28 novembro 2019

Vírgulas do Destino: Prisioneiros do Amor ~ Capítulo 13

Capítulo 13


*Quinta das Lágrimas, 26 de Fevereiro de 2014*


- Chegamos! - afirmou George, com um sorriso.

- Uau! Que sítio tão bonito, pai! - respondeu Kojiru, animado.

Havia semanas que Kojiru não saía dos Açores. Desta vez, ele tinha vindo com o pai até Portugal Continental, para que as duas famílias que estavam no poder se reunissem, com o objectivo de se chegar a um acordo. As reuniões nunca ocorriam no mesmo local, a fim de evitarem-se atentados. O número de pessoas que sabia da localização das mesmas era extremamente reduzido. Só mesmo em cima da hora é que os diversos locais onde poderia ocorrer a reunião eram informados.

Kojiru, Acácio e George abandonaram o carro onde vinham e apressaram-se a ir para a Quinta. Dentro do local aguardava-os uma escolta, que se certificou de que realmente eram eles e os deixou entrar. Acácio regressou ao carro, depois de confirmar que tudo estava em perfeitas condições.

- Espero que te portes bem, Kojiru! Sê um cavalheiro, mas não te deixes iludir pela conversa da Governadora Milú e da filha dela! Bem pelo contrário, prepara-te para o contra-ataque! Quanto mais depressa conseguirmos a vitória, mais depressa voltas para o Japão! - murmurou George, com ar sério.

- Sim pai, eu sei disso... Já mo disseste pelo menos umas… Vinte vezes... - respondeu Kojiru, secamente.

- Nunca é demais relembrar... - respondeu o pai, virando costas e pegando no seu chapéu de coco.

Passados uns minutos, as portas do salão onde ambos se encontravam abriu-se de par em par. A Governadora Milú e Jéssica entraram, com um ar altivo.

- Olá bom dia! Peço desculpas pelo atraso, mas o trânsito está infernal! Ohhhhh! George! Que prazer em revê-lo! - declarou Milú estendendo a mão, para que George a cumprimentasse.

- Olá, muito bom dia, minha cara Milú! Encantado! - George pegou na mão de Milú e beijou-a, enquanto fazia uma vénia. - Este é o meu filho, Kojiru.

- Muito prazer, minha senhora! - respondeu este, fazendo uma vénia e estendendo a mão para a cumprimentar.

- Igualmente, meu jovem! Esta é a minha filha, Jéssica! - respondeu Milú, cumprimentando rapidamente Kojiru e pegando na mão da filha para a aproximar de George e do filho.

- Olá, bom dia! Eu sou o Kojiru! Prazer em conhecer-te! - respondeu este, atrapalhado e corado até à raiz dos cabelos, aproximando-se de Jéssica e trocando dois beijinhos com ela.

- Olá! Bom dia! Muito gosto! Eu sou a Jéssica! - respondeu esta, cumprimentando Kojiru, igualmente atrapalhada.

Em seguida, Jéssica cumprimentou George e voltou para junto da mãe. George e Milú começaram a conversar ali mesmo. Os dois falavam de coisas banais, como se fossem velhos amigos e não rivais! Tratava-se de puro cinismo, já que ambos sabiam bem o que os levara ali e qual o verdadeiro objectivo daquele encontro. Enquanto isso, Kojiru trocava olhares com Jéssica, disfarçadamente. Esta observava-o pelo canto do olho, levemente divertida.

- Bem, creio que está na hora de passarmos a assuntos sérios... - declarou George, colocando o chapéu de novo na cabeça.

- Sem dúvida! Jéssica, a menina e o Kojiru vão ter hoje a vossa primeira reunião! Desta forma, um dia, estarão prontos a liderar as nossas famílias. Creio que ambos sabem porque estão aqui. Estou certa de que vocês compreendem a importância deste vosso primeiro encontro. - respondeu Milú, com frieza.

- Sim mãe...

- Sim, minha senhora!

- Muito bem, sendo assim, eu e o George vamos reunir-nos noutra sala. Aguardamos os vossos relatórios no fim da reunião. Vamos? - perguntou Milú, virando a cabeça e seguindo em frente, rumo a um corredor.

- Sim! - respondeu George, seguindo atrás desta e fechando as portas.

- Phewww...! Até que enfim... - suspirou Jéssica, aproximando-se da janela e abrindo-a.

Uma aragem quente e primaveril invadiu o espaço. Kojiru, que não estava nada à espera daquela reacção, sentou-se, enquanto sorria nervosamente. Jéssica olhou para ele. Analisou-o de cima a baixo. Determinada, ela aproximou-se de Kojiru e suspirou, impaciente. 

- Vamos lá a saber... Kojiru...

- Sim?

- Qual ou quais as tuas motivações para estares aqui? Tu acreditas em quê?

