31 dezembro 2019

Era Uma Vez... No Faroeste

Era Uma Vez... No Faroeste ⚔️🐉


- Estamos a chegar a Water Country! - afirmei eu, todo satisfeito, para o meu filho. 

- Finalmente, pai! Vamos passar o fim-de-semana numa cidade fantasma! Isto é tão emocionante! - retorquiu Silver, o meu filho. 

O Silver tem 9 anos. Ele é o melhor filho do mundo, não fosse ele o meu filho. Franzino, de cabelos castanhos cor de palha aos caracóis como os meus, pele dourada pelo sol. Tem os olhos verdes e sardas como a mãe. Ele há-de ser um engatatão de primeira daqui a uns anos. Tenho de dar graças por ele ainda me considerar o seu herói. Desta vez, eu e ele viemos passear a cavalo em terras de índios e cowboys. Eu adoro os momentos que passo na companhia do meu pequenino… 

Chegamos a Water Country passada uma meia hora. Como seria de esperar, eu e o Silver deparamo-nos com uma cidade totalmente abandonada e parada no tempo. Water Country era uma cidade pequena, típica do midwest americano. Toda ela era construída em madeira. Tinha um salloon no centro da cidade, bem ao lado daquela que fora outrora uma estação onde passaram os primeiros comboios. Um reservatório de água enorme jazia, imponente, mesmo ao lado da estação, junto com um moinho antigo que ainda funcionava, vagarosamente. 

Eu e o meu filho saltamos dos cavalos e retiramos as nossas coisas, deixando-as ali mesmo. Experimentamos um poço que havia ao fundo da cidade e para nossa alegria, este tinha água! Trouxemos os cavalos até ali e enchemos alguns baldes de lata com água fresquinha para eles, enquanto nós também matávamos a sede!  

Eu e o Silver passeamos pela cidade, completamente encantados. Os ares do midwest americano eram secos e quentes, pelo que embora a cidade estivesse abandonada há várias décadas e os estragos fossem evidentes, a alma da cidade estava intacta. Bastava-me fechar os olhos para imaginar aquele local cheio de vida. 

- Pai, onde vamos acampar? - perguntou Silver, pouco depois. 

- Ainda não sei, filho… Vamos dar uma vista de olhos e logo se vê! Pode ser que encontremos algum local resguardado… Afinal as noites aqui são muito frias… 

Dito isto, Silver deu-me a mão e lá seguimos os dois. Entramos em casas abandonadas e divertimo-nos durante grande parte do dia a remexer em coisas que os habitantes daquela cidade teriam deixado para trás, por razões que desconheço. Pela quantidade de bens espalhados, imagino que a cidade foi evacuada rapidamente. Talvez por causa de uma tempestade de areia. Ouvi dizer que são frequentes por estes lados. 

Depois de explorarmos várias casas e até duas lojas. Uma delas era uma loja de ferragens. Ela ainda tinha ferraduras, balas e picaretas, totalmente enferrujadas. Silver pegou numa ferradura e disse-me: 

- Papá, vou levar esta como recordação! Posso? 

- Claro que sim, filho! Mas não te esqueças de a pagar! - respondi eu, com uma gargalhada. 

Com ar divertido, o meu filho abriu o porta-moedas dele e atirou uma moeda para cima do balcão. A moeda rolou, saltitou e caiu para trás do balcão. Silver saltou por cima do balcão, pegou na moeda e colocou-a no que restava de uma caixa registadora.  

Saímos dali e fomos até à estação de comboios. Exploramos a estação, imaginando como seria a vida naquela cidade. Será que haveria senhoras bonitas por ali? Seria uma cidade só de trabalhadores das minas mais a norte? Sentei-me num banco em frente das linhas de comboio. Quantas despedidas teriam ocorrido ali? Quantos beijos teriam sido dados? Quantos “amo-te” teriam sido sussurrados? 

A dada altura, Silver queixou-se de que tinha fome. Não foi preciso muito para decidirmos aonde iríamos comer! Regressamos à entrada da cidade, onde deixamos as nossas coisas. Pegamos nas nossas sacolas e dirigimo-nos ao salloon.  

Aquele era o local que eu mais queria conhecer na cidade, mas estava a deixá-lo para o final. Abrimos as portinholas típicas do salloon. Depois de entrarmos, fomos assaltados por uma nuvem de pó que nos fez tossir durante um bocado. Quando a nuvem de pó dissipou-se, eu sorri feliz. O salloon era exactamente como eu esperava. Tinha um bar, com muitas garrafas empoeiradas. Ao fundo, uma pianola. Ao centro, uma série de mesas e cadeiras empoeiradas e carcomidas pelo tempo e por térmitas.  

Eu e o meu filho decidimos fazer a nossa refeição ao balcão do bar. Foi muito divertido. Eu entrei para dentro do balcão e pegando num guardanapo, peguei num copo de vidro e perguntei para o meu filho, com voz forte:

- Então, meu jovem, o que vai ser? 

Entre risos, o meu filho fez ar durão e disse: 

- Quero um copo de leite com chocolate! 

- A sair! - disse eu, abrindo uma garrafa que levava na sacola e enchendo o copo. 

Depois de cheio, lancei o copo com estilo pelo balcão, até que o meu filho o apanhou e levantou, agitando o seu chapéu de cowboy. 

- Obrigado! 

Eu ri-me e depois de limpar o balcão, coloquei comida para o nosso banquete. Como anoitecia cedo e nós queríamos passar a noite a contemplar as estrelas, aquele seria o nosso lanche ajantarado. Deixaria algumas provisões para comermos à luz da fogueira que criaríamos mais tarde. 

Saciados, eu e o Silver exploramos o local, detendo-nos na pianola. Ele sentou-se e arriscou a tocar um pouco, soltando alguns sons arrastados e desgastados. De repente, a folha da pianola rompeu-se. Uma carta amarelecida caiu ao chão. 

- Olha pai! Um bilhete! - exclamou Silver, entusiasmado! 

Foi com emoção que peguei na carta. A letra era quase imperceptível. Datava de 1856. Pelos borrões, percebi que tinha sido escrita com pena e tinteiro. A letra era-me familiar. Muito bonita e redonda, pelo que deduzi que fosse uma carta de uma mulher. 

- Pai… Preciso de ir fazer xixi! Estou apertadinho! - queixou-se Silver, saindo a correr. 

Eu estava tão embrenhado a tentar decifrar a carta que só alguns minutos mais tarde é que levantei a cabeça e me apercebi que o Silver não estava ali comigo. Assustado, chamei por ele. 

- Silver! Silver! 

Não obtive resposta. 

- Silver! Filho! Onde estás? 

Nada. 

Comecei a ficar preocupado. Os cavalos estavam no sítio onde os tínhamos deixado. Corri pela pequena cidade à procura do meu filho, sempre a gritar pelo seu nome. De repente, escuto a sua voz, ao longe. 

- Papá! Estou aqui!  

Intrigado, olho para todos os lados, mas não o vejo.  

- Olha para cima! - grita ele, com voz triunfante. 

Levanto o meu chapéu de cowboy e coloco as mãos em frente dos olhos. O sol está quase a pôr-se. O meu filho acenava para mim, sorridente, do alto do moinho de vento. 

- Silver! Desce já daí! A estrutura pode ruir! - resmunguei eu. 

Apetecia-me rir da audácia do meu filhote, mas não podia permitir que ele soubesse disso. Ele podia de facto ter corrido perigo ao fazer aquela tropelia. Ele obedeceu, com ar constrangido. Percebeu que eu ficara zangado e isso deixara-o triste. Quando chegou à minha beira, abracei-o com força e dei-lhe um beijo. Ele chorou um pouco, assustado. 

- Está tudo bem, o papá não está zangado contigo. Na verdade, foste muito corajoso! O que te deu para subires até ali?      
    
Com naturalidade, ele disse: 

- Aquele menino disse que tinha escondido uma coisa lá em cima e que eu tinha de a ir buscar! 

- Menino? Que menino? - perguntei eu. 

- Aquele ali! - apontou Silver para um local à minha direita. - Ele é o menino que escreveu a carta que tens contigo, papá! 

Confuso, virei a cabeça. O local que o meu filho apontava não tinha ninguém. Intrigado, aproximei-me do meu filho. 

- Olha lá, e o que foi que o menino te deixou lá em cima? Conseguiste encontrar? 

Orgulhoso, Silver respondeu: 

- Sim papá! Está aqui, dentro deste saquinho! 

O meu filho tirou um saco de pano muito velho do bolso dos calções. Ao entregar-mo, levantou-se uma ventania inesperada. 

- Temos de procurar um abrigo! Anda! - gritei eu, dando a mão ao Silver. 

Corremos para o salloon, virando mesas e escondemo-nos por detrás delas. O vento e a areia formaram um turbilhão que varreu a cidade durante alguns segundos. Foi tudo tão inesperado e rápido! Tão depressa se formou, tão depressa o turbilhão se desvaneceu.  

Os cavalos estavam muito agitados, mas felizmente o turbilhão não tinha atingido a zona onde eles se encontravam. Serenados os ânimos, peguei no meu filho e fomos procurar um local onde criar a fogueira para passarmos a noite. Acabamos por nos decidir ficar num descampado perto do poço.  

Depois de criada a fogueira, de colocarmos alguma comida ao lume e de nos termos lavado com a água fresca do poço, enfiamo-nos nos nossos sacos cama, totalmente despidos. As roupas ficaram a secar numa corda improvisada que criei.

O meu filho perguntou pelo pacotinho. Levantei-me e fui buscar o saco e trouxe também a carta. Aconcheguei o Silver para junto de mim, enquanto lia o que descodificara da mesma, com alguma dificuldade. 

Tudo indicava que aquela carta era uma carta de despedida de um pai que fora obrigado a deixar a cidade, depois de perder uma disputa contra outro homem. Ele deixara aquela carta ao seu amado filho, dizendo que o amava muito e que nunca o esqueceria… Ele deixara uma lembrança no saquinho, que o filho deveria guardar sempre com ele. 

Com respeito, abri o saquinho.

Lá dentro estava um pingente fechado. 

Ao abrir, deparei-me com duas fotografias: uma delas era de um rapazinho de cabelos encaracolados, cor de palha. 

A outra fotografia era um retrato meu.  




E com esta história despeço-me de 2019! 

