Capítulo 22
Pegou no telemóvel e telefonou a Howl. Este atendeu quase de imediato, perguntando-lhe quando regressava.
- Devo regressar nos próximos dias...
- Espero bem que sim! - suspirou Howl.
- Não te preocupes!
- Ainda estás em Espanha?
- Sim, estou em Barcelona!
- Estás a gozar! Tu estás em Barcelona? - exclamou Howl, incrédulo.
De repente, Kojiru entrou no quarto, no preciso momento em que Howl dizia aquilo.
- Lord Yusuke está em Espanha? - perguntou.
Howl ficou atrapalhado, a olhar para Kojiru. Mikel escutou a voz de Kojiru e rematou:
- É melhor desligarmos agora. Já percebi que o Kojiru está aí. Não vale a pena mentir-lhe... Podes contar-lhe a verdade... Mas ele que não revele a ninguém o meu paradeiro! Vocês estão a ser espiados!
- Está combinado! Manda mensagem! Abraço!
- Abraço!
Desligaram.
Kojiru olhava para Howl com uma expressão divertida. Não parecia zangado.
Howl sentou-se na cama e convidou-o a sentar-se também. Suspirando, explicou-lhe tudo o que se andava a passar. Falou durante uns quinze minutos, sem parar. Por duas ou três ocasiões, Kojiru sentira vontade de perguntar algo, mas decidira aguardar que Howl acabasse de falar para expôr as suas dúvidas.
- Sim senhor, muito bem! Howl, obrigado por me contares tudo! Prometo que fica só entre nós! Então Lord Yusuke foi visitar a campa do Tenshi?
- Não sei, deve ter ido. Afinal ele está em Barcelona...
- Bom… Não sei se tu sabes, mas faz hoje 4 anos que o Tenshi morreu... Acredito que para o Lord Yusuke era mesmo importante fazer esta viagem! Eles eram muito unidos. Foi um choque muito grande… Não consigo imaginar como é que ele se deve ter sentido... Enfim… Tu deves ser a primeira pessoa que Lord Yusuke deixa aproximar-se dele, desde a morte do Tenshi...
- Hum... - murmurou Howl, sem saber o que dizer.
- Acredita que isto é um elogio muito grande, Howl! Mais do que possas imaginar!
- Obrigado, Kojiru...! Eu não estou habituado a receber elogios, por isso fico sempre sem saber o que dizer…
- O que achas de irmos jantar fora? Só os dois?
Howl sorriu.
- Podemos comer uma americana?
Kojiru desatou a rir.
- Uma americana, uma francesa… O que tu quiseres!
Com um grande sorriso, Howl piscou-lhe o olho e os dois saíram para jantar.
*Enquanto isso, em Barcelona...*
Mikel estava a perdido em pensamentos, quando Kimeru bateu à porta. Passado uns instantes, esta abriu-se e Mikel apareceu, com uma toalha enrolada no corpo.
- ¿Hoy, quieres ir a cenar fuera?
- ¡Sí! ¡Claro!
Meia hora depois, os três amigos foram jantar fora, passeando pelas zonas mais emblemáticas de Barcelona. Quem os visse, pensava que eram um casal, tal era a cumplicidade que se gerara entre todos! Ao passarem pelo estádio do Barcelona, Mikel não conseguiu disfarçar o entusiasmo! Intrigadas, as amigas perguntaram o motivo.
- ¡Saben, es que tengo un pupilo que ama el Barça!
- ¿Verdad?
- ¡Sí, su sueño es juegar en Barcelona! ¡Y yo estoy cierto que sí, que su sueño se hacerá realidad un día!
Divertidos, dirigiram-se à loja do Barcelona para comprar uma prenda para Howl. Decidiram dar-lhe uma camisola com o número 9, já que este era o seu número favorito. No dia seguinte, Mikel despediu-se de ambas, prometendo voltar um dia, quando a guerra terminasse. Apanhou um comboio para Madrid, onde iria ser visto por um Urologista.
A clínica do Dr. Sanchez era bem no centro de Madrid. Não teve de esperar muito. O Dr. Sanchez explicou a Mikel tudo o que se estava a passar com ele e disse-lhe que apesar de ser um cancro raro, uma vez que só 2% dos cancros masculinos são nos testículos, este tipo de cancro era também dos mais curáveis, com 95% de taxa de cura, depois do tratamento. O que Mikel mais temia era precisamente isso, o tratamento. Infelizmente, quanto a isso, não havia volta a dar. Ele teria de fazer uma cirurgia para extracção do tumor, além de ter de fazer radioterapia e quimioterapia, uma vez que já havia antecedentes cancerígenos na família.
