Capítulo 12
*17 de Janeiro de 2014*
O Governador George regressou aos Açores e não tardou a dar início ao processo para restituir a Mikel o seu título de Lord, bem como a sua legítima herança. Não tardou muito para que surgissem pessoas interessadas em ser amigas dele. Como este sabia quais eram as intenções dessas pessoas, ele desabafava muitas vezes com Howl, à noite, quando estavam os dois sozinhos no quarto.
Ficara decidido que Howl iria retomar os estudos. Apesar de ele não gostar muito da escola, Mikel propôs-lhe uma troca: Howl retomava os estudos e Mikel colocava-o numa Academia de Futebol para ele poder jogar e quem sabe, realizar o seu sonho de se tornar jogador de futebol profissional. Assim, não tardou muito para que Howl entrasse para o São Miguel Futebol Clube, a equipa principal da ilha. Embora ele fosse um jogador talentoso, a recepção não foi das melhores. Os restantes colegas cochichavam entre si que o Howl só tinha entrado para a equipa porque tinha um bom “padrinho”. Eles não tardaram a mandar-lhe bocas, a gozar com a maneira de falar, uma vez que ele era do Continente e não tinha sotaque dos Açores. Quando Howl começou a jogar, acusaram-no de ser um jogador individualista. Rapidamente ele foi posto de parte e “convidado” a ficar no banco.
*4 de Fevereiro de 2014*
Mikel não tardou a sentir o peso da responsabilidade de ser um “Lord”. Além de ter reuniões com várias pessoas todos os dias, tinha o trabalho enquanto Chefe dos Conselheiros. Naquele dia, ele apercebeu-se que a guerra não iria terminar tão cedo quanto desejaria. Todos os dias enviava mensagens a Caim e tentava ligar-lhe, mas este nunca atendia, nem lhe respondia de volta. Mikel estava muito preocupado. Não tardou muito que a sua preocupação desse lugar ao desânimo. Era possível que Caim tivesse ficado zangado com ele... Na pior das hipóteses, Caim tinha seguido em frente…
*25 de Fevereiro de 2014*
O Governador George e o seu filho Kojiru partiram para Portugal, na companhia de Acácio. Iam para uma reunião com a Governadora Milú e a filha desta, Jéssica. Era a primeira reunião onde Kojiru e Jéssica iriam participar. Mikel ficara nos Açores a tratar de alguns assuntos importantes. Depois de almoço, ele deu ordens para que todos os empregados tirassem o resto do dia de folga.
- Mas tem a certeza disso, Lord Mikel? - perguntou Sheila, a governanta da mansão.
- Sim, só cá estou eu e o Howl. Eu preparo algo para o nosso jantar quando ele vier! Não se preocupe!
- Muito bem! Então… Com a sua licença... - Sheila fez uma vénia a Mikel e virou costas.
Este foi para o quarto. Algum tempo depois, dirigiu-se à varanda e verificou que todos os empregados estavam a sair da mansão, com ar feliz. Sorrindo satisfeito, Mikel colocou uma música a tocar bem alto. Divertido, ele pôs-se a cantar e a tocar instrumentos imaginários. Sentia muitas saudades de tocar música.
*Algumas horas mais tarde…*
Howl abriu a porta. Estava ferido no sobrolho e sangrava do nariz. Ao vê-lo assim, Mikel desligou a música e foi ter com ele, entregando-lhe um lenço para estancar o sangue.
- Que te aconteceu?
- Andei à porrada na escola...
- Porquê?
- Eh pá... Eles embirraram comigo porque eu sou diferente deles... Não gostam de mim e eu também não gosto deles! Passam a vida a provocar-me... Eu ripostei! Eles começaram a bater-me e eu parti-lhes a cara...!
