23 dezembro 2019

Um Assalto Atribulado!

Um Assalto Atribulado! 👻⚔️☄️🐉💢🚀



- Porra, não consigo fazer nada de jeito! - queixei-me para mim mesmo, mirando-me ao espelho. 

- Anda lá... Estás à espera de quê? Aproveita! Esta é a tua grande oportunidade! - respondeu o meu reflexo, apontando com o queixo para uma caixa de pastilhas que estava pousada na mesinha de cabeceira. 

- Será seguro? - perguntei a medo. 

- Só saberás se usares! Vá! Deixa de ser um merdas! 

- Está bem, está bem! - resmunguei. 

Por fim decidi-me. Iria experimentar as pastilhas que me tinham dado na última festa onde estive. Por vergonha não o fiz nessa altura, mas hoje estou finalmente decidido a fazê-lo. Quero impressionar a Jéssica, a miúda por quem o meu coração bate mais depressa. Prometi-lhe uma surpresa.  

- Vou assaltar a joalharia da esquina! Aquilo tem pouca ou nenhuma segurança! Deve ser fácil! “Fano” um colar e um anel e prontos! Ela cairá a meus pés! - comentei para o meu reflexo do espelho.  

Este assentiu com a cabeça e sorriu, assim que me viu a pegar na caixa e a tirar uma pastilha. Deixei passar alguns minutos. Não senti nada de especial. Estava tudo na mesma. Intrigado, tomei outra pastilha. Quinze minutos depois, estava a tomar a terceira pastilha. Desanimado por não sentir os efeitos que ambicionava, ao fim de meia hora emborquei a caixa toda! As pastilhas eram doces e eu sou guloso, por isso... 

Uma hora depois, a euforia chegou! Não sei explicar de outra maneira. Senti um arrepio delicioso pela espinha abaixo! Depois disso, uma explosão de alegria rebentou no meu peito e senti-me capaz de tudo! Tudo me parecia fácil! Pensar que ia assaltar a joalharia aqui da terra pareceu-me uma verdadeira brincadeira de crianças. Assim, vesti-me a rigor, com um fato preto, totalmente esponjoso, para me esgueirar para dentro da loja. Procurei um maçarico para arrombar uma janela nas traseiras da loja. Depois de encontrá-lo, certifiquei-me que funcionava. Não sei como, mas aquilo de repente queimou-me as pestanas, pelo que entendi que sim, que estava a funcionar. Depois de tudo preparado, saí de casa apetrechado e pronto para o assalto que me faria conquistar o coração de Jéssica, uma mulher-polícia. Ela é a primeira mulher-polícia aqui na terra. É mais velha do que eu, mas o que importa isso?      

O caminho até à joalharia parecia estranhamente calmo. Parecia que estava a caminhar sobre nuvens, tal era a leveza que estava a sentir ao caminhar! De repente, um pónei surgiu à minha frente! Ele virou-se para mim e com olhar sério questionou: 

- Olha lá, ó rapaz! Se queres passar, tens de responder às minhas questões! 

Intrigado, encolhi os ombros e segui em frente! O pónei virou-me costas, levantou a cauda e lançou um bruto monte de cocó! Cocó arco-íris! 

- Hey! Seu badalhoco! - resmunguei. 

- O que foi que me chamaste? - perguntou um grande monte de cocó arco-íris, que de repente ganhou dois olhos e uma boca. - Nunca fui tão insultado na minha vida! Toma! Toma! Toma! 

- Mas que cena estranha! - gritei. 

O monte de cocó mandava montes de cocós mais pequenos que, irritados comigo, também lançavam mais e mais montes de cocó! A dada altura, eu já estava rodeado de cocós luminosos por todos os lados! Tentei correr dali para fora, mas se estava rodeado pelos cocós, ainda tinha o pónei à frente deles todos , rindo-se divertido ao ver-me a cair e a ficar todo colorido com arco íris viscoso por todo o meu fato preto de espuma! 

- Bolas! Pónei! Ajuda-me! - supliquei. 

- Assim está melhor, assim está melhor! - assentiu o pónei, assobiando.  

Todos os cocós se juntaram ao monte maior e depois de unidos, eles entraram pelo rabo do pónei, que relinchou de agrado. Ao abanar a sua crina, o pónei inquiriu: 

- A tua adivinha é esta: o que está ao alto, mas do alto não pode sair? Só tens uma chance, por isso pensa bem! 

- Era o que mais me faltava... - resmunguei entredentes. - Não faltava levar com cocó arco-íris, agora um pónei armado em esfinge... - Olha lá, se eu errar, o que me acontece? 