Desejo-vos umas Felizes Entradas e que o ano 2020 seja o melhor ano das vossas vidas até hoje! 

Abreijos,

J. F. Belfort 

Corda Bamba

2019 chega hoje ao fim.

Se tivesse que definir o ano numa palavra, escolheria "Corda Bamba". Não sei se é porque estou a envelhecer - lol, todos envelhecemos, é a lei natural da vida - mas sinto que, de uns anos para cá, a vida tem ficado cada vez mais difícil e exigente. Talvez isso seja uma das consequências de crescermos e assumirmos as responsabilidades sobre a nossa própria vida.

Não vou analisar exaustivamente o meu ano pessoal. É algo que já faço com frequência no meu dia-a-dia. No entanto, vendo as coisas agora num todo, vejo como caminhei bastante este ano. Entrei no ano com um misto de sentimentos e emoções, saiu dele com gratidão e bem mais crescido do que entrei. Foi um ano particularmente complicado, tive de tomar várias decisões que influenciam a minha vida a curto e a médio prazo e nem sempre as coisas são tão lineares como gostaríamos que fossem.

Sinto que mudei, ainda que considere que em muitos aspectos esta mudança me deixe com menos sorrisos no rosto. Afinal, à medida que vamos abrindo o véu entre a realidade e a ilusão, isso tende a acontecer.

Embora feliz, saio deste ano e desta década com um vazio no coração. Já compreendi que esse vazio se manterá mesmo que eu busque outros para o preencherem. Ele está dentro de mim. Para o preencher, preciso de me focar cada vez mais em mim.

Por vezes ser egoísta é positivo. como tudo na vida, é preciso ter equilíbrio. 

Temos de aprender a viver mais em função de nós próprios e menos daquilo que os outros e a sociedade expectam de nós. Ainda vivemos num Mundo onde muito se faz à custa dessas expectativas e também dos interesses. Mas, quando estamos mal, é que vemos quantas pessoas nos estendem as mãos e quantas além disso, se esforçam para realmente nos ajudar, ao invés de o fazerem apenas para se sentirem bem consigo mesmas.

Acredito que as coisas vão mudar e cabe a cada um de nós decidir se essas mudanças virão para melhor.

Acima de tudo, é preciso mais Amor. 

Amor por nós, amor pelo próximo, amor pelo que nos rodeia.

Que no novo ano civil de 2020 possamos abrir os nossos corações e espalhar Amor... 

29 dezembro 2019

Natal Quando Se É Gay

É certo que muitos de nós já ouviram - certamente alguns até já estarão saturados de falar - da questão do Orgulho Gay. A mim, tal como a tantos de nós por esse Mundo fora, parece-nos tão comum abordar temáticas gays, encontrar-nos com outros gays e por aí adiante, que achamos que tudo vai bem.

Mas a verdade é que as coisas não são bem assim.

Começando pela situação aqui em Portugal, as pessoas de facto estão mais "abertas" e receptivas aos direitos das pessoas gays. Embora continue a ser incomum, a verdade é que cada vez mais me cruzo com casais de namorados de mãos dadas nas ruas. E isso deixa-me feliz. Afinal, até há bem pouco tempo, isso era algo quase impossível. Portugal não tem um quadro de violência homofóbica, mas que ela existe, existe. Muitos casos são abafados. Outros são dados como "incidentes pontuais", muitas vezes associados ao excesso de álcool dos agressores.

Apesar dos avanços nos direitos, existem pessoas que estão contra os mesmos. Eu acho que, a partir do momento em que não se está a invadir a liberdade individual de cada ser, as pessoas têm o direito de serem e de se expressarem do jeito que querem/são.

[Abra-se um parênteses]

Ao escrever isto, recordei-me das críticas de um colega de trabalho, no sítio onde estive a trabalhar até meados deste mês. Um dia, ele comentou com todos que ficara indignado, mesmo revoltado e com vontade de partir para a violência verbal e física por ver um casal gay que passeava de mãos dadas e que a dado momento trocaram um beijo, em plena zona ribeirinha do Porto, no fim de semana. Ele ficou incomodado porque ia acompanhado da filha pequena e achou que aquilo "era demasiado" e que se "queriam ser assim, que o fossem dentro de quatro paredes".

Esta é a realidade nua e crua em Portugal.

A maior parte dos gays ainda tem de se manter oprimido, a fim de evitar mal-estar até no local de trabalho. [Nunca revelei que era para eles, até porque era um ambiente de trabalho extremamente homofóbico]. Sei que se me revelasse como gay, o ambiente, que já de si era difícil, ficaria ainda pior.

Por vezes sinto que apesar de já ter saído do armário, para amigos e alguns familiares, por vezes parece que o meu armário se volta a fechar, ou se abro uma porta e o transponho, logo surgem novas portas, numa espécie de jogo de espelhos onde as portas se estendem quase ao infinito.

O que me custou mais é que estava a lidar com pessoas cultas, que já deveriam ter outra visão das coisas, tanto que uma das pessoas ali tinha um irmão que também era gay. Sinceramente, esperava maior tolerância e consideração. Em boa hora, talvez, não me renovaram o contrato. Foi por motivos externos à minha pessoa. As empresas cada vez mais olham-nos como números e criaturas descartáveis, mas isso será tema para outra reflexão.

O tempo que ali estive foi o suficiente para compreender que em boa verdade, as coisas não mudaram. Está tudo apenas debaixo de uma fina camada de "verniz" de tolerância. Mas, é daqueles vernizes que à mínima coisa, estalam.


[Feche-se o parênteses]


Depois de regressar às Redes Sociais, abri um facebook - se me quiserem adicionar como amigo, cliquem aqui. Ao longo do tempo tenho vindo a conversar com muitos dos contactos que me vão adicionando por lá e por vezes, nascem amizades que vão para além dos típicos pedidos de ajuda, das conversas que levam à troca de nudes e afins, etc.

Foi assim que fiquei a saber, de forma ainda mais pessoal, como é ser gay um pouco por esse Mundo fora. Afinal, que nem todos os países do Mundo aceitam, muitos de nós já sabemos. Falar com pessoas que vivem em países onde ser gay é crime, onde têm de ter todos os cuidados e mais alguns para que ninguém descubra... Isso é o tema que me levou a esta reflexão.




No Natal, ao conversar com vários desses contactos, não pude deixar de me entristecer com os testemunhos que me escreviam. Apesar dos problemas que ainda temos aqui em Portugal e por outros países, a verdade é que pelo menos podemos falar sobre eles. Talvez com menos pessoas do que aquelas que gostaríamos, mas podemos. Do mesmo jeito, temos aplicativos que nos permitem conhecer outras pessoas e quando a "fome aperta", sempre encontramos uma solução para "matar a fome". Ainda podemos expressar, como eu faço com o meu blog, aquilo que eu sou, apesar de considerar que ser gay não me define, é um aspecto de mim. Ainda assim, ser gay é algo importante para mim, pois tornou-me a pessoa que sou hoje. Todas as lutas, todas as dores, todos os amores em silêncio, todos os momentos em que tive de me esforçar para chegar até aqui, para me amar e ter orgulho no que sou. Essa é que é a verdade. Infelizmente, nem todos têm a mesma sorte.

Das pessoas com quem converso, algumas vivem o pesadelo diário de serem descobertas e de poderem ir parar à cadeia ou até mesmo serem mortas. Outras, desejavam receber um carinho de um homem de prenda de Natal, porque nunca tiveram. Pode parecer quase inacreditável, mas é a Realidade de muito boa gente. Muitos deles não tem amigos no local onde vivem, porque ser gay é errado, porque ser gay é um pecado aos olhos da cultura de muitos deles.

Antes de sermos gays, somos seres humanos. Com mais ou menos defeitos, melhores ou menos bons. Ninguém é perfeito. ninguém devia ter o poder de controlar a vida dos outros. No entanto, vivemos ainda num Mundo cheio de injustiças.

E quanto a nós, que pertencemos ao universo gay, a nossa caminhada é constante. Ainda temos um gigantesco caminho a percorrer. Saibamos valorizar o que já conquistamos, mas que nunca nos esqueçamos das pessoas que, por esse Mundo fora, ainda não podem celebrar uma época, que, independentemente das crenças e religiões, deveria simbolizar uma máxima de todos os Deuses e Credos: o Amor.


28 dezembro 2019

Alta Mar [2ª Temporada]

Alta Mar [Alto Mar] conheceu em finais de Novembro uma 2ª Temporada!

Sinopse:


Para quem não assistiu à 1ª Temporada, esta série espanhola da Netflix retrata uma viagem nos anos 40, a bordo de um transatlântico chamado Bárbara de Braganza, que faz a sua viagem inaugural entre Espanha e o Brasil! No final da 1ª Temporada, depois de várias peripécias, uma embarcação com vários náufragos pede ajuda ao navio e o capitão e os seus marinheiros aceitam resgatá-los.

Mas...


Eis uma sinopse:





A minha opinião:


A viagem entre Espanha e o Rio de Janeiro prossegue, agora com vários personagens novos para apimentar as coisas. A série perde algum do seu esplendor por conta de se focar bastante na viagem, embora os mistérios que rodeiam Cassandra - uma das náufragas que tem um papel de destaque ao longo desta 2ª Temporada - prometa manter os espectadores "colados" à série.

Cada uma das temporadas tem 8 episódios. Nesta 2ª Temporada demorei algum tempo a "entusiasmar-me", mas fiquei. A partir do momento em que me cativou, não consegui deixar de assistir aos episódios restantes, visto que os mistérios e o suspense prosseguiram, após um começo um tanto ao quanto "morno".

A história está interessante e os segredos são revelados aos poucos. Eu já assisti a ambas as temporadas e recomendo a quem for fã de histórias de época, crime, suspense e mistério à espanhola!


Nota Final João: 8/10

27 dezembro 2019

Art Sullivan - Petite Demoiselle

Mais um ícone da música que sucumbe à praga que se tornou o cancro.

Art Sullivan tinha 69 anos.

Esta música encantou Portugal nos anos 70.





Art Sullivan
22/11/1950 ~ 27/12/2019

O Raposinho Faísca 2: O Reencontro!

O Raposinho Faísca 2: O Reencontro! 🦄⚔️


Naquele dia, Faísca acordara muito feliz! O seu papá, o Rei Trovão, havia-lhe dito que ele iria ter uma surpresa muito especial!