- ¡Pero! ¡Pero! Asi... ¡Asi dejaré de me sentir un hombre! - explodiu Mikel, quando o Dr. Sanchez terminou a explicação.
- ¡No..! Hoy en día existen maneras de contornar lo problema. ¡Podemos poner una prótesis testicular en retorno! ¡Usted seguirá haciendo una vida perfectamente normal, despues de pasar esta fase de los tratamentos!
- Bueno.. espero que sí... - suspirou Mikel, fatigado.
- No se preocupe. ¡Usted es un joven! ¡Todo se va bien!
Com um sorriso paternalista, o Dr. Sanchez escreveu um relatório que Mikel teria de entregar no IPO da cidade do Porto, para dar início aos tratamentos. Deu-lhe uma série de conselhos e não tardou muito para que a consulta chegasse ao fim. Um bocado triste com o futuro que se aproximava a passos largos, Mikel procurou um hotel onde se instalar. Não tinha forças para regressar a Portugal naquele momento.
Precisava de assimilar primeiro tudo o que tinha ouvido. Foi até um cybercafé onde procurou na Internet um local acolhedor. Não demorou muito a encontrar o que desejava. Em poucos minutos estava a apanhar um táxi que o levou rapidamente ao hotel Husa Princesa.
O hotel era muito requintado e luxuoso. Todos os quartos possuíam algo muito especial. Esse tinha sido o principal motivo para Mikel optar por este hotel: cada quarto tinha uma cópia de uma pintura famosa do Museu do Prado.
Quando entrou no quarto, ele exclamou um “Oooohhhh!” de espanto! Pousou as coisas e atirou-se para cima da cama! Deixou-se estar assim durante alguns minutos, sem pensar em nada, simplesmente a olhar para a pintura que tinha na parede por detrás da cama. Passado algum tempo, despiu-se e foi tomar um banho. Vestiu um robe e preparou um café, enquanto observava pela janela a paisagem. Mais calmo e relaxado, decidiu passar um pouco pelas brasas, até à hora de jantar. Já era noite cerrada quando despertou, decidido a aproveitar o momento.
A “siesta” tinha-lhe feito bem. Mais bem disposto do que estivera o dia todo, vestiu-se e decidiu passear pela zona, tentado a divertir-se o mais que podia. Depois de comer um prato típico, Tripas ao estilo de Madrid, seguiu para uma zona de bares, onde procurou um local sossegado para beber algo e ouvir boa música. Depois de várias tentativas, acabou por parar num local chamado “La Fídula”.
O local era bastante agradável e acolhedor. Não era muito grande. Fez-lhe lembrar um bar de jazz de New Orleans ou de San Francisco, como às vezes via nos filmes! Sorrindo feliz, sentou-se numa mesa e pediu algo para beber. Naquela noite, além do jazz, “hay una participacion especial”, disse a empregada que o serviu, virando costas antes de responder a Mikel que participação era essa.
O bar não tardou a encher-se de turistas e residentes. Pelos vistos, as noites
temáticas eram populares. O público era todo jovem e o ambiente era bem-humorado e divertido. Em poucos minutos, uma pluralidade de línguas escutava-se ali e Mikel esqueceu-se de todos os seus problemas, deixando-se envolver pela música ambiente e por um grupo de italianos que divertiam toda a gente com as suas canções à desgarrada. Algumas horas mais tarde, eis que chegou o ponto alto da noite - a tal participação especial. A gerente do bar veio ao microfone e disse:
- ¡Buenas noches! ¡Hoy tenemos una invitada muy especial! ¡Ella ha venido de México y nos presentará a su último trabajo! ¡Con ustedes, Daniela Gonzalez!!
As pessoas presentes no bar levantaram-se para saudar a artista, que iria tocar piano! Mikel, ao ouvir aquele nome, ergue-se de rompante, completamente chocado e gritou:
- ¿Danny?
A rapariga, ao ouvir aquele nome, virou-se. Ao olhar para Mikel, ela sorriu, mal acreditando no que os seus olhos viam! Correu para ele e abraçou-o com toda a força!
Daniela
[Continua...]
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