Kojiru levantou-se e com um ar sério, aproximou-se da janela e respondeu:

- Eu vivia no Japão, desde a morte da minha mãe, até há bem pouco tempo. Voltei quando esta guerra começou e o meu pai assumiu o cargo de Governador. Acima de tudo, eu quero o bem das pessoas inocentes. Acho que podemos fazer algo para melhorar a vida de todos, se realmente trabalharmos pelo bem comum, em vez de debatermos as nossas diferenças...

Jéssica ficou surpreendida. Sempre imaginara que a resposta de Kojiru fosse politicamente correcta, mas evasiva. No entanto, este respondera de uma forma totalmente honesta. Ela ficou bastante satisfeita.

- Interessante, muito interessante... - respondeu ela, sorrindo pela primeira vez.

- “Que lindo sorriso!” - pensou Kojiru, sorrindo também.

- Creio que queres saber os meus motivos também, não é?

- Sim, claro!

Jéssica suspirou e fechou os olhos.

- Eu estava em Espanha, quando tudo isto começou. O meu pai morreu há alguns anos e só deixei de estar ao lado da minha mãe quando ela arranjou uma dama de companhia, a Artemisa. Eu nunca tive uma relação muito próxima com a minha mãe. Nós sempre fomos muito diferentes. Sou bem mais parecida com o meu pai do que com ela. Quanto às minhas motivações, honestamente, acho esta guerra uma estupidez! E já que estou a ser sincera, digo-te: nem a minha mãe, nem o teu pai, merecem ficar a governar, já que ambos cometem erros atrás de erros e não sabem valorizar o que realmente importa... É tempo de acabarmos com esta guerra!

- “Caramba, que mulher!” - pensou Kojiru, suspirando e fechando os olhos.

- És sempre assim tão calado, Kojiru?

- Hum... Eu… Eu não costumo falar muito... Mas concordo com tudo o que disseste...

- Presumo, então, que pretendes o fim desta guerra estúpida e inútil, certo?

- Sim, sem dúvida... Existe tanta gente que está a sofrer perante a inércia deles...  Às vezes sinto-me envergonhado com as atitudes do meu pai... - lamentou-se Kojiru, mirando o jardim da Quinta das Lágrimas.

- Eu também, sabes? Olha, e se fôssemos dar uma volta pelo jardim? Está um dia tão bonito! - perguntou Jéssica, levantando-se.

- Vamos lá!

E assim Kojiru e Jéssica dirigiram-se para o jardim, enquanto conversavam um pouco sobre si mesmos. À medida que iam conversando, o gelo quebrou-se. Kojiru não tardou a deixar cair a máscara, mostrando-se bastante gentil e bem-humorado. Jéssica estava fascinada. Kojiru era um rapaz bastante culto e inteligente. No entanto, foram os seus olhos rasgados que a cativavam. E o que dizer do sorriso? Kojiru era um dos homens mais atraentes que ela jamais conhecera. Isto era um pensamento perigoso, atendendo à situação em que eles se encontravam.

O jardim era bastante grande. Tinha muitas roseiras, em arco, além de muitas sebes, criando uma espécie de labirinto, para quem quisesse entrar. Havia também um lago junto de um pequeno bosque. Para lá se dirigiram os dois, perdidos de riso, devido a algumas peripécias que iam partilhando um com o outro.

- Ah ah ah! E depois a minha mãe disse: “Aiii korrore!” - respondeu Jéssica, rindo às gargalhadas.

- Oh oh oh oh!

Kojiru e Jéssica sentaram-se em frente do lago. Estava a ficar calor e com o passeio ambos sentiam-se cansados. Sorriram felizes um para o outro.

- Temos de pôr um fim a esta guerra... - afirmaram os dois ao mesmo tempo,

rindo em seguida.

- Da minha parte, sei que tenho alguns aliados que pensam como eu...

- Vocês têm o Lord Mikel, não é? Já ouvi falar muito nele!

Kojiru franziu o sobrolho.

- A sério? Como é que sabes?

Jéssica riu-se.

- Nós temos boas bases de informação, tal como vocês terão, presumo. Além disso, o Caim trabalha para nós...

Desta vez Kojiru levantou-se, completamente surpreso.

- O quê?!? Como?!?

- Eu e o Caim estudamos no mesmo Instituto, lá em Vigo. É um excelente rapaz. Eu conheço-o muito bem. Fui procurá-lo a semana passada e ele aceitou de imediato vir trabalhar comigo, quando lhe disse o que pretendia... Tornou-se um dos meus Conselheiros, a par com uma rapariga chamada Sophie e um historiador chamado Mark...

- Estou a ver... Sendo assim, creio que temos possibilidades de vencer os nossos pais... Eu conto com o apoio de Lord Yusuke e dos seus pupilos... E do Acácio, o meu grande amigo...

- A sério? Hum... Sabes Kojiru? Creio que é agora que as coisas vão começar a ficar interessantes! - suspirou Jéssica, agitando a sua cabeleira loira.

- Concordo... - acenou Kojiru, olhado para o lago, com olhar sonhador.


[Continua...]

2 comentários:

  1. Quinta das Lágrimas, que saudades desse local ;)

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    1. Eu também sinto saudades de ir lá! ^^

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