Oh!

Esperem lá!

Vocês talvez não saibam quem é o Faísca!

Faísca era um raposinho, um raposinho muito especial. A sua pelugem, muito alaranjada, fora a grande razão para ele ter esse nome. No entanto, Faísca era especial por outro motivo. Faísca não era um raposinho qualquer – ele era o Príncipe do Reino das Raposas!

O reino das Raposas ficava dentro de uma grande e frondosa floresta, onde Homem algum havia entrado. Era um local maravilhoso. Árvores de copa frondosa, uma enorme variedade de animais e plantas coabitavam neste paraíso perdido em paz. Havia também rios e riachos de água cristalina e um lago, bem no centro do reino.

Faísca levantou-se com os primeiros raios de sol - na verdade, ele mal dormira naquela noite!

Que surpresa teriam os seus papás preparado para ele?

Trovão e Raio de Luz, o papá e a mamã de Faísca, eram os Reis do Reino das Raposas. Como Faísca tinha-se portado bastante bem desde a sua última grande aventura [muito graças ao seu Guardião, o Lobo Furacão]1, Trovão e Raio de Luz decidiram que estava na altura de recompensar o seu filhote. E nada melhor que preparar um reencontro há muito desejado! Faísca ia ficar bastante feliz!

 Toda a floresta jazia ainda semiadormecida. Uma ténue névoa encobria o lago. Como os papás de Faísca ainda estavam a dormir, este foi ter com Furacão, o seu Guardião, mas, ao chegar à sua toca...

  - Olá bom dia! Furacão, estás aí? - perguntou Faísca.

- Olá bom dia, majestade! Lamento muito, mas Sir Furacão já saiu há algum tempo! - respondeu o mordomo de Furacão, um pequeno mocho real.

- A sério? E para onde é que ele foi? - perguntou desiludido, o pequeno raposinho.

O mordomo respondeu:

- Sir Furacão não disse onde ia. Apenas mandou dizer a Sua Majestade que voltaria quando o sol estivesse no topo do céu.

Faísca respondeu:

- Ohhh... Muito bem. Obrigado!

O mordomo fez uma vénia ao raposinho e este, agradecendo uma vez mais, virou costas, cabisbaixo. Não era nada habitual Furacão sair sem ele. Muito menos sair sem lhe dizer onde ia! Faísca voltou para junto dos seus papás. Ao chegar junto deles...

- Então filho, que cara é essa? - perguntou Trovão.

- Papá, fui ter com Furacão mas ele não estava. Tinha saído e disse que só voltava quando o sol estivesse alto... - respondeu o raposinho, ainda triste.

Trovão e Raio de Luz trocam um olhar cúmplice. A mamã de Faísca passou uma pata sobre a sua cabeça, acarinhando-o. Em seguida, tenta confortá-lo:

- Tenho a certeza que Furacão teve um bom motivo para não dizer onde foi. Faísca, porque não vais tomar um banho com o papá? Esse pêlo já começa a cheirar mal... - afirma Raio de Luz, entre risos.

- Hooo! Não me apetece! - resmungou o raposinho.

Noutras ocasiões ele teria ido de bom grado, já que tomar banho com Trovão era sempre muito divertido. Mas, naquele dia, sentia que toda a gente lhe estava a esconder algo e isso começava a deixá-lo muito chateado.

- Vá, anda daí filho! Vamos lá! - ordenou Trovão.

Faísca assentiu com a cabeça, sorrindo levemente. Não valia a pena contrariar o pai. E assim, Rei e Príncipe foram até ao lago real. Chegados ao lago, rapidamente os amuos do pequeno raposinho desapareceram. Ele adorava tomar banho com o pai, já que este estava sempre disposto a alinhar nas suas brincadeiras. Por ali ficaram os dois toda a manhã. Foi uma bela banhoca, com muita brincadeira pelo meio.

Quando o sol já ia alto no céu, o Rei Trovão e o Príncipe Faísca deitaram-se nas margens do lago a secar o pêlo. Após sentirem que o pêlo estava seco e brilhante, regressaram ao Palácio. chegados ao palácio, descobriram que Raio de Luz conversava com Furacão... Mas, havia lá mais alguém!

Quem seria? Ofuscado pela luz do dia, Faísca levou alguns segundos a reconhecer quem era! Até que de repente...

- Awwww! Ventania!!! - gritou Faísca muito feliz!

- Olá Faísca! - respondeu Ventania, sorrindo.

Ventania era uma doninha de orelhas redondas e focinho curto. O seu pêlo era pequenino, castanho, mas a sua barriga era branca. Tinha uma cauda peluda, como Faísca. A doninha anã era uma amiga que Faísca tinha conhecido quando fora parar aos campos de trigo!1

A doninha e o raposinho correram para os braços um do outro e abraçaram-se. Faísca estava mesmo muito contente!

- Há quanto tempo! - exclamou o raposinho.

- É verdade, já passou quase um ano! Os teus pais quiseram preparar-te esta surpresa e por isso convidaram-me a vir passar o dia de hoje contigo! O Furacão foi buscar-me de propósito para eu não me perder! - respondeu a doninha.

Faísca virou-se para o lobo e diz:

- Ahh! Então foi por isso é que saíste de casa tão cedo e não me disseste nada!

Furacão assentiu com a cabeça e responde:

- É vvverdade meu Ppppríncipe! Fffui ter com a jovem Vvvventania a pedido dos ssseus pais! Peço dddesssculpa!

Faísca abraça Furacão e dá-lhe uma lambidela no focinho. Feitas as pazes, Faísca e Ventania passaram o resto do dia a correr e a brincar pelo Reino das Raposas!


Nota do Autor:


1 - "O Raposinho Faísca";


26 dezembro 2019

O Rei Leão: Reinar Sendo Diferente!

"O Rei Leão" foi escrito por: Irene Mecchi, Jonathan Robert e Linda Woolverton
Produzido por: Don Hahn para a Walt Disney


"O Rei Leão: Reinar Sendo Diferente!" é uma adaptação do original e escrito por mim.



O Rei Leão: Reinar Sendo Diferente! 🦄⚔️


Eu sou o Simba, um leão, filho do Rei Mufasa e da Rainha Sarabi. Nasci no Reino do Rochedo do Rei. Segundo as histórias que me contam quando vou dormir, nesse dia, todos os animais da savana se juntaram aqui, para me dar as boas vindas...

O tempo foi passando depressa. Eu tenho muito para aprender, porque um dia vou ser o novo rei. A minha melhor amiga é uma leoa da minha idade chamada Nala. Ela, tal como eu, é uma leoa diferente. Talvez por isso mesmo, ela me compreenda.

Temos um professor chamado Rafiki. É um macaco velhote, mas muito sábio. Ele conhece todas as histórias e recantos da savana. Tenho um tio chamado Scar. Eu gosto dele. Ele brinca comigo às vezes. O problema é que ele goza muito comigo, por eu ser diferente.

Quando cresci e me tornei adolescente, o meu pai morreu. O meu tio disse-me que o meu pai morreu de desgosto por ter um filho diferente. Comecei a chorar e fugi de casa. Estava mesmo triste e magoado. Andei, andei, andei...Fiquei esgotado e sem forças. Acabei por adormecer.

Quando acordei, estavam dois animais que eu nunca tinha visto a olhar para mim! Um deles era pequeno, de focinho pontiagudo e possuía manchas negras em torno dos olhos. A pelagem dele era é castanha, curta e apresentava riscas negras nas costas. O outro era grande, robusto, de pêlo longo e acastanhado. Tinha duas presas enormes à volta da boca. Ele vira-se para o mais pequeno e diz:

- Olha! Um pequeno leão!

O outro, mais pequeno, responde:

- Não, não! É um tigre!

Eu acordo sonolento. Estava esgotado. Ao ver aqueles dois animais, que eu nunca tinha visto na vida, pergunto:

- Humm? Onde estou? Tenho sede...

E eles respondem, alegres:

- Estás na selva! Quem és tu? - perguntam, olhando um para o outro.

Eu respondo, meio abatido:

- Eu sou o Simba, um leão! Fugi de casa! Ninguém gosta de mim porque sou diferente! E vocês, quem são?

O mais pequeno responde:

- Muito prazer, Simba! O meu nome é Timon! Sou um suricata!

E o maior responde em seguida:

- E eu sou o Pumba! Sou um javali!

Timon vira-se para mim e com um sorriso meigo, pergunta:

- Então temos um fugitivo, eh? Bem, nós também somos!

Pumba acena com a cabeça, divertido:

- Ah ah ah! É verdade! Fomos renegados e agora vivemos num reino só nosso! Anda daí viver connosco!

Eu viro costas cabisbaixo. Pensativo, respondo:

- Hum...não sei...

E suspiro, infeliz.

Timon aproxima-se de mim e dá-me um abraço. Olha-me e sorri para mim. Como eu não respondo nada, ele insiste:

- Vá lá, anda daí! Vamos ensinar-te a nossa canção!

E começa a cantar uma canção!

- Hakuna Matata! É tão fácil cantar!

E o Pumba continua:

- Hakuna Matata! Sim, tu vais gostar!

- Somos todos diferentes, aprende a respeitar!

- P'ra sobreviver, tens de cantar, Hakuna Matata!

- Hakuna Matata! É tão fácil cantar! Hakuna Matata! Sim, tu vais gostar!

A dada altura, embalado pela canção, eu também começo a cantar!

- Somos todos diferentes, aprende a respeitar!

E não tardaria muito, estávamos os 3 a cantar a plenos pulmões:

- P'ra sobreviver, tens de cantar, Hakuna Matata!

O tempo foi passando e eu cresci. Fiquei a viver na selva com os meus dois grandes amigos. A selva era um lugar maravilhoso! Muita verdura, um rio com água cristalina e muitos animais, que vivam em paz! Um dia, reencontrei Nala, a minha amiga de infância! Ela cresceu também!

O nosso reencontro não foi lá muito agradável... Nala, apesar de feliz por me reencontrar, trazia-me notícias do reino. E não eram boas... Com um ar muito sério, Nala começou por dizer:

- Simba, tu tens de regressar!

Eu encolho os ombros e respondo:

- Não quero! Sou feliz aqui!

Nala olha para mim chocada e diz:

- Simba! Tu nem imaginas como estão as coisas lá na savana! O teu tio trata mal todos os seres que são diferentes!