Mikel riu-se. Foi à casa de banho buscar algodão, álcool e pensos. Sentou-se à beira de Howl e limpando-lhe as feridas, explicou:
- Olha Howl… Eu sei que não é fácil... Eu e tu estamos a atravessar uma fase muito complicada! Eu perdi a família e estou afastado do meu amor! Tu perdeste a tua família e agora estás à minha guarda, numa terra que ambos desconhecemos! De facto, nós aqui é que somos os estranhos! Para eles, somos os estrangeiros! Tens razões para estares frustrado, mas não podes ceder às provocações deles! Ao fazeres isso, só estás a dar-lhes mais razões para embirrarem contigo!
- Então o que faço? Eles tratam-me mal!
- Prova-lhes que tu és bom e que mereces estar entre eles! Não és tu quem está errado, mas sim eles, ao tratarem-te mal! O mesmo acontece para a equipa de futebol! Se queres realmente conquistar o sonho de te tornares um jogador, tens de lutar por ele!
- Hummmm... És capaz de ter razão...
- Claro que sim! Olha, vamos jantar algo? - perguntou Mikel com um sorriso meigo.
- Shimmm! Tou cheio de fome, pá!
Animados, os dois amigos seguiram para a cozinha. Num instante, prepararam algo delicioso para comer: bifes com molho de natas e cogumelos, ovos estrelados e batatas frias - um dos pratos favoritos de ambos.
- Olha Howl… Eu já ando há algum tempo para te perguntar uma coisa...
- O quê?
- Tu nunca mais falaste na Sophie... O que é feito dela?
Howl pousou os talheres e baixou a cabeça. Os seus olhos castanhos ficaram brilhantes, cheios de lágrimas. Suspirando, respondeu:
- Desde que começou a guerra que nunca mais a vi. Os pais dela fugiram com ela e com os irmãos. Eu tenho tentado comunicar com ela, mas nunca obtenho resposta...
Mikel suspirou, triste. Como o compreendia.
- Gostas mesmo dela, não é?
- Ela é a minha pequena estrela... Sem ela, eu não sou ninguém...
Mikel pegou num lenço para limpar as lágrimas teimosas que rolavam pelo seu rosto. Howl virou-se para ele e abraçando-o, perguntou:
- Olha, vamos tocar uma música? Já faz muito tempo que não tocamos!
- Hum, boa ideia! Vamos para aquela sala de instrumentos que o Kojiru tem cá!
E assim, lá foram eles para a tal sala. Chegados lá, ficaram estupefactos! A sala era maior do que ambos imaginavam e tinha bastantes instrumentos! Ao canto, um piano de cauda. Tinha acesso ao jardim, através de uma enorme janela. Felizes, os dois rapazes pegaram em diversos instrumentos e começaram a praticar. A dada altura, Howl pediu:
- Mikel, vamos tocar uma música em memória das nossas famílias e da Sophie? Tenho muitas saudades do meu pai... E tu?
- Tim, é uma boa ideia... Eu tenho muitas saudades de algumas pessoas também... - respondeu Mikel, pensando em Caim e em Ángel1. Daria tudo para os ter ali do seu lado, agora. Sentou-se ao piano, esticou as mãos e inspirou, acompanhado por Howl.
- Mikel, vamos tocar uma música em memória das nossas famílias e da Sophie? Tenho muitas saudades do meu pai... E tu?
- Tim, é uma boa ideia... Eu tenho muitas saudades de algumas pessoas também... - respondeu Mikel, pensando em Caim e em Ángel1. Daria tudo para os ter ali do seu lado, agora. Sentou-se ao piano, esticou as mãos e inspirou, acompanhado por Howl.
[Howl]
Eu ouço o tique-taque do relógio
Enquanto estou deitado no escuro do quarto
Pergunto-me: Onde estás hoje à noite?
Não recebo nenhuma resposta
E a noite passa tão lentamente
Ohhhh, tenho saudades tuas...
[Mikel]
Até agora, sempre contei só comigo mesmo
Nunca me importei até te conhecer
E agora, isso arrepia-me até aos ossos
Como faço para estar sozinho contigo?
Como faço para estar sozinho contigo?
Notas do Autor:
1 - Vírgulas do Destino: Meandros da Vida;
[Continua...]
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