22 dezembro 2019

Nem 8, nem 80!

Nem 8, nem 80! ☄️💘



Soube que a minha vida iria ser diferente da vida de outros meninos, ainda não tinha nascido. Certo dia, a minha mãe foi a uma consulta de rotina, coisas de grávidas. Nessa consulta, o médico colocou um aparelho que ressoou na casa onde eu vivia. O barulho era assustador! Eu estava a dormir e com o susto, pontapeei algo. A minha mãe gemeu. De repente, escutei o médico a dizer-lhe: 

- Senhora, eu lamento muito por informar-lhe… Os tratamentos de fertilidade que fez com o seu esposo deram certo, mas o seu filho sofre de nanismo… 

Escutei um grito, vindo da minha mãe. Esse grito foi abafado por um abraço terno. O meu pai sussurrava algo à minha mãe, mas não consegui escutar o que lhe disse. Ela, depois do choque inicial, acabou por se acalmar e chorava em silêncio, enquanto o médico explicava aos meus que iria acontecer. 

Não sei quanto tempo se passou desde essa fatídica tarde. Eu acabei por adormecer pouco depois, até ao dia em que fui forçado a sair da minha casa. E foi aí que começou a minha derradeira aventura.  

Os meus pais estavam preparados para me acolher. Quando me viram, sorriram para mim, apesar de eu berrar a plenos pulmões! Estava um frio de rachar e eu queria voltar para o conforto da minha casa! Rapidamente me colocaram numa casa nova, onde me senti aconchegado e quentinho. A minha mãe não tardou a alimentar-me, embora sentisse que estava ainda em choque com o facto de eu não ser exactamente como ela esperava. O meu pai evitou olhar para mim. Verdade seja dita, assim que me viu, ele perdeu os sentidos e teve de ser amparado por várias pessoas.  

Passado o choque inicial, por motivos que na altura desconhecia, os meus pais decidiram chamar-me Bernardo. Cedo tornei-me o centro das atenções de muita gente, que vinha visitar-nos enquanto lamentavam baixinho a partida que o destino causara aos meus pais. Os anos foram passando. Depois de muitas conversas, ficou decidido que iniciaríamos uma vida nova noutro local. Pelos vistos, eu e os meus pais vivíamos numa terra pequenina e eles estavam cansados de tanta bisbilhotice por minha causa. Deixamos aquela aldeia e fomos viver para uma cidade grande, quando eu fiz seis anos. Era intenção dos meus pais colocar-me numa escola pública onde eu pudesse estudar e passar menos despercebido - embora eles estivessem conscientes que um rapaz anão jamais passaria despercebido. 

As crianças conseguiam ser muito cruéis umas com as outras. Todos os meninos e meninas eram chamados de alguma coisa: gordo, trinca-espinhas, caixa d´óculos, coelho, anão. Quando os outros meninos me começaram a chamar de anão, eu não me importei. Na verdade, eles estavam a dizer a verdade. Eu era anão! Os meus braços e pernas eram mais pequeninos que os deles. A minha cabeça era mais achatada e por vezes eles gozavam comigo por causa disso. Mas eu não me incomodava com isso. Pensava que eles gostavam de mim e me aceitavam do jeito que eu era. Como eu não conseguia correr muito depressa, cedo afastaram-se de mim e colocaram-me de lado. 

Um dia, durante um intervalo, uma menina veio ter comigo e convidou-me para ir brincar com ela e com as amigas dela. Durante alguns dias ainda nos divertimos juntos, mas a verdade é que elas não eram melhores que os rapazes. Na verdade, fiquei com a impressão que eram ainda piores que os meninos. Obrigavam-me a vestir roupas de menina, pintavam-me e depois eu tinha de andar a passear pela escola vestido assim, perante risos e gargalhadas delas e dos meninos, quando passavam por mim. Tudo isto terminou quando uma menina veio contra mim. 

- Vê lá por onde andas! - resmungou ela. 

- Desculpa! Foi sem querer! - guinchei eu, envergonhado. 

- Ohhh…. Está bom! Como te chamas? 

- Eu sou a Bianca! E tu? 

- Eu sou o Bernardo! 

A Bianca era uma menina muito bonita. Ela tinha longos cabelos castanhos, cor de chocolate, encaracolados. Os seus olhos eram castanhos-aveludados e ela, ao aperceber-se que eu estava a ser motivo de chacota por parte de outras crianças, pegou-me pela mão e levou-me para uma sala de aula. 