Eu tento tapar as orelhas ao que ela em diz. Fechando os olhos respondo:

- Esquece... Eu queria ter a minha liberdade, viver a minha vida... Finalmente consegui!

Ela olha para mim. Com o tempo, Nala tinha-se tornado uma leoa bastante bonita, apesar do problema que sofria. Olhando-me nos olhos, ela implora:

- Mas Simba, nós precisamos de ti!

Francamente, ela já me estava a chatear! Irritado respondo-lhe:

- Não! Ninguém precisa de mim!

Nala baixa a cabeça triste e começa a chorar.

- Está tudo destruído... Não há comida, não há água...

O teu tio renega todos os que são diferentes! Se tu não fizeres algo, vamos todos morrer!

Eu viro-me para ela sem saber o que responder. No fundo sei o que devo fazer mas...não tenho coragem. Dói demais! Decidido, respondo-lhe:

- Hakuna Matata, isso já não é problema meu!

Nala vira costas, triste e senta-se a um canto, sem olhar para mim. Eu viro-lhe costas também e suspiro. Murmuro baixinho:

- Lamento muito por ser diferente do que imaginavas...

Decido partir para outro lugar da selva. Deito-me à beira de um lago. Suspiro triste. Ter reencontrado Nala só me trouxera mais dor. Resmungo entredentes a minha sorte. De repente, Rafiki, o meu antigo professor, aparece do nada e dá-me com um bastão na cabeça!

Levo a pata à cabeça e grito:

- Aiiiii!

Rafiki olha para mim com ar reprovador e diz:

- Pára de dizer asneiras, Simba! Devias ter vergonha! O teu pai quer falar contigo!

Eu fecho os olhos e suspiro triste:

- O meu pai morreu, por culpa minha!

Rafiki dá-me com o bastão na cabeça outra vez!

Eu fico irritado e pergunto:

- Aiiiiii! Outra vez?!

Rafiki sorri. Com um ar mais leve, ele sussurra:

- Está calado e ouve a mensagem que o teu pai te quer transmitir!

Olho para o céu. O céu estava estrelado, completamente limpo de nuvens. De repente, não sei como, uma enorme massa de nuvens surge e começa a trovejar ao longe. Até que de repente...

Aparece o espírito de Mufasa! É o meu pai!

O meu pai diz, numa voz fantasmagórica e assustadora:

- Simba... Tu esqueceste-me.

Eu começo a chorar, ao ver o meu pai:

- Pai! Isso é mentira!

O meu pai prossegue:

- Tu esqueceste-te de quem és e o teu verdadeiro valor, por isso esqueceste-me também... olha para dentro de ti mesmo, Simba...

Todos temos um coração...todos somos diferentes por fora, mas, por dentro, somos todos iguais! Todos nós, sem excepção, queremos amar e ser amados! Todos merecemos ser felizes! Está na hora de regressares e assumires o teu lugar no Ciclo da Vida!

Ver o meu pai, rodeado por um intensa luz branca e dourada e rosa e azul...

Eu estava deslumbrado!

Ao ouvi-lo dizer aquilo, pergunto:

- Como posso voltar? Foi por minha culpa, porque sou diferente, que tu morreste!

O meu pai sorri e responde com ternura:

- Eu amo-te tal como és! Lembra-te disso!

E num sussurro, começa a desaparecer...

- Lembra-te disso...!

Um enorme silêncio paira no ar, enquanto os ventos e as nuvens onde o meu pai apareceu, desaparecem. Emocionado com o que vi, levanto-me. Timon, Pumba e Nala, alertados pelo barulho, tinham vindo ter comigo. Olhando para eles, limpei os meus olhos e enxuguei as lágrimas. Dou um novo suspiro. Desta vez não de tristeza, mas de determinação. E digo:

- Decidi regressar a casa e enfrentar o meu tio!

Nala, Timon, Pumba e Rafiki abraçam-se uns aos outros e começam a celebrar, abraçando-me a mim também! Não foi fácil para mim fazer o caminho de regresso a casa. Estava com medo do que ia ver e ouvir. Mas agora, sabia que o meu pai estava ali do meu lado! Que ele gostava de mim! E isso deu-me forças e coragem!

Algum tempo mais tarde, já no meu reino...

O meu tio veio ao meu encontro! Com uma voz sarcástica, entre risos, pergunta:

- Olha, olha! Que fazes tu aqui, meu cegueta de meia-tigela?

Furioso com a provocação, respondo:

- Eu vim pôr um fim ao teu reinado de terror! Quem pensas que és para tratar mal os outros seres? Tens que aprender a respeitar! E a aceitar as diferenças!

O ar presunçoso desaparece do rosto do meu tio. Irritado, ele aproxima-se de mim e diz:

- Seu idiota! Eu sou o Rei da Savana! Eu sou o leão mais poderoso!

Rafiki aproxima-se bastante zangado. Empunhando o seu bastão, exclama:

- Agora chega! Isso não é possível! Tu nem sequer és um leão! És um tigre!

Todos os animais que estavam a assistir ao nosso confronto exclamam espantados! Incrédulo, eu pergunto:

- O quê? Isso é verdade? Como sabes disso?

Rafiki vira-se para mim e responde:

- Eu sei disso porque conheço as histórias de toda a savana! Tu (vira-se e aponta o dedo para Scar) foste rejeitado pela tua família por seres diferente! E agora, tratas mal todos os que são diferentes! Com que direito o fazes? Depois de tu mesmo teres sido rejeitado?

Eu olho para o meu tio, cada vez mais zangado! Como era possível? Todos estes anos, ele tinha feito de conta que era um leão! Olhando para ele, afirmo:

- Isso é errado! Somos todos diferentes, todos iguais!

O meu tio vira costas. Sobe até ao rochedo mais alto do reino. E de lá berra, irritado:

- Chega dessa conversa! Desaparece daqui! Não quero ouvir nem mais uma palavra! Já não chega teres morto o teu pai, Simba?

Todos os animais olham para mim e começam a murmurar entre si. Eu coro até à raiz dos cabelos... Aquela verdade... Aquela verdade atormentava-me desde o dia em que o meu pai tinha morrido...

Rafiki exclama indignado:

- Isso é mentira! Mufasa morreu porque estava doente! Não foi por causa do Simba!

Scar começa a rir-se. Eu começo a chorar. A verdade. Finalmente, eu sabia a verdade. Um misto de sentimentos aflora no meu coração.

- Todos estes anos... Eu senti-me culpado pela morte do meu pai!

Scar começou-se a rir, bastante malévolo:

- Mwahahahahahahahah! A sério? - pergunta, irónico.

A raiva dentro de mim estava prestes a explodir! Quase a descontrolar-me, eu resmungo, entredentes:

- Grrrrrrrrrrrrrr...! Renuncia ao trono Scar, JÁ!

O meu tio olha-me com desprezo e diz:

- Oh meu querido sobrinho.... Governar não é fácil, sabes?

Eu olho-o nos olhos. Sabia o que ele pretendia. Se eu o atacasse, ele ganharia motivos para virar o jogo a favor dele! Não lhe ia dar esse prazer! Dou um passo em frente, rumo a ele. Determinado, rosno:

- Rápido!

Os restantes animais, ao verem-me agir assim, de forma sensata, decidem apoiar-me. Todos se aproximam de Scar com olhares furibundos pelas maldades que ele praticou na savana.

Suspirando, o meu tio encolhe os ombros. Ele sabia que perdera. Tinha todos contra si, uma verdadeira rebelião. O pior pesadelo de um ditador como ele. Contrafeito, responde:

- ....... Está bem...

Eu aproximo-me dele já mais calmo. Fecho os olhos e pergunto:

- ....... Tio... Custa ser diferente, não é?

O meu tio baixa a cabeça e responde triste:

- Dói muito, sermos tratados de forma diferente... Não tenho culpa de ter nascido assim... No entanto, é mais fácil para os outros rejeitarem-me, em vez de aceitarem-me...

Coloco uma pata sobre os seus ombros. Eu sabia o que custava ser rejeitado. Com um pequeno sorriso afirmo:

- Eu perdoo-te. Afinal, somos todos diferentes.

O meu tio, emocionado, faz-me uma vénia e ajoelha-se diante de mim dizendo:

- Nunca pensei que me perdoasses depois de tudo o que fiz...

Eu sorrio feliz e declaro:

- Espero que tenhas aprendido a lição!

Ele sorri para mim e numa voz mais calma diz:

- Aprendi sim. Espero que os outros me possam perdoar pelas maldades que fiz!

Eu ajoelho-me e o meu tio Scar coloca-me a coroa na cabeça!

Tornei-me o novo Rei!

Felizes e a sorrirmos, eu e o meu tio abraçamo-nos.

Os meus amigos perdoaram ao meu tio também.

Os restantes animais da savana depressa esqueceram as malvadezas do meu tio. A partir daquele dia, ele tornou-se um tigre humilde e bastante trabalhador, para compensar os erros que cometera no passado. A vida na savana continuou. Agora somos todos felizes!

Lembrem-se sempre:

Hakuna Matata! Somos todos diferentes, aprende a respeitar!


25 dezembro 2019

Feliz Natal!

Desejo-vos um Feliz Natal, fazendo votos de que se encontrem bem, felizes, com Saúde e que possam passar este momento com pessoas especiais para vocês!

alam-wernick









enzo-carini


Foram bons meninos? Sim?!
Então merecem mais prendas!! =P






Abreijos Natalícios para vocês!

24 dezembro 2019

Mariah Carey - All I Want For Christmas Is You

O Raposinho Faísca

O Raposinho Faísca 🦄⚔️


Era uma vez um raposinho chamado Faísca. Faísca era um raposinho muito especial. A sua pelugem, muito alaranjada, fora a grande razão para ter esse nome. No entanto, Faísca era especial por outro motivo. Faísca não era um raposinho qualquer - ele era o Príncipe do Reino das Raposas!

Apesar do seu estatuto, e de nada lhe faltar, Faísca não era feliz. Os seus pais passavam a vida ralhar-lhe e a dizerem-lhe:

- "Faísca, não faças isso!"

- "Faísca, não toques nisso!"

- "Faísca, não te metas em sarilhos!"

O pequeno raposinho acenava com a cabeça e baixava a cauda, submisso. Ele ficava triste perante tantas ordens, mas sabia que era um Príncipe, e como tal tinha de mostrar sempre uma boa imagem perante os seus súbditos.