- Não queiras saber a resposta.... - ameaçou o pónei, andando de um lado para o outro, impaciente. - Vá... Não te demores a dar uma resposta! Tenho mais que fazer! 

Decidi tentar a minha sorte: 

- Senhor pónei lindo, que até jorras arco-íris... Será que me podes fazer a gentileza de me ceder a passagem? Ficava-te muito grato! 

O pónei pareceu emocionado e agraciado ao escutar-me. Sorriu e respondeu: 

- Obrigado... Mas não! Tens de tentar, senão não sabes o que te espera! 

Aborrecido, suspirei impaciente! Qual seria a resposta que ele queria ouvir? 

- Porra! Pode ser tanta coisa! Tanta coisa está ao alto e não pode sair! Um poste? Uma bandeira? Um estandarte? 

O pónei transformou-se à minha frente. De repente, aquele pónei esquisito transformou-se num enorme cavalo preto, com crinas em chamas e com uma voz profunda como o trovão, respondeu: 

- Seu idiota! A resposta era... As estrelas! Elas estão no alto do céu e do alto do céu não podem sair! És mesmo idiota! Agora... o castigo!!! 

De repente, o cavalo negro abriu umas asas gigantes e aproximando-se de mim, atirou-me para cima dele e levantamos voo! Eu tentei agarrar-me à crina, mas esta era fogo puro! Sem saber como e o que fazer, deixei-me levar, branco como cal!  

O cavalo elevou-se no ar! A grande velocidade, irrompeu pela joalharia, causando um enorme estrondo! Montes de jóias caíram no meu colo, à medida que rajadas de vento provocadas pelo cavalo atiravam-nas para cima dele e de mim! 

- Uau! Tantas jóias! Bravo! - gemi, mal acreditando na minha sorte! 

De repente, o cavalo deu um coice! Eu não estava a contar com aquilo e caí ao chão, que se abriu! Seria um alçapão? O cavalo riu-se com ar divertido:  

- Este é o teu castigo, homenzinho! Adeus! 

O cavalo partiu com as jóias e eu caí num poço sem fim! Luzes fantasmagóricas rodeavam-me! Uma serpente apareceu e do nada, abriu a sua bocarra e engoliu-me inteiro! Eu gritei, mas o meu grito foi abafado assim que ela fechou a boca! 

Rapidamente as luzes fantasmagóricas deram lugar à escuridão! 

Eu gritei, mas da minha boca não saía nenhum som! Intrigado, ouvi uma voz a dizer: 

- Não consegues gritar porque estamos em greve! Não nos respeitas!  

Admirado, voltei-me a ver quem estava a falar! Qual o meu espanto ao deparar-me com uma centena de palavras, “aiii”, “uiii”, “socorro”, “alguém me ajude”, a segurarem placas a reivindicar o direito à sua liberdade, sem estarem condenadas a apenas serem usadas em situações limite. 

- O que querem que vos faça? - pensei. 

- Agora entendes a nossa situação! - gritaram elas, satisfeitas! - Pois agora é tarde demais! Vamos fugir daqui! Já não trabalhamos mais para ti, escumalha! Vai tentar gritar para o raio que te parta! 

E dito isto, um trovão ecoou no céu e de repente, um raio de luz atingiu-me em cheio....            

- Doutor? Acha que ele está bem? - uma voz feminina, preocupada, passava a mão pelo meu rosto. 

Eu não sei onde estava. Não conseguia abrir os olhos. Não sentia o meu corpo. Mas, de uma coisa estava certo! Aquela voz era-me familiar! Pois claro! Era a Jéssica! A minha amada Jéssica!  

Alguém respondeu-lhe, em tom sério:  

- Ele tomou alguma coisa muito forte... De acordo com os seus colegas, ele estava a rebolar-se no chão da joalharia, todo nu, agarrado a sacos com caganitas de cabra, enquanto gemia algo incompreensível...  Ele tentou assaltar a joalharia, até colocou o alarme cheio de lama para abafar o barulho, mas os seus colegas aperceberam-se de algo enquanto faziam a ronda nocturna e depararam-se com isto... O caso dele tornou-se irreversível devido ao uso excessivo de drogas de uma só vez... Ele ficará assim vegetativo, até ao fim.  

Jéssica ficou em silêncio durante algum tempo. Depois disse, com voz calma e serena: 

- Entendo, doutor! Bom, faça o que tem a fazer. Acabe com o sofrimento dele! 

- Muito bem! - assentiu o médico, injectando um líquido transparente no soro. 
  



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