- Porque deixas que te façam isto? É errado! Vamos fazer queixa à senhora directora! - declarou Bianca, sem demora. 

Eu chorava, assustado. Eu ia ser castigado e os meus pais iriam ficar tristes comigo. Insisti com Bianca para me deixar ir, que estava tudo bem, mas ela não o permitiu. Fizemos tanta algazarra que a directora da escola veio à sala ver o que se passava. 

- Bianca, o que se passa aqui? - perguntou a directora. 

- Mamã, este menino estava a ser obrigado a vestir-se de menina! - guinchou Bianca, colocando-se à minha frente, qual cavaleira a defender o seu príncipe! 

A directora sorriu e ajudou-me a retirar as roupas que me causavam desconforto. Em seguida, pegou-me pela mão e levou-me aos lavados, onde me lavou a cara e encaminhou para a sala de aula. Bianca acompanhava-nos em silêncio, com os olhos vermelhos de lágrimas. Antes de entrar na sala, virei-me para trás. Bianca já tinha virado costas. Chamei-a, timidamente. 

- Bianca! Muito obrigado! - disse-lhe eu, com um pequeno sorriso. 

Não tens de quê! Não deixes que se aproveitem de ti! Tu és um rapaz especial! Nunca te esqueças disso! Adeus! - rematou ela, dando a mão à mãe. 

Quando cheguei a casa no final desse dia, os meus pais já sabiam o que havia acontecido na escola. Não me resmungaram. Na verdade, levaram-me para jantar fora e até comemos gelado.  

Muitos anos passaram-se desde essa altura. Hoje em dia, estou no último ano do ensino secundário. Posso ser anão, mas isso não me impediu de ser um estudante exemplar. Desde aquele episódio na minha infância, perdi a conta ao número de escolas que frequentei. 

É incrível a quantidade de pessoas que ainda me olha com espanto. Outras com desprezo. Verdade seja dita, por mais que tente, eu não passo despercebido em lado nenhum. Alturas houve em que desejei ser como as outras pessoas. No entanto, ser anão tem as suas vantagens. Vejo o Mundo sob uma perspectiva diferente da maioria. Consigo furar filas. Embora tenha muita gente que goza comigo, também tenho muita gente que brinca comigo e me trata com respeito e carinho. 

O dia de hoje foi particularmente difícil. 

O teste de Filosofia era intrigante, apesar de ser uma disciplina que até gosto bastante. Na aula de História troquei as datas e na cantina tropecei numa mochila, acabando por sujar a roupa de uma rapariga de longos cabelos pretos. Uma rapariga bonita, com quem fantasio muitas vezes. Ela saiu a correr para a casa de banho, para tentar retirar a mancha de comida da roupa. Acabei por nem ter tempo de lhe pedir desculpas. Por isso, sim. O meu dia não tinha sido fácil. Estava triste e frustrado, até porque vários rapazes não perderam tempo e quiseram comprar uma briga comigo. Olhem só! Eu, um anão, contra vários gigantes musculados! Saí dali o mais depressa que pude!  

- Então filho, como correu o teu dia? - perguntou a minha mãe, com um sorriso, ao ver-me entrar em casa e bater a porta, com toda a força.

- Ohhh… Só mais um dia… Estou cansado! Vou para o meu quarto! - gritei, sem dar tempo para que ela me fizesse mais perguntas. 

E fui.

Entrei no meu quarto, fechei a porta e atirei-me para a minha cama, abraçando-me às almofadas, a chorar de tristeza e frustração. Ser anão também tinha inconvenientes, principalmente quando se quer travar conhecimentos com esse bicho-de-sete-cabeças que são as raparigas! 

A rapariga dos cabelos pretos frequenta o mesmo ano do que eu. Vejo-a com frequência na companhia de outras raparigas que partilham o mesmo estilo. Elas vestem-se completamente de preto, com roupas provocantes, num estilo anime. 

Mais precisamente, elas vestem-se de lolitas. 

Pintam-se em tons bastante carregados e por vezes fazem-se acompanhar de acessórios que eu acho bem originais! Não consigo esconder um sorriso sempre que me cruzo com elas, em particular com a rapariga que eu sujei acidentalmente! 