Uma vez por ano, a sua pelugem muda de cor. Da Primavera até ao final do Outono, Faísca tinha uma pelugem arruivada, cor de fogo. Porém, quando chegava o Inverno, o seu pêlo mudava de cor e ficava branco, um branco tão branco como a neve que cobria todo o reino das Raposas.

O reino das Raposas ficava dentro de uma grande e frondosa floresta, onde Homem algum havia entrado. Era um local maravilhoso. Árvores de copa frondosa, uma enorme variedade de animais e plantas coabitavam neste paraíso perdido em paz. Havia também rios e riachos, de água cristalina e um lago, bem no centro do reino.

Num bonito dia de Verão, o papá de Faísca levou-o à caça pela última vez. As raposas caçam em conjunto até meados do Verão. Depois dessa altura, os papás e as mamãs raposas acreditam que os seus filhotes já serão capazes de caçarem por si mesmos. Faísca, embora fosse um Príncipe, não ia ser excepção! O Rei Raposo e o seu Príncipe Faísca gostavam muito de estar juntos, pois passavam sempre momentos muito divertidos!

O pequeno raposinho gostava de explorar todas as tocas que encontrava. Por vezes, ele tinha sorte e encontrava alimentos, que trazia orgulhoso, como se fossem troféus, para mostrar aos seus pais. Outras vezes, Faísca tinha surpresas...um bocadinho "desagradáveis".


Naquele dia, Faísca andava à caça com o pai, quando de repente, perdeu-se! Faísca andou, andou, andou... Quanto mais farejava, menos compreendia! Aqueles cheiros que lhe vinham ao focinho eram completamente novos! Após muitas patadas, Faísca foi parar a um lugar com um grande campo dourado!

- "Que lugar será este?" - perguntou a si mesmo.

Curioso, ele decide explorar um pouco aquele território. Aquela erva estava quente e húmida ao mesmo tempo. Era engraçada. Quando o vento lançava uma brisa, toda a erva balançava na mesma direcção. Faísca saltitava, divertido.

- "Uau! Isto é giro!" - pensava o raposinho.

O raposinho sabia que estava a quebrar uma das regras mais importantes de todas – não podia deixar o reino das Raposas sem o consentimento dos seus pais. No entanto, naquele momento, Faísca queria apenas gozar o momento, o primeiro momento em que gozava de total liberdade. Ele sentia-se feliz.

O dia estava bonito. O sol, quente mas agradável, iluminava aquele dia, num céu azul, muito azul, com algumas nuvens a passearem tranquilamente. Faísca, a dada altura, sentiu-se sozinho e aborrecido. Queria brincar, mas não tinha com quem!

Então, ele pensou:

- "Porque não brinco sozinho?"

E assim, o pequeno raposinho começou a rebolar-se no campo de trigo. O trigo, contendo restos do orvalho da madrugada, refrescava-lhe a longa pelugem ruiva, aquecida pelo sol.

- "Ahhh! Que fresquinho!" - suspirou.

Completamente feliz, Faísca deixou-se estar deitado de barriga para cima, de patas para o ar, a tentar agarrar as nuvens. Faísca sentia-se em paz.

- "No reino das Raposas não existe nenhum lugar assim, nunca vi nada igual! É tudo muito castanho e vermelho no Outono, mas neste tom dourado...nunca vi!" - exclamou feliz.

Lá no alto, as nuvens corriam, sem pressa, umas atrás das outras. O raposinho começou a divertir-se a imaginar animais que conhecia do seu reino, com as formas que as nuvens faziam. Borboletas, andorinhas, pombas, rolas, coelhos, galinhas...

De repente...

GRRRROOOOOOOAAAAAAARRRR!

A barriga de Faísca reclamou! Ele apercebeu-se que estava com fome! Faísca começou a procurar comida. Uma mistura de cheiros, estranhos e agradáveis, vinha de encontro ao seu focinho. Recomeçou a andar e a farejar...
Entretanto, no reino das Raposas, o papá de Faísca começava a ficar preocupado. Já tinham passado 3 horas desde a última vez que vira o seu filhote. Regougara1 inúmeras vezes, chamando por Faísca. Mas ele nunca havia respondido de volta!

Trovão era o rei das Raposas. O rei que nunca tinha medo de nada, estava preocupado e amedrontado! Teria algum animal feito mal ao seu filho? Estaria Faísca ferido, preso em alguma armadilha dos Homens? Nunca nenhum Humano havia chegado até ao Reino das Raposas, mas nunca se sabe! Decidiu começar a guiar-se pelo seu instinto. O Faísca era curioso, talvez curioso demais para um raposinho tão jovem. Começou a farejar...


*Enquanto isso, no campo...*

...Faísca começara a encontrar tocas! Mas, para azar dele, todas as tocas que encontrava, estavam vazias!

De repente...

O raposinho meteu o focinho numa toca e..."cabouummmm!!!"

Um cheiro indescritível, desconhecido, invadiu-lhe as narinas!

- "Aiii! Que cheirete!" - gritou Faísca.

- "Quem está aí? Afasta-te ou lanço mais!" - exclamou uma voz, zangada.

- "Eu afasto-me! Não lances mais!" - respondeu Faísca, com uma das patas a tapar o focinho.

O Raposinho recuou e saiu da toca, com os olhos ainda vermelhos, cheios de lágrimas, pois ficara muito assustado e aquele cheiro era realmente nauseabundo! Passado um bocadinho, a dona da voz desconhecida apareceu, saindo da toca. Era uma doninha!

- "Olá! Peço desculpa se te assustei..." - começou Faísca.

- "Olá! Eu também te peço desculpa, pensei que eras um cão dos Humanos que por vezes aparecem por aqui.

- O meu nome é Ventania! E tu?" - perguntou a doninha.

- " Eu sou o Faísca! Andava à caça no Reino das Raposas com o meu papá, mas perdi-me... E vim dar a este lugar! É tudo tão bonito... Nunca tinha visto um campo assim!" - respondeu o raposinho.

Ventania era uma doninha de orelhas redondas e focinho curto. O seu pêlo era pequenino, castanho, mas a sua barriga era branca. Tinha uma cauda peluda, como Faísca. A doninha anã ouviu a história do raposinho, sem o interromper. Ele ainda estava um pouco assustado, mas à medida que falava, ia-se acalmando e ficando mais animado. A dada altura, porém, a barriga de Faísca voltou a roncar!

- "Ups! Ainda não comi nada desde que saí de manhã!" - exclamou o raposinho, envergonhado.

Ventania começou a rir-se divertida e Faísca acabou por rir também, por entre roncos da sua barriga, que exigia comida!

- "Espera um momento, vou buscar algo para tu comeres!" - respondeu Ventania, ainda a rir.

Passados uns minutos, a doninha anã regressou da sua toca. Trazia nas suas patinhas uma grande quantidade de bagas, alguns insectos e um pedaço de carne. Faísca olhou para ela espantado! Como podia ela ter trazido tanta comida?

- "Toma! É para ti! Bom proveito!" - declarou Ventania.

- "Obrigado! Nham nham nham! Está mesmo bom!" - respondeu Faísca, bastante feliz.

Depois de encher a barriga, Ventania explicou a Faísca qual o caminho para regressar ao Reino das Raposas. Faísca olhou para ela triste. Nunca se tinha separado de um amigo. O seu pequenino coração sentia-se apertado. Ele seguia Ventania distraído, a pensar em tudo o que tinha acontecido naquele dia.

A dada altura, Ventania parou no caminho. Faísca, que vinha atrás dela, distraído, embateu contra ela! Mais uma vez, levou com um pivete indescritível no focinho! Olhando um para o outro, começaram os dois a rir! Faísca perguntou:

- "Ventania, tu és uma boa amiga! Vou sentir saudades tuas! Não queres viver no meu Reino?" - perguntou Faísca.

Ventania sorriu e baixando a cabeça disse:

- "Obrigado pequeno raposo, mas não posso. O meu lugar é aqui, nos campos de trigo! No lugar que em todos os Verões fica dourado como o sol!"

Faísca insistiu, baixando a cabeça levemente corado:

- "Mas... Mas... Eu... Eu vou sentir... Saudades tuas... Eu...vou sentir a tua falta..." - replicou Faísca, tentando controlar as lágrimas que enchiam os seus lindos olhos amarelados.

Ventania aproximou-se de Faísca e pegou numa pata dele. Deu-lhe uma lambidela e encostou o focinho dela ao seu. Olhando-o nos olhos, respondeu:

- "Voltaremos a ver-nos! Um dia destes vens visitar-me! E eu também irei visitar-te! Prometo-te!" - sussurrou Ventania.

- "Prometes?" - perguntou Raposinho.

- "Sim! Vá, agora vai! O sol já está a descer! Daqui a pouco fica noite!" - respondeu Ventania, escondendo o focinho entre as patas, para que Faísca não a visse a chorar.

Faísca virou costas e começou a correr, na direcção que Ventania lhe tinha indicado. O raposinho, a dada altura, voltou a cabeça para trás, e viu que Ventania lhe acenava com as patinhas dianteiras, dizendo-lhe adeus. Faísca retribuiu o gesto, acenando com uma das suas patitas e abanando a cauda.

Começou a correr, veloz como o vento. O céu estava cor de fogo. Não faltava muito para a noite chegar. Quem ganharia a corrida? A noite ou o raposinho? Faísca corria o mais que podia, mas o céu ia ficando cada vez mais escuro. A dada altura, um mocho piou ao longe.

A noite chegara. O céu, completamente limpo, enchia-se de muitos pontinhos brilhantes, incontáveis, aos quais Raio de Luz, a mamã de Faísca e Rainha do Reino das Raposas, chamava de estrelas. A lua, com a forma de uma bola grande, redonda e brilhante, começara a subir o céu. Ao longe, o raposinho começou a ouvir cigarras, grilos, mochos, corujas, sapos e rãs...os habitantes nocturnos começavam o seu "dia". Alguns morcegos despertavam do seu sono e esvoaçavam, dispersos. Ao verem Faísca, gozavam com ele, cantando:

- "Estás perdido! Estás tramado! Com o nosso alarido, ficas todo amedrontado!" - entoavam divertidos, todo o bando de morcegos.

