas ele aparenta estar perturbado com algo... Está a lutar como nunca vi! Está a fazer um grande combate, justo e limpo! Ainda assim parece-me que o seu espírito está ausente...

Shinta levantou-se impaciente, franzindo o sobrolho.

- Arun, Arun, Arun...! O destino é mesmo cruel...! O Katsumo já te leva uma ligeira vantagem e se não te concentrares, vais deitar tudo a perder! O que vale é que eu sou um homem prevenido!

Arun despertou dos seus pensamentos e orgulhoso, virou-se para Katsumo, afirmando:

- Treinei duramente durante todos estes anos! Chegou a hora de acabarmos com isto! Assim que eu te vencer, recuperarei a honra e o respeito que me roubaste!

Determinado, Katsumo desafiou-o:

- Tens razão! Está na hora de terminarmos este combate!

Recuperado, Arun lançou um pontapé lateral, com toda a força! Katsumo defendeu-se daquele poderosíssimo ataque, mas acabou por desequilibrar-se. Arun riu-se. Ele preparava-se para dar outro pontapé na cara, mas Katsumo colocou-se novamente em guarda, tentando absorver o impacto do golpe. O golpe foi tão forte, mas tão forte, que Katsumo caiu e sussurrou:

- Não!!! Como poderei eu vencer este adversário? Eu não posso perder...!


[Continua...]

2 comentários:

  1. Também eu não vou perder pitada do que escreves por aqui :)

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    1. Obrigado Francisco! É um gosto e uma honra que estejas a acompanhar todas as histórias que eu escrevo, desde 2013! ^_^

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