Muitas vezes, à noite, quando já estou deitado na cama para dormir, imagino-me como será estar nos braços dela. Já me questionaram imensas vezes sobre o tamanho do meu pénis! As pessoas acham que, lá porque eu sou um anão, eu tenho um micro-pénis! Nada mais errado! Não é para me gabar, mas o meu pénis até é maior do que a maioria dos estudantes da classe de Desporto. Por uma questão de privacidade, tomo o duche sempre depois deles e nessas alturas até acabo a rir-me sozinho perante a ironia. Eles, rapazes altos, com corpos musculados e esbeltos, possuem pénis bem mais pequenos que o meu… 

Pergunto-me se a rapariga dos cabelos pretos também se questiona…  

Eu imagino-me a abraçá-la e a acariciá-la. Primeiramente, com tudo vestido! Acho bonito, tal como nos filmes, beijar muito! Ela de joelhos, abraçada a mim, enquanto eu, com as minhas mãos, passeio pelo seu rosto, toco nos seus cabelos e lentamente, dispo-lhe as roupas que ela traz vestida! Ela sussurra-me a sua curiosidade em saber o que tenho dentro das boxers. Mas eu quero guardar essa surpresa mais para o fim!

Assim, enquanto nos acariciamos mutuamente, trocamos olhares fogosos e beijamo-nos. Ela deixa-me despi-la. Pela primeira vez, vejo os seios de uma mulher e toco neles com as minhas pequenas mãos! Os seus seios não são volumosos, mas são bonitos. 

Como ela! 

Ela é perfeita do jeito que é! 

Com doçura, ela pede-me para mordiscar os seus seios e eu obedeço, gemendo e escutando-a gemer enquanto o faço. O meu pénis endurece cada vez mais, dentro das calças! Controlo-me para não estragar a surpresa. Ela pede-me, ofegante, para percorrer o seu corpo com a minha boca. Aí, eu beijo-lhe o pescoço, descendo até chegar a um ponto que eu já conhecia de filmes que tinha visto, mas que nunca tivera oportunidade de tocar e saborear: a vagina! Com meiguice, toco com os meus dedos naquele órgão estranho para mim, enquanto ela geme e arfa, ameaçando-me violar, caso eu não me dispa imediatamente! 

Eu depressa descobri como controlar essas ameaças. Aproximo-me daquele vulcão em fúria e depois de o estimular com os dedos, estimulo-o com a língua! Ela geme e arfa cada vez mais, enquanto se contorce e me despe! Doido de excitação, eu por fim retiro a roupa e apresento-lhe o que tinha guardado para ela! Surpreendida, ela implora-me que façamos amor! 

E assim ficamos pelo resto da noite… 

Até eu atingir o orgasmo e ejacular.  

Tal como eu, a rapariga e as amigas dela também não são lá muito bem vistas pela maioria das pessoas. Elas formam uma espécie de gueto, dentro dos vários guetos que existem na escola. Como elas vestem-se de forma provocante, os rapazes das turmas de Desporto elogiam-nas e fazem apostas uns com os outros. Apostam sobre curtirem com esta ou com aquela rapariga. Felizmente para elas e infelizmente para eles, este grupo de raparigas não são parvas e geralmente ignoram os avanços deles. Frustrados, eles procuram a companhia das raparigas das claques, que os recebem de braços bem abertos! E presumo que de outras coisas também! 

Passados alguns minutos, bateram à porta. Mais calmo, levantei-me e abri. Era o meu pai. Com um sorriso acolhedor, abraçou-me. Ele era o meu grande companheiro, desde sempre. Estava sempre disponível para me escutar, ajudar e apoiar, por mais doidas que fossem as minhas ideias. 

Convidei-o a entrar no quarto. Ele entrou e apesar de eu já ser quase um adulto, ele riu-se com ternura e sentou-me no seu colo. 

- Passa-se alguma coisa, Bernardo? A tua mãe disse-me que chegaste alterado. Pelo que vejo, estiveste a chorar! 

Suspirei. Não sei se queria falar do que sentia. Mas o meu pai era o melhor pai do Mundo! Talvez ele me pudesse ajudar. Suspirei novamente, para ganhar coragem.  

- Bom pai… Eu preciso de te perguntar uma coisa… 

- Força! - disse-me ele, dando uma palmada amigável nas costas. 

Levantei-me do colo dele. Olhei-o nos olhos. 

- Pai… Como é que tu conquistaste a mãe? 

O meu pai deu uma sonora gargalhada. 

- Estás a apaixonar-te, Bernardo? 

- Não sei, pai… Só sei que quando a vejo… Sinto borboletas no estômago. Sinto como se tudo à nossa volta se desvanecesse… Consigo sentir o perfume dela no ar… Ela ajuda-me a tornar as coisas mais fáceis… Muitas vezes, fantasio com ela durante a noite…  

- Estou a ver, estou a ver… Então e como se chama a felizarda? - perguntou o meu pai, com os olhos brilhantes. 

- Hãããã… Não sei… Só sei que ela anda no mesmo ano que eu… E que se veste de forma diferente das outras raparigas. Hoje tropecei numa mochila e sujei a roupa dela, durante a hora de almoço! 

Baixei a cabeça, envergonhado. Relembrar aquilo fazia tudo parecer ainda pior! 

- Olha filho… Acidentes acontecem! Quem sabe, isso não seja uma forma inesperada de tu quebrares o gelo e falares com a rapariga? Amanhã antes de eu te levar à escola, passamos numa florista e compramos uma flor para lhe ofereceres, como pedido de desculpas!  

- Meninos, venham jantar! - gritou a minha mãe, da cozinha. 

Com um sorriso, eu e o meu pai apertamos as mãos e eu pedi-lhe para que aquele assunto ficasse só entre nós. Ele deu-me um beijo na testa, afagou-me os cabelos e concordou comigo, piscando-me o olho. 

No dia seguinte, conforme combinado, o meu pai parou numa loja de flores antes de me levar para a escola. Ao chegar lá, eu já sabia o que queria. Só tinha medo que não houvesse. Aproximei-me do balcão e esticando-me o mais que podia, falei: 

- Olá bom dia! Será que me podia ajudar?  

Um senhor de óculos olhou para todos os lados, até que me viu. Com um sorriso condescendente, perguntou-me o que que procurava. E eu expliquei. Ele sorriu e afirmou: 

- É o teu dia de sorte! Acabou de chegar um lote, vindo da Holanda! Quantas é que queres? 

Corado, acabei por dizer que só queria levar uma. Uma rosa negra. 

- Uma rosa para encantar uma dama, presumo? As rosas são sempre uma prenda ideal para oferecer a uma mulher! Mas olha que as rosas negras são invulgares! Não agradam a qualquer uma! - avisou o florista, trazendo um vaso cheio de rosas negras que iria colocar à venda. 

- Eu tenho a certeza de que agradará à rapariga a quem quero oferecer! - respondi eu, cheio de coragem. 

- Sendo assim…. - sorriu o homem, preparando a rosa com alguns fetos verdes e depois envolvendo tudo num papel especial violeta, finalizando com um laço vermelho.  

Eu fiquei encantado! A rosa não era para mim, mas eu achei que aquele ramo estava lindo! Paguei e corri para o carro, onde o meu pai me aguardava, um pouco impaciente. Íamos chegar ambos atrasados! O meu pai seguiu por um atalho e entrei na escola mesmo a tempo! Os portões estavam a fechar-se quando eu e várias pessoas que corriam atrás de mim entraram na escola. 

- Mesmo a tempo! - suspirei, limpando gotas de suor e ajeitando a roupa. 

- A falar sozinho? - perguntou uma voz feminina, divertida. 

Virei-me. 

Atrás de mim estavam as raparigas que se vestiam de preto! E no centro… Estava a rapariga dos cabelos pretos! Fora ela quem falara! Fiquei a olhar para ela, com olhar totalmente atordoado! Ela estava mais bonita do que alguma vez me recordara de a ver! Na cabeça, ela tinha colocado um chapéu preto, com uma fita vermelha, cor de vinho tinto, caído de lado. O vestido preto deixava-lhe os joelhos à mostra, mas tinha um véu folhado nas costas que descia um pouco abaixo dos mesmos. O folhe dava um ar de leveza ao vestido, como se a qualquer momento ela pudesse levantar voo e partir. Nos pulsos, ela tinha umas fitas de cetim em forma de rosas, no mesmo tom da fita do chapéu. 

Ela estava espampanante! 

- Estás linda! - gaguejei. 

- Obrigada! - respondeu ela com um sorriso.   

As outras raparigas cochichavam entre si. Desajeitado, eu entreguei-lhe a rosa. 

- Toma! Isto é para ti! Desculpa-me pelo incidente de ontem! 

As amigas da rapariga exclamaram “Awwwww!”, embevecidas! Ela ajeitou os cabelos e aproximou-se de mim. Deu-me um beijo no rosto e sussurrou: 

- Estás desculpado, Bernardo!  

Corado e confuso, perguntei: 

- Como… Como é que sabes o meu nome? 

A rapariga riu-se: 

- Não te lembras de mim? Sou eu, a Bianca! 



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