Tentavam assustá-lo e de facto conseguiram! Ele estava com muito medo! Desesperado, Faísca começou a regougar1, esperando que o eco chegasse até alguma raposa! Após várias tentativas, começou a ouvir um estranho ulular2!

O estranho uivo voltara a repetir-se, tantas vezes quantas Faísca tinha lançado. O raposinho recomeçou a correr, em direcção ao estranho som. Apesar de desconhecido, ele sentia segurança, sentia que era uma voz amiga. Quem seria?

Depois de uma longa corrida, apercebe-se que o estranho som estava a ficar cada vez mais alto. A lua já estava bem no meio do Céu, e ia iluminando o seu caminho. De repente, Faísca avista um animal de médio porte, maior que ele, sentado em cima de um rochedo, com a cabeça virada para a lua. O animal não tinha dado pela sua presença. O raposinho, ao vê-lo, regougou1, a medo. O animal, ainda oculto pela luz da lua, respondeu de volta, ululando2. Faísca percebeu de imediato que tinha encontrado ajuda!

O animal virou a cabeça para ele e, espantado, perguntou-lhe:

- "FFFFFFaísca? QQQue fazes tu aqqqqquii?" - perguntou admirado.

- "Como sabes o meu nome? Quem és tu?" - perguntou Faísca, muito admirado!

O animal desceu do rochedo e sorriu para Faísca, passando uma pata sobre a sua cabeça. Sorrindo para o pequeno raposo, respondeu:

- "O meu nome é FFFFuracão! Nnnnão me rrrreconheces? Sou um dos lobos que guarda a fronteira do reino das Raposas! QQQue fazes tu aqqqqquii? Os teus pais andam desesperadosss à tua ppprocura!"

Furacão era um lobo de aspecto feroz. Com o pêlo grande, eriçado, parecia assustador! No entanto, Faísca já se apercebera que ele não era um lobo mau! De pelugem castanha, orelhas pontiagudas e longa cauda, Furacão impunha respeito. Faísca lá lhe explicou a sua aventura, contando todos os pormenores.

Furacão riu-se muito com as histórias de Faísca. Ainda mais quando o raposinho lhe contara o encontro com Ventania. Quando terminou, Furacão disse a rir:

- "Mas que grande aventura para um rrrraposinho tão pequenino! Está na hora de irmos para casa!"

- "E tu podes levar-me?" - perguntou Faísca, quase a chorar de alegria.

Furacão acenou com a cabeça. Ululou2, mas desta vez o som soava diferente! Em resposta, Furacão e Faísca ouviram vários regougares1!

Furacão virou-se para Faísca e disse:

- "Osss GGGGuuuarrrrdas RRReais e os teus papás já sabem que estás aqui comigo! Vamos embora!" - exclamou Furacão, decidido.

- "Sim!" - Respondeu Faísca, acenando com a cabeça.

De imediato, Furacão e Faísca começaram a correr. Os pirilampos começaram a iluminar o caminho.

Os sapos e as rãs coaxavam no lago que existia no centro do reino, encorajando o nosso pequeno herói! Já faltava pouco!

Pelo caminho, mais animais se juntavam àquela dupla, que rapidamente se tornou numa pequena multidão! Não demorou muito para que Faísca, Furacão, pirilampos, lobos, coelhos, raposas, mochos, corujas e outros animais, chegassem ao Palácio Real, onde Trovão e Raio de Luz (o papá e a mamã de Faísca) aguardavam ansiosos!

Quando Faísca chegou a casa, foi uma grande alegria para todos! Faísca correu para as patas dos seus papás a chorar! Trovão e Raio de Luz abraçaram o seu raposinho, muito felizes! A rirem e a chorarem ao mesmo tempo, não o castigaram! Estavam demasiado felizes por terem reencontrado o seu amado Príncipe, são e salvo! Faísca pediu desculpas aos seus papás e prometeu não repetir a façanha! (Aqui entre nós, Faísca cruzou os dedos da patinha esquerda enquanto prometia isso!).

Depois da promessa e de todos estarem mais tranquilos, o Rei Trovão decidiu fazer uma grande festa! Durante a festa, Furacão foi promovido a Guardião de Faísca! A partir desse momento, Faísca e Furacão tornaram-se grandes amigos e companheiros! Anos mais tarde, o pequeno raposinho cresceu e tornou-se o novo Rei do Reino das Raposas, sem nunca se esquecer dos seus amigos e das aventuras que viveu com eles!


Notas do Autor:

1 - Regougar - nome atribuído ao latido que as raposas produzem quando comunicam umas com as outras.

2 - Ulular - nome atribuído ao latido que os lobos produzem quando comunicam uns com os outros.





23 dezembro 2019

Um Assalto Atribulado!

Um Assalto Atribulado! 👻⚔️☄️🐉💢🚀



- Porra, não consigo fazer nada de jeito! - queixei-me para mim mesmo, mirando-me ao espelho. 

- Anda lá... Estás à espera de quê? Aproveita! Esta é a tua grande oportunidade! - respondeu o meu reflexo, apontando com o queixo para uma caixa de pastilhas que estava pousada na mesinha de cabeceira. 

- Será seguro? - perguntei a medo. 

- Só saberás se usares! Vá! Deixa de ser um merdas! 

- Está bem, está bem! - resmunguei. 

Por fim decidi-me. Iria experimentar as pastilhas que me tinham dado na última festa onde estive. Por vergonha não o fiz nessa altura, mas hoje estou finalmente decidido a fazê-lo. Quero impressionar a Jéssica, a miúda por quem o meu coração bate mais depressa. Prometi-lhe uma surpresa.  

- Vou assaltar a joalharia da esquina! Aquilo tem pouca ou nenhuma segurança! Deve ser fácil! “Fano” um colar e um anel e prontos! Ela cairá a meus pés! - comentei para o meu reflexo do espelho.  

Este assentiu com a cabeça e sorriu, assim que me viu a pegar na caixa e a tirar uma pastilha. Deixei passar alguns minutos. Não senti nada de especial. Estava tudo na mesma. Intrigado, tomei outra pastilha. Quinze minutos depois, estava a tomar a terceira pastilha. Desanimado por não sentir os efeitos que ambicionava, ao fim de meia hora emborquei a caixa toda! As pastilhas eram doces e eu sou guloso, por isso... 

Uma hora depois, a euforia chegou! Não sei explicar de outra maneira. Senti um arrepio delicioso pela espinha abaixo! Depois disso, uma explosão de alegria rebentou no meu peito e senti-me capaz de tudo! Tudo me parecia fácil! Pensar que ia assaltar a joalharia aqui da terra pareceu-me uma verdadeira brincadeira de crianças. Assim, vesti-me a rigor, com um fato preto, totalmente esponjoso, para me esgueirar para dentro da loja. Procurei um maçarico para arrombar uma janela nas traseiras da loja. Depois de encontrá-lo, certifiquei-me que funcionava. Não sei como, mas aquilo de repente queimou-me as pestanas, pelo que entendi que sim, que estava a funcionar. Depois de tudo preparado, saí de casa apetrechado e pronto para o assalto que me faria conquistar o coração de Jéssica, uma mulher-polícia. Ela é a primeira mulher-polícia aqui na terra. É mais velha do que eu, mas o que importa isso?      

O caminho até à joalharia parecia estranhamente calmo. Parecia que estava a caminhar sobre nuvens, tal era a leveza que estava a sentir ao caminhar! De repente, um pónei surgiu à minha frente! Ele virou-se para mim e com olhar sério questionou: 

- Olha lá, ó rapaz! Se queres passar, tens de responder às minhas questões! 

Intrigado, encolhi os ombros e segui em frente! O pónei virou-me costas, levantou a cauda e lançou um bruto monte de cocó! Cocó arco-íris! 

- Hey! Seu badalhoco! - resmunguei. 

- O que foi que me chamaste? - perguntou um grande monte de cocó arco-íris, que de repente ganhou dois olhos e uma boca. - Nunca fui tão insultado na minha vida! Toma! Toma! Toma! 

- Mas que cena estranha! - gritei. 

O monte de cocó mandava montes de cocós mais pequenos que, irritados comigo, também lançavam mais e mais montes de cocó! A dada altura, eu já estava rodeado de cocós luminosos por todos os lados! Tentei correr dali para fora, mas se estava rodeado pelos cocós, ainda tinha o pónei à frente deles todos , rindo-se divertido ao ver-me a cair e a ficar todo colorido com arco íris viscoso por todo o meu fato preto de espuma! 

- Bolas! Pónei! Ajuda-me! - supliquei. 

- Assim está melhor, assim está melhor! - assentiu o pónei, assobiando.  

Todos os cocós se juntaram ao monte maior e depois de unidos, eles entraram pelo rabo do pónei, que relinchou de agrado. Ao abanar a sua crina, o pónei inquiriu: 

- A tua adivinha é esta: o que está ao alto, mas do alto não pode sair? Só tens uma chance, por isso pensa bem! 

- Era o que mais me faltava... - resmunguei entredentes. - Não faltava levar com cocó arco-íris, agora um pónei armado em esfinge... - Olha lá, se eu errar, o que me acontece? 

- Não queiras saber a resposta.... - ameaçou o pónei, andando de um lado para o outro, impaciente. - Vá... Não te demores a dar uma resposta! Tenho mais que fazer! 

Decidi tentar a minha sorte: 

- Senhor pónei lindo, que até jorras arco-íris... Será que me podes fazer a gentileza de me ceder a passagem? Ficava-te muito grato! 

O pónei pareceu emocionado e agraciado ao escutar-me. Sorriu e respondeu: 

- Obrigado... Mas não! Tens de tentar, senão não sabes o que te espera! 

Aborrecido, suspirei impaciente! Qual seria a resposta que ele queria ouvir? 

- Porra! Pode ser tanta coisa! Tanta coisa está ao alto e não pode sair! Um poste? Uma bandeira? Um estandarte? 

O pónei transformou-se à minha frente. De repente, aquele pónei esquisito transformou-se num enorme cavalo preto, com crinas em chamas e com uma voz profunda como o trovão, respondeu: 

- Seu idiota! A resposta era... As estrelas! Elas estão no alto do céu e do alto do céu não podem sair! És mesmo idiota! Agora... o castigo!!! 

De repente, o cavalo negro abriu umas asas gigantes e aproximando-se de mim, atirou-me para cima dele e levantamos voo! Eu tentei agarrar-me à crina, mas esta era fogo puro! Sem saber como e o que fazer, deixei-me levar, branco como cal!  

O cavalo elevou-se no ar! A grande velocidade, irrompeu pela joalharia, causando um enorme estrondo! Montes de jóias caíram no meu colo, à medida que rajadas de vento provocadas pelo cavalo atiravam-nas para cima dele e de mim! 

- Uau! Tantas jóias! Bravo! - gemi, mal acreditando na minha sorte! 

De repente, o cavalo deu um coice! Eu não estava a contar com aquilo e caí ao chão, que se abriu! Seria um alçapão? O cavalo riu-se com ar divertido:  

- Este é o teu castigo, homenzinho! Adeus! 

O cavalo partiu com as jóias e eu caí num poço sem fim! Luzes fantasmagóricas rodeavam-me! Uma serpente apareceu e do nada, abriu a sua bocarra e engoliu-me inteiro! Eu gritei, mas o meu grito foi abafado assim que ela fechou a boca! 

Rapidamente as luzes fantasmagóricas deram lugar à escuridão! 

Eu gritei, mas da minha boca não saía nenhum som! Intrigado, ouvi uma voz a dizer: 

- Não consegues gritar porque estamos em greve! Não nos respeitas!  

Admirado, voltei-me a ver quem estava a falar! Qual o meu espanto ao deparar-me com uma centena de palavras, “aiii”, “uiii”, “socorro”, “alguém me ajude”, a segurarem placas a reivindicar o direito à sua liberdade, sem estarem condenadas a apenas serem usadas em situações limite. 

- O que querem que vos faça? - pensei. 

- Agora entendes a nossa situação! - gritaram elas, satisfeitas! - Pois agora é tarde demais! Vamos fugir daqui! Já não trabalhamos mais para ti, escumalha! Vai tentar gritar para o raio que te parta! 

E dito isto, um trovão ecoou no céu e de repente, um raio de luz atingiu-me em cheio....            

- Doutor? Acha que ele está bem? - uma voz feminina, preocupada, passava a mão pelo meu rosto. 

Eu não sei onde estava. Não conseguia abrir os olhos. Não sentia o meu corpo. Mas, de uma coisa estava certo! Aquela voz era-me familiar! Pois claro! Era a Jéssica! A minha amada Jéssica!  

Alguém respondeu-lhe, em tom sério:  

- Ele tomou alguma coisa muito forte... De acordo com os seus colegas, ele estava a rebolar-se no chão da joalharia, todo nu, agarrado a sacos com caganitas de cabra, enquanto gemia algo incompreensível...  Ele tentou assaltar a joalharia, até colocou o alarme cheio de lama para abafar o barulho, mas os seus colegas aperceberam-se de algo enquanto faziam a ronda nocturna e depararam-se com isto... O caso dele tornou-se irreversível devido ao uso excessivo de drogas de uma só vez... Ele ficará assim vegetativo, até ao fim.  

Jéssica ficou em silêncio durante algum tempo. Depois disse, com voz calma e serena: 

- Entendo, doutor! Bom, faça o que tem a fazer. Acabe com o sofrimento dele! 

- Muito bem! - assentiu o médico, injectando um líquido transparente no soro. 
  



22 dezembro 2019

Nem 8, nem 80!

Nem 8, nem 80! ☄️💘



Soube que a minha vida iria ser diferente da vida de outros meninos, ainda não tinha nascido. Certo dia, a minha mãe foi a uma consulta de rotina, coisas de grávidas. Nessa consulta, o médico colocou um aparelho que ressoou na casa onde eu vivia. O barulho era assustador! Eu estava a dormir e com o susto, pontapeei algo. A minha mãe gemeu. De repente, escutei o médico a dizer-lhe: 

- Senhora, eu lamento muito por informar-lhe… Os tratamentos de fertilidade que fez com o seu esposo deram certo, mas o seu filho sofre de nanismo… 

Escutei um grito, vindo da minha mãe. Esse grito foi abafado por um abraço terno. O meu pai sussurrava algo à minha mãe, mas não consegui escutar o que lhe disse. Ela, depois do choque inicial, acabou por se acalmar e chorava em silêncio, enquanto o médico explicava aos meus que iria acontecer. 

Não sei quanto tempo se passou desde essa fatídica tarde. Eu acabei por adormecer pouco depois, até ao dia em que fui forçado a sair da minha casa. E foi aí que começou a minha derradeira aventura.  

Os meus pais estavam preparados para me acolher. Quando me viram, sorriram para mim, apesar de eu berrar a plenos pulmões! Estava um frio de rachar e eu queria voltar para o conforto da minha casa! Rapidamente me colocaram numa casa nova, onde me senti aconchegado e quentinho. A minha mãe não tardou a alimentar-me, embora sentisse que estava ainda em choque com o facto de eu não ser exactamente como ela esperava. O meu pai evitou olhar para mim. Verdade seja dita, assim que me viu, ele perdeu os sentidos e teve de ser amparado por várias pessoas.  

Passado o choque inicial, por motivos que na altura desconhecia, os meus pais decidiram chamar-me Bernardo. Cedo tornei-me o centro das atenções de muita gente, que vinha visitar-nos enquanto lamentavam baixinho a partida que o destino causara aos meus pais. Os anos foram passando. Depois de muitas conversas, ficou decidido que iniciaríamos uma vida nova noutro local. Pelos vistos, eu e os meus pais vivíamos numa terra pequenina e eles estavam cansados de tanta bisbilhotice por minha causa. Deixamos aquela aldeia e fomos viver para uma cidade grande, quando eu fiz seis anos. Era intenção dos meus pais colocar-me numa escola pública onde eu pudesse estudar e passar menos despercebido - embora eles estivessem conscientes que um rapaz anão jamais passaria despercebido. 

As crianças conseguiam ser muito cruéis umas com as outras. Todos os meninos e meninas eram chamados de alguma coisa: gordo, trinca-espinhas, caixa d´óculos, coelho, anão. Quando os outros meninos me começaram a chamar de anão, eu não me importei. Na verdade, eles estavam a dizer a verdade. Eu era anão! Os meus braços e pernas eram mais pequeninos que os deles. A minha cabeça era mais achatada e por vezes eles gozavam comigo por causa disso. Mas eu não me incomodava com isso. Pensava que eles gostavam de mim e me aceitavam do jeito que eu era. Como eu não conseguia correr muito depressa, cedo afastaram-se de mim e colocaram-me de lado. 

Um dia, durante um intervalo, uma menina veio ter comigo e convidou-me para ir brincar com ela e com as amigas dela. Durante alguns dias ainda nos divertimos juntos, mas a verdade é que elas não eram melhores que os rapazes. Na verdade, fiquei com a impressão que eram ainda piores que os meninos. Obrigavam-me a vestir roupas de menina, pintavam-me e depois eu tinha de andar a passear pela escola vestido assim, perante risos e gargalhadas delas e dos meninos, quando passavam por mim. Tudo isto terminou quando uma menina veio contra mim. 

- Vê lá por onde andas! - resmungou ela. 

- Desculpa! Foi sem querer! - guinchei eu, envergonhado. 

- Ohhh…. Está bom! Como te chamas? 

- Eu sou a Bianca! E tu? 

- Eu sou o Bernardo! 

A Bianca era uma menina muito bonita. Ela tinha longos cabelos castanhos, cor de chocolate, encaracolados. Os seus olhos eram castanhos-aveludados e ela, ao aperceber-se que eu estava a ser motivo de chacota por parte de outras crianças, pegou-me pela mão e levou-me para uma sala de aula. 

- Porque deixas que te façam isto? É errado! Vamos fazer queixa à senhora directora! - declarou Bianca, sem demora. 

Eu chorava, assustado. Eu ia ser castigado e os meus pais iriam ficar tristes comigo. Insisti com Bianca para me deixar ir, que estava tudo bem, mas ela não o permitiu. Fizemos tanta algazarra que a directora da escola veio à sala ver o que se passava. 

- Bianca, o que se passa aqui? - perguntou a directora. 

- Mamã, este menino estava a ser obrigado a vestir-se de menina! - guinchou Bianca, colocando-se à minha frente, qual cavaleira a defender o seu príncipe! 

A directora sorriu e ajudou-me a retirar as roupas que me causavam desconforto. Em seguida, pegou-me pela mão e levou-me aos lavados, onde me lavou a cara e encaminhou para a sala de aula. Bianca acompanhava-nos em silêncio, com os olhos vermelhos de lágrimas. Antes de entrar na sala, virei-me para trás. Bianca já tinha virado costas. Chamei-a, timidamente. 

- Bianca! Muito obrigado! - disse-lhe eu, com um pequeno sorriso. 

Não tens de quê! Não deixes que se aproveitem de ti! Tu és um rapaz especial! Nunca te esqueças disso! Adeus! - rematou ela, dando a mão à mãe. 

Quando cheguei a casa no final desse dia, os meus pais já sabiam o que havia acontecido na escola. Não me resmungaram. Na verdade, levaram-me para jantar fora e até comemos gelado.  

Muitos anos passaram-se desde essa altura. Hoje em dia, estou no último ano do ensino secundário. Posso ser anão, mas isso não me impediu de ser um estudante exemplar. Desde aquele episódio na minha infância, perdi a conta ao número de escolas que frequentei. 

É incrível a quantidade de pessoas que ainda me olha com espanto. Outras com desprezo. Verdade seja dita, por mais que tente, eu não passo despercebido em lado nenhum. Alturas houve em que desejei ser como as outras pessoas. No entanto, ser anão tem as suas vantagens. Vejo o Mundo sob uma perspectiva diferente da maioria. Consigo furar filas. Embora tenha muita gente que goza comigo, também tenho muita gente que brinca comigo e me trata com respeito e carinho. 

O dia de hoje foi particularmente difícil. 

O teste de Filosofia era intrigante, apesar de ser uma disciplina que até gosto bastante. Na aula de História troquei as datas e na cantina tropecei numa mochila, acabando por sujar a roupa de uma rapariga de longos cabelos pretos. Uma rapariga bonita, com quem fantasio muitas vezes. Ela saiu a correr para a casa de banho, para tentar retirar a mancha de comida da roupa. Acabei por nem ter tempo de lhe pedir desculpas. Por isso, sim. O meu dia não tinha sido fácil. Estava triste e frustrado, até porque vários rapazes não perderam tempo e quiseram comprar uma briga comigo. Olhem só! Eu, um anão, contra vários gigantes musculados! Saí dali o mais depressa que pude!  

- Então filho, como correu o teu dia? - perguntou a minha mãe, com um sorriso, ao ver-me entrar em casa e bater a porta, com toda a força.

- Ohhh… Só mais um dia… Estou cansado! Vou para o meu quarto! - gritei, sem dar tempo para que ela me fizesse mais perguntas. 

E fui.

Entrei no meu quarto, fechei a porta e atirei-me para a minha cama, abraçando-me às almofadas, a chorar de tristeza e frustração. Ser anão também tinha inconvenientes, principalmente quando se quer travar conhecimentos com esse bicho-de-sete-cabeças que são as raparigas! 

A rapariga dos cabelos pretos frequenta o mesmo ano do que eu. Vejo-a com frequência na companhia de outras raparigas que partilham o mesmo estilo. Elas vestem-se completamente de preto, com roupas provocantes, num estilo anime. 

Mais precisamente, elas vestem-se de lolitas. 

Pintam-se em tons bastante carregados e por vezes fazem-se acompanhar de acessórios que eu acho bem originais! Não consigo esconder um sorriso sempre que me cruzo com elas, em particular com a rapariga que eu sujei acidentalmente! 

Muitas vezes, à noite, quando já estou deitado na cama para dormir, imagino-me como será estar nos braços dela. Já me questionaram imensas vezes sobre o tamanho do meu pénis! As pessoas acham que, lá porque eu sou um anão, eu tenho um micro-pénis! Nada mais errado! Não é para me gabar, mas o meu pénis até é maior do que a maioria dos estudantes da classe de Desporto. Por uma questão de privacidade, tomo o duche sempre depois deles e nessas alturas até acabo a rir-me sozinho perante a ironia. Eles, rapazes altos, com corpos musculados e esbeltos, possuem pénis bem mais pequenos que o meu… 

Pergunto-me se a rapariga dos cabelos pretos também se questiona…  

Eu imagino-me a abraçá-la e a acariciá-la. Primeiramente, com tudo vestido! Acho bonito, tal como nos filmes, beijar muito! Ela de joelhos, abraçada a mim, enquanto eu, com as minhas mãos, passeio pelo seu rosto, toco nos seus cabelos e lentamente, dispo-lhe as roupas que ela traz vestida! Ela sussurra-me a sua curiosidade em saber o que tenho dentro das boxers. Mas eu quero guardar essa surpresa mais para o fim!

Assim, enquanto nos acariciamos mutuamente, trocamos olhares fogosos e beijamo-nos. Ela deixa-me despi-la. Pela primeira vez, vejo os seios de uma mulher e toco neles com as minhas pequenas mãos! Os seus seios não são volumosos, mas são bonitos. 

Como ela! 

Ela é perfeita do jeito que é! 

Com doçura, ela pede-me para mordiscar os seus seios e eu obedeço, gemendo e escutando-a gemer enquanto o faço. O meu pénis endurece cada vez mais, dentro das calças! Controlo-me para não estragar a surpresa. Ela pede-me, ofegante, para percorrer o seu corpo com a minha boca. Aí, eu beijo-lhe o pescoço, descendo até chegar a um ponto que eu já conhecia de filmes que tinha visto, mas que nunca tivera oportunidade de tocar e saborear: a vagina! Com meiguice, toco com os meus dedos naquele órgão estranho para mim, enquanto ela geme e arfa, ameaçando-me violar, caso eu não me dispa imediatamente! 

Eu depressa descobri como controlar essas ameaças. Aproximo-me daquele vulcão em fúria e depois de o estimular com os dedos, estimulo-o com a língua! Ela geme e arfa cada vez mais, enquanto se contorce e me despe! Doido de excitação, eu por fim retiro a roupa e apresento-lhe o que tinha guardado para ela! Surpreendida, ela implora-me que façamos amor! 

E assim ficamos pelo resto da noite… 

Até eu atingir o orgasmo e ejacular.  

Tal como eu, a rapariga e as amigas dela também não são lá muito bem vistas pela maioria das pessoas. Elas formam uma espécie de gueto, dentro dos vários guetos que existem na escola. Como elas vestem-se de forma provocante, os rapazes das turmas de Desporto elogiam-nas e fazem apostas uns com os outros. Apostam sobre curtirem com esta ou com aquela rapariga. Felizmente para elas e infelizmente para eles, este grupo de raparigas não são parvas e geralmente ignoram os avanços deles. Frustrados, eles procuram a companhia das raparigas das claques, que os recebem de braços bem abertos! E presumo que de outras coisas também! 

Passados alguns minutos, bateram à porta. Mais calmo, levantei-me e abri. Era o meu pai. Com um sorriso acolhedor, abraçou-me. Ele era o meu grande companheiro, desde sempre. Estava sempre disponível para me escutar, ajudar e apoiar, por mais doidas que fossem as minhas ideias. 

Convidei-o a entrar no quarto. Ele entrou e apesar de eu já ser quase um adulto, ele riu-se com ternura e sentou-me no seu colo. 

- Passa-se alguma coisa, Bernardo? A tua mãe disse-me que chegaste alterado. Pelo que vejo, estiveste a chorar! 

Suspirei. Não sei se queria falar do que sentia. Mas o meu pai era o melhor pai do Mundo! Talvez ele me pudesse ajudar. Suspirei novamente, para ganhar coragem.  

- Bom pai… Eu preciso de te perguntar uma coisa… 

- Força! - disse-me ele, dando uma palmada amigável nas costas. 

Levantei-me do colo dele. Olhei-o nos olhos. 

- Pai… Como é que tu conquistaste a mãe? 

O meu pai deu uma sonora gargalhada. 

- Estás a apaixonar-te, Bernardo? 

- Não sei, pai… Só sei que quando a vejo… Sinto borboletas no estômago. Sinto como se tudo à nossa volta se desvanecesse… Consigo sentir o perfume dela no ar… Ela ajuda-me a tornar as coisas mais fáceis… Muitas vezes, fantasio com ela durante a noite…  

- Estou a ver, estou a ver… Então e como se chama a felizarda? - perguntou o meu pai, com os olhos brilhantes. 

- Hãããã… Não sei… Só sei que ela anda no mesmo ano que eu… E que se veste de forma diferente das outras raparigas. Hoje tropecei numa mochila e sujei a roupa dela, durante a hora de almoço! 

Baixei a cabeça, envergonhado. Relembrar aquilo fazia tudo parecer ainda pior! 

- Olha filho… Acidentes acontecem! Quem sabe, isso não seja uma forma inesperada de tu quebrares o gelo e falares com a rapariga? Amanhã antes de eu te levar à escola, passamos numa florista e compramos uma flor para lhe ofereceres, como pedido de desculpas!  

- Meninos, venham jantar! - gritou a minha mãe, da cozinha. 

Com um sorriso, eu e o meu pai apertamos as mãos e eu pedi-lhe para que aquele assunto ficasse só entre nós. Ele deu-me um beijo na testa, afagou-me os cabelos e concordou comigo, piscando-me o olho. 

No dia seguinte, conforme combinado, o meu pai parou numa loja de flores antes de me levar para a escola. Ao chegar lá, eu já sabia o que queria. Só tinha medo que não houvesse. Aproximei-me do balcão e esticando-me o mais que podia, falei: 

- Olá bom dia! Será que me podia ajudar?  

Um senhor de óculos olhou para todos os lados, até que me viu. Com um sorriso condescendente, perguntou-me o que que procurava. E eu expliquei. Ele sorriu e afirmou: 

- É o teu dia de sorte! Acabou de chegar um lote, vindo da Holanda! Quantas é que queres? 

Corado, acabei por dizer que só queria levar uma. Uma rosa negra. 

- Uma rosa para encantar uma dama, presumo? As rosas são sempre uma prenda ideal para oferecer a uma mulher! Mas olha que as rosas negras são invulgares! Não agradam a qualquer uma! - avisou o florista, trazendo um vaso cheio de rosas negras que iria colocar à venda. 

- Eu tenho a certeza de que agradará à rapariga a quem quero oferecer! - respondi eu, cheio de coragem. 

- Sendo assim…. - sorriu o homem, preparando a rosa com alguns fetos verdes e depois envolvendo tudo num papel especial violeta, finalizando com um laço vermelho.  

Eu fiquei encantado! A rosa não era para mim, mas eu achei que aquele ramo estava lindo! Paguei e corri para o carro, onde o meu pai me aguardava, um pouco impaciente. Íamos chegar ambos atrasados! O meu pai seguiu por um atalho e entrei na escola mesmo a tempo! Os portões estavam a fechar-se quando eu e várias pessoas que corriam atrás de mim entraram na escola. 

- Mesmo a tempo! - suspirei, limpando gotas de suor e ajeitando a roupa. 

- A falar sozinho? - perguntou uma voz feminina, divertida. 

Virei-me. 

Atrás de mim estavam as raparigas que se vestiam de preto! E no centro… Estava a rapariga dos cabelos pretos! Fora ela quem falara! Fiquei a olhar para ela, com olhar totalmente atordoado! Ela estava mais bonita do que alguma vez me recordara de a ver! Na cabeça, ela tinha colocado um chapéu preto, com uma fita vermelha, cor de vinho tinto, caído de lado. O vestido preto deixava-lhe os joelhos à mostra, mas tinha um véu folhado nas costas que descia um pouco abaixo dos mesmos. O folhe dava um ar de leveza ao vestido, como se a qualquer momento ela pudesse levantar voo e partir. Nos pulsos, ela tinha umas fitas de cetim em forma de rosas, no mesmo tom da fita do chapéu. 

Ela estava espampanante! 

- Estás linda! - gaguejei. 

- Obrigada! - respondeu ela com um sorriso.   

As outras raparigas cochichavam entre si. Desajeitado, eu entreguei-lhe a rosa. 

- Toma! Isto é para ti! Desculpa-me pelo incidente de ontem! 

As amigas da rapariga exclamaram “Awwwww!”, embevecidas! Ela ajeitou os cabelos e aproximou-se de mim. Deu-me um beijo no rosto e sussurrou: 

- Estás desculpado, Bernardo!  

Corado e confuso, perguntei: 

- Como… Como é que sabes o meu nome? 

A rapariga riu-se: 

- Não te lembras de mim? Sou eu, a